UPDATES IN NURSING PRACTICES IN NEWBORN CONSULTATIONS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8433183
Sheyla Cristina Ferreira de Magalhães1, Milvea Franciane Ferreira Carneiro2, Odete Barbosa Vieira3, Fernanda Araújo Trindade4, Mônica Custódia do Couto Abreu Pamplona5, Elias Costa Monteiro6, Karina Barros Lopes7
RESUMO
Este estudo tem como objetivo discutir acerca dos aspectos importantes relacionados à consulta de enfermagem ao recém-nascido, com foco nas ações de políticas públicas de atenção à criança na construção das diretrizes para o cuidado infantil e nas práticas atualizadas. Estudo do tipo revisão narrativa da literatura, onde buscou-se analisar as evidências científicas mais atuais acerca da temática em artigos publicados entre 2013 a 2023, nas bases da dados de acesso aberto da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), LILACS, SciELO e Google Acadêmico. Os estudos analisados abordam acerca das ações de cuidado do enfermeiro na primeira consulta ao recém-nascido, os principais aspectos da consulta de enfermagem ao recém-nascido e avanços e inovações na consulta de enfermagem ao recém-nascido. Discutiu-se sobre as principais ações da consulta de enfermagem ao RN e algumas das possibilidades de inovação na consulta de enfermagem, que podem contribuir para aprimorar a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes e para promover uma abordagem mais humanizada e centrada no paciente, família e seu contexto comunitário.
Palavras-chave: Enfermagem Pediátrica. Assistência Integral à Saúde da Criança. Recém-Nascido.
ABSTRACT
This study aims to discuss the important aspects related to nursing consultations for newborns, focusing on public policy actions for child care in the construction of guidelines for child care and updated practices. A narrative literature review study, which sought to analyze the most current scientific evidence on the topic in articles published between 2013 and 2023, in the open access databases of the Virtual Health Library (VHL), LILACS, SciELO and Google Academic. The studies analyzed address the nurse’s care actions in the first consultation with the newborn, the main aspects of the nursing consultation with the newborn and advances and innovations in the nursing consultation with the newborn. The main actions of the nursing consultation for the RN were discussed and some of the possibilities for innovation in the nursing consultation, which can contribute to improving the quality of care provided to patients and to promoting a more humanized and patient-centered approach, family and its community context.
Keywords: Pediatric Nursing. Comprehensive Child Health Care. Newborn.
INTRODUÇÃO
Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil testemunhou avanços significativos na saúde infantil, graças à implementação de políticas públicas direcionadas a crianças e suas famílias. A necessidade urgente de reduzir as altas taxas de morbimortalidade infantil, especialmente devido a doenças preveníveis, levou à criação de diretrizes abrangentes, desde a atenção primária até a terciária. Um desses programas notáveis foi o Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC), lançado em 1984, que adotou uma abordagem holística, concentrando-se em grupos de risco e se tornando um marco importante na saúde infantil do país (Brasil, 2018a).
Na década de 1990, apesar dos progressos, a morbimortalidade infantil continuava sendo uma grande preocupação no Brasil, com disparidades regionais pronunciadas. Para enfrentar esse desafio, foi lançado um esforço interdisciplinar em colaboração com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Esse esforço resultou na criação da Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), uma estratégia desenvolvida para oferecer assistência integrada, focada na prevenção e promoção da saúde para lidar com as doenças mais comuns em crianças e reduzir ao máximo os danos à saúde (Brasil, 2018a).
Além disso, o Ministério da Saúde do Brasil implementou diversas estratégias, como a Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança e a Redução da Mortalidade Infantil, com o intuito de estabelecer uma rede de assistência adotada pelos estados e municípios. O esforço dedicado à assistência infantil, que incluiu a expansão do acesso à atenção básica por meio de programas como os de saúde da família e agentes comunitários de saúde, juntamente com a filosofia do PAISC, desempenhou um papel fundamental na promoção da saúde das crianças. Isso englobou a promoção da imunização, o estímulo ao aleitamento materno, o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, além do controle das doenças prevalentes (Brasil, 2004; Brasil, 2018a).
Ademais, para atingir as metas estabelecidas pelas políticas públicas que transformam significativamente o ensino e a prática dos profissionais de saúde, a educação continuada é uma alternativa viável. Esse enfoque possibilita a reflexão sobre mudanças na prática clínica, na gestão da saúde, no trabalho em equipe, entre outros aspectos, contribuindo para fortalecer as políticas e, por conseguinte, melhorar a saúde da população infantil no Brasil (Brasil, 2018b).
Entretanto, a enfermagem pediátrica ainda enfrenta desafios na busca por uma formação que abarque todas as dimensões do conhecimento. Nessa área, o modelo de ensino tradicional ainda prevalece, o que pode dificultar a implementação de práticas mais modernas e alinhadas com as políticas públicas em vigor (Regino et al., 2019).
No contexto da assistência e do ensino em saúde infantil, não existia um documento que estabelecesse as competências esperadas dos enfermeiros especializados nesse campo. Um estudo conduzido com professores de enfermagem de instituições públicas de ensino identificou, por meio de depoimentos, as habilidades consideradas essenciais para a formação em enfermagem pediátrica. O entendimento das diversas fases do desenvolvimento infantil, a capacidade de oferecer cuidados centrados na criança e na família, e o conhecimento das políticas públicas pertinentes a esse grupo foram apontados pelos professores como fundamentais para a formação dos enfermeiros especializados em saúde infantil (Regino et al., 2019).
De fato, para atender de maneira adequada às demandas do cuidado infantil, é crucial que os profissionais de enfermagem compreendam as complexidades relacionadas ao tema, incluindo as distintas faixas etárias e suas particularidades. Nesse contexto, a tecnologia digital pode representar uma ferramenta valiosa no desenvolvimento dessas competências.
Com esse propósito, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras estabeleceu um conjunto de competências para enfermeiros pediatras e neonatologistas, englobando habilidades e práticas para o cuidado de recém-nascidos, crianças, adolescentes e suas famílias, levando em consideração a diversidade e complexidade desses pacientes. Esse documento delineia cinco domínios principais: prática profissional, ética e legal; prática clínica; gestão, liderança e colaboração em equipe; pesquisa e produção de conhecimento; e prática educativa. Tais domínios são permeados pelas competências cruciais e habilidades necessárias para que os profissionais possam desenvolvê-las de forma apropriada ao longo de sua formação (Gaíva et al., 2020).
Nesse intervalo, a prioridade reside no acompanhamento do recém-nascido (RN) até os dois anos de idade, por meio de consultas de puericultura. Esse cuidado envolve a assistência voltada para questões fisiológicas, de higiene e sociológicas, incorporando conhecimentos técnicos e científicos aplicados desde o período gestacional até o nascimento e durante os primeiros anos de vida da criança. Ao analisar o histórico de enfermagem e entender as necessidades da criança e de sua família, é possível fornecer um cuidado adequado, utilizando técnicas e tecnologias, diagnósticos e planos de cuidados abrangentes. Além disso, são implementadas ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação em saúde (Góes et al., 2018; Houaiss, 2017; Moreira; Gaiva, 2017; Siega et al., 2020).
A atenção primária à saúde desempenha um papel crucial para garantir atendimento precoce e assistência adequada tanto à mãe quanto ao bebê. As visitas domiciliares realizadas pelos profissionais de saúde da equipe são fundamentais para orientar sobre os cuidados com o binômio mãe-bebê e proporcionar um cuidado completo, levando em conta os aspectos biopsicossociais da vida da família. Além disso, a busca ativa pelos ausentes e a participação ativa da criança e da família são essenciais para assegurar a continuidade do cuidado e oferecer um serviço de alta qualidade (Brasil, 2018a; Furtado et al., 2018; Góes et al., 2018).
Durante as consultas de puericultura, o bebê recebe cuidados que incluem avaliação clínica por meio de exame físico, identificação de situações de risco e vulnerabilidade, orientação sobre sinais de alerta, promoção do aleitamento materno, medidas de prevenção de acidentes, realização ou encaminhamento para exames de triagem neonatal, informações sobre o planejamento e a atualização do calendário de vacinação, além do monitoramento cuidadoso do crescimento e desenvolvimento infantil, e a identificação de diversas necessidades de saúde (Furtado et al., 2018; Yakuwa et al., 2016). A família do bebê também recebe orientações sobre nutrição adequada e saúde bucal, sendo encaminhada para outros profissionais especializados, quando necessário (Furtado et al., 2018; Lima et al., 2016).
Nesse contexto, a consulta de enfermagem ao recém-nascido representa uma etapa essencial para garantir a saúde e o bem-estar do bebê. Durante essa consulta, o enfermeiro realiza uma avaliação abrangente do desenvolvimento e da saúde do recém-nascido, incluindo uma análise física completa que engloba a verificação dos sinais vitais, como frequência cardíaca, respiratória, temperatura e pressão arterial. Além disso, o enfermeiro avalia o peso, a altura, a circunferência craniana e outros indicadores de crescimento (Pereira, 2023).
Outro aspecto crucial da consulta é a identificação de potenciais riscos à saúde do bebê, como problemas respiratórios, infecções, icterícia, entre outros. Ao identificar essas questões de forma precoce, é possível intervir prontamente e evitar complicações mais sérias. Este momento representa uma oportunidade valiosa para orientar os pais, pois durante a consulta de enfermagem, o enfermeiro pode oferecer informações vitais sobre diversos cuidados relacionados ao recém-nascido, incluindo orientações sobre amamentação, higiene, vacinação, prevenção de acidentes, entre outros. Além disso, a consulta estabelece um vínculo importante com os pais e o bebê, criando uma oportunidade para o enfermeiro dar continuidade aos cuidados e ao acompanhamento do desenvolvimento do recém-nascido (Pereira, 2023).
Este estudo tem como propósito analisar os elementos essenciais da consulta de enfermagem ao recém-nascido, concentrando-se nas iniciativas das políticas públicas voltadas para o cuidado infantil. O foco recai sobre a integração dessas políticas na formulação de orientações atualizadas para o cuidado infantil, considerando as práticas mais recentes.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, onde buscou-se analisar as evidências científicas mais atuais acerca da temática. O objetivo principal dessa abordagem é obter um conhecimento aprofundado sobre um determinado assunto, utilizando estudos anteriores sobre a temática em questão por meio de uma análise crítica, o que permite sintetizar várias pesquisas bibliográficas em um único artigo, tornando os resultados mais acessíveis e práticos (Grant; Booth, 2009).
Foram analisados textos publicados nos últimos dez anos (2012 a 2023), indexados nas bases de dados de acesso aberto da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), LILACS, SciELO e Google Acadêmico, disponíveis gratuitamente, na íntegra, no idioma português. Utilizou-se na busca, os descritores “Enfermagem Pediátrica”; “Assistência Integral à Saúde da Criança”; e “Recém-Nascido”. As informações extraídas dos estudos foram organizadas, categorizadas e apresentadas na seção de resultados e discussão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Intervenções do enfermeiro na primeira consulta ao recém-nascido
Nos estudos analisados, as intervenções predominantes estão relacionadas à avaliação clínica, amamentação, nutrição, colaboração multidisciplinar e familiar, visitas domiciliares (VD), prevenção de complicações, desenvolvimento, cuidados com a mãe pós-parto, higiene do recém-nascido, triagem neonatal e imunização.
No contexto da avaliação clínica, observou-se que os enfermeiros mensuram e avaliam dados antropométricos, como perímetro cefálico, altura e peso, durante as consultas de puericultura. Além disso, eles examinam dermatites apresentadas pelas crianças e a icterícia neonatal fisiológica. Em outras pesquisas, foram identificadas aferições de dados antropométricos, verificação do coto umbilical, avaliação da temperatura, orientações sobre amamentação e sinais de alerta, realizadas durante as visitas domiciliares (Chen et al., 2014).
No âmbito da avaliação clínica, com ênfase no crescimento e desenvolvimento associado ao atendimento multidisciplinar, um estudo conduzido por Araújo et al. (2018) apresenta uma abordagem diferente na puericultura. Nesse cenário, a promoção da saúde e a prevenção de doenças são alcançadas por meio da colaboração entre diversas categorias profissionais. A cooperação entre enfermagem e odontologia, por exemplo, permite intervenções relacionadas à higiene oral da criança. Destaca-se também o teste da linguinha, parte da triagem neonatal, com a contribuição do fonoaudiólogo em colaboração com os outros membros da equipe. Dessa forma, a consulta coletiva, que integra diferentes especialidades, proporciona acesso ao conhecimento para os pais e responsáveis das crianças, buscando garantir uma abordagem de saúde completa (Araújo et al., 2018).
No contexto das visitas domiciliares, conforme destacado por Moura et al. (2015), iniciar as intervenções na primeira semana de vida do RN, conforme as diretrizes estabelecidas, aumenta a adesão às orientações fornecidas. Especificamente em relação à alimentação, os enfermeiros observam que, por vezes, a rede de apoio presente no ambiente doméstico orienta sobre o oferecimento de alimentos inadequados à criança. Portanto, as visitas domiciliares tornam-se cruciais para assegurar a continuidade dos cuidados prescritos e a manutenção do bem-estar infantil (Moura et al., 2015).
A não realização das visitas domiciliares no momento apropriado enfraquece as intervenções empreendidas e contribui para o desmame precoce. Além disso, é mais vantajoso conhecer e compreender a dinâmica familiar por meio da visita, e não apenas através dos relatos obtidos durante as consultas na unidade de saúde (Lucena et al., 2018; Medeiros; Costa, 2016). O tema da amamentação tem sido amplamente enfatizado nos dias atuais, visto que a não realização ou o adiamento das visitas domiciliares prejudica a manutenção do aleitamento materno, favorecendo a substituição parcial ou completa por fórmulas infantis (Lucena et al., 2018).
Os enfermeiros têm dado prioridade às visitas domiciliares na primeira semana de vida do RN, considerando esta abordagem como uma estratégia essencial. Em alguns casos, tentam realizar as VD nos primeiros 15 dias após o nascimento. No entanto, enfrentam desafios na execução precoce dessas visitas domiciliares. Eles observam que algumas puérperas inicialmente procuram a casa de familiares após o parto e só posteriormente retornam para o próprio lar. Além disso, apontam que os agentes comunitários de saúde frequentemente não agendam corretamente as VD, dificultando o processo (Lucena et al., 2018).
Quanto aos cuidados prestados durante essas visitas, eles incluem a observação da mãe nas ações voltadas ao RN, a avaliação do coto umbilical, a identificação de sinais de icterícia e o acompanhamento da amamentação. Além disso, os enfermeiros fornecem orientações sobre o banho de sol, realizam verificações e encaminham para triagem neonatal (incluindo o teste do pezinho e do olhinho) e discutem o cronograma de imunizações. Surpreendentemente, o tema das vacinas, apesar de sua importância inquestionável, tem sido pouco enfatizado durante as consultas ao RN, conforme destacado pelo estudo de Loureiro et al. (2012), onde esse assunto ocupou a quinta posição na lista de conteúdos mais abordados durante as consultas de puericultura.
No que diz respeito à prevenção de complicações, as anotações de enfermagem frequentemente carecem de informações abrangentes para entender completamente as necessidades e problemas subjacentes que levaram a essas condições. Verificou-se que elementos como exame físico, hábitos da criança e contexto familiar não foram devidamente considerados pelos profissionais. Além disso, os autores notaram que as intervenções tendem a se concentrar em abordagens curativas, muitas vezes envolvendo prescrições medicamentosas. Eles sugeriram, no entanto, uma revisão na ficha de consulta de puericultura para incluir campos adicionais, a fim de abranger mais informações e proporcionar um cuidado holístico a essa população (Ferreira et al., 2019).
No contexto das relações familiares e prevenção de complicações, há uma lacuna na discussão sobre o acolhimento da criança pela família e na investigação de possíveis fatores de risco, como o uso de drogas e álcool no ambiente familiar, que são significativos para o recém-nascido (Lucena et al., 2018).
Quanto à atenção à puérpera, as orientações específicas destinadas às mulheres têm sido limitadas (Lucena et al., 2018), embora o estudo de Chen et al. (2014) tenha observado que cuidados voltados para os lóquios da puérpera foram considerados. A visita domiciliar ao bebê surge como uma oportunidade propícia para oferecer assistência à mãe, especialmente porque ela aguarda a consulta de retorno na unidade de saúde, geralmente por volta do 40° dia pós-parto. Dessa forma, a avaliação da mulher pode ser realizada precocemente, permitindo a identificação de suas necessidades e oferecendo um atendimento adequado (Medeiros; Costa, 2016).
Considerando os temas relacionados à atenção à puérpera e às dinâmicas familiares, que frequentemente passam por transformações durante a adaptação do RN ao lar, os dados apresentados por Loureiro et al. (2012) indicam que a discussão sobre afeto e adaptação social são os temas menos abordados durante as consultas de puericultura. A realização dessas consultas, entretanto, desempenha um papel crucial no acompanhamento da idade da mãe-bebê, focando na prevenção e promoção da saúde para ambos.
Elementos fundamentais durante a consulta de enfermagem ao recém-nascido
Na primeira consulta de enfermagem, é fundamental que o enfermeiro enfatize a necessidade de agendamento regular de consultas subsequentes, com consentimento dos pais. Durante todas as consultas, é essencial utilizar a Caderneta da Criança para registrar informações cruciais sobre a saúde da criança, facilitando a comunicação entre pais e profissionais de saúde (Simão et al., 2022).
Em geral, a consulta ao recém-nascido envolve cinco etapas distintas. A primeira é a Anamnese, na qual o profissional busca avaliar detalhes cruciais sobre o nascimento da criança, como tipo de parto, local, peso ao nascer, idade gestacional, índice de Apgar, complicações durante a gestação, parto e período neonatal, além de quaisquer tratamentos realizados. Também são analisados os antecedentes familiares, incluindo a saúde dos pais e irmãos, e informações sobre gestações anteriores e número de irmãos (Simão et al., 2022; Oliveira, 2023).
A segunda fase envolve o Exame Clínico, sendo que o primeiro exame clínico completo deve ocorrer na maternidade imediatamente após o nascimento e ser repetido na primeira consulta do recém-nascido. Todos os detalhes devem ser registrados na Caderneta da Criança e compartilhados com os pais ou cuidadores para facilitar a compreensão das necessidades do bebê. Durante esse exame, avalia-se o peso, comprimento, índice de massa corporal (IMC) e perímetro cefálico, além de aspectos do desenvolvimento social e psicoafetivo, estado geral, face, pele, musculatura, crânio, olhos, ouvidos, nariz, boca, pescoço, tórax, abdômen, aparelho geniturinário, ânus, sistema osteoarticular, coluna vertebral e função neurológica (Curado et al., 2019).
O terceiro estágio envolve as triagens neonatais, que abrangem os testes metabólicos, auditivos, oculares e cardíacos. As equipes de saúde devem verificar se o recém-nascido passou por esses testes na maternidade ou se foi encaminhado para realizá-los posteriormente. Caso não tenham sido realizados ou o resultado seja inconclusivo, a criança deve ser encaminhada para exames adicionais. Além disso, as equipes da Atenção Primária à Saúde (APS) devem monitorar o desenvolvimento, audição, linguagem, amamentação e sinais de cardiopatias congênitas nas crianças.
A Triagem Cardiológica, também conhecida como Teste do Coraçãozinho, é realizada através da oximetria de pulso, permitindo o diagnóstico precoce de cardiopatias congênitas graves. É fundamental que seja feito entre 24 e 48 horas e, no máximo, até o segundo dia de vida. É importante verificar se foi realizado na maternidade e, em caso positivo, garantir que o paciente seja encaminhado para atendimento especializado (Queiroz Lucena, 2020).
Já a Triagem Metabólica, popularmente conhecida como Teste do Pezinho, avalia na rede pública de saúde doenças como fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, fibrose cística, doenças falciformes, outras hemoglobinopatias, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita. Recomenda-se que a coleta seja realizada idealmente na alta hospitalar ou entre o terceiro e o quinto dia de vida do bebê, devido à necessidade de intervenção imediata em caso de diagnóstico positivo (Acosta; Strefling; Gomes, 2013).
A Triagem Auditiva, conhecida como “Teste da Orelhinha”, é realizada nos primeiros dias de vida (entre 24h a 48h), antes da alta hospitalar ou durante o primeiro mês de vida, visando detectar possíveis perdas auditivas ainda no primeiro mês do bebê. As equipes da APS devem assegurar que o teste tenha sido realizado na maternidade. Caso não tenha ocorrido ou o resultado tenha sido inconclusivo, a criança deve ser encaminhada para serviços especializados para exames adicionais. Além disso, é responsabilidade das equipes de saúde da APS monitorar os marcos de desenvolvimento auditivo e linguagem da criança (Acosta; Strefling; Gomes, 2013).
A Triagem Ocular, conhecida como teste do olhinho, envolve procedimentos simples e rápidos que permitem identificar precocemente deficiências visuais. Caso seja identificada alguma anomalia, é crucial iniciar o tratamento e o processo de reabilitação da criança. Após o nascimento e antes da alta hospitalar, deve-se realizar o rastreamento visual ativo através da inspeção externa e do teste do reflexo vermelho. Caso o teste não seja realizado na maternidade, o profissional de saúde na APS, desde que capacitado, deve executá-lo preferencialmente na primeira consulta e repeti-lo no 4º, 6º e 12º mês de vida, além da consulta aos 2 anos de idade (Acosta; Strefling; Gomes, 2013).
O quarto aspecto trata do Aleitamento Materno, no qual toda equipe de saúde responsável pelo cuidado de mães e recém-nascidos deve ser capacitada para acolher adequadamente as gestantes, promovendo, protegendo e apoiando o processo de amamentação. Amamentar vai além de simplesmente fornecer nutrição à criança; é um processo que envolve uma interação profunda entre mãe e filho, impactando não apenas o estado nutricional e imunológico da criança, mas também sua fisiologia, desenvolvimento cognitivo, emocional e saúde a longo prazo (Silva et al., 2019).
Para mães adolescentes, esse momento pode ser particularmente desafiador devido à falta de experiência e conhecimento sobre amamentação, medo da dor, receios sobre a habilidade de amamentar e o processo como um todo, demandando uma atenção especial por parte dos profissionais de saúde e de suas redes de apoio. Recomenda-se o aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses de vida, seguido pela introdução de alimentos complementares saudáveis, mantendo o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais. A criança deve ser amamentada na primeira hora após o nascimento e, em seguida, de acordo com sua demanda natural (Silva et al., 2019).
O quinto aspecto da consulta envolve orientações preventivas essenciais para promover a saúde da criança, as quais devem ser discutidas com os pais/cuidadores e incluem, segundo Medeiros, Boehs e Heidemann (2013):
1 Banho: A água deve estar a uma temperatura de 37°C. A criança nunca deve ser deixada sozinha na banheira, mesmo que haja pouca água, nem sob a supervisão de outras crianças.
2 Berço: As grades do berço devem ser mantidas elevadas, e a distância entre as ripas não deve ultrapassar 6 cm. Evite almofadas decorativas, travesseiros ou brinquedos de pelúcia no berço do recém-nascido. Use cobertores leves para evitar o risco de sufocamento. Se estiver frio, é preferível vestir a criança com mais roupas do que cobri-la com muitos cobertores. Não é recomendado o uso de travesseiros para recém-nascidos ou lactentes.
3 Transporte no automóvel: A criança deve sempre ser transportada no banco traseiro, em uma cadeirinha de bebê instalada de costas para o banco dianteiro, com cinto de segurança.
4 Posição para dormir: É fundamental alertar sobre o risco de morte súbita em crianças durante o primeiro ano de vida, especialmente nos primeiros seis meses. A melhor maneira de prevenção é colocar o bebê para dormir de barriga para cima (posição supina), e não de lado ou de bruços.
5 Sufocação: Orientações incluem evitar o uso de talco, ajustar bem o lençol do colchão e garantir que o rosto do bebê não fique coberto por lençóis, cobertores, almofadas ou travesseiros. Alertar para a proibição de cordões e acessórios de cabelo, bem como manter a criança longe de objetos pequenos (clips, botões, agulhas, moedas, anéis, brincos, etc.) e de papéis de bala, sacos plásticos, cordões e fios.
6 Prevenção de infecções virais respiratórias: Incentivar a higienização das mãos por todas as pessoas que têm contato com o bebê, a fim de evitar a propagação de vírus causadores de doenças respiratórias. Recomenda-se evitar aglomerações em ambientes fechados, especialmente durante a sazonalidade do Vírus Sincicial Respiratório na região.
Atualidades na consulta de enfermagem ao recém-nascido: Avanços e inovações
Inovar na consulta de enfermagem é crucial para aprimorar continuamente a qualidade dos cuidados oferecidos aos pacientes. Diversas oportunidades de inovação na consulta de enfermagem incluem a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Ferramentas como aplicativos de saúde, dispositivos de monitoramento remoto e sistemas de prontuário eletrônico, por exemplo, facilitam o registro e a análise de dados, promovendo uma comunicação mais eficaz entre enfermeiros e pacientes (Carvalho, 2022).
Além disso, a utilização de recursos tecnológicos educacionais representa uma maneira de desenvolver essas competências no processo de ensino-aprendizagem dos profissionais. A criação e implementação de programas educacionais, bem como a introdução de tecnologias digitais, têm se mostrado crescentes em estudos nacionais e internacionais (Amod; Brysiewicz, 2019; Onturk et al., 2019; Sanguino, 2019). Nesse contexto, surge a oportunidade de construir conhecimento por meio da interação dos alunos com dispositivos comuns em seu dia a dia, como smartphones e computadores (Sousa; Turrini, 2019).
A escolha de ferramentas como aplicativos móveis no ensino-aprendizagem proporcionam diferentes oportunidades para a compreensão do conteúdo abordado, promovendo o desenvolvimento de habilidades cognitivas (Amod; Brysiewicz, 2019; Onturk et al., 2019; Regino et al., 2019) e atitudinais (Ferri et al., 2018). Além disso, a abordagem centrada no paciente, que enfatiza a escuta ativa e a participação do paciente e da família nas decisões relacionadas aos cuidados de saúde, pode ser fomentada durante a consulta de enfermagem. Essa abordagem intensifica a empatia e a compreensão das necessidades individuais do paciente (Reis; Abi Rached, 2017).
A realização de atendimentos em grupo é outra ferramenta inovadora na consulta de enfermagem, possibilitando uma interação mais significativa entre os pacientes e a troca de experiências. Além disso, oferece espaço para atividades educativas coletivas. A integração com outros profissionais de saúde, como médicos, fisioterapeutas e psicólogos, por meio de equipes multiprofissionais, proporciona uma avaliação mais abrangente do paciente e uma abordagem de cuidados mais integrada e eficaz, por meio de um plano terapêutico singular (Dos Anjos et al., 2022).
CONCLUSÃO
Em conclusão, a consulta de enfermagem ao recém-nascido desempenha um papel fundamental no cuidado infantil, promovendo não apenas a avaliação clínica, mas também o apoio emocional e educacional aos pais. Ao longo deste artigo, exploramos diversos aspectos essenciais dessa consulta, desde a anamnese e o exame clínico até a orientação preventiva e a integração de inovações tecnológicas.
A abordagem centrada no paciente, aliada ao uso estratégico de tecnologias como aplicativos móveis e a realização de atendimentos em grupo, revela-se crucial para fortalecer o vínculo entre profissionais de saúde, pais e recém-nascidos. Além disso, a integração efetiva com outros membros da equipe multidisciplinar proporciona uma visão holística da saúde da criança, melhorando assim a qualidade do atendimento.
Nesse cenário em constante evolução, é imperativo que os profissionais de enfermagem estejam atualizados com as últimas tendências e inovações, garantindo assim uma consulta de qualidade e relevância para as necessidades de cada família. Ao adotar uma abordagem colaborativa, empática e orientada para a tecnologia, os enfermeiros estão bem posicionados para continuar aprimorando a assistência ao recém-nascido, contribuindo para um começo saudável e promissor na vida de cada criança.
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1Enfermeira. Pós-graduada em Administração dos Serviços de Saúde pela UNAERP, Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva pela UEPA e Gestão da Clínica nas Regiões de Saúde pelo Hospital Sírio Libanês.
2Enfermeira pela UEPA. Pós-graduada em Gestão e Auditoria em Serviços de Saúde.
3Enfermeira. Pós-graduada em Enfermagem em Nefrologia pela Faculdade Integrada de Goiás e Gestão e Auditoria em Enfermagem pela ISEAT.
4Enfermeira. Pós-graduada em Saúde da Mulher e da Criança. Mestre em Saúde na Amazônia. Enfermeira do Hospital Adventista de Belém.
5Enfermeira. Doutora em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários pela UFPA. Professora Adjunta da UEPA. Belém, Pará, Brasil.
6Enfermeiro pela /Faculdade Pan Amazônica (FAPAN). Pós-Graduado em Ginecologia e Obstetrícia (ESAMAZ). Graduação em Educação do Campo – Ciências Naturais (UFPA).
7Enfermeira pela UFPA. Especialista em Atenção Integral à Saúde da Mulher e da Criança (UEPA). Enfermeira do Pré-Natal do Centro de Saúde Escola do Marco (UEPA).