NEUROCISTICERCOSE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8428857


Gisele Pires1
Americo Mota2
Aquino Santana Gomes3
Rafael Valois Vieira4
Thiago Augusto Cavalcante de Carvalho5
Thiago Lomanto de Góes Brito6
Rodrigo Pires7
Izabela Priscilla Silveira Gonçalves Nascimento8
Ezequiel Harisson de Sousa Bezerra9
Shirley Terezinha Cardoso Ferreira10
Camila Dierre Cordeiro Santos11


RESUMO

A cisticercose é quando ocorre a infestação do organismo humano pela larva do helminto da tênia. Quando ocorre a infestação do sistema nervoso central pelo cisticerco da Taenia solium, ela é conhecida como neurocisticercose. Em geral, as manifestações clínicas aparecem alguns meses depois da infecção e elas podem ser: encefalite focal, edema dos tecidos, vasculite e ruptura da barreira hematoencefálica. Para o diagnóstico adequado, é essencial priorizar a clínica e a epidemiologia fazendo a complementação com os exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Pode também ser feitas as provas imunológicas como do líquido cefalorraquidiano, possibilitando caracterizar a neurocisticercose de forma adequada, devido detectar os antígenos anticisticerco nele. O tratamento deve ser realizado de acordo com o estágio dos cisticercos. Por fim, realizando o diagnóstico de maneira adequada, se terá um tratamento eficiente.

PALAVRAS-CHAVE: Infestação. Cisticercos. Neurocisticercose.

SUMMARY

Cysticercosis is when the human body is infested by the larva of the tapeworm helminth. When infestation of the central nervous system by Taenia solium cysticerci occurs, it is known as neurocysticercosis. In general, clinical manifestations appear a few months after infection and can be: focal encephalitis, tissue edema, vasculitis and rupture of the blood-brain barrier. For an adequate diagnosis, it is essential to prioritize clinical and epidemiological studies, complementing them with imaging tests, such as computed tomography and magnetic resonance imaging. Immunological tests such as cerebrospinal fluid can also be carried out, making it possible to characterize neurocysticercosis adequately, due to the detection of anticysticercus antigens in it. Treatment must be carried out according to the stage of the cysticerci. Finally, by carrying out the diagnosis properly, efficient treatment will be provided.

KEYWORDS: Infestation. Cysticerci. Neurocysticercosis.

1 INTRODUÇÃO

A cisticercose é a infestação do organismo humano que acontece por meio da larva do helminto tênia. Sua patogenia humana acontece na localização do parasita em alguns tecidos, como o globo ocular e o sistema nervoso central (SNC). Sendo que a infestação do SNC pelo cisticerco da Taenia solium se dá o nome de neurocisticercose, que afeta ambos os sexos e pode ser encontrada na faixa etária de 5 a 75 anos de idade, mas que tem maior incidência de 25 aos 35 anos de idade (BARROS et al.2003).

A questão socioeconômica de muitos países em desenvolvimento tem uma associação com a cisticercose humana e animal, visto que, mesmo essa patologia tendo potencial alto de erradicação, a falta de saneamento básico, a investigação precária em animais de abatedouros e as medidas insuficientes de higiene pessoal e de lavagem de alimentos, fomentam a sua persistência (CARPIO; ROMO, 2014).

Diante das manifestações clínicas que envolvem a patologia da neurocisticercose e suas intervenções, o objetivo do presente estudo foi sintetizar e analisar criticamente as informações da literatura científica, expondo as suas principais características, exames de diagnóstico e resultados mais eficazes e relevantes.

2 DISCUSSÃO

2.1 Definição e formas de adquirir a cisticercose

A cisticercose é a infecção proveniente da forma cística da tênia do porco, que é a Taenia solium. Já a neurocisticercose é quando o sistema nervoso central é acometido. Ela é a infecção parasitária mais frequente desse sistema (CHIMELLI et al., 1998).

Para que exista a cisticercose, precisa que os ovos da tênia cheguem ao estômago do homem e isso pode acontecer de duas formas: pela autoinfecção, onde os ovos do indivíduo infectado são transferidos da região perianal para a boca; e pela heteroinfecção, que ocorre através da ingestão dos ovos pela água ou alimentos contaminados (AGUIAR et al., 2020).

2.2 Manifestações clínicas

As manifestações clínicas ocorrem de acordo com a localização, número e estágio de desenvolvimento dos cistos. Os sintomas podem aparecer anos depois da ingestão dos ovos da tênia, porque o período de incubação dura de quatro a cinco anos (AGAPEJET et al., 2003).

Normalmente, os sintomas começam quando os cistos envelhecem e provocam uma resposta inflamatória do hospedeiro. Diante disso, quem tem neurocisticercose pode apresentar convulsões, sinais de aumento de pressão intracraniana, danos neurológicos, meningite e alteração do comportamento (BRUNO et al.2013).

2.3 Diagnóstico

Quando uma pessoa tiver algum distúrbio neurológico, de personalidade ou cognitivo e que ela esteja em área em que a neurocisticercose é comum, os profissionais de saúde devem suspeitar dessa patologia (CARABIN et al., 2011).

Tendo a teníase pode facilitar no diagnóstico, mas o que acontece é que nem sempre está presente a infestação intestinal na cisticercose. Entretanto, com o exame neurológico, tem como se saber a provável localização do problema e, com isso, se escolher o exame de imagem mais adequado para confirmar o local e planejar o tratamento. O exame de imagem pode ser tomografia computadorizada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM) (GARCIA et al., 2005).

Em alguns casos, a RNM pode sugerir o diagnóstico, caso a imagem do cisto seja realmente identificada. Além disso, o exame de líquor, que ocorre pela punção lombar, pode fazer esse diagnóstico também, mas ainda temos uma última opção se esses exames acima citados não tiverem tido êxito, que é a biópsia da lesão (GUIMARÃES et al., 2010).

Se estiver uma suspeita bem evidente e a evolução clínica for compatível com a neurocisticercose, não precisa ter certeza do diagnóstico e o tratamento deve iniciado o quanto antes (GARCIA et al., 2020).

2.3.1 Achados radiológicos

Figura: imagens de tomografia computadorizada sem contraste evidenciando raras e diminutas calcificações corticossubcorticais (setas em D e E) situadas no giro frontal médio/ inferior esquerdo, no giro orbital lateral/posterior esquerdo e na transição entre a parede do ventrículo lateral esquerdo e o plexo coroide adjacente, representando sequelas de neurocisticercose. Além de aqueduto mesencefálico levemente alargado, questionando-se presença de pequena imagem cística em seu interior (atenuação levemente superior à do LCR), representando neurocisticercose intraventricular (setas em A, B e C).

Os achados radiológicos da neurocisticercose são muito característicos. Eles podem ser: múltiplas calcificações arredondadas ou ovais dentro do parênquima cerebral e várias lesões císticas e calcificadas pelo parênquima (COSTA et al., 2020).

Na imagem em questão pode-se perceber calcificações corticossubicorticais, que são sequelas de neurocisticercose; aqueduto mesencéfalico levemente alargado, tendo neurocisticercose intraventricular.

2.4 Tratamento

A prevenção é o melhor tratamento. Se ocorrer o cozimento completo da carne suína, a infecção por vermes adultos pode ser evitada. Tendo hábitos corretos de higiene pessoal e alimentação se pode ter a prevenção da cisticercose. Entretanto, em regiões que essa doença é comum e que tem uma alta taxa de infectados, mesmo com esses cuidados individuais, o controle é difícil, assim, cabe aos órgãos públicos investigar locais que tenham porcos doentes para tratar diretamente (GRIPPER; WELBURN, 2017).

Quando ocorre a infecção pela Taenia solium, a pessoa infectada tem que ser tratada de forma rápida e cuidadosa, com o intuito de fazer a eliminação dos vermes adultos e deve ser examinada pelo especialista juntamente com as pessoas próximas a ela para descartar a possibilidade de infecção concomitante por cisticercose. Esse tratamento é realizado atrás de medicação oral (DEL BRUTO; GARCIA, 2015).

O tratamento da patologia em questão serve para reduzir a resposta inflamatória, mas nem todos os pacientes devem ser tratados, como no caso de os cistos já estarem mortos ou quando a resposta inflamatória devido o uso do medicamento ser pior do que a doença. Então, sendo assim, o tratamento se restringirá apenas a observação, uso de antiparasitários e anti-inflamatórios hormonais e, em casos excepcionais, a cirurgia (PASSOS; DE MOURA RODRIGUES, 2022).

Precisam de tratamento cirúrgico, normalmente, as seguintes formas da doença: que evoluem com aumento da pressão intracraniana, que tem dor de cabeça forte, vômitos, e alteração do nível de consciência. Tais manifestações clínicas podem ocorrer devido o cisto poder se comportar como um tumor, podendo causar uma grande inflamação e, consequentemente, um inchaço cerebral ou obstrução da circulação do líquido cefalorraquidiano (líquor) (RODRÍGUEZ-RIVAS et al., 2022).  

A cirurgia serve para fazer a retirada do cisto que está causando algum problema, para descompressão do cérebro que sofre com inchaço ou para desobstrução da circulação de líquor por meio de neuroendoscopia ou derivação liquórica, denominada, também, como válvula, derivação ventrículo-peritoneal, shunt ou derivação ventricular. A neurocisticercose que esteja comprimindo os nervos ou medula, que acomete a coluna ou medula espinhal, também tem indicação de se realizar cirurgia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021).

2.5 Evolução da neurocisticercose

Nos casos em que os cistos estão localizados dentro do cérebro, irão apresentar melhor evolução, tanto se forem de tamanho habitual que será tratado por meio de medicação parasiticida quanto se forem gigantes através de tratamento cirúrgico. Entretanto, quando são nos casos que causam obstrução da circulação de liquor, inflamação considerável e implantação de derivações, vão ter evolução mais complicada por meio de internações frequentes e deterioração neurológica (SOBREIRA, 2017).

Assim, o que ocorre é que quanto menor for a inflamação, se terá um melhor prognóstico. Então, quando for instituído o tratamento o mais precoce possível, melhora será o resultado de cura da patologia em apreço (ZAMMARCHI et al., 2017).  

3. CONCLUSÃO

A neurocisticercose não está erradicada ainda e é endêmica em alguns países, por exemplo, no Brasil, onde pode-se destacar maior prevalência nos países de baixa renda. Sua apresentação clínica é pleomórfica, pois tem inflamações e calcificações. Existe a ocorrência de distúrbios neurológicos associados à infecção e a hipertensão intracraniana.

Resta salientar que a prevenção é um ótimo tratamento para a neurocisticercose, pois tendo uma higiene pessoal adequada e fazendo a lavagem correta dos alimentos, já distancia a possibilidade de se ter essa patologia.

Desse modo, para se definir a terapêutica adequada é necessário fazer a identificação da forma de apresentação da doença, saber o número de cisticercos presentes, se eles estão mortos ou não e a sua localização. Então, a equipe multiprofissional deve estar munida de recursos diagnósticos, suporte neurológico e infectológico, em busca de se ter um tratamento assertivo e eficaz.

REFERÊNCIAS

AGAPEJEV, S. et al.  Aspectos clínico-epidemiológicos da neurocisticercose no Brasil:  análise crítica. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 2003.

AGUIAR, F.O. et   al.   Aspectos   laboratoriais   ao   diagnóstico   da   neurocisticercose:   uma   revisão bibliográfica.Revista Ciência em Movimento – Reabilitação e Saúde, 2020.

BARROS, J. D.  et alDiagnóstico e tratamento da neurocisticercose. Revista Médica de Minas Gerais, 2003.

BRUNO, E. et al.  Epilepsy  and  neurocysticercosisin  Latin  America:  a  systematic  review  and  meta-analysis.PLoS neglected tropical diseases, 2013.

CARABIN, H. et al.  Clinical manifestations associated with neurocysticercosis:  a systematic review. PLoS neglected tropical diseases, 2011.

CARPIO, A. e ROMO, M. L. The relationship between neurocysticercosis and epilepsy: an endless debate. Academia Brasileira de Neurologia – ABNEURO, 2014.

CHIMELLI, L.  et  al. Neurocisticercose:  contribuição  da  necrópsia  na  consolidação  da  notificação compulsória em Ribeirão Preto-SP, Brazil.Arquivos de neuro-psiquiatria, 1998.

COSTA, A. L. et al. A importância da Ressonância Magnética na fase nodular calcificada intermitente da Neurocisticercose: Um estudo de prospecção da Literatura científica.Brazilian Journal of Development, 2020.

DEL BRUTO, O. H. e GARCIA, H. H. Taenia solium Cisticercose – As lições da história. Jornal das ciências neurológicas, 2015.

GARCIA, H. H. et al. Neurocysticercosis: updated concepts about an old disease.The Lancet Neurology, 2005.

GARCIA, H. H.  et al.  Taenia solium cysticercosisand its impact in neurological disease.  Clinical Microbiology Reviews, 2020.

GRIPPER, L. B.  e WELBURN, S. C.  The causal relationship between neurocysticercosis infection and the development of epilepsy-a systematic review. Infectious diseases of poverty, 2017.

GUIMARÃES, R. R.   et   al.   Neurocisticercose:   Atualização   sobre   uma   antiga   doença.Revista Neurociências, 2010.

PASSOS, E. T.  e DE MOURA RODRIGUES, G. M. Medidas profiláticas e métodos de diagnósticos da neurocisticercose. Revista Liberum accessum, 2022.

RODRÍGUEZ-RIVAS, R. et al. Neurocysticercosis in Latin America:  Current epidemiological situation based on official statistics from four countries.  Plos Neglected Tropical Diseases, 2022

SOBREIRA, M. F. D.  Estudo coproparasitológico e epidemiológico do complexo teníase-cisticercose em habitantes do Município de Santa Cruz-Paraíba. Repositório Institucional da UFPB, 2017.

WORLD HEALTH ORGANIZATION.  Guidelines on Management of Taenia solium neurocysticercosis, 2021.

ZAMMARCHI, L. et al.  Screening, diagnosis and management ofhuman cysticercosis and Taenia solium taeniasis: technical recommendations by the COHEMI project study group.Trop Med Int Health, 2017.


1(https://orcid.org/0009-0003-8506-9348)
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

2 (https://orcid.org/0000-0003-0477-8330)
Docente do Curso de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

3 (https://orcid.org/0000-0001-8887-9264)
Docente do Curso de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

4(https://orcid.org/0000-0001-7871-4175)
Docente do Curso de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

5(https://orcid.org/0000-0002-2307-9300)
Docente do Curso de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

6 (https://orcid.org/0009-0001-9975-5416)
Interno de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

7 (https://orcid.org/0009-0001-6733-8319)
Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

8(https://orcid.org/0009-0004-3001-5075)
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

9(https://orcid.org/0009-0004-3742-20870)
Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

10 (https://orcid.org/0009-0006-8696-7010)
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia

11 (https://orcid.org/0009-0001-4860-9734)
Acadêmica de Medicina da Faculdade Estácio IDOMED de Juazeiro da Bahia