AVALIAÇÃO DOS ESTILOS DE APRENDIZAGEM EM ANATOMIA HUMANA

ASSESSMENT OF LEARNING STYLES IN HUMAN ANATOMY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8396375


¹Bianca Desiree Souza Sabbag
²Renata Conti Narimatsu
³Aline Rosa Marosti


Resumo

A construção de significado sobre conteúdos abordados em sala de aula é diferente entre os estudantes. Dessa forma, um dos métodos utilizados para verificação do estilo de aprendizagem mais difundidos é o modelo Index of Learning Styles (ILS), proposto por Barbara A. Soloman e Richard M. Felder, no ano de 1995. O questionário ILS contempla oito das categorias mais utilizadas durante o processo de aprendizagem: ativo/reflexivo, sensorial/intuitivo, visual/verbal e sequencial/global. Nos últimos anos, o ensino de Anatomia Humana, considerada primordial na matriz curricular de diversos cursos na área da saúde, sofreu diversas alterações em decorrência do avanço nos métodos de aprendizagem. No entanto, ainda são consideradas um desafio entre os estudantes da área. Assim, essa pesquisa teve como objetivo analisar a predileção dos entrevistados por cada dimensão do ensino, a fim de determinar qual se adequa a maior parte deles. Para isso, foi realizado um formulário de pesquisa no Google Forms, contendo um questionário introdutório e o questionário ILS, aplicado aos estudantes de medicina da UniCesumar, a fim de compreender as metodologias de estudo mais efetivas para cada indivíduo. Feito isso, os dados foram analisados estatisticamente e comparados com base nas referências bibliográficas utilizadas. Com base na pesquisa elaborada constatou-se que a maioria dos graduandos apresentam uma preferência pelo modo de aprendizado sensitivo e visual em relação aos demais, o que indica que aprendem melhor com a utilização de metodologias ativas, como o Problem Based Learning (PBL). Dessa forma, foi possível entender as preferências dos discentes em relação ao estudo da Anatomia Humana e, espera-se que, ao tentar enquadrar o modo de ensino à preferência dos alunos, haja um melhor desempenho, visando superar os desafios. 

Palavras-chave: Aprendizagem. Desempenho acadêmico. Métodos.

Abstract

The construction of meaning about content covered in the classroom is different among students. Thus, one of the most widely used methods to verify learning styles is the Index of Learning Styles Model (ILS), proposed by Barbara A. Soloman and Richard M. Felder, in 1995. The ILS questionnaire includes eight of the most commonly used categories during the learning process: active/reflective, sensory/intuitive, visual/verbal, and sequential/global. In recent years, the teaching of Human Anatomy, which is considered essential in the curricular matrix of various health courses, has undergone several changes as a result of advances in learning methodologies. However, they are still considered a challenge among students of the area.  In this way, this research focuses its gaze on analyzing the preference of the interviewees for each dimension of teaching, in order to determine which, one suits most of them. To this end, a Google Forms survey, containing an introductory questionnaire and the ILS questionnaire was applied to medical students at UniCesumar in order to understand the most effective study methodologies for each individual. After that, the data was statistically analyzed and compared based on the bibliographic references used. Based on the survey, it was found that most undergraduates have a preference for the sensory and visual learning mode over the others, which indicates that they learn better with the use of active methodologies, such as Problem Based Learning (PBL). Thus, it was possible to understand the student’s preferences regarding the study of Human Anatomy and, hopefully, by trying to fit the teaching mode to the student’s preference, there will be a better performance, aiming to overcome the challenges.

Keywords: Learning. Academic performance. Methods.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo determinar quais métodos de ensino são os mais eficientes para assimilação do conteúdo de Anatomia Humana pelos discentes. Assim, é possível contribuir para identificar as lacunas de conhecimento na disciplina de Anatomia Humana, de acordo com o tipo de aprendizagem individual dos alunos, visto que o processo de ensino-aprendizagem é complexo e engloba inúmeras variáveis. Em seguida, este trabalho visa identificar quais métodos de ensino-aprendizagem são mais adequados à cada tipo de canal de aprendizagem (visual, auditivo, leitura/escrita e cinestésico). Sendo assim, a pesquisa demonstrou os métodos que os alunos mais se identificaram para o estudo da Anatomia Humana, fazendo com que os docentes possam priorizar tais técnicas durante o ensino. 

Este trabalho se demonstra de extrema importância considerando que ao aprimorar as técnicas de ensino, o conteúdo será melhor assimilado pelos discentes, fazendo com que os mesmos desenvolvam maior interesse pela matéria e assim, aprofundem os seus estudos.

Dessa forma, o estudo propõe também estratégias possam facilitar o processo de ensino-aprendizagem de Anatomia Humana, contribuindo com uma sólida formação médica. 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A construção de significado sobre conteúdos abordados em sala de aula é diferente entre os estudantes, de forma que cada um deve descobrir em qual técnica se adapta melhor, pois apresentam características e fundamentos próprios (FORNAZIERO et al., 2010). Segundo Dembo (1994), existem estratégias cognitivas e metacognitivas. As cognitivas dizem respeito a processos externos que podem influenciar na aprendizagem, como pensamentos e comportamentos. Já as metacognitivas são ações previamente planejadas que visam aumentar a reflexão do indivíduo, fazendo com que o mesmo pondere sobre o seu próprio processo de aprendizado, podendo adequar suas técnicas conforme forem aparecendo as dificuldades (DEMBO, 1994; SANTOS; BORUCHOVITCH, 2011).

Nesse sentido, o estilo de aprendizagem é a maneira que cada pessoa obtém e assimila os conhecimentos (SILVA; WECHSLER, 2010). Sobre isso, um dos métodos de estilo de aprendizagem mais difundidos é o modelo Index of Learning Styles (ILS), traduzido como Índices de Estilos de Aprendizagem, proposto por Barbara A. Soloman e Richard M. Felder, no ano de 1995. O questionário ILS, contempla quatro das dimensões mais utilizadas durante o processo de aprendizagem, sendo elas: ativo/reflexivo (como modo de processamento da informação), sensorial/intuitivo (como modo de percepção), visual/verbal (como modo de entrada) e sequencial/global (como modo de entendimento) (DUARTE; NASCIMENTO, 2021).

Esse modelo define os estilos de aprendizagem como as qualidades e preferências dos indivíduos na forma de receber e processar a informação. Nesse sentido, no que se refere ao modo de processamento, o entrevistado que se enquadrar na dimensão ativo apresentará maior facilidade em compreender as informações de forma participativa e tende a ser experimentalista, esforçar-se ao aprendizado e gosta de trabalhar em grupo. Já o reflexivo, necessita de tempo para que possam refletir sobre as informações recebidas, tende a ser teórico e trabalha melhor sozinho. No que diz respeito ao modo de percepção, o indivíduo sensorial, opta por fatos, dados e experiências, além de preferir resolver problemas por métodos padronizados, tende a ser concreto e prático. Já o intuitivo prefere princípios e teorias, inovando e evitando repetições. É conceitual, inovador, orientado para teorias e significados subjacentes (DUARTE; NASCIMENTO, 2021). 

Acerca do modo de entrada, o estudante visual prefere representações visuais do material apresentado, optando por professores que utilizam gráficos e imagens nas explicações. Já o verbal apresenta maior facilidade com explicações orais ou escritas. Eles relembram facilmente o que ouvem e dizem. Em relação ao modo de entendimento, o sequencial segue um processo de raciocínio linear, administrando o conteúdo segundo uma sequência lógica, em que cada etapa avançada é uma continuação da etapa anterior, em um processo de pensamento linear. Enquanto o global aprende de forma aleatória, podendo ficar alguns dias sem dominar as informações, até que de repente captam todo o conteúdo. Aprendem por um processo de pensamento holístico, em saltos. Assim, de acordo com Duarte (2021), apesar de todos os indivíduos conseguirem se encaixar em todos os polos, a maioria tende a ter preferência por um deles (DUARTE; NASCIMENTO, 2021).

Nessa perspectiva, para que o processo de ensino-aprendizagem seja efetivo, discentes e docentes devem, além de conhecer as técnicas de estilo de aprendizagem, trabalhar de maneira conjunta, como é o que ocorre no uso de metodologias ativas como o PBL (Problem Based Learning) (PEIXOTO, 2019). Para isso, o educador deve compreender a maneira mais efetiva com que seus alunos adquirem conhecimento além de utilizar da criatividade, considerando que os canais visual e sensorial, principalmente, necessitam de uma maior assistência do professor (CANTO; BASTOS, 2020). Ademais, esses dois canais foram apontados como os de maior preferência por parte dos alunos (CANTO et al., 2020).

Relacionando esses conceitos ao estudo da Anatomia Humana, sabe-se que tal disciplina é considerada primordial na matriz curricular de diversos cursos, em especial os envolvidos na área da saúde. Nos últimos anos, a forma como a Anatomia vem sendo ensinada sofreu diversas alterações em decorrência do avanço nos métodos de aprendizagem que foram se aprimorando, principalmente com a inclusão de novas tecnologias (FORNAZIERO et al., 2010). Outros fatores que também contribuíram para essas alterações, de acordo com Silva (2018), foram os progressos das imagens virtuais (em três dimensões), o aumento nas burocracias, o que dificultou a obtenção de cadáveres, além do crescente número de estudantes cursando a disciplina (SILVA et al., 2018).

Nesse viés, tanto discentes quanto docentes estão se deparando com alguns obstáculos no que tange o ensino da Anatomia. Em relação aos discentes, é um consenso que a Anatomia possui uma extensa carga horária, principalmente nos primeiros anos dos cursos da área da saúde, demandando muita memorização, uma vez que há muitas nomenclaturas complexas (FONTELLES et al., 2006). No que se refere aos docentes, os desafios estão vinculados a seleção de quais estruturas anatômicas são mais importantes bem como quais são os melhores métodos de ensino, a fim de ser o mais didático possível para a compreensão dos alunos, atingindo públicos distintos por meio de tipos de aprendizagem diversos (COLARES et al., 2019).

Sendo assim, este trabalho associou as técnicas de ensino-aprendizagem ao estudo da Anatomia Humana, a fim de compreender qual o melhor modelo a ser utilizado, para que possa ser aplicado ao ensino dessa disciplina, auxiliando tanto discentes quanto docentes a superar obstáculos.  O objetivo deste estudo foi determinar quais métodos de ensino são os mais eficientes para assimilação do conteúdo de Anatomia Humana pelos discentes.

METODOLOGIA 

Este trabalho é de natureza aplicada, com uma abordagem mista (quantitativa e qualitativa), de caráter exploratório, com levantamento de dados. O objeto de estudo foram os discentes da disciplina de Anatomia Humana que cursam medicina, contando com uma amostragem de 74 alunos. O estudo foi realizado na Universidade Cesumar (UniCesumar), no Campus Maringá, no período de junho a agosto de 2022. A presente pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de ética em pesquisa com humanos (CEP) com o número 56276322.5.0000.5539. 

A metodologia incluiu a aplicação de um formulário no formato Google Forms, enviada via e-mail, para a coleta de dados referentes ao tipo de aprendizagem individual de cada aluno, baseado em um formulário já validado, o modelo Index of Learning Styles (ILS), traduzido como Índices de Estilos de Aprendizagem. O formulário além de ser validado, é amplamente utilizado na área de ensino. O questionário ILS, contempla quatro das dimensões mais utilizadas durante o processo de aprendizagem, cada uma delas está dividida em duas categorias: processamento (ativo/reflexivo), percepção (sensorial/intuitivo), entrada (visual/verbal) e entendimento (sequencial/global).  

Esse questionário possui 44 questões do tipo múltipla escolha, cada uma com duas alternativas, na qual o aluno deve marcar apenas uma das duas opções. Essas questões foram distribuídas de maneira ordenadamente intercaladas, sendo 11 questões por dimensão. Na dimensão de processamento a letra A corresponde a categoria ativo e a letra B corresponde a categoria reflexivo. Já na dimensão de percepção, a letra A é sensorial, enquanto a B é intuitivo. Na dimensão de entrada, a letra A corresponde a categoria visual e a B, verbal. Por fim, na dimensão entendimento, a letra A é sequencial e a B é global.  

Assim, cada categoria dentro de uma dimensão pode pontuar um máximo de 11 pontos e um mínimo de zero. Ao final são somadas quantas respostas foram relacionadas a cada categoria em questão, subtraindo-se o maior do menor valor. No final, deve ser adicionado a letra A ou B que representa a categoria dentro da dimensão que recebeu a maior pontuação. Como por exemplo, na dimensão de entrada a letra A é visual e a letra B é verbal. Dessa forma, se o indivíduo marcar 7 alternativas “A” e 4 alternativas “B”, seu resultado final será a subtração do maior pelo menor (ou seja, 7 menos 4) somado a letra com a maior frequência (isto é, a letra A), resultando em 3A. 

Se pontuar 1 ou 3, o discente se encontra claramente equilibrado, o que significa que não há grandes discrepâncias quanto ao estilo de aprendizado deste. Ainda, se pontuar 5 ou 7, o estudante possui uma preferência moderada por uma das categorias em questão, o que significa que aprenderá mais facilmente se o ambiente de ensino favorecer esta categoria. Por fim, se pontuar 9 ou 11, o entrevistado possui uma forte preferência pela categoria em questão, o que significa que ele poderá ter dificuldades de aprendizagem em um ambiente que não favoreça essa preferência. Ressaltando que para saber essa categoria dentro da dimensão é necessário analisar se o resultado foi “A” ou “B”, como supracitado.

Além disso, junto ao questionário foi aplicado um questionário introdutório, baseado no artigo “Estilos de aprendizagem sob uma perspectiva sensorial aplicando o questionário VARK: um estudo transversal com estudantes de medicina” (SIQUEIRA et al., 2015), visando compreender melhor a forma de aprendizagem do aluno associado ao período acadêmico em que o mesmo está cursando. Nesse sentido, o formulário questiona ao entrevistado o modo que ele acredita estar mais próximo ao seu estilo de aprendizagem, utilizando para isso as dimensões do VARK: visualizando, ouvindo, lendo, praticando, ou não sabe responder. A partir disso, utilizou-se  o questionário do ILS, e fora possível realizar uma comparação, com base na literatura explicitada na introdução, que demonstra que o aluno que acredita aprender melhor visualizando se enquadra na categoria visual; o aluno refere que aprende melhor ouvindo, enquadra-se na categoria verbal; o aluno que presume aprender melhor lendo se enquadra na categoria reflexivo; e o aluno que menciona aprender melhor praticando encaixa-se na categoria ativo.

Foi realizada uma análise descritiva com abordagem quantitativa por meio das ferramentas Excel, para o processamento das respostas, e pelo software científico IBM SPSS V21, para a análise estatística. Em seguida, as informações foram processadas, avaliadas por cruzamento de dados e apresentados na forma de gráficos e quadros.

RESULTADOS 

Foram avaliados 74 estudantes no total, sendo 4,1% estudantes do 12° semestre, 1,4% do 10° semestre, 9,5% do 9° semestre, 17,6% do 8° semestre, 5,4% do 7° semestre, 45,9% do 6° semestre, 4,1% do 5° semestre, 6,8% do 4° semestre e 5,4% do 3° semestre (Gráfico 1). Ao serem questionados sobre a utilização da metodologia ativa PBL (Problem Based Learning), utilizada pela instituição, 52,7% acreditam que a mesma auxilia na compreensão dos conteúdos, enquanto 36,5% não o consideram e 10,8% não souberam responder (Gráfico 2). 

Gráfico 1. Distribuição com relação ao semestre que o graduando está cursando.

Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 2. Distribuição entre alunos que acreditam que o PBL auxilia na compreensão do estudo da Anatomia Humana. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Foi questionado sobre a opinião dos graduandos acerca da sua compreensão sobre qual seria o seu estilo de aprendizagem de maior preferência, baseado no questionário VARK, conforme foi explicado em materiais e métodos. Assim, 4,1% acreditam que preferem aprender lendo, 5,4% ouvindo, 18,9% visualizando e 70,3% praticando. 1,4% não souberam responder (Gráfico 3). 

Gráfico 3. Distribuição da preferência do aluno sobre o estilo de aprendizagem. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Dentre os participantes, 45,9% acredita que o seu método de estudo utilizado para a disciplina de Anatomia Humana possibilita a retenção de conteúdo, enquanto 43,2% acredita que não há retenção e 10,8% não souberam responder. Ao serem indagados acerca do seu desempenho nessa disciplina, em uma escala de 0 a 10, sendo 0 a pior nota e 10 a melhor, 1,4% se auto avaliou com nota 2, 2,7% com nota 3, 8,1% com nota 4, 5,4% com nota 5, 16,6% com nota 6, 29,7% com nota 7, 25,7% com nota 8, 8,1% com nota 9 e 2,7% com nota 10. Os dados de retenção de conteúdo foram correlacionados com o desempenho na matéria de anatomia humana (Quadro 1).

Quadro 1. Correlação entre retenção de conteúdo e desempenho na matéria de Anatomia Humana.

Fonte: Dados da pesquisa.

As 44 questões acerca do formulário ILS foram compiladas em 4 dimensões, com duas categorias em cada uma. Cada categoria pode pontuar um máximo de 11 pontos e um mínimo de zero. Ao final foram somadas quantas respostas estariam relacionadas a cada categoria, subtraindo-se o maior do menor valor. No final, foi adicionado a letra A ou B que representa a categoria dentro da dimensão que recebeu a maior pontuação. Assim, na dimensão de processamento, a letra A corresponde a categoria ativo e a letra B corresponde a categoria reflexivo (Gráfico 4). Já na dimensão de percepção, a letra A é sensorial, enquanto a B é intuitivo (Gráfico 5). Na dimensão de entrada, a letra A corresponde a categoria visual e a B, verbal (Gráfico 6). Por fim, na dimensão entendimento, a letra A é sequencial e a B é global (Gráfico 7). Dessa maneira, foram obtidos 12 possíveis resultados para cada dimensão, sendo eles: 1A, 1B, 3A, 3B, 5A, 5B, 7A, 7B, 9A, 9B, 11A e 11B.

Gráfico 4. Distribuição da dimensão de processamento do conhecimento entre as categorias ativo e reflexivo. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 5. Distribuição da dimensão de percepção do conhecimento entre as categorias sensorial e intuitivo. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 6. Distribuição da dimensão de entrada do conhecimento entre as categorias visual e verbal.

Fonte: Dados da pesquisa.

Gráfico 7. Distribuição da dimensão de entendimento do conhecimento entre as categorias sequencial e global.

Fonte: Dados da pesquisa.

Dessa maneira, os dados referentes a cada uma das dimensões foram cruzados e compilados com os dados acerca da perspectiva do estudante no desempenho da matéria de Anatomia Humana (Quadro 2; Quadro 3; Quadro 4; Quadro 5).

Quadro 2. Dimensão de processamento e desempenho na matéria. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 3. Dimensão de percepção e desempenho na matéria. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 4. Dimensão de entrada e desempenho na matéria. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 5. Dimensão de entendimento e desempenho na matéria. 

Fonte: Dados da pesquisa.

Ao realizar a média aritmética de desempenho acima de 7,0 (ou seja, somando-se os valores de 7 a 10) para cada coluna entre 1 ou 3 (ou seja, 1A, 1B, 3A e 3B), os resultados foram de 74,9% para o Quadro 2, 57,52% para o Quadro 4 e 67,07% para o Quadro 5. Os resultados apresentados evidenciam que, de fato, esses alunos que pontuaram 1 ou 3 apresentaram bom desempenho em sua totalidade.

Ainda foram cruzados dados sobre o estilo de aprendizado de preferência do estudante, com base no questionário VARK, e a dimensão de processamento (Quadro 6) e dimensão de entrada (Quadro 7), para melhor entendimento da relação da perspectiva do entrevistado sobre a sua preferência de estilo de aprendizado com o seu resultado do questionário ILS.

Quadro 6. Estilo de aprendizado e dimensão de processamento.

Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 7. Estilo de aprendizado e dimensão de entrada. 

Fonte: Dados da pesquisa.

DISCUSSÕES 

O questionário aplicado, contendo questões objetivas, obteve boa taxa de resposta. Por ter sido feito via Google forms, a adesão foi adequada ao que se era esperado, além de permitir maior compartilhamento e abranger mais estudantes, em relação a entrevista presencial. Isso também permitiu a computação e feedback dos dados para os participantes com maior agilidade. 

Foi questionado sobre a opinião dos graduandos acerca da sua compreensão sobre qual seria o seu estilo de aprendizagem de maior preferência, assim 4,1% preferem aprender lendo, 5,4% ouvindo, 18,9% visualizando e 70,3% praticando. 1,4% não souberam responder. Nesse sentido, pode-se observar que houve uma predominância da prática. Corroborando com esse dado, Colares et al. (2019) afirma que a utilização de metodologias ativas tem se comprovado muito eficaz. Nessa perspectiva, há diversas maneiras de incluir a metodologia ativa no aprendizado, como, por exemplo: sala de aula invertida, estudos de caso, aprendizagem entre pares ou times, gamificação, entre outras (COLARES et al., 2019). 

Quando relacionada a retenção de conteúdo com a percepção do aluno em seu desempenho na matéria de Anatomia Humana, foi possível inferir que 20,6% dos participantes que acreditam terem retido o conteúdo, classificaram seu desempenho como abaixo da média, ou seja, 6,0 ou menos. Por outro lado, cerca de 50% dos alunos que responderam que não conseguiram reter o conteúdo, classificaram seu desempenho como abaixo da média. Ao analisarmos os alunos que obtiveram uma média de 7,0 ou mais, é considerável o percentual daqueles que obtiveram bom desempenho mesmo sem a retenção de conteúdo (50%). Apesar disso, 79,4% obtiveram bom desempenho e retiveram o conteúdo, demonstrando que, para a grande maioria dos participantes, a retenção de conteúdo apresenta uma relação direta com o desempenho acadêmico. 

Ao analisar as categorias sensorial, intuitivo, visual e verbal é possível interpretar que não necessariamente seguem uma distribuição normal Gaussiana, ou seja, não há um padrão bem estabelecido. Isso ocorreu, pois, em alguns casos, os participantes apresentaram uma forte ou leve preferência por um estilo de aprendizagem, não seguindo o ideal esperado, que seria claramente equilibrado entre os estilos. No entanto, as dimensões das categorias sequencial, global, ativo e reflexivo seguiram a distribuição normal esperada. 

Conforme a literatura, a aprendizagem é um processo extremamente complexo, uma vez que envolve inúmeras variáveis que se rearranjam e se somam às influências externas, internas, individuais e sociais, de modo que se apresenta com múltiplas facetas e requer versatilidade. Isso se confirma ao analisar o desempenho da disciplina nas diferentes dimensões, nos quais eram esperados que os participantes que se apresentassem mais equilibrados com relação ao estilo de aprendizagem, pontuando 1 ou 3, obtivessem um maior desempenho, uma vez que apresentam um equilíbrio entre os estilos, considerando a variedade supracitada (LOPES, 2002).

Em relação ao estilo sensorial, o presente estudo constatou uma maior prevalência de alunos que se enquadram nessa categoria de aprendizagem, corroborando com a pesquisa de Padmalatha et al. (2022), que identificou uma incidência de 41,2%. Observou-se que os alunos pertencentes a essa categoria apresentaram um desempenho satisfatório na disciplina de anatomia. Isso reforça a ideia de que o estudo anatômico por meio de dissecações, material cadavérico já dissecado e imagens 3D, proporciona uma aprendizagem mais efetiva do que a simples observação (PADMALATHA et al., 2022). 

Quando cruzados os estilos de aprendizagem com a dimensão de entrada das categorias ativo/reflexivo e visual/verbal, foi utilizada uma correlação feita por Duarte (2021), onde é possível interpretar que a competência “praticando” diz respeito a categoria “ativo”, enquanto “lendo” representa “reflexivo”, “visualizando” refere-se à categoria “visual” e a competência “ouvindo” diz respeito a competência “verbal” (DUARTE; NASCIMENTO, 2021). 

Dessa forma, foi observado que a maioria dos participantes da categoria ativo realmente apresentaram maior incidência na linha “praticando”. Segundo O’Mahony et al., (2016) os alunos dessa categoria preferem aprender por meio de atividades como brainstorming ou resolução de problemas, e se beneficiam mais em relação ao aprendizado de discussões em grupo ou exercícios de dramatização. Para o autor, os alunos ativos foram associados a um desempenho geralmente pior na avaliação anatômica, o que não condiz com os resultados do presente trabalho, onde os alunos apresentaram um bom desempenho. Isso se deve ao fato que outros fatores além do estilo de aprendizagem contribuem significativamente para as notas de avaliação nesta amostra (O’MAHONY et al., 2016). 

Por outro lado, na linha “lendo”, da categoria reflexivo, era esperado que a maioria fosse classificada como B. No entanto, não se confirmou, de modo que a correspondência foi de apenas 33,33%. Isso pode ter acontecido por conta da categoria reflexivo abranger mais itens além da leitura, sendo essa uma das possíveis correspondências (DUARTE; NASCIMENTO, 2021). Esta descoberta está em consonância com as evidências que demonstram que os estilos de aprendizagem são apenas um dos vários elementos que influenciam a forma como os alunos respondem às oportunidades de aprendizado. O ambiente, os métodos de ensino e os requisitos curriculares também estão envolvidos em um intricado padrão de interações (O’MAHONY et al., 2016).

Já quando observada a linha “visualizando”, a maioria dos alunos apresentavam correspondência com a categoria visual. Os alunos pertencentes a essa categoria aprendem melhor se puderem ver, como fluxogramas, gráficos, imagens e diagramas. Alunos visuais gostam de desenhar mapas de sua sequência de aprendizagem ou criar padrões de informação (PADMALATHA et al., 2022).

Já no parâmetro “ouvindo” era esperado que a maioria fosse classificada como B independentemente do número, pois representa a categoria verbal, no entanto os resultados se equiparam, resultando em 50%. Quando observados o desempenho dos estudantes verbais, O’Mahony et al., (2016) constatou que essa categoria apresenta bons resultados em exames de anatomia, o que corrobora com os resultados observados no presente trabalho. Othman e Amiruddin (2010), por meio do questionário VARK, mostraram que os alunos verbais aprendem melhor por meio da audição, exemplos dos quais incluem o uso de palestras, capacidade de buscar e obter feedback e potencialmente ter melhor desempenho em contextos de aprendizagem observacional (O’MAHONY et al., 2016; OTHMAN; AMIRUDDIN, 2010). 

Canto (2020) em sua revisão sistemática, concluiu que a maioria dos estudantes apresentam uma preferência pelo estilo visual e sensitivo, corroborando com o presente trabalho. Assim, é de grande importância que o aprendizado passe a ser focado no aluno que deve assumir um papel ativo, motivado por atividades visuais e cinestésicas (CANTO et al., 2020). 

Com relação ao método PBL, foi observado que a maioria dos participantes afirmaram que auxilia na compreensão dos assuntos relacionados à disciplina de Anatomia Humana. Além disso, a maioria dos participantes indicaram que acreditam que aprendem mais praticando, o que se relaciona diretamente com as metodologias ativas. O trabalho está de acordo com Peixoto (2019), que observou que a maioria dos estudantes acredita que o PBL de fato contribui para a aprendizagem, visto que a prática e as discussões advindas desse recurso motivam os estudantes a se comprometerem com o estudo (PEIXOTO, 2019). Somado a isso, segundo Tureck (2023), há uma necessidade de desenvolver o raciocínio clínico em estudantes de medicina. Em sua revisão, foi possível observar que grande parte dos estudos apontaram que os alunos expostos a pacientes reais, simulações e discussões adquirem melhor desenvolvimento dessa habilidade, sendo o PBL umas das estratégias propostas para aproximar o discente da prática (TURECK et al., 2023).     

CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, é evidente a relevância da avaliação dos estilos de aprendizagem, em virtude dos benefícios proporcionados por tal conhecimento, visto que agrega e orienta discentes e docentes em sua esfera educacional, guiando-os nos caminhos que são necessários percorrer para atingir o conhecimento. Apesar disso, vale ressaltar que nenhum instrumento é capaz de abranger os estilos de aprendizagem em sua totalidade, considerando as inúmeras variáveis presentes nesse processo, além de não haver um consenso entre os autores. 

Nessa pesquisa, conforme coletado a partir dos dados e correlacionando com a literatura já referenciada, o melhor método de aprendizagem para que possa ser aplicado ao ensino da disciplina de Anatomia, que auxilia tanto os graduandos quanto o corpo docente a superar os obstáculos, seriam os métodos sensorial e visual. Assim sendo, deve-se optar por metodologias que englobam conteúdos teóricos e práticos, por meio de métodos variados, de modo que alcancem as diferentes formas de aprendizagem. 

Nesse contexto, fica evidente que o PBL é um método adequado para assimilar e reter conteúdos, em função de ser um recurso voltado à prática, que coloca o aluno em uma posição central, possibilitando que o mesmo construa seu próprio conhecimento e raciocínio acerca dos temas. Logo, como estratégia, poderia ser ampliada a carga horária de aulas práticas, além de ser inserido novas metodologias que fazem uso de tecnologias, no intuito de atender a essas demandas por meio de métodos mais integrativos.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de medicina da Universidade Cesumar Campus Maringá. e-mail: biancadss2019@gmail.com 

²Discente do Curso Superior de medicina da Universidade Cesumar Campus Maringá. e-mail: biancadss2019@gmail.com 

³Docente do Curso Superior de medicina da Universidade Cesumar Campus Maringá. Mestre em Ciências Morfofuncionais pela Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Ciências (Fisiopatologia Experimental) pela Universidade de São Paulo (USP). e-mail: alinermarosti@gmail.com