ANALYSIS OF THE PREVALENCE OF ESOPHAGUS CANCER IN THE STATE OF TOCANTINS BETWEEN 2019 TO 2022
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8393173
Anna Cândida Aguiar de Melo 1
Anne Cristina Caramori Cachorrosk 1
Letícia da Fonseca Ribeiro 1
Thatiana Nascimento Marques 2
Resumo
Introdução: No cenário mundial nota-se que o Câncer de Esôfago apresenta um aumento exponencial entre as neoplasias nesta porção do trato gastrointestinal nas últimas décadas, intimamente relacionado à idade maior de 50 anos, etnia, sexo masculino e hábitos de vida e condições como Esôfago de Barret. No Brasil o carcinoma epidermóide escamoso é o mais encontrado, seguido do adenocarcinoma esofágico, sendo considerado a 6ª neoplasia que mais acomete o sexo masculino e a 3ª relacionada ao trato gastrointestinal. Dessa forma, o presente estudo se propõe a avaliar a prevalência deste agravo no estado do Tocantins, no período de 2019 a 2022, visando identificar o perfil epidemiológico do agravo nesta região. Metodologia: A metodologia adotada baseia-se em uma pesquisa epidemiológica, descritiva e não experimental, através da análise de dados públicos do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS, referente à prevalência de casos de câncer de esôfago no estado do Tocantins no período de 2019 a 2022. Resultado e Discussão: Foram registrados 99 casos de câncer de esôfago no período analisado, dos quais 78 foram do sexo masculino e 21 do sexo feminino, sendo a faixa etária de 55 a 69 anos a mais acometida. O tratamento mais utilizado foi a radioterapia (51 pacientes), seguido da quimioterapia (29 pacientes) e, além disso, foram registrados 67 óbitos, sendo 56 do sexo masculino e 11 do sexo femino. Considerações Finais: A detecção precoce do câncer de esôfago é crucial para o bom prognóstico do paciente, tornando essencial o aprimoramento dos mecanismos de rastreio para essa patologia. É necessário, portanto, a intensificação de pesquisas na área, a fim de proporcionar melhorias na prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer esofágico.
Palavras-chave: Esôfago. Neoplasias Esofágicas. Sistema de Informação em Saúde. Taxa de Prevalência.
1. INTRODUÇÃO
1. O esôfago compõe o sistema digestório, formando o canal alimentar. É um órgão na forma de um tubo colabável que mede aproximadamente 23 a 25 centímetros de comprimento, responsável por conectar a porção laríngea da faringe ao estômago e por auxiliar em conjunto com a cavidade oral e faringe no processo de deglutição, por meio de peristalse do bolo alimentar (MOORE; DALLEY; AGUR, 2018).
Vale ressaltar, que esta estrutura histologicamente é formada por quatro túnicas (mucosa, submucosa, muscular e adventícia) e contém dois esfíncteres, o esofágico superior (EES) e o esfíncter esofágico inferior (EEI), o qual se estende pelo mediastino e penetra o diafragma pelo hiato esofágico (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
Tais estruturas anatomorfológicas podem apresentar desde alterações congênitas resultantes de anomalias ao longo do desenvolvimento embrionário como a atresia esofágica, até mesmo distúrbios funcionais, motores, inflamatórios e neoplasias (KUMAR, 2018). Sendo que diversas destas estão intrinsecamente relacionadas com maior risco de desenvolvimento de câncer esofágico, devido mecanismos de agressão crônica e inflamatórios.
Conforme citado por Cardoso, Fontes e Carvalho (2022) pode-se exemplificar a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), que predispõe o surgimento de metaplasias na mucosa do órgão e a ocorrência de Esôfago de Barret, elevando o risco de adenocarcinoma esofágico.
Entre as neoplasias do trato gastrointestinal, as que acometem o esôfago são asterceiras mais comuns, apresentando maior prevalência no sexo masculino (WANG et al., 2018). Os tipos histológicos mais prevalentes são o adenocarcinoma e o carcinoma de células escamosas (WONG et. al., 2018). Visto que tais processos neoplásicos possuem elevada frequência de mortalidade e também uma alta incidência, com valores chegando a cerca de 75%, são traduzidos como muito frequentes e fatais. (DONG; THRIFT, 2017). Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2020), foram relatados 8.649 óbitos no ano de 2018, no Brasil, pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e as projeções indicam aumento anual desses números.
Ademais, alguns fatores corroboram com o risco de desenvolvimento destas neoplasias, são eles: idade acima de 50 anos, raça branca, tabagismo, etilismo, consumo de chimarrão e bebidas demasiadamente quentes, hábitos dietéticos e presença de DRGE prévia (HUANG & YU,2018).
A idealização deste projeto de pesquisa surgiu mediante a necessidade de conhecer o número de pessoas acometidas pelo câncer de esôfago e o diagnóstico situacional, através da análise de dados estatísticos. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2022), esta consiste na 6ª neoplasia mais comum no sexo masculino e a 15ª no sexo feminino. Portanto, é de grande relevância analisar a prevalência desta patologia no estado do Tocantins, a fim de identificar o perfil epidemiológico desta neoplasia.
Diante do exposto, esta pesquisa desenvolveu um estudo epidemiológico, que analisou a prevalência de câncer de esôfago no estado do Tocantins. Assim, buscando compreender o perfil deste agravo, identificando as principais características dos indivíduos acometidos no estado, examinando os padrões de tratamento e avaliando os registros de óbitos relacionados a essa doença.
Ademais, através deste trabalho foi possível comparar as taxas de mortalidade com o cenário brasileiro, fato o qual possibilita nortear futuras discussões que visem aprimorar a prevenção, reconhecimento de fatores de risco.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Aspectos Morfofisiológicos do Esôfago
O trato gastrointestinal e os órgãos acessórios compõem o sistema digestório, tendo como uma de suas principais funções a digestão e a transformação dos alimentos em moléculas capazes de serem absorvidas e utilizadas pelo organismo, fornecendo água, nutrientes, vitaminas e eletrólitos necessários (HALL; GUYTON, 2017).
Os órgãos que formam o trato gastrointestinal se iniciam pela boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e grosso. Já os outros são constituídos pelas glândulas salivares, dentes, língua, fígado, vesícula biliar e pâncreas, os mesmos realizam funções que são necessárias para nosso organismo, fazendo com que o alimento entre, seja aproveitado e após removido, esse processo ocorre através da ingestão, secreção, mistura e propulsão, digestão, absorção e defecação dos produtos consumidos (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
O esôfago é um órgão muscular em forma de tubo, que se inicia da fração laríngea da faringe, chamada de junção faringoesofágica que se estende até o estômago. Ele tem em sua composição músculo estriado no terço superior que é gradativamente substituído por músculo liso, o qual se localiza em maior grau na porção distal (MOORE; DALLEY; AGUR, 2018).
De acordo com Brasileiro Filho (2021), o esôfago tem como função encaminhar a comida da parte faríngea para o estômago. Por ter uma mucosa composta por epitélio estratificado pavimentoso também protege contra lesões causadas pelos alimentos. Fisiologicamente ele realiza atividades motoras, através da deglutição, onde ocorrem ondas peristálticas e após um afrouxamento do EEI, fazendo com que o alimento realize de forma satisfatória e organizada a sua passagem de órgão para o outro.
Ademais, faz-se necessário acrescentar que histologicamente esta estrutura é formada por quatro túnicas: a mucosa é composta de epitélio escamoso – estratificado pavimentoso – agindo contra abrasões; a tela submucosa contendo tecido conjuntivo areolar, onde se notam os vasos sanguíneos e glândulas mucosas; a túnica muscular que consiste em 1/3 de músculo esquelético, a porção medial mista e 1/3 de músculo liso; por fim apresenta-se a túnica adventícia, uma camada de tecido conjuntivo sem mesotélio que insere o órgão as estruturas adjacentes (TORTORA; DERRICKSON, 2019).
Vale salientar, que em cada extremidade do esôfago ocorre um espessamento da túnica muscular, formando o EES e EEI. O EES, consiste em músculo esquelético, regulando a passagem do bolo alimentar proveniente da faringe. Já a porção final, composta de músculo liso, o EEI, tem como principal característica a capacidade de manter uma pressão elevada, controlando o movimento alimentar para o estômago e evitando o refluxo de alimentos e da secreção gástrica (NORRIS, 2021).
Sua vascularização ocorre pelas artérias presentes em seu lado cervical e artérias tireóideas inferiores, que se ramificam de forma ascendentes e descendentes, as quais se juntam. Já as veias que participam desse processo são as tributárias das veias tireóideas inferiores. A parte linfática é desempenhada pelos vasos linfáticos da parte cervical esofágica (MOORE; DALLEY; AGUR, 2018).
Dessa forma, é justificado que sua inervação ocorre de forma somática e sensitiva do lado superior e a inferior é parassimpática e a sensitiva e visceral. As fibras somáticas por meio de seus ramos dos nervos laríngeos recorrentes e das fibras vasomotoras dos troncos simpáticos cervicais inervam a parte cervical (MOORE; DALLEY; AGUR, 2018).
2.2 Patologias do Esôfago
Entre os principais grupos nosológicos que acometem esta porção do trato gastrointestinal são citadas as anomalias congênitas e funcionais, as doenças decorrentes de causas obstrutivas e vasculares, as esofagites e os tumores, entre eles o adenocarcinoma de esôfago e o carcinoma de células escamosas, sendo as variantes morfológicas de maior prevalência (KUMAR, 2018).
As anomalias congênitas são malformações que decorrem de alterações genéticas e do desenvolvimento durante a embriogênese, em especial no momento da separação do intestino e tubo digestivo anterior primitivo (CÂMARA et al., 2018).
Segundo Oliveira et al. (2022) em 90% dos casos de distúrbios congênitos que acometem o esôfago a atresia esofágica está associada a fístulas, ocasionando de uma separação incompleta do esôfago e da traqueia. Conforme corrobora (TAVARES et al., 2020), a atresia com fístula traqueoesofágica é encontrada em cerca de 1 a cada 2.500 a 4.000 nascidos vivos e no contemporâneo.
Outras malformações como a estenose congênita, duplicação esofágica e divertículos congênitos são mais raras. Vale ressaltar que as estenoses são estreitamentos do canal digestivo e além de congênitas podem desenvolver-se de forma adquirida, sendo estas de maior frequência (SANTOS FILHO et al., 2022).
Dessa forma, pode-se inferir que agressões ambientais, físicas, como as que ocorrem na DRGE, esclerodermia, pós-ingestão de agentes corrosivos e anastomoses, traumas, medicamentos ou processos infecciosos podem desencadear um espessamento fibroso e atrofia da camada muscular própria e comprometer o lúmen do esôfago (GOLDANI, 2012).
É imprescindível complementar que a DRGE é uma forma grave e duradoura de refluxo gastroesofágico, onde o conteúdo gástrico retrocede para esôfago, cavidade oral ou sistema respiratório, podendo ocasionar lesões na mucosa esofagiana (LUGÃO et al., 2016). A agressão crônica da DRGE favorece a ocorrência de Esôfago de Barrett, uma metaplasia em que o epitélio escamoso é substituído pela forma colunar de padrão intestinal no terço distal do órgão, implicando de forma importante em maior risco de adenocarcinoma esofágico (CARDOSO, FONTES, CARVALHO, 2022).
Sob a ótica do envolvimento funcional do esôfago Abrahão Júnior (2019), cita que as alterações de motilidade e peristalse, manifesta-se pela presença clássica de disfagia, dor torácica com exclusão de origem cardíaca, sensação de globus faríngeo, pirose e refluxo.
Ademais, um grupo de destaque que partilha as manifestações clínicas supracitadas consiste nos distúrbios motores, são a acalasia, aperistalses, esôfago hipocontrátil, os espasmos esofagianos difusos, esôfago em quebra nozes, entre outros. Tais alterações são caracterizadas por uma perda da capacidade muscular estriada e alterações nos esfíncteres sem causas orgânicas e metabólicas específicas (ABRAHÃO JÚNIOR, 2019).
A acalasia está entre os principais acometimentos nessa esfera motora, correspondendo à condição de falha ou incapacidade do relaxamento muscular no esfíncter EEI pela destruição do plexo mioentérico, o que compromete o EEI e causa aumento da dilatação da luz esofágica (CÂMARA et al., 2017). Faz-se necessário distinguir que a acalasia pode ocorrer de forma primária, como um distúrbio raro e de causa idiopática (LAURINO-NETO et al., 2018). Já na sua condição secundária, corresponde a modificações estruturais digestivas, sendo mais comum associada à Doença de Chagas, causada pelo Trypanossoma cruzi (YASUDA; ZINGALE, 2016).
É necessário incorporar os estudos de Tustumi (2018), que em sua tese destaca a relação entre a acalasia com maior prevalência de carcinoma esofágico em particular pelo acometimento da válvula cárdia. Ademais, é necessário explanar acerca das esofagites, condições definidas como distúrbios inflamatórios que acometem o órgão em estudo. Estas alterações podem ser classificadas de acordo com o agente desencadeador das modificações na mucosa gástrica, como: esofagites de refluxo, eosinofílicas, químicas e infecciosas.
De acordo com Silva et al (2022), a forma mais comum consiste na esofagite de refluxo como uma apresentação da DRGE, devido a incompetência do EEI. Esta forma de esofagite é caracterizada por lesões erosivas na mucosa esofágica, associada a edema e hiperemia. Tal modificação pode ser atribuída a fatores como a obesidade que se relaciona ao aumento da pressão abdominal e redução da pressão do EEI, ao uso de álcool e cigarro, a padrões de dieta, idade e hérnia de hiato.
As esofagites químicas ocorrem pelo contato da parede do esôfago com agentes lesivos, como o álcool, tabagismo, substâncias corrosivas e extremamente quentes. Já na forma infecciosa relacionam-se a infecções primárias por candidíase, citomegalovírus e herpes simples, sendo mais comum em pacientes imunossuprimidos (KUMAR, 2018).
Por fim, pode-se citar a esofagite eosinofílica, a qual vem apresentando maior relevância clínica devido ao aumento observado nas últimas décadas. Esta condição pode ocorrer em diferentes faixas etárias e sua patogênese pode ser descrita como uma grande infiltração de eosinófilos na túnica escamosa do esôfago devido interação de fatores ambientais e imunológicos (MARTINS et al, 2022). Através desta revisão, é possível analisar que tais patologias do esôfago implicam em modificações e lesões crônicas na estrutura e funcionamento do órgão, corroborando para o surgimento de neoplasias esofágicas. Dentre estas se pode destacar a DRGE, Esôfago de Barret, Acalasia, além das esofagites em especial as de forma química.
2.3 Neoplasias de Esôfago
2.3.1 Epidemiologia
A Neoplasia Esofágica (NE) é uma neoplasia relativamente incomum e extremamente letal. É considerado o terceiro tumor gastrointestinal mais comum, sendo a sexta fatalidade por câncer, em decorrência de sua agressividade e baixa sobrevida de prognóstico (Wang et al., 2018). O câncer de esôfago possui diversos tipos histológicos, sendo que os dois mais prevalentes são o adenocarcinoma e o carcinoma de células escamosas (WONG et al., 2018).
Segundo Huang et al. (2018), a incidência de câncer esofágico varia consideravelmente conforme a localização. Logo, o Leste Asiático, a África Oriental e Meridional e o Sul da Europa possuem maior prevalência do tipo histológico denominado Carcinoma de Células Escamosas (CEC), enquanto que o adenocarcinoma é mais comum na América do Norte e em outras partes da Europa.
No Brasil, as taxas de incidência estimadas pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) são de 7,99/100.000 para os homens, e de 2,38/100.000 para mulheres (INCA, 2020), evidenciando uma maior prevalência desse câncer em homens.
2.3.2 Fatores de risco
Segundo Huang & Yu (2018), os principais fatores de risco associados ao aparecimento de neoplasias de esôfago são: etnia branca, gênero masculino, presença de DRGE, tabagismo, faixa etária acima de 50 anos. Tais informações são essenciais já que as neoplasias malignas são a segunda causa de morte, conforme Andrade et al. (2018), por doenças crônicas não transmissíveis, dentre essas neoplasias as de esôfago ganham destaque no sexo masculino e possuem alta letalidade, visto que são diagnosticadas mais tardiamente.
No câncer de esôfago, o tabagismo possui uma parcela importante dentre os fatores associados ao desenvolvimento da neoplasia, principalmente, o adenocarcinoma, o qual está segundo estudos diretamente ligados ao tabagismo (TRINDADE, 2020). Um dos principais problemas do tabagismo está na relação deste, com o desenvolvimento de Esôfago de Barrett, que é um precursor principalmente para o adenocarcinoma (HUANG & YU, 2018).
2.3.3 Manifestações clínicas
Facco et al. (2021) evidencia que o câncer esofágico costuma ser assintomático nas fases iniciais, mas, conforme o avanço da doença é comum o aparecimento de perda ponderal, odinofagia, disfagia progressiva, dispepsia, dor torácica e sinais de sangramento esofágico. Quanto à disfagia, esta representa a manifestação mais mencionada pelos portadores de CE e pode ter caráter progressivo, com frequentes relatos de dificuldades para ingerir sólidos em um primeiro momento e, posteriormente, líquidos (MURTA et al.,2022).
2.3.4 Tipos de neoplasias
O câncer de esôfago possui diversos tipos histológicos, entretanto, os dois mais prevalentes e que são responsáveis pela grande maioria das neoplasias esofágicas são: o adenocarcinoma e o carcinoma de células escamosas (WONG et al., 2018). A partir disso, Trindade (2020) acrescenta que o carcinoma de células escamosas tem grande relação com a obesidade e, sobretudo, com os hábitos culturais, como o chimarrão no Rio Grande do Sul e, além disso, é o tipo histológico mais frequente terço médio do esôfago.
Segundo o autor, o carcinoma de células escamosas ainda é o mais frequente no Brasil, já em alguns países como os Estados Unidos e a Europa o adenocarcinoma é o mais prevalente na população. No caso do adenocarcinoma, tem-se com maior frequência no terço distal do esôfago possuindo grande relação com a doença do refluxo gastroesofágico, já que esta pode lesar de forma crônica e resultar em Esôfago de Barrett.
O Esôfago de Barrett (EB) pode ser definido, de acordo com a American College of Gastroenterology, como uma alteração do epitélio do esôfago distal para colunar, cujas biópsias confirmam a metaplasia intestinal (Degiovanni et al., 2019).
Bujanda e Hachem (2018) acrescentam dizendo que os fatores de risco associados à EB são: raça caucasiana, homens, idade maior que 50 anos, obesidade central, história de DRGE, histórico de tabagismo, hérnia de hiato e história familiar de EB. Além disso, os autores ainda ressaltam que existe uma relação entre EB, DRGE e a presença de Helicobacter Pylori.
2.3.5 Diagnóstico
Trindade (2020) refere que a principal forma de diagnosticar o câncer de esôfago é com uma boa anamnese e endoscopia digestiva alta (EDA). Pela EDA é possível analisar a localização, extensão e tamanho da lesão e realizar uma biópsia para anatomopatológico. A importância deste exame deve-se ao fato de que os tratamentos para câncer de esôfago vão depender diretamente do estágio o qual o câncer se encontra, disseminação e tamanho da lesão (HIGA et al., 2018).
Além disso, Higa et al. (2018) relatam outros exames auxiliares como o raio x de esôfago, estômago e duodeno (Rx de EED), a EDA, a tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RMN) e PET-CT (Pet-Scan e Tomografia). A biópsia da lesão neoplásica pode ser feita através dos métodos endoscópicos. A ecoendoscopia permite uma boa análise do grau de invasão da parede do esôfago.
2.3.6 Tratamento
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2020), o tratamento do câncer de esôfago, de forma geral, é realizado com cirurgia, quimioterapia e radioterapia, associados ou não, dependendo do estádio do tumor e das características globais do paciente. Existe também a ressecção endoscópica, quando a neoplasia ainda está restrita a carcinoma in situ ou confinado na lâmina própria da mucosa sem acometimento linfonodal regional.
Frente a suspeita e a posterior comprovação do diagnóstico, inicia-se a etapa da abordagem terapêutica do doente. A complexidade do quadro, bem como o elevado potencial de agravamento, torna imperativo o cuidado ofertado ao paciente (MURTA et al., 2022). O tratamento do câncer de esôfago é muito delimitado às características da lesão, desde tamanho, evolução e quadro clínico do paciente. Os principais tratamentos realizados são por via endoscópica ou cirúrgica (TRINDADE, 2020).
Com relação ao tratamento cirúrgico, Murta et al. (2022) trazem que é variável acordo com o estadiamento do tumor, sendo as neoplasias classificadas como in situ ou T1a, sem metástase à distância, como candidatas à mucosectomia por via endoscópica. Enquanto os cânceres com estádio entre T1b e T4b são candidatos à esofagectomia. O uso de quimioterapia e radioterapia neoadjuvante (QRN), antes da esofagectomia, tem sido utilizado para tratar pacientes com câncer de esôfago potencialmente curáveis (SILVA et al., 2021).
Contudo, Noordman et al. (2019) referem que após a quimioterapia e radioterapia neoadjuvante os pacientes apresentam queda na qualidade de vida relacionada à saúde, mas são recuperados em média após dez semanas, com a redução dos sintomas relacionados à fadiga, perda de peso e odinofagia. Silva et al. (2021) também abordam que a esofagectomia toracoscópica por vídeo reduz sintomas como fadiga, dor e dispneia, quando comparada com a cirurgia aberta.
Entretanto, ao comparar a esofagectomia transtorácica aberta com a esofagectomia trans-hiatal, é perceptível que esta última promove melhor qualidade de vida no pós- operatório, bem como melhores resultados em relação à saúde global, refluxo e odinofagia (YOSHIMURA et al., 2018).
2.4 Sistemas de Informação em Saúde
O DATASUS consiste em um departamento de informática do sistema único de saúde, o qual surgiu em 1991 com a criação da Fundação Nacional de Saúde. Sua principal função é fornecer aos órgãos do SUS um sistema de informação e suporte de informática, visando contribuir para o processo de planejamento, operação e controle dos dados em saúde (BRASIL, 2022).
O DATASUS dispõe de duas bases, sendo uma no Rio de Janeiro e a outra em Brasília, onde são mantidos os funcionários. O Storage (estrutura de armazenamento de dados) recebe e armazena dados produzidos pelo ministério e pelas secretarias estaduais de saúde de todo país. E fornece ligação entre as cidades e todos os Núcleos Estaduais do Ministério da Saúde, FUNASA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Casa do Índio (BRASIL, 2022).
O DATASUS é um órgão de grande relevância, uma vez que oferece importantes contribuições para a criação de uma infraestrutura tecnológica e informacional de dados e informações em saúde no país (PRUDENCIO; FERREIRA, 2021).
Tal sistema pauta-se no compartilhamento de informações e na sua publicidade, para que através da análise epidemiológica do país e regiões, políticas e ações possam ser implementadas para melhoria da saúde da população e dos indicadores. Contudo, é fundamental salientar que o DATASUS é alimentado através de dados dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS), proveniente das Secretarias
Estaduais e Municipais de Saúde (SILVA; AUTRAN; 2019). Portanto, conforme salienta Daniel (2012), os sistemas em saúde são ferramentas que subsidiam as decisões na gestão em saúde, além da melhor alocação dos recursos. Dessa forma, nota-se que não há como administrar os recursos e ações sem que haja indicadores para tomada de decisão.
3 . METODOLOGIA
3.1 Desenho do Estudo
O presente estudo contém caráter epidemiológico, descritivo não experimental, com delineamento transversal e abordagem quantitativa. O mesmo será desenvolvido, visando identificar a prevalência com câncer de esôfago no estado do Tocantins, além de traçar o perfil epidemiológico dos pacientes e analisar a taxa de mortalidade.
Esta pesquisa foi realizada através de dados públicos, disponibilizados no sistema de informação DATASUS, referentes aos anos 2019 e 2022 dos casos de: câncer de esôfago no Tocantins. Este estudo apresenta grande relevância, uma vez que pesquisas epidemiológicas, em especial com métodos descritivos, são extensivamente utilizadas na área da saúde para identificação do processo natural de determinada doença/agravo (PEREIRA, 2018).
3.2 População e Amostra
O público-alvo deste trabalho consistiu em dados públicos referentes à prevalência de Câncer de Esôfago no estado do Tocantins e presentes no DATASUS. A amostragem deste estudo corresponde a 100% dos dados disponíveis no banco de dados, os quais foram selecionados com base no período de tempo, com intervalo definido dos anos de 2019 a 2022.
3.3 Critérios de Inclusão
Os critérios de inclusão utilizados foram os dados disponíveis no sistema DATASUS, referentes a prevalência de casos de câncer de esôfago, entre o período de 2019 a 2022 no estado do Tocantins, de acordo com as variáveis: câncer de esôfago, sexo, faixa etária, número de óbitos, diagnóstico e seguimento terapêutico instituído.
3.4 Critérios de Exclusão
Foram excluídos dados fora do período de 2019 a 2022, assim como demais itens que não se enquadram nas variáveis desta pesquisa.
3.5 Estratégias de Aplicação, Análise e Apresentação dos Dados
A organização das informações obtidas se deu através da plataforma Excel, por meio da confecção de gráficos e tabelas para facilitar a interpretação. A partir dos dados obtidos, foi realizada uma análise descritiva simples e os achados mais significativos apresentados neste trabalho. Nenhuma informação extraída sofreu manipulação por parte dos pesquisadores do presente estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
4.1. Em Relação ao Número de Casos Diagnosticados
Por meio de uma busca e análise epidemiológica dos casos de câncer de esôfago por regiões no Brasil, identificou-se o registro total de 30.773 casos durante o período de 2019 a 2022. A região norte se encontra como a região com menor número de diagnósticos, sendo 678 casos do total brasileiro. Dentre esses, 99 casos foram descritos no Tocantins conforme descrito na Tabela 1.
Tabela 1. Número de casos de câncer de esôfago entre 2019 a 2022 por região do Brasil
Casos Diagnosticados/ Período | 2019 a 2022 |
Tocantins | 99 |
Região Norte | 678 |
Região Nordeste | 5.305 |
Região Sudeste | 15.613 |
Região Sul | 7.623 |
Região Centro-oeste | 1.554 |
Brasil | 30.773 |
Ao realizar uma análise comparativa com os anos anteriores de 2015-2018, o número de diagnósticos estabelecidos na região norte aumentou 81% , saltando de 374 casos para 678. De igual maneira, o número de diagnósticos no Tocantins aumentou 135%, passando de 42 para 99 diagnósticos conforme a Tabela 2. Esse fato provavelmente se deve ao avanço na capacidade de estabelecer diagnósticos precisos e fidelidade na notificação de casos.
Tabela 2. Comparação do número de casos entre os períodos de 2015 a 2018 e 2019 a 2022
Casos Diagnosticados/ Período | 2015-2018 | 2019 a 2022 |
Tocantins | 42 | 99 |
Região Norte | 374 | 678 |
4.2 Em Relação ao Número de Casos por Sexo
Entre os anos de 2019 e 2022, um total de 99 casos de neoplasia de esôfago foram diagnosticados no Estado do Tocantins, com 78 desses casos afetando homens e 21 afetando mulheres durante o mesmo período. Esses dados confirmam uma clara tendência de maior prevalência dessa condição no sexo masculino, conforme destacado em um estudo anterior (WANG et al., 2018), como ilustrado na Tabela 3. Esse achado ressalta a importância de uma análise mais aprofundada dos fatores de risco e medidas preventivas direcionadas especialmente aos homens para combater essa preocupante condição de saúde.
Tabela 3. Número de casos de câncer de esôfago por sexo no Tocantins entre 2019 e 2022.
UF do diagnóstico | Masculino | Feminino | Total |
17 Tocantins | 78 | 21 | 99 |
4.3 Em Relação ao Número de Casos por Faixa Etária
Em relação à faixa etária, o paciente mais jovem a ser diagnosticado no Tocantins, entre os anos de 2019-2022, foi descrito com idade entre 30 e 34 anos. Entretanto, a maior prevalência de diagnósticos se encontra a partir dos 50 anos de idade, o que está em consonância com as descobertas de Bujanda e Hachem (2018) e Huang & Yu (2018). A faixa etária mais afetada foi de 55-69 anos, somando 54 casos do total dos 99 descritos, como indicado na Tabela 4.
Tabela 4. Número de casos de casos de câncer de esôfago diagnosticados entre 2019 e 2022 por faixa etária
UF do diagnóstico | 30 a 34 anos | 35 a 39 anos | 40 a 44 anos | 45 a 49 anos | 50 a 54 anos | 55 a 59 anos | 60 a 64 anos | 65 a 69 anos | 70 a 74 anos | 75 a 79 anos | 80 anos e mais | Total |
Tocantins | 1 | 3 | 1 | 4 | 12 | 20 | 14 | 20 | 12 | 7 | 5 | 99 |
Total | 1 | 3 | 1 | 4 | 12 | 20 | 14 | 20 | 12 | 7 | 5 | 99 |
4.4 Em Relação à Modalidade Terapêutica
Dos 99 casos, apenas em 1 paciente foi instituída a terapêutica cirúrgica. Em contrapartida, a modalidade terapêutica mais utilizada foi a radioterapia, empregada em 51 pacientes, seguida da quimioterapia, empregada em 21 casos, sendo que em 9 foram ambos. Em outros 9 pacientes, não há informações descritas sobre o tratamento. Esses dados estão descritos na Tabela 5, abaixo.
A escolha pelo método cirúrgico em apenas 1 paciente pode ser explicada pelo fato de que, de modo geral, o diagnóstico de câncer de esôfago se dá em estágios já avançados da doença, impossibilitando a realização de cirurgias (QUEIROGA, 2006). Além disso, estudos propõem que a associação de mais de uma modalidade terapêutica tem valor preditivo positivo para a melhora de prognósticos dos pacientes (QUEIROGA, 2006), fato o qual pode ser correlacionado com os pacientes que receberam quimioterapia associada à radioterapia neste estudo.
Tabela 5. Modalidades terapêuticas escolhidas para os casos de câncer de esôfago diagnosticados entre 2019 e 2022.
Modalidade Terapêutica | Casos |
Total | 99 |
CIRURGIA | 1 |
QUIMIOTERAPIA | 29 |
RADIOTERAPIA | 51 |
AMBOS | 9 |
Sem informação de tratamento | 9 |
4.5 Em Relação ao Número de Óbitos por Sexo e Faixa Etária
Ao todo, foram registrados 67 óbitos decorrentes do câncer de esôfago, entre 2019 e 2022, destes, 11 do sexo feminino e 56 do sexo masculino. Além disso, a faixa etária responsável por concentrar a maior parte dos óbitos foi entre 60 e 69 no sexo masculino, enquanto que no sexo feminino não houve destaque de nenhuma faixa etária para essa variável (Tabela 6).
Em relação ao número de óbitos por ano, percebe-se que em 2020 e 2021 houve um decréscimo das notificações que tinham como causa básica o câncer de esôfago, em relação a 2019 e 2022 (Tabela 6). Uma potencial interpretação para diminuição da taxa de mortalidade notada nessa patologia pode ser atribuída à influência da COVID-19 como uma causa de morte concorrente, levando a uma mudança na causa principal do óbito, assim como sugerido Jardim et al. (2022). Nesse mesmo sentido, vale ressaltar que devido à pandemia, o Brasil adotou o critério internacional sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para categorizar as razões de óbito, e, nessa orientação, pacientes diagnosticados com câncer não teriam esta causa como a principal causa do óbito, mesmo que esta tenha contribuído para a deterioração da condição da COVID-19, essas morbidades deveriam ser registradas na segunda parte do atestado de óbito (OMS, 2020).
Tabela 6. Número de óbitos por câncer de esôfago em comparação ao sexo e à faixa etária registrados entre 2019 e 2022 no Tocantins.
ANO/ Nº DE ÓBITOS | FAIXA ETÁRIA | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | TOTAL |
Sexo feminino | <40 anos: | – | – | – | – | 00 |
40-49 anos | – | 01 | 01 | 01 | 03 | |
50-59 anos | – | – | 01 | – | 01 | |
60-69 anos | – | 02 | 01 | – | 03 | |
70-79 anos | – | – | 02 | – | 02 | |
>80 anos | – | – | 01 | 01 | 02 | |
Total | 11 | |||||
Sexo masculino | <40 anos: | 01 | – | – | – | 01 |
40-49 anos | 01 | – | – | 01 | 02 | |
50-59 anos | 03 | 04 | 05 | 02 | 14 | |
60-69 anos | 09 | 03 | 04 | 09 | 25 | |
70-79 anos | 04 | 03 | 02 | 02 | 11 | |
>80 anos | 02 | – | – | 01 | 03 | |
Total | 56 | |||||
TOTAL DE ÓBITOS | 20 | 13 | 16 | 18 | 67 |
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo analisar os casos de câncer de esôfago no estado do Tocantins durante o período de 2019 a 2022. A análise dos dados revelou informações fundamentais sobre a incidência da doença, características demográficas dos pacientes, modalidades terapêuticas aplicadas e óbitos relacionados a essa neoplasia.
Em relação aos objetivos delineados para este estudo, podemos afirmar que foram integralmente alcançados. A pesquisa proporcionou uma compreensão abrangente do tema proposto, contribuindo de forma significativa para o conhecimento sobre o câncer de esôfago. Os dados obtidos são de extrema relevância para o embasamento de políticas de saúde pública eficazes.
O câncer de esôfago é uma patologia cujo prognóstico está diretamente ligado ao estágio em que é diagnosticado, tornando a detecção precoce um fator crucial para o sucesso das terapias. Conforme discutido anteriormente, a maioria dos diagnósticos ocorre em estágios avançados da doença, o que limita as opções terapêuticas, incluindo a possibilidade de ressecção cirúrgica do tumor. Portanto, o conhecimento da distribuição dos fatores de risco para o câncer de esôfago em uma determinada população é essencial para identificar grupos de maior risco que poderiam se beneficiar de programas sistemáticos de detecção precoce da doença. Isso é fundamental para preservar a saúde e a qualidade de vida dos pacientes afetados.
No entanto, é importante reconhecer as limitações deste estudo, como a falta de informações detalhadas sobre os tratamentos administrados aos pacientes e a ausência de dados específicos sobre as causas dos óbitos. Para futuros estudos, recomendamos uma análise mais aprofundada das características clínicas e demográficas dos pacientes, bem como uma investigação minuciosa das possíveis razões por trás das variações nas taxas de diagnóstico e mortalidade. Esses aprimoramentos podem enriquecer ainda mais nosso entendimento sobre o câncer de esôfago e contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de prevenção e tratamento.
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[1] Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – ITPAC Campus PortoNacionaannacandida_28@hotmail.coml
[1] Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – ITPAC Campus Porto Nacional annecaramori@gmail.com
[1] Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – ITPAC Campus Porto Nacional leticiafonsecaribeiro@gmail.com
[2] Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – ITPAC Campus
Porto Nacional
nasci04@hotmail.com