REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8380064
José Américo Hermsdorf Tencatti1
Kauã Lopes Fernandes2
Gustavo Henrique Vieira Almeida3
Thainá Laís Cangussu Silva4
Natália Lemos Martins5
Flávia Brito Costa6
Chimene Kuhn Nobre7
1 INTRODUÇÃO
O câncer de mama é o tipo mais comum de neoplasia entre as mulheres no Brasil, excluindo o câncer de pele não melanoma. No período de 2020 a 2022, foi estimada uma incidência anual de 66.280 novos casos de câncer de mama no país, representando um risco de 61,6 casos para cada 100 mil mulheres. No período de 1980 a 2018, houve um aumento de 50,6% na taxa de mortalidade por este câncer, demonstrando que o controle dessa doença representa um desafio de escala nacional (TOMAZELLI et al.,2023).
Os fatores de risco do câncer de mama podem ser divididos em genéticos e não genéticos. Os primeiros mais comumente tratam-se de mutações em genes susceptíveis como o BRCA1 e BRCA2, contudo também podem apresentar-se como consequência de mutações nos genes CDH1, PTEN, TP53, STK11 e outros. Sobre os riscos não genéticos, pode-se destacar: idade da menarca e menopausa; não reprodução; não amamentação; densidade mamográfica; sobrepeso e obesidade; abuso de álcool; e outros (BRITT; CUZICK; PHILLIPS, 2020).
Independente da causa, o câncer de mama pode ser identificado precocemente através da mamografia, que é um exame de raio-x realizado usando um equipamento chamado mamógrafo, o qual aperta a mama e produz imagens que podem detectar sinais iniciais do câncer de mama. A implementação da mamografia como rotina no Brasil e no mundo teve seus desafios no contexto da saúde pública.
Coincidentemente, ao mesmo tempo que o emprego deste exame foi implementado sistematicamente, observou-se maior incidência do câncer de mama na população, evidenciando fortemente sua importância na saúde pública para detecção precoce desta doença, visto que uma intervenção precoce melhora o prognóstico bem como diminui os custos para a saúde pública (BRITT; CUZICK; SUN et al., 2018; PHILLIPS, 2020; GIAQUINTO et al., 2022).
2 OBJETIVOS
Objetivo Geral
Investigar a influência da mamografia na prevenção de câncer de mama no contexto da saúde pública brasileira.
Objetivos específicos
- Apresentar as condutas relacionadas aos possíveis achados do teste de mamografia dentro da escala BI-RADS;
- Analisar o histórico de implementação do teste da mamografia no contexto brasileiro;
- Expor o impacto da mamografia na saúde pública como detecção precoce do câncer de mama.
3 METODOLOGIA
O presente estudo tem sua base em uma revisão bibliográfica, na qual foram consultados e analisados trabalhos publicados e catalogados nas bases de dados do SCIELO (Scientific Electronic Library online), Google Acadêmico, Pubmed bem como diretrizes governamentais acerca da temática proposta.
Para a coleta de informações, foram adotadas estratégias de busca que envolvem o uso dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) em português e inglês, tais como Mamografia e Saúde Pública, Mamografia e Câncer de Mama e Mortalidade. Os estudos incorporados foram selecionados de forma randomizada e abrangem o período de 2018 a 2023.
Na avaliação dos dados, priorizou-se a inclusão de artigos diretamente relacionados ao tópico em questão, enquanto se descartaram aqueles que apresentaram informações duvidosas, incompletas, repetitivas ou não relevantes para a pesquisa em foco.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O câncer de mama se tornou uma preocupação emergente na população de modo geral desde o século XX. Durante boa parte deste período, as discussões mais otimistas quanto ao tratamento desta enfermidade palestravam acerca de uma sobrevida de 3 a 5 anos após procedimento de mastectomia radical, a melhor conduta durante este cenário em que a detecção da maior parte dos casos se dava de forma extremamente tardia. No Brasil, os primeiros mamógrafos foram introduzidos na década de 1970, trazendo grande expectativas, já que antes disso as condutas diagnósticas do câncer de mama eram limitadas (TEIXEIRA; ARAÚJO NETO., 2020).
Os resultados da mamografia são classificados com base no Sistema de Relatórios e Dados de Imagem da Mama (BI-RADS), desenvolvido pelo Colégio Americano de Radiologia (ACR). Cada categoria BI-RADS tem diretrizes específicas para investigação diagnóstica. As categorias BI-RADS 1 e 2 indicam a ausência de lesões suspeitas de malignidade, e as mulheres são aconselhadas a realizar rastreamento bienal, conforme as diretrizes nacionais. Por outro lado, as categorias BI-RADS 0, 3, 4 e 5 são consideradas resultados anormais, exigindo investigação por meio de exames de imagem, controle radiológico e outros procedimentos diagnósticos (TOMAZELLI et al., 2023).
Para resultados de mamografia classificados como BI-RADS 3, recomenda-se um acompanhamento radiológico com uma nova mamografia em um período de seis meses a um ano. Para aqueles categorizados como BI-RADS 4 ou 5, a recomendação é realizar investigação diagnóstica por meio de biópsia e exame histopatológico. A categoria BI-RADS 0 corresponde a uma mamografia com resultado inconclusivo, que requer comparação com exames anteriores, realização de novas incidências de mamografia e manobras adicionais, ou a realização de ultrassonografia mamária. É importante ressaltar que a comparação com exames anteriores, obtenção de novas imagens de incidências e realização de manobras adicionais devem ser conduzidas pelo serviço de radiologia antes de emitir um resultado BI-RADS definitivo. Assim, de acordo com as recomendações para esse tipo de resultado, a orientação disponível no Siscan é a realização de ultrassonografia (TOMAZELLI et al., 2023).
O Ministério da Saúde Brasileiro recomenda a realização do exame preventivo a cada dois anos em mulheres entre 50 e 69 anos para rastreio de câncer de mama. Abaixo dos 40 anos, a mamografia pode ser indicada para mulheres com suspeita de síndromes hereditárias ou com histórico de câncer de mama familiar progresso (nestes casos o tempo estipulado para realização de exames para avaliação das mamas se alteram) além de complementar o diagnóstico, em caso de nódulos palpáveis e se o médico determinar esta necessidade. Em caso de as mamas da paciente serem muito densas, o médico poderá incluir um pedido de ultrassom para uma melhor avaliação das mamas em questão (BRASIL, 2015).
Apesar de alguns fatores positivos, como o aumento da detecção de estágios iniciais, a diminuição de disparidades sociais e o custo-benefício de detecção na população de alto risco, hoje discute-se algumas controvérsias sobre a eficácia na aplicação sistêmica deste exame no controle da mortalidade devido câncer de mama propriamente, ou outras causas. Por exemplo, a questão de quando se iniciar a implementação sistêmica do rastreio do câncer de mama através da mamografia, sendo aos 40 anos anualmente ou dos 50 aos 69 bienalmente, como sugere a OMS. Outra discussão importante levar em conta a crescente preocupação com o sobrediagnóstico e o excesso de tratamento de tumores de crescimento lento que eventualmente podem não ser fatais, gerando desconforto psíquico e estresse aos pacientes (LEE; CARLOS, 2013; SUN et al., 2018; MORAN; CULLINAN, 2022).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel da radiologia na prevenção do câncer de mama se limita à detecção precoce de sinais iniciais da doença, possibilitando o direcionamento da conduta a ser seguida a depender do resultado do exame. Ao longo do histórico de implementação do teste de mamografia no contexto brasileiro, percebe-se avanços significativos na disponibilidade deste exame nos últimos anos.
Apesar de inicialmente a implementação sistêmica do teste da mamografia ter contribuído para os índices de disparidades socioeconômicas e contribuído fortemente para detecção de casos, atualmente os dados sobre sua eficácia no combate à mortalidade relativas ao câncer de mama são controversos. Uma grande problemática gira em torno da “sobre diagnose” que se traduz em diagnósticos de patologias que não fariam diferença na vida do paciente, submetendo-o a tratamentos desnecessários.
6. REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. INCA. Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil. Rio de Janeiro, 2015.
BRITT, Kara; CUZICK, Jack; PHILLIPS, Kelly-Anne. Key steps for effective breast cancer prevention, Nature Reviews Cancer, v. 20, n. 8, p. 417–436, 2020.
GIAQUINTO, Angela N et al. Breast Cancer Statistics, 2022, CA: A Cancer Journal for Clinicians, v. 72, n. 6, p. 524–541, 2022.
LEE, Christoph I; CARLOS, Ruth C. Introduction to the Special Issue—Imaging-Based Screening: Radiology’s Increasing Role in Preventive Medicine, Journal of The American College of Radiology, 2013.
MORAN, Patrick; CULLINAN, John. Is mammography screening an effective public health intervention? Evidence from a natural experiment. Social Science & Medicine, v. 305, 2022.
SUN, Li et al. Cost–effectiveness of risk-based breast cancer screening programme, China, Bulletin of The World Health Organization, v. 96, n. 8, p. 568–577, 2018.
TEIXEIRA, L. A.; ARAÚJO NETO, L. A. Câncer de mama no Brasil: medicina e saúde pública no século XX. Saúde e Sociedade, v. 29, n. 3, p. e180753, 2020.
TOMAZELLI, Jose et al. Evaluation of breast cancer screening indicators in the female population using the National Health System, Brazil, 2018-2019: a descriptive study. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 32, n. 2, p. e2022567, 2023.
1 Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: tencatti2@gmail.com
2 Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: kauafernandeslopes@gmail.com
3 Acadêmico do curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: gustavohvalmeida@gmail.com
4 Acadêmica do curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: thainalais99@gmail.com
5 Acadêmica do curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: lemos.nataliam@gmail.com
6 Acadêmica do curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: flaviabrico@gmail.com
7 Professora orientadora. Docente no curso de Medicina do Centro Universitário FIMCA. E-mail: prof.chimene@fimca.com.br