OS IMPACTOS DA DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA EM CRIANÇAS, PELO USO EXCESSIVO DAS MÍDIAS DIGITAIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8371524


Célia Regina Almeida Fernandes1
Gideão Gomes da Silva2
Samuel Reis e Silva3
Carla Cristina de Souza Dimarães4


RESUMO

O presente trabalho pretende gerir a consciência sobre o uso excessivo de mídias digitais, aplicativos e ferramentas tecnológicas e seus impactos nas crianças e famílias. Há sem dúvida o entendimento por grande parte das pessoas que a tecnologia está cada vez mais indispensável nos mais diversos setores sociais, na execução de tarefas, no rápido acesso à informação, dentre outras. Diante disso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, na qual os dados foram coletados através de estudos e trabalhos científicos, que abordaram a relevância e impacto da temática. Os dados apresentados mostram que as ferramentas tecnológicas têm substituído a função dos pais, ficando evidente que tal realidade pode ser impactante para o desenvolvimento infantil, humanizado e emocional da criança. Tal afastamento afetivo, e a substituição dos laços parentais podem causar danos incalculáveis em sua vida, agravado por se tratar de um indivíduo em formação e que tende a se espelhar e ter referências no comportamento dos seus pais. 

Palavras Chaves: Dependência Tecnológica. Saúde Mental. Desenvolvimento Infantil.

ABSTRACT

This work aims to raise awareness about the excessive use of digital media, applications and technological tools and their impacts on children and families. There is undoubtedly an understanding by most people that technology is increasingly indispensable in the most diverse social sectors, in the execution of tasks, in quick access to information, among others. In view of this, bibliographical research was carried out, in which data was collected through studies and scientific works, which address the relevance and impact of the theme. The data presented shows that technological tools have replaced the role of parents, making it clear that this reality can have an impact on the child’s humanized and emotional development. Such emotional separation and the replacement of parental ties can cause incalculable damage to your life, aggravated by the fact that you are a developing individual who tends to mirror and have references in the behavior of your parents.

Keywords: Technological Dependence. Mental health. Child development.

INTRODUÇÃO

A internet é considerada o principal meio de comunicação global, presente tanto na vida pessoal quanto profissional, das pessoas de todas as idades. Sua dinamicidade e velocidade inerentes proporcionam diversos benefícios e facilidades em todas as áreas da vida, e seu uso continua a ser disseminado à medida que, os dispositivos e ferramentas tecnológicas evoluem.

Dada a abrangência e complexidade do tema, bem como a existência de aspectos positivos e negativos quanto ao uso da tecnologia, o presente artigo pretende discutir de que maneira o uso excessivo das mídias digitais e, em muitos casos, a dependência tecnológica pode impactar o desenvolvimento da criança, na infância.

Inicialmente o artigo abordará sobre o uso excessivo de mídias digitais, dispositivos e ferramentas tecnológicas, apresentando aspectos favoráveis e desfavoráveis para sua utilização. Seguidamente será discutido sobre o uso da tecnologia na infância. Evidências serão apresentadas para demonstrar como o uso excessivo e deficiente de tecnologias pode impactar o desenvolvimento cognitivo, pessoal e interpessoal infantil.

No quarto ponto do artigo, será discutido a questão da conectividade e o uso excessivo da internet. Pesquisas foram realizadas durante o período da COVID-19,  e confirmaram a importância dos recursos remotos, pela necessidade da manutenção dos serviços, do ensino à distância, do trabalho remoto. Dessa forma, foi possível a transmissão de vários conteúdos disciplinares e atividades remotas, que antes eram realizadas de forma prática e presencial. 

O último ponto aborda a conduta que os pais e responsáveis ​​devem adotar em relação ao controle e acompanhamento das atividades durante a infância. Não obstante, se sabe que a gama de conhecimentos acessíveis são inegáveis, porém,  quando mal utilizada pode causar danos à saúde física, síndromes e traumas. Sendo assim, é necessário que os pais compreendam a importância dessa fase e como podem auxiliar seus filhos no processo de ensino-aprendizado, incentivando a criatividade, em vez de simplesmente substituir sua presença por dispositivos eletrônicos com o intuito de entretê-los.

METODOLOGIA

Realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica sistemática com enfoque qualitativo descritivo por meio do mecanismo de busca de banco de dados bibliográficos no período de 2001 a 2023. Os meios utilizados estavam ou foram traduzidos para a língua portuguesa, nas bases de dados portal SciELO, biblioteca digital e modelo cooperativo de publicação digital de periódicos científicos de acesso aberto pelo site http://www.scielo.org, PepsiCo, por meio do site http://pepsic.bvsalud.org/, pesquisa ebook, além de pesquisa no google acadêmico, como descritores empregou-se os termos: dependência tecnológica, saúde mental, desenvolvimento infantil. 

A pesquisa qualitativa conforme Prodanov e Freitas (2013): 

Considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Realizada a partir do levantamento do material de estudo, a leitura exploratória e seletiva nos conduziu a uma análise interpretativa. Assim a partir dessa análise geral ordenada e sintetizada, resultaram nas interpretações das influências do uso excessivo e mal utilizado das mídias digitais no desenvolvimento geral durante a infância, buscando correlacionar esse uso excessivo em detrimento do desenvolvimento cognitivo quanto aos aspectos psicoemocionais, familiares, escolares e sociais. 

USO DAS MÍDIAS DIGITAIS E OS IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 

Na atual sociedade contemporânea, as mídias digitais não apenas se tornaram necessárias, mas também indispensáveis, tanto para o âmbito profissional, social e educativo. Entretanto, é crucial estar atento e cuidadoso em relação ao uso excessivo dessas mídias, especialmente quando se trata do público infantil. De acordo com o pensamento de Borba (2022):

[…] obviamente aquilo que é praticado de maneira excessiva e repetida acaba se tornando um problema a longo prazo, principalmente quando se trata de crianças, pois elas estão em formação ainda, logo o cuidado precisa ser redobrado.

Dessa forma, o uso de tecnologias e mídias similares durante a infância tem suscitado preocupação aos pais, professores e profissionais da saúde, como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2016) que propõe aos pais, familiares e cuidadores a determinar horários e tempo de uso, estabelecer limites e monitorar o uso da tecnologia conforme as demandas escolares e sociais, que se apresentam às crianças como ferramentas de pesquisa e recursos de entretenimento. De acordo com Friedmann (2012):

A própria ideia de “Nativo Digital” é mais do que nunca algo aplicável e pertinente para o período da sociedade atual, onde as crianças fazem praticamente tudo por mídias e veículos tecnológicos, dificultando as relações sociais de forma presencial e física. 

Assim, percebe-se que o uso excessivo das mídias digitais na infância pode ter sérias consequências no comportamento e nas habilidades sociais, bem como dificuldades nas tarefas diárias, impactando negativamente sua saúde física e mental e social. É importante que os pais, estejam conscientes dos riscos do uso excessivo, e busquem monitorar o tempo de exposição das crianças às telas, para que possam ter um desenvolvimento saudável e equilibrado, haja visto que a criança não tem a capacidade de gerenciar o uso do seu tempo nas mídias.

Para Abreu, Eisenstein e Estefenon (2013) às novas tecnologias e mídias têm efeito indireto nas crianças, pois substituem atividades que estimulam a evolução do cérebro, do corpo, da psicomotricidade, das habilidades sociais, da organização psicológica e da criatividade. Assim, impedindo ou atrasando seu desenvolvimento normal e saudável. Paiva e Costa (2015) alertam:

Que o uso precoce dessas ferramentas gera inúmeros questionamentos quanto ao desenvolvimento afetivo, cognitivo e social da criança, e observa que, em inúmeros casos, elas acabam substituindo as amizades reais pelas virtuais e preferem se entreter no mundo virtual.

Contudo, os pais, responsáveis e educadores devem aproveitar as ferramentas tecnológicas e mídias digitais disponíveis para proporcionar um aprendizado sólido, explorando seus potenciais positivos de forma adequada e eficiente, a fim de proporcionar o desenvolvimento cognitivo da criança. As mídias digitais e tecnológicas oferecem benefícios como a comunicação rápida e dinâmica, além de possibilitarem brincadeiras interativas. Os autores abaixo corroboram essa ideia:

[…] as crianças podem se beneficiar das possibilidades trazidas pelas mídias digitais, uma vez que, por meio delas, podem comunicar-se, brincar, experimentar, aprender, trabalhar, desenvolver a autoestima, adquirir conhecimento, desenvolver novas formas de pensamento, socializar-se, conhecer e criar novas culturas. Tudo isso por meio da interação virtual que, na sua opinião, favorece as descobertas das crianças (NEUVANI e PEIXOTO, 2015, p. 126).

Durante a pandemia da COVID-19, as restrições e o isolamento social impulsionaram a adoção acelerada de práticas digitais que, anteriormente, levariam anos para serem implementadas. Essa mudança se tornou uma realidade cotidiana para todos. Segundo Gomes (2013, p. 155) “alguns aplicativos podem ajudar no desenvolvimento das capacidades cognitivas, auxiliando no aprendizado de cores, formas, na coordenação motora e no processo de alfabetização”.

Antigamente, as crianças que não estavam familiarizadas com a tecnologia se envolviam mais em brincadeiras, experimentavam aprendizados, socializavam com facilidade e desenvolviam laços e empatia com os outros.  Não estamos afirmando, que as crianças de hoje não possam desenvolver essas práticas ou ter tais comportamentos, mas agora a disputa é árdua e desigual, pois há uma infinidade de aplicativos, jogos, streamings para disputar com as ações e práticas humanas e sociais (PINTO, P. M. I. et al. 2019).

Sendo assim, é animador pensar em como as ações e práticas relacionadas a recursos tecnológicos facilitam e agilizam o acesso ao conhecimento. No entanto, é importante estar vigilante quanto a possibilidade de a criança ter acesso a uma gama de conteúdos e materiais inadequados, além de informações errôneas e Fake News, que podem ser compartilhadas sem a devida verificação das fontes e referências.

Logo, talvez o ambiente mais seguro para a criança começar a ter acesso de forma segura ao meio virtual e o ambiente de redes sociais e de pesquisa, seja a escola. Pois assim, ela terá o suporte de profissionais experientes e preparados para lidar com as dificuldades e dilemas das crianças, colocando limites no uso, e realizando o melhor aproveitamento das mídias no desenvolvimento das crianças (MAZIERO, L. L.; RIBEIRO, D. F.; REIS, H. M. 2016).

Nas escolas, é possível desenvolver suas competências por meio de atividades educativas e inovadoras. Embora isso não isenta os pais, da responsabilidade de monitorar e estimular o uso de maneira saudável, apesar de nem sempre as crianças terem lares bem estruturados e famílias conscientes do que é importante e seguro. Para Borba (2022):

A escola tem como uma de suas funções propiciar um ambiente saudável, onde a criança consiga se sentir confortável para participar, opinar, se comunicar e se fazer presente por meio também das mídias digitais. Logo, a escola tem como premissa durante o desenvolvimento do seu PPP – Plano Político Pedagógico, onde as TICs sejam uma ferramenta usual e indispensável no processo educativo, onde várias brincadeiras podem ser adaptadas e aplicadas. Contextualizando todo esse cenário é importante salientar que a escola deve promover o lúdico de forma midiática e pedagógica ao mesmo tempo.

Portanto, a escola se apresenta como o lugar onde as TICs devem ser usadas de forma correta para facilitar e estimular o desenvolvimento saudável das crianças em idade escolar, favorecendo e estimulando sua saúde mental.

DISCUSSÃO E DEBATES SOBRE A SITUAÇÃO INFANTIL NESSE CONTEXTO

O rápido avanço tecnológico tem transformado as relações humanas, trazendo dinamismo e fluxo constante de informações acessíveis de qualquer lugar. A geração tech, composta principalmente por jovens, se relaciona de forma inovadora e dinâmica, mas isso traz implicações no uso das mídias digitais. 

Embora essas tecnologias permitam o acesso ao conhecimento e educação global, o uso excessivo e inadequado tem causado problemas cognitivos, emocionais e sociais nas crianças. É importante desenvolver uma abordagem racional e consciente para aproveitar os benefícios do mundo virtual de forma equilibrada e saudável.

O sucesso das redes sociais, baseia-se não apenas no número de  utilizadores  ativos,  mas  também  na  quantidade  de  tempo  que cada utilizador passa ligado às redes sociais. A utilização excessiva  e  o  tempo  que  cada  um  está  online  parece  ter  um  papel  importante  no  vício  da  Internet,  levando  mesmo  os  utilizadores a dormir menos horas para poderem ficar ligados às  redes  sociais  na  Internet,  adiando  tarefas  importantes,  tentando esconder o número real de horas que passam online. Este excesso de acesso às redes sociais traduz-se na alteração do  humor  desses  indivíduos  quando  estão  offline  (ADIELE,  OLATOKUN, 2014 apud CRUZ, 2020, p. 28)

Contudo, percebe-se como o uso excessivo agrava a saúde mental daqueles que passam horas excessivas , sem o devido controle do seu tempo, nas mídias sociais, o que pode gerar uma dependência do cérebro dessa atividade e trazer sérios prejuízos à sua saúde física, mental e social.

Outro ponto relevante a considerar é que, como os problemas sociais urbanos têm influenciado novas formas de relações. O aumento do uso das mídias digitais está relacionado à violência e problemas de mobilidade urbana, que levaram as crianças a se restringirem ao ambiente doméstico em busca de segurança. 

No entanto, essa sensação de proteção pode ser ilusória, uma vez que as interações virtuais podem expor as crianças a perigos como pedófilos, estelionatários e criminosos cibernéticos. O tempo excessivo gasto nas redes sociais também afeta negativamente o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, prejudicando suas relações familiares e desempenho escolar.

É fundamental considerar que, o simples acesso às mídias digitais pode não garantir um aprendizado completo para a formação educacional e profissional da criança. É preciso desenvolver parâmetros como criticidade e reflexão sobre desafios do mundo real para evitar a alienação e fragilidade emocional. Como afirma o autor:

O acesso à informação não é garantia que disso resulte conhecimento e, muito menos aprendizagem. Para que tal ocorra é necessário que, frente às informações apresentadas, as pessoas possam reelaborar o seu conhecimento, visando uma nova construção. Esta construção deverá estar alicerçada em parâmetros cognitivos que envolvem a autoregulação, aspectos motivacionais, reflexão e criticidade frente a um fluxo de informações que se atualizam permanentemente (CASTELLS, 2003, p.129)

Contudo, o poder e autorrealização nas redes sociais podem criar uma desconexão entre a realidade e a percepção da vida no desenvolvimento infantil. O uso excessivo dessas mídias pode levar a diversos problemas físicos, mentais e sociais, inclusive transtornos. Sendo assim, o cuidado, acompanhamento e responsabilidade, a ludicidade e o conhecimento podem ser desenvolvidos de muitas formas utilizando os meios digitais (CARRETA, A; MACIEL, F; DOMINGUES, D. S. 2020).

AS DINÂMICAS E A QUESTÃO DA CONECTIVIDADE E O EXCESSO DO USO DA INTERNET

A pandemia da COVID-19 causou impactos significativos nas vidas das pessoas de todo o mundo, levando-as a se adaptarem rapidamente a uma nova realidade. O tempo de conexão na internet aumentou consideravelmente devido às restrições sociais impostas. O trabalho remoto se tornou comum, as aulas passaram a ser ministradas virtualmente, e os contatos e relacionamentos se estabeleceram por meio de aplicativos, ferramentas tecnológicas e mídias digitais

Uma importante pesquisa que foi conduzida pelo CETIC que é o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade e da Informação, contou com a participação do CGI – Comitê Gestor de Internet no Brasil e também do NIC – Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, todo esse grupo se reuniu para coletar dados quanto ao uso de internet por pessoas com idade entre 9 a 17 anos no Brasil, teve como nome “TIC Kids Online Brasil 2019”, onde a coleta ocorreu entre outubro de 2019 até março de 2020, o principal objetivo a ser respondido com esses dados era se os pais estão fazendo a mediação e o controle do uso de internet dos seus filhos em seus lares (FREIRE, O. C; SIQUEIRA, C. A; 2019).

Dessa forma, os dados foram colhidos em um período da história totalmente anormal e fora da conjuntura política, econômica e social que o Brasil estava acostumado, possivelmente serão constatados dados bem diferentes com relação a linha histórica de desenvolvimento se o país estivesse sem restrição social e com problemas sanitários. No ano de 2019, algo em torno de 89% das pessoas com idades entre 9 até 17 anos eram usuárias de internet no país. Constatou-se que o celular foi a principal ferramenta utilizada para se ter acesso à internet, com 95% do público analisado (FREIRE, O. C; SIQUEIRA, C. A; 2019). Segundo a pesquisa de Barbosa (2020):

Outros dados mostram que 83% visualizaram programas, séries, vídeos e filmes na internet, e 73% utilizaram a rede para realizar pesquisas relacionadas aos seus trabalhos acadêmicos, por último, aqueles que entraram na internet apenas para acessar as suas redes sociais foram 68%. Temas bem sensíveis e perigosos também possuem muito acesso, como: fórmulas para emagrecimento, cometimento de suicídio, maneiras de se infringir dor e se machucar, esses dados são mais acessados por pessoas do sexo feminino do que o masculino, onde o primeiro tem 27% e o segundo tem 17% (BARBOSA, L. R, 2020).

Um dado também importante da pesquisa supracitada, foi sobre as intenções e necessidades de se manter conectado, onde o grupo analisado diz em sua maioria que não gostaria de ficar tanto tempo utilizando os recursos da rede, mas dizem que nunca conseguem se desconectar, parecendo que a internet e seus aplicativos e ferramentas a todo momento traz algo novo e interessante, funcionando quase como um vício e nada monótono. Concluindo a pesquisa, dados mostraram que 20% até já deixaram de dormir ou mesmo comer por estarem conectados e outros 21% dizem que quando estão sem acesso à internet começam a passar mal e sentem abstinência (BARBOSA, L. R, 2020).

O USO DESENFREADO DE MÍDIAS DIGITAIS E TELAS NA INFÂNCIA

Na sociedade contemporânea, percebe-se no dia a dia, que é cada vez mais frequente a substituição do cuidado humano por meios tecnológicos, como babás eletrônicas, câmeras, dispositivos eletrônicos que auxiliam nos afazeres diários. No entanto, essa dependência tecnológica pode levar à ausência e ao afastamento na relação entre pais e filhos, impactando negativamente o vínculo afetivo e humanizado. 

De acordo com pesquisas pediátricas que mostram que não são poucos os casos, onde as crianças que adentram nos consultórios médicos com suspeita de TEA (Transtorno do Espectro Autista), algumas destas não respondem ou percebem o chamamento ou pedido do médico, as mesmas estão em estado de errância espacial, ou até acompanhadas de práticas automáticas, quase como uma máquina, seja por meio de balanceios desconexos ou sacolejos inesperados, inclusive utilizando palavras e sons em inglês, onde o mais comum seria reproduzir palavras em sua língua nativa, mas que mostra o automatismo maquinal que está impregnado na sociedade atual (CUNHA, L. et al., 2022).

Em um primeiro contato, os pais podem interpretar o comportamento de habilidade na língua inglesa como algo acima da média para crianças dessa idade. No entanto, a principal questão é porque a criança apresenta mais habilidade em inglês do que em português, sendo este o idioma falado por todos em casa. Isso geralmente ocorre porque os pais delegaram suas responsabilidades de educação e acompanhamento para máquinas e equipamentos eletrônicos configurados no idioma inglês.  De acordo com Cunha et al (2022):

Uma pesquisa realizada pelo JAMA PEDIATRICS no ano de 2020, mostrou às crianças que lidavam ou utilizavam as telas de computadores e celulares para brincar e se divertir eram mais propensas a ter algum sintoma semelhante ao autismo, enquanto aquelas que buscavam mais as atividades com outras crianças ou mesmo dos pais tinham menos possibilidades de ter algum sintoma semelhante ao TEA, a base de cálculo desta pesquisa foram crianças com 12 meses de idade. Os estímulos auditivos e os visuais não são suficientes para que a criança se desenvolva, é preciso que outros sentidos sejam trabalhados, como: os comportamentais, motor e cognitivo.

Diante dos riscos que a virtualização nos primeiros anos de vida pode causar no desenvolvimento neuropsicomotor das crianças, da fala afetada ao estabelecimento de vínculos afetivos. Agravado pela ausência de interação e o excesso de tela. Torna-se imprescindível e necessário, ter a supervisão afetiva e promover mudanças de hábito, como usar mais brinquedos físicos e valorizar a interação com outras crianças. 

Assim, é importante ressaltar ainda que, diagnósticos precisos devem ser realizados por profissionais multidisciplinares, para detectar possíveis casos de “intoxicação digital” em que as pessoas ficam excessivamente imersas em tecnologia, com efeitos negativos em sua vida diária.

A IMPORTÂNCIA DOS PAIS NA MEDIAÇÃO DAS MÍDIAS DIGITAIS

Os principais desafios enfrentados atualmente pelos pais, é o gerenciamento do controle do conteúdo e do tempo que seus filhos passam na internet ou utilizando dispositivos eletrônicos. Com a modalidade de ensino a distância (EAD) se tornando mais comum, principalmente, após a COVID-19, a mediação entre pais e filhos se tornou ainda mais importante para estabelecer regras e limites sobre o uso das mídias digitais. Logo, o diálogo constante é essencial nesse processo, e os pais devem estar atentos ao conteúdo consumido pelos filhos, participando ativamente da experiência do aprendizado online.

Dessa forma, a pandemia provocou mudanças significativas no comportamento das pessoas, especialmente na forma como utilizam as redes sociais. Aqueles que já eram usuários ativos aumentaram seu tempo de exposição, enquanto os menos acostumados tiveram que se adaptar rapidamente à nova realidade virtual.

As publicações e estudos da SBP e da AAP, dizem que o recomendado por dia de uso de internet e mídias digitais seria de 1 hora para crianças entre 2 e 5 anos e de 2 horas para aquelas que tenham entre 6 e 10 anos. Tais dados possuem muita relevância, principalmente por se mostrarem fundamentais para comportamentos que podem afetar a saúde das crianças (CUNHA, L. et al., 2022).

Dessa maneira, as crianças e  adolescentes enfrentam desafios na era da tecnologia, que influenciam fortemente suas vidas por meio de diversas mídias digitais. Essa dependência excessiva no mundo virtual pode afetar valores, necessidades e princípios fundamentais, resultando em um distanciamento precoce dos familiares e professores. É crucial que a família transmita valores éticos e morais de forma contínua para orientar e moldar o desenvolvimento dos jovens nesse contexto dinâmico e intenso.

[…] a família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os desafios da vida de perpetuar valores éticos morais. Os filhos se espelhando nos pais e os pais devolvendo a cumplicidade com os filhos (CHALITA,2001, p.20)

Portanto, é fundamental que as crianças tenham o alicerce familiar para desenvolverem discernimento e lidarem com os desafios do mundo real, que muitas vezes, é diferente do mundo virtual. Sem essa orientação, elas podem se sentir diminuídas em suas capacidades, levando a angústias e frustrações. 

Percebe-se, assim, a necessidade de ensinar a diferença entre certo e errado para evitar que caiam em armadilhas tanto no mundo virtual quanto no real. Jovens sem aparato ético-moral e com estruturas psicoemocionais ainda em formação são vulneráveis a perigos diversos, e é importante que sejam protegidos dessas ameaças que exploram suas fragilidades. 

[…] a preparação para a vida, a formação da pessoa, a construção do ser são responsabilidades da família. É essa a célula mãe da sociedade, em que os conflitos necessários não destroem o ambiente saudável (CHALITA,2001, p.20)

Dessa forma, é de extrema importância que a família acompanhe de perto esse processo decisivo na vida dos jovens, fornecendo o suporte necessário para que eles enfrentem os desafios naturais das relações sociais com valores intrínsecos em seu caráter. Esses valores são fundamentais para uma formação saudável, tanto física como psicoemocional, em harmonia com os aspectos socioculturais. A família deve ser uma referência contínua, transmitindo e vivenciando os valores que auxiliarão os jovens a enfrentarem as complexidades da vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente, vivemos em uma realidade digital em que a tecnologia se tornou um hábito, ela faz parte da nossa vida cotidiana. As facilidades de acesso à informação e ao conhecimento são inegáveis, especialmente para as crianças, que são atraídas pelas ferramentas digitais e por tudo o que elas oferecem de atrativos. 

Sabe-se que, profissionais que estudam os jogos virtuais, estudam o perfil e personalidade das crianças quando criam seus jogos interativos, como forma de atrair e vincular crianças e adolescentes a esse tipo de mídia.

No entanto, o excesso de uso pode trazer consequências negativas, como problemas de socialização, ansiedade, alteração de humor, e cefaleias, bem como outros problemas que impactam a saúde física, mental e social das crianças. Por isso, discutiu-se nesse artigo sobre a importância dos pais se conscientizarem de todos os malefícios e monitorarem e orientarem seus filhos que fazem uso das mídias, para que assim possam ter um desenvolvimento saudável.

Contudo, a tecnologia facilita a nossa vida, encurta distâncias, acelera a comunicação, promove conhecimento, estimula o aprendizado traz muitos benefícios, o que a torna execrável, é o mal-uso, que precisa ter a orientação dos pais e educadores, quanto a qualidade do acesso e o tempo de uso das crianças, para que assim, seja estimulada de maneira correta o desenvolvimento. Além do mais, devemos enfatizar a importância de desenvolver valores éticos e morais na formação das crianças, sendo a família a principal fonte norteadora em suas vidas.

REFERÊNCIAS

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1Discente do curso de graduação em Psicologia, ano 2023, Centro Universitário Fametro. Email: regina40almeida14@gmail.com
2Discente do curso de graduação em Psicologia, ano 2023, Centro Universitário Fametro. Email: gidcel15@gmail.com
3Professor orientador do Centro Universitário Fametro. Especialização em Neuropsicologia. Email: psisamreis@gmail.com
4Professora coorientadora do Centro Universitário Fametro. Mestre e Especialista em Psicologia Clínica.  Email: carlacsdimaraes@hotmail.com