A INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA POSITIVA COMO FATOR RELEVANTE PARA A SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO FAMILIAR

THE INFLUENCE OF POSITIVE PSYCHOLOGY AS A RELEVANT FACTOR FOR MENTAL HEALTH IN THE FAMILY CONTEXT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8357603


Anália Bento de Lima1
Maria Vera Lúcia M. Cardoso2
Samuel Reis e Silva3


RESUMO: O teor da matéria presente tem como ponto central a explanação de um estudo exploratório sobre a eficácia na aplicação da psicologia positiva, considerando a saúde mental do indivíduo e os reflexos na sua relação perante o contexto familiar. Entre as propensões na área psicológica, a Psicologia Positiva tem sido um campo aberto, se destacando na contribuição para mudanças de vidas de muitas pessoas no seu vínculo familiar, com a prevenção de conflitos e manutenção do bem-estar, trazendo resultados satisfatórios, pois, esse ramo da psicologia visa atuar mais fortemente nas forças do que nas fraquezas do ser humano, intensificando mais a busca pela felicidade do que o estudo das doenças mentais explorado pela psicologia convencional, tendo como propósito vislumbrar os aspectos saudáveis da vida com otimismo, e descobrir na força interior, a capacidade de vencer desafios e o potencial do indivíduo para ser bem sucedido e feliz. O estudo caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, de caráter bibliográfico, embasado em conteúdos canalizados pela psicologia positiva, atrelada à resiliência do indivíduo no ciclo parental. Os resultados apontam para a necessidade de se ampliar estudos dessa natureza, com o desenvolvimento de novos artigos científicos, visto que a demanda é vasta nas questões em que a psicologia positiva se torne aplicável, até mesmo para dar suporte em outras áreas da psicologia.

Palavras-chave: bem-estar; vínculo familiar; psicologia positiva; resiliência.

ABSTRACT: The content of the present matter has as its central point to explain an exploratory study on the effectiveness in the application of positive psychology, considering the mental health of the individual and the reflections on their relationship with the family context. Among the propensities in the psychological area, Positive Psychology has been an open field, standing out in the contribution to changes in the lives of many people in their family bond, with the prevention of conflicts and maintenance of well-being, bringing satisfactory results, because this branch of psychology aims to act more strongly on the strengths than on the weaknesses of the human being,  intensifying more the search for happiness than the study of mental illness explored by conventional psychology, with the purpose of glimpsing the healthy aspects of life with optimism, and discovering in inner strength, the ability to overcome challenges and the potential of the individual to be successful and happy. The study is characterized by a qualitative approach, of bibliographic character, based on contents channeled by positive psychology, linked to the resilience of the individual in the parental cycle. The results point to the need to expand studies of this nature, with the development of new scientific articles, since the demand is vast in issues in which positive psychology becomes applicable, even to provide support in other areas of psychology.

Keywords: well-being; family bond; positive psychology; resilience.

INTRODUÇÃO

Diante da variedade de estudos realizados através de fontes diversas e pesquisas desenvolvidas sobre o assunto, com a pretensão de compreender a influência da psicologia positiva como fator relevante para a saúde mental no contexto familiar, é possível evidenciar o papel dessa perspectiva psicológica como ponto benéfico ao indivíduo em seu bem-estar no âmbito da família.

Segundo Camalionte e Boccalandro (2017, p.206), “a Psicologia Positiva é uma teoria que busca estudar os aspectos positivos do ser humano com o objetivo de tornar a vida das pessoas mais gratificante e prevenir doenças, bem como, promover a saúde”. Ainda nesse contexto, Ururahi e Albert (2015, p.195), acrescentam: “a psicologia positiva trouxe um novo olhar sobre as motivações e capacidades do ser humano para a construção de uma vida feliz e saudável”.

A elaboração da matéria objetiva apontar para a psicologia positiva, como elemento significativo e útil como instrumento de apoio e contribuição para manutenção dos relacionamentos e superação de conflitos no âmbito familiar, proporcionando bem-estar e qualidade de vida para os indivíduos.

Posto isto, Campos (2020, p.117), explica que, “é necessário compreender a família como um sistema, que lidará com eventos estressores e conflitantes, e que precisará realizar certas adaptações para manter sua estabilidade, o que pode se tornar funcional ou não”. Nessa conjuntura, mostra-se que, inevitavelmente, existem implicações no campo social da família e no relacionamento intrapessoal, no entanto, ainda é possível encontrar efetividade através das intervenções e meios terapêuticos com o aporte da psicologia positiva para auxiliar na saúde mental, na inteligência emocional e em outros aspectos, favoráveis ou adversos na vida das pessoas dentro do espaço da família, com a prevenção ou resolução de problemas.

Por tratar-se de uma perspectiva de estudo recente na área da psicologia, com afirmação de uma visão otimista no sentido de perceber o lado positivo da vida, a psicologia positiva, é um tema a ser explorado e discutido, com vistas a abranger os conhecimentos necessários para a aplicação adequada, como instrumento de apoio às demais teorias já existentes no campo da psicologia. Embora não seja ainda uma teoria de fato, é uma temática propícia para tornar-se uma área ampla de exploração científica e de ser utilizada pelos acadêmicos, ou ainda, aplicada na prática profissional para auxiliar na precaução de problemas relacionados a condições conflitantes nos relacionamentos do ciclo parental familiar, no trabalho e demais espaços sociais, e mais ainda, atuar inclusive, onde não se tem problemas de saúde mental ou psicológicos a serem sanados, agregando valor e potencializando a pessoa, visando o seu bem estar e a qualidade de vida. Dessa forma, esse conteúdo pode contribuir significativamente para o conhecimento do público acadêmico e profissional, e demais interessados, evidenciando os aspectos mais expressivos, despertando no leitor, o interesse para a realização de novas pesquisas ou estudos dessa natureza, com o aprofundamento no assunto com maiores pretensões de disseminar informações sobre o mesmo.

Os critérios aplicados na produção do estudo são basicamente: abordagem qualitativa de caráter exploratório e procedimento técnico bibliográfico. Na abordagem qualitativa, segundo Rodrigues, Oliveira e Santos (2021, p.162), “a pesquisa qualitativa deriva de uma investigação, de uma situação-problema social e histórica, de uma coleta e análise de dados reais e concretos não estabelecidos em uma pesquisa rígida”.

Através das abordagens aplicadas na área clínica, é provável que ao se utilizar a psicologia positiva como coadjuvante para a realização das práticas terapêuticas, os resultados terão maior eficácia e satisfação.

A PSICOLOGIA POSITIVA: CONCEITOS E RELEVÂNCIA

No intento de apresentar uma ideia inicial em saúde mental, Reppold et al (2022, p.23), conceitua a Psicologia Positiva como: “movimento que pretendia reunir e potencializar estudos científicos sobre os aspectos saudáveis dos indivíduos, sem desconsiderar experiências, situações e emoções negativas que também fazem parte da vida”. Assim, a psicologia positiva, por ser uma nova vertente, busca o entendimento dos processos e fatores que proporcionam o desenvolvimento psicológico sadio. E nesta perspectiva interessa quais elementos implicam o fortalecimento e a construção de competências nos indivíduos, grupos e instituições (Neto, 2019).

A construção de relacionamentos positivos é um fator de grande significância para a melhoria da qualidade de vida e bem estar pessoal e interpessoal. Os indivíduos relacionam-se de alguma forma no meio social, dentro e fora da família. Assim, os relacionamentos positivos, segundo Borges (2017, p.65), “são fundamentais para o nosso bem-estar”. Na concepção do autor, como norteamento e parte da base da psicologia positiva, a teoria do bem-estar, denominada PERMA, representa os cinco elementos essenciais que devem estar presentes para que seja possível adquirir experiências de um bem-estar efetivo e duradouro. O modelo é o núcleo central que fundamenta a psicologia positiva (Borges, 2017).

Seligman (2012, p.13), considera que, “o tema da psicologia positiva é o bem estar, que o principal critério para a mensuração do bem-estar é o florescimento, e que o objetivo da psicologia positiva é aumentar esse florescimento”. Nessa perspectiva, a psicologia positiva pode ser conceituada como uma abordagem nova preparada para lidar com demandas antigas e atuais, que utiliza-se de recursos modernos e explora a tecnologia que temos disponível em nossos dias, […] É também a ampliação de um campo de visão sobre o mundo, sobre como explorar o potencial humano, suas forças de caráter, sua criatividade e virtude (Borges, 2017).

Segundo Seligman (2010, p.333), “felicidade e bem-estar são os resultados desejáveis da psicologia positiva”. Neto (2019, p.40), por sua vez, defende que “a concepção de felicidade parte de uma premissa intrínseca, vê o próprio indivíduo como sua fonte, e confere a ele a tarefa de se trabalhar de forma a conquistar uma vida feliz”.

Como parte do processo de valorização ao sentido da vida, Frankl (2022, p.93) propõe: “somente quando o valor de cada vida humana vier a ser novamente reconhecido como algo único e singular, as pessoas terão o suporte espiritual necessário para superar as crises psíquicas”.Sendo assim, o bem-estar e a qualidade de vida, são fundamentais na vida do indivíduo, que podem até sobrepor as contrariedades que são comuns e passíveis a qualquer pessoa. A esse respeito, Papalia e Feldman (2013, p.611), defendem que:

Os estilos de enfrentamento não estão relacionados apenas ao bem-estar emocional e psicológico. De um modo geral, pessoas mais felizes são também mais saudáveis. E o modo como a pessoa enfrenta as provações e atribulações da vida está relacionado a várias consequências importantes para a saúde.

Borges (2017, p.17) afirma que “o ser humano possui forças indomáveis para superar adversidades. E essa é a mudança de perspectiva, explorar as forças humanas”. Ainda nessa mesma visão, o autor, Borges (2017, p.39), diz que “o objetivo da psicologia positiva é promover um ajuste no foco da psicologia para que aspectos saudáveis também recebam atenção”.

Numa visão holística, percebe-se a abrangência, inclusive da potencialização das qualidades e pontos positivos do ser humano, ainda que em meio a fracassos e insucessos em determinadas circunstâncias. Assim, para Neto (2019, p.44), “a psicologia positiva, por ser considerada como estudo científico das forças e virtudes do ser humano comum, deve procurar compreender quais aspectos são responsáveis por fortalecer e construir competências nos indivíduos”.

Para Borges (2017, p.34), ”a psicologia positiva é, portanto, uma mudança de perspectiva do modelo tradicional de psicologia”. Dessa forma, entende-se que uma nova visão com tendência otimista ganha espaço no campo psicológico, fazendo valer a saúde mental, como paradoxo em relação às patologias e doenças mentais, mas como medida de prevenção e também, como auxílio na ressignificação e na resolução de conflitos.

A Família, Conceitos e sua Importância para Relacionamentos Saudáveis

Um espaço social em que o ser humano integra desde a sua concepção é o ambiente familiar. Nessa perspectiva, Rossato (2017, p.142), entende que, “as interações entre as pessoas estão influenciadas, não só pela trajetória individual, mas também pelo familiar, pelo contexto histórico, social e cultural no qual as pessoas estão inseridas”. Neto (2019, p.39), argumenta que, “a conceituação básica compreende que a família está em evolução, transformando-se continuamente e organizando-se muito mais por laços de afeição do que por hierarquias tradicionais”.

Os relacionamentos podem ser produzidos a partir da família, tendo a psicologia tomado como verdade que, crianças não vêm ao mundo com manual de instruções e famílias têm perfil diferente, não havendo regras fixas para o bom relacionamento (Ururahy e Albert, 2015).  Outrossim, segundo os autores, (p.177), “manter uma família significa abdicar-se de algumas coisas para ganhar outras – entre elas, ver de perto o desenvolvimento dos filhos e ter com o(a) companheiro(a) uma relação de diálogo permanente”.

A Constituição Federal de 1988, conceitua a família da seguinte forma:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuito a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

Nessa mesma concepção, o Código Civil brasileiro, através do artigo 1.723 da Lei nº 10.406, estabelece que: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”.

É inequívoco que as pessoas em geral compreendam a família como um conjunto de pessoas, normalmente ligadas por um grau de parentesco, que vem formar um grupo social, que lhe venha influenciar e que, por sua vez, chega a influenciar outras pessoas e/ou grupos (Neto, 2019). Sob essa ótica, Ferreira et al (2019, p.442), atribuem a seguinte definição para família: “A família é constituída por um grupo de pessoas que estabelecem relações de cuidado, de conflitos, vínculos e convivência cotidiana, que possibilitam aos indivíduos se sentirem pertencentes a um grupo”.

Desse modo, é importante compreender a importância dos afetos nos relacionamentos para prevenção e manutenção da saúde mental e física. Diante disso, Ururahi e Albert (2015, p.177), afirmam que, “os sistemas de apoio afetivo são significativos até mesmo no nível fisiológico, pois ajudam a produzir serotonina, o neurotransmissor que auxilia no combate à depressão e cria um sentimento geral de bem-estar”. Assim sendo, o estado emocional de uma pessoa diz respeito, inclusive, ao seu meio social, especialmente o lar, onde se concentra a maior expectativa de pertencimento e relacionamentos saudáveis.

A respeito da validação nos relacionamentos, orienta-se, às habilidades de criar e sustentar a confiança e a segurança; criar e manter a amizade e a intimidade; aumentar a confiança e a honestidade; […] produzir e manter um relacionamento positivo com cada filho; praticar a educação eficaz dos filhos; ajudar cada filho a aprender em casa; dar apoio ao filho para formar relacionamentos saudáveis com seus pares; habilidades para romper um relacionamento doente e nocivo, como identificar os sinais de uma relação deste tipo; buscar apoio nos familiares e amigos; […] proteger os filhos dos efeitos negativos de um rompimento; e fazer escolhas novas e positivas de relacionamento com os filhos e com o eu (Seligman, 2012).

Camalionte e Boccalandro (2017, p.225), ressaltam que, “os relacionamentos interpessoais são muito importantes e determinantes para a felicidade. Pesquisas mostram também que bons relacionamentos além de caracterizarem vidas felizes, também contribuem para a saúde”. Nessa ótica, nota-se a necessidade de construção e de manutenção de relacionamentos que produzam confiança e bem estar para uma vida saudável e prazerosa.

Para os profissionais de saúde, no sentido de focar o bem-estar da família, devem estar atentos à história que envolve o passado da família, seus antepassados, o seu presente e as expectativas de futuro, sem incertezas, pois, é uma importante aposta das equipes de saúde na produção do cuidado que reconheça e legitime o ambiente familiar como espaço de cuidado (Ferreira et al, 2019).

A contextualização de família é como uma pequena célula social que serve de base para a existência, é o treinamento para a vida. Pois é na família, que gera um misto de turbulências e amor, em que o nosso lugar é cativo e onde sempre seremos aceitos (Ururahy e Albert, 2015). Diante das necessidades de harmonização e resolução de conflitos no meio familiar, a psicologia em geral pode favorecer os ajustes e trazer benefícios com o melhoramento nas relações. Tratando-se da saúde da família, entende-se que é necessário que os profissionais de saúde atentem para a complexidade que envolve a família, produzindo cuidados com base na experiência da família ao longo do tempo, ou seja, sua história pregressa, atual e perspectivas futuras (Ferreira et al, 2019).

Sobre a terapia familiar, Rossato (2017, p.142), comenta: ”[…] em terapia, vai se conhecer algo das pessoas ou das famílias dependendo daquilo que o terapeuta busca. Portanto, a terapia é uma co-construção entre a família e o terapeuta”. Assim, pressupõe-se que, a psicologia positiva é atuante no sentido de prevenir as repercussões negativas provenientes de atritos familiares, como Neto (2019, p.42) defende: “a psicologia positiva vem afirmar-se como uma nova vertente capaz de guiar os psicólogos a adotarem uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais contra os impactos dos fatores de riscos na dinâmica familiar”.

É no ambiente familiar que se propicia a segurança necessária para o conforto do indivíduo, promovendo o fortalecimento dos laços por meio do vínculo, como trás o DSM-5 (2014, p.224), “adultos mais velhos relatam maior preocupação com o bem-estar da família ou da sua própria saúde física”. Como rede de apoio seguro, Papalia e Feldman (2013, p.628) dizem que ”os amigos são uma poderosa fonte de prazer imediato; a família provê maior segurança e apoio emocional”. E reforçam ainda que, nos relacionamentos, os laços positivos tendem a melhorar a saúde e o bem-estar (Papalia e Feldman, 2013).

Os relacionamentos saudáveis e as amizades em casa ou fora dela, são fatores que contribuem positivamente para a construção pessoal, como descrevem Ururahi e Albert (2015, p.177): “quem tem amigos sinceros capazes de ouvir com atenção e demonstrar empatia, também tem mais chances de lidar positivamente com experiências difíceis e estressantes no âmbito pessoal ou profissional”.

Assim, no contexto parental, como organização social observa-se que há influência direta no desenvolvimento desde a infância, e que esse desenvolvimento pode ter fatores de risco ao indivíduo, é possível também que esses fatores deem lugar a perspectivas positivas (Neto, 2019). Assim, as experiências passadas, embora negativas, podem trazer valores novos com desfecho positivo na vida das pessoas, a depender de suas escolhas.

Resiliência associada à Psicologia Positiva

A resiliência como fator de superação atrelada à psicologia positiva aparece habitualmente associada às situações promocionais da qualidade do desempenho, da qualidade de vida e de realização das pessoas – ou seja, situações em que tudo corre bem – às pessoas detentoras de fortalezas internas positivas ou a situações favoráveis em que tais características se podem desenvolver e potenciar o cotidiano (Reppold et al, 2022).

Há evidências de que pessoas que buscam sua ressignificação diante de iminentes fracassos ou situações adversas, por meio da uma força interior, de uma crença ou algo a que se apegue para tal superação, o que se pode caracterizar pelo processo de resiliência, podem tornar-se bem sucedidas em decorrência de fatos experienciados que as tornaram mais estáveis e resistentes. Segundo Papalia e Feldman (2013, p.548) “para pessoas com personalidades resilientes, mesmo eventos negativos, tais como um divórcio não desejado, podem se transformar em trampolins para um crescimento positivo” (Klohnen et al., 1996; Moen e Wethington, 1999).

Um dos aspectos estudados pela psicologia positiva é a resiliência. Sendo definida como contextos de mudanças significativas repletas de situações de risco e adversidades. O estudo desse aspecto ajuda no entendimento das forças humanas. Quando passamos por uma situação de adversidade, torna-se possível conhecer as forças e virtudes pessoais e isso produz efeitos importantes na vida das pessoas, já que favorece suas potencialidades, tornando-as mais fortes e produtivas (Campos 2020, apud Paludo & Koller, 2007).

Sobre superação às adversidades, Frankl (2022, p.31), argumenta:

Nós damos sentido à vida ao atuar, bem como ao amar – e, por fim: ao sofrer. Pois na maneira como uma pessoa se posiciona em relação à limitação de suas possibilidades de vida, quando afeta seu agir e seu amar, na maneira como ela se comporta em relação a essa limitação – na maneira como toma sobre si o seu sofrimento nessa situação –, em tudo isso ela ainda é capaz de realizar valores.

No sentido de intensificar o fortalecimento do potencial humano, o DSM-5 (2014, p.749), considera que as “Identidades cultural, étnica e racial podem ser fontes de força e apoio grupal que melhoram a resiliência”. E reforça ainda que, a cultura pode fornecer estratégias de enfrentamento que aumentam a resiliência em resposta à doença ou mesmo oferecer auxílio e opções variadas de acesso à assistência à saúde, incluindo sistemas de saúde alternativos e complementares (DSM-5, 2014).

As pessoas em circunstâncias adversas de vulnerabilidade são mais propensas a maior ou menor grau de fatores que levam a condições de resiliência. De acordo com Neto (2019, p.42), “resiliência remete à possibilidade de adaptação positiva em contextos de adversidade e de riscos significativos e, neste sentido, contribui para a compreensão das forças humanas”. Assim também, para Rossato (2017, p.143), “[…] todas as pessoas, todos os casais e todas as famílias têm, contidos em si mesmos, o potencial e as respostas para a melhora dos aspectos para os quais vêm buscar ajuda”.

Como observam Papalia e Feldman (2013, p.530), “pessoas resilientes que sofrem uma ruptura em suas vidas normais de algum modo conseguem manter-se funcionando tão efetivamente, ou quase tão efetivamente, como antes”. Isso retrata o poder de superação que cada pessoa desenvolve em seu interior diante dos problemas que enfrentam no curso da vida.

Desta forma, o processo da resiliência prepara o indivíduo para a vida, oferecendo autoconhecimento e proporcionando resultados que superam as suas próprias expectativas ou necessidades. Segundo Ururahi e Albert (2015, p.193), “o desenvolvimento da autoeficácia inicia-se com metas comportamentais realistas, que possibilitam novas experiências de sucesso e fortalecem a crença de que é possível atingi-las”.

Pensar na psicologia positiva e em intervenções psicológicas marcadas pelo otimismo ou pelo pensamento positivo, como método terapêutico, faz-nos evocar alguns dos construtos e dos fenômenos que são identitários dessa corrente psicológica. Referimo-nos, por exemplo, à felicidade, à satisfação com a vida, à autorrealização, à gratidão e ao perdão, à autoeficácia e à autoestima, à resiliência e à esperança, ao desenvolvimento socio-emocional e à gestão das emoções (Reppold et al, 2022). Nesse segmento, de acordo com o entendimento de Borges (2017, p.81), “as emoções positivas contribuem para a construção da resiliência”. O que representa sobremaneira a eficácia dessa interpelação como meio facilitador no processo terapêutico.

É inegável dizer que a psicologia positiva como contribuinte para o bem-estar do indivíduo, é um instrumento útil de grande importância. O sentido no viver, ou significado da vida, geralmente vêm de servir a uma causa maior que nós mesmos. Encontrar um sentido para o que fazemos pode ser através de uma crença, uma religião, uma causa humanitária ou um simples objetivo, desde que seja significativo para o indivíduo. As pessoas são propensas a procurar por um sentido em suas vidas, um propósito, uma resposta que dê sentido à própria existência. (Borges, 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ambiente familiar é um complexo organizacional que desenvolve e proporciona experiências na vivência, na construção pessoal, social e emocional, através de culturas, crenças, princípios e valores na subjetividade humana. Cada membro exerce um importante papel na dinâmica familiar, e, de acordo com sua configuração, poderá favorecer o constructo de seus membros de forma incisiva positiva ou negativamente, por meio dos comportamentos, decisões, atitudes e práticas que desenvolve.

Certamente, um integrante não pode definir ou caracterizar o conjunto como um todo, mas pode ser um contribuinte para influenciar na personificação daquele meio social. Essa capacidade de persuasão ou de afetar as pessoas que fazem parte do convívio do indivíduo, acaba sendo de certa forma involuntária, não proposital, mas se desenvolve no curso da vida, desencadeando marcas ou traumas provindos de situações até mesmo desconhecidas ou não conscientes, mas que refletem de maneira substancial, e geralmente na fase adulta são manifestas e estigmatizadas. No entanto, uma pessoa resiliente, capaz de superar as contrariedades que lhe são propiciadas de maneira abrupta, acabam se tornando uma referência que se destaca e contribui para mudança de vida, inclusive de outros que fazem parte do seu ciclo.

A busca pela satisfação e bem estar, contentamento e felicidade, é um processo constante e contínuo na vida do ser humano. No entanto, a funcionalidade para uma mudança de vida pressupõe um posicionamento peculiar de cada pessoa, tratando-se de uma ressignificação sustentada na decisão unilateral de uma mente não engessada, aberta a novos paradigmas.

A terapia familiar exprime a essência de estratégias para potencializar o indivíduo inserido nesse sistema de onde foi originada sua existência. Essa dinâmica pode ocorrer individualmente ou em conjunto, com a pretensão de obter maior eficácia através do envolvimento coletivo.

A terapia embasada na psicologia positiva é um campo a ser explorado de maneira mais efetiva para a prevenção de maiores complicações pessoais e familiares, e, diante disso, a disseminação de informações e desenvolvimento de estudos nessa perspectiva, pode trazer maiores benefícios e proporcionar resultados positivos e favoráveis.

Os resultados aqui apresentados, trazem informações úteis e necessárias como instrumentos adequados que podem ser aplicadas por profissionais, assim como conhecimento desde o básico ao mais aprofundado a respeito do assunto em questão, no sentido de agregar e de servir de embasamento para pesquisadores e ao público interessado em assuntos desta natureza, que atuam ou pretendem ingressar profissionalmente como psicólogos, utilizando a psicologia positiva como coadjuvante das abordagens psicológicas nas terapias e técnicas de trabalho.

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1Discente do curso de graduação em Psicologia, ano 2023. Centro Universitário Fametro. analia96arirama@gmail.com.
2Discente do curso de graduação em Psicologia, ano 2023. Centro Universitário Fametro. E-mail: veradeverdadeam@gmail.com.
3Professor orientador do Centro Universitário Fametro. Neuropsicólogo. E-mail: psisamreis@gmail.com.