REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8349017
Vanessa Aparecida Rebouças Pereira
1 INTRODUÇÃO
A histerectomia consiste em uma cirurgia de retirada do útero em consequência de algumas patologias benignas, tais como os miomas, responsáveis por 59,5% das cirurgias, seguida das causas malignas, como é o caso de cânceres uterinos, que ocorrem com menor frequência (SILVA et al., 2010).
Para o Sistema Único de Saúde (SUS) a histerectomia consiste na segunda cirurgia mais realizada entre estas mulheres, sendo superada apenas pela cesárea (SILVA et al, 2010). No ano de 2009 foram realizadas no Brasil cerca de 41 milhões de histerectomias totais. No ano de 2014, este número subiu para aproximadamente 48 milhões de histerectomias totais. Neste mesmo ano, foram realizadas cerca de 4 milhões de histerectomias subtotal (DATA SUS, 2015).
Na região Nordeste, em 2009, foram realizadas aproximadamente 17 milhões de histerectomias totais. No ano de 2014, esse número subiu para cerca de 22 milhões, superando o quantitativo das demais regiões. A região Norte possui menor percentual de histerectomias totais, totalizando aproximadamente 3 milhões no ano de 2014 (DATA SUS, 2015).
Este procedimento repercute de diversas formas na vida da mulher que vão de complicações de natureza física a psicológica. Fisicamente pode-se dizer que a mulher sofre diminuição da libido e da lubrificação vaginal, decorrente da redução do muco cervical. Além disso, acarreta dor durante as relações sexuais e alteração no orgasmo, devido retirada de nervos terminais da região, dificultando o prazer sexual (SALVADOR et al, 2008).
Pesquisa realizada com mulheres mexicanas identificou que a retirada do útero gerou muito mais impacto social do que no seu corpo biológico, interferindo de forma significante em seu processo de vida (PENÃ MTC, 2004).
Tratando-se a histerectomia de um procedimento realizado amplamente em mulheres no setor saúde, é necessário se reconhecer os problemas pós-cirúrgicos que envolvem o físico-biológico, como também a área emocional. Esta identificação precoce auxilia no cuidado das pacientes levando em consideração que sua feminilidade está intimamente ligada a este órgão (MACHADO, 2005). Desta forma, é de extrema importância que os profissionais de saúde que estão envolvidos na prestação desses cuidados, não se limitem no conhecimento acerca do procedimento e em intervenções baseadas de forma isolada nas dimensões biológicas. (BOEHS, MONTICELLI, WOSNY, HEIDEMANN, 2007).
Esta cirurgia por ser frequentemente realizada entre mulheres exige uma maior importância na compreensão das suas repercussões, onde são considerados aspectos biológicos, psicológicos e sociais desta mulher, uma vez que seu conhecimento acerca do procedimento vem atrelado a vários mitos. (VILLAR, 2010). Após o procedimento, as mulheres podem também vivenciar momentos de desesperança e desespero, o que pode afetar seu estado psicossocial (HAMPTON, 2014).
A enfermeira está envolvida no processo de cuidar dessas mulheres, possuindo, portanto, papel elementar no processo de recuperação física, psicológica e social. Além disso, a enfermeira tem a responsabilidade de intervir como educadora nesse processo (HAMPTON, 2014).
Os estudos demonstram que, tanto pela frequência de realização da histerectomia quanto por suas implicações para o universo das mulheres, a temática se mostra relevante. A literatura internacional sobre a histerectomia é ampla, porém, os trabalhos brasileiros relativos a esse tema são em pequeno número e analisam o procedimento de forma isolada.
Além disso, identificar as complicações psicossociais em mulheres submetidas à histerectomia se mostra importante para o setor saúde uma vez que possibilita se pensar em estratégias para promoção da qualidade de vida e saúde dessas mulheres.
No sentido de compreender melhor estes fatores e buscar estratégias de intervenções para as mulheres nos questionamos: Quais as complicações psicossociais que acometem as mulheres histerectomizadas? Qual a atuação da enfermeira frente a esta? Como objetivo propõe-se, identificar as complicações psicossociais e a atuação da enfermeira em mulheres submetidas à histerectomia.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura, a qual é indicada para buscar uma concordância sobre um determinado tema. A revisão sistemática descreve e condensa o conhecimento de uma dada área a partir da formulação de uma pergunta e identificação, escolha e avaliação crítica de trabalhos científicos contidos em bases de dados eletrônicas. Além destas etapas, também permite aprofundar o conhecimento sobre a temática investigada e indicar lacunas que precisam ser completadas por meio da realização de novas investigações (LOPES; FRACOLI, 2008).
Pensando no desenvolvimento dessas etapas, utilizamos como questão de pesquisa: Quais as complicações psicossociais que acometem as mulheres histerectomizadas? E de forma consequente: Qual a atuação da enfermeira frente a esta?
Para garantir o rigor metodológico da revisão sistemática, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: artigos científicos de todas as categorias; disponíveis na íntegra em meio virtual; publicados entre 2009 a 2014; de idioma português, inglês e espanhol; oriundos de estudos desenvolvidos no Brasil; indexados nas bases eletrônicas Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e National Library of Medicine, USA (MEDLINE). Como critérios de exclusão, consideramos: artigos de revisão de literatura ou reflexão; teses; trabalhos de conclusão de curso e que não contemplassem o objetivo do trabalho. O período de escolha justifica-se pela atualidades dos artigos dos últimos cinco anos.
A busca de artigos foi realizada através de levantamento bibliográfico realizado na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) com a associação dos descritores “Histerectomia” e seus respectivos sinônimos (Histerectomia Vaginal e Colpo-histerectomia) com “Aspectos psicológicos e Complicações pós-operatórias”. Para isso utilizou-se os operadores booleanos AND e OR, para proceder com as combinações. Dessa forma, foram encontrados 47 artigos, histerectomia AND aspectos psicológicos, histerectomia AND complicações pós-operatórias, histerectomia AND Complicações Pós-Operatórias OR Complicações conforme diagrama a seguir:
Obedecidos aos critérios de inclusão e exclusão, foi realizada a leitura flutuante dos artigos para identificação dos estudos de interesse totalizando em 10 artigos analisados. A avaliação crítica dos artigos foi realizada após confronto dos principais resultados das pesquisas. Utilizando o sinônimo Colpo histerectomia foi localizado 1 artigo para cada combinação, mas não relacionado ao tema.
Visando cumprir com os aspectos éticos redigidos na lei- Lei 9610 de 19 de fevereiro de 1998 que dispõe sobre os direitos autorais, todos os artigos foram citados e referenciados (BRASIL, 1998).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília [online], 20 fev. 1998. Disponível em <http:// www.dou.gov.br/materias/do1 /do1legleg19980220180939_001.htm>acesso em 10/02/2015.
Boehs AE, Monticelli M, Wosny AM, Heidemann IBS, Grisotti M. A interface necessária entre enfermagem, educação em saúde e o conceito de cultura. Texto Contexto Enferm. 2007; 16(2):307-14.
Corleta, H. E., Chaves, E. B. M., Krause, M. S. & Cappe, E. (2007). Tratamento atual dos miomas. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 29(6), 324-328.
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Lopes ALM , Fracolli LA . Revisão Sistemática de literatura e metassíntese qualitativa: Considerações sobre sua aplicação na pesquisa em enfermagem . Texto Contexto- Enferm . 2008 ; 17 ( 4 ): 771 – 8
MACHADO, N.P, Interfaces do Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia. São Paulo, v. 5. n. 28, jul/ago/2005. Disponível em: http//:www.praticahospitalar.com.br>. Acesso em:15 de fevereiro de 2015.
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SALVADOR Rachel Torres, VARGENS Octavio Muniz da Costa, Progianti Jan Márcia. Sexualidade e histerectomia: mitos e realidade. Rev. Gaúcha Enferm., v. 29, n. 2, p. 320- 323, 2008.
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VILLAR Alana Stéphanie Esteves, SILVA Leila Rangel da. História de vidas de mulheres histerectomizadas Cienc Cuid Saúde, v. 9, n. 3, p. 479-486, 2010.