TOXINA BOTULÍNICA NO TRATAMENTO DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8336099


Carla Eduarda Rebouças Silva;
Eduarda Araújo Brandão;
Kailane Barbosa De França.


RESUMO

O AVC juntamente com outras doenças cerebrovasculares, é a terceira principal causa de morte nos países desenvolvidos e a principal causa de inabilidade em adultos. A espasticidade é a complicação motora mais incapacitante que limita as atividades laborais. A toxina botulínica (BT) tem se mostrado uma opção terapêutica vantajosa, eficaz e segura. Os pacientes submetidos à BT devem iniciar a fisioterapia para tratar da função perdida, tornando-os o mais independente possível. O objetivo deste estudo é estudar os efeitos funcionais da aplicação de toxina botulínica tipo A, associada à fisioterapia motora em pacientes com diagnose de AVC com consequente espasticidade. Os resultados sugerem que os objetivos e benefícios do paciente são fatores importantes a serem considerados ao escolher o tratamento. Fisioterapeutas e terapeutas laborais podem desempenhar um papel fundamental na definição desses objetivos. Em geral, são escolhidos tratamentos com menos efeitos colaterais, que superam as expectativas do paciente e do cuidador.

Palavras-chaves: Acidente Vascular Cerebral (AVC). Toxina Botulínica; Toxina Botulínica tipo A; Paralisia facial; Complicação motora.

ABSTRACT

Stroke, along with other cerebrovascular diseases, is the third leading cause of death in developed countries and the leading cause of disability in adults. Spasticity is the most disabling motor complication that limits work activities. Botulinum toxin (BT) has proven to be an advantageous, effective and safe therapeutic option. Patients undergoing BT should start physical therapy to address the lost function, making them as independent as possible. The objective of this study is to study the functional ef fects of the application of botulinum toxin type A, associated with motor physiotherapy in patients with a diagnosis of stroke with consequent spasticity. The results suggest that patient goals and benefits are important factors to consider when choosing treatment. Physical therapists and occupational therapists can play a key role in defining these goals. In general, treatments with fewer side effects, which exceed patient and caregiver expectations, are chosen.

Keywords: Cerebral Vascular Accident (CVA). Botulinum Toxin; Botulinum toxin type A; Facial paralysis; Motor complication.

INTRODUÇÃO

O aumento acentuado da população idosa, com comprometimento cognitivo e da capacidade funcional tornaram-se objeto de grande atenção e preocupação por parte da sociedade, uma vez que o envelhecimento é um dos principais fatores de risco para que se ocorra acidentes vascular cerebral.

As pessoas acometidas apresentam prejuízo no planejamento e execução de tarefas corriqueiras como administrar finanças ou cozinhar. Podem ocorrer como manifestação de doenças primarias do cérebro ou secundaria a outras causas. As apresentações reversíveis que se manifestam com quadro demencial devem sempre ser aventadas.

Discutir sobre o tratamento medicamentoso das alterações neuropsiquiátricas (alteração do humor e da personalidade) após um AVC, justifica-se pelo impacto destes sintomas na qualidade de vida dos pacientes, familiares e cuidadores. A necessidade em reconhecer estes sintomas e a sua gravidade, surge quando cursam com perturbações suficientes capazes de interferir nas relações sociais, na dinâmica e ordem das famílias. Podem impactar nos prejuízos cognitivos e no aumento da morbimortalidade destes pacientes. Além disso, é importante atentar para o consequente estresse físico e mental nos cuidadores e suas implicações. Neste ponto, se mostra relevante a priorização de uma conduta terapêutica uniformizada, baseada no uso racional de fármacos, e que deve respeitar a individualidade do doente como suas comorbidades, interações medicamentosas e efeitos adversos.

Tendo em vista este cenário, o presente estudo tem o objetivo geral de avaliar as evidencias na literatura sobre a utilização de toxina botulínica no tratamento de acidente vascular cerebral para controle das alterações neuropsiquiátricas em idosos com acometidos. Os objetivos específicos são apresentar os critérios diagnósticos revisados do AVC, assim como apresentar os sintomas neurocomportamentais mais frequentes no AVC.

Discutir sobre a toxina botulínica no tratamento das alterações neuropsiquiátricas (humor e personalidade) devido ao AVC justifica-se pelo impacto destes sintomas na qualidade de vida dos pacientes, familiares e em todos envolvidos nos cuidados diretos. O emprego da toxina botulínica deve ter como alvo o controle de sintomas graves, redução na hospitalização, redução de custos e redução do impacto na saúde dos cuidadores.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

O acidente vascular encefálico (AVC) é definido como um déficit neurológico focal decorrente de dano cerebral de origem vascular.1

Alguns dos tipos de acidente vascular cerebral são anóxico-isquêmico (resultando na falta de oxigénio adequado e suprimento de matriz para o tecido cerebral) e hemorrágico (resultando em vazamento de sangue para dentro ou ao redor das estruturas do sistema nervoso central)1

Os subtipos isquêmicos incluem lacunar (25 % devido a AVC perfurado), aterosclerótico (responsável por 50 % dos AVCs na população caucasóide) e embólico (20 % devido a embolia cardíaca). Por outro lado, o avc hemorrágico é um tipo de intraparenquimatosas e subaracnóideas.1

O acidente vascular cerebral é um importante problema de saúde pública e atualmente é a terceira causa de morte em muitos países, sendo responsável por grande parte da carga de doenças neurológicas.

Entre os fatores imutáveis, a idade é para nós o fator mais importante para a doença. Sabe-se que a incidência dessa doença aumenta com a idade principalmente após os 65 anos. As taxas de AVC também são maiores em homens e afro- americanos.2

Os acidentes vasculares cerebrais são a principal causa de incapacidade a longo prazo, com sequelas funcionais permanentes presentes em 15 a 30 % dos casos.2

Quando a toxina botulínica é aplicada sobre o tecido muscular, o primeiro efeito gerado sobre a musculatura ocorre na função do neurônio motor alfa, que faz com que as fibras presentes nos músculos sejam estimuladas.3 Entretanto, pode agir também sobre os neurônios motores do tipo gama, que são responsáveis pela inervação do fuso da musculatura, e sua inibição provoca a diminuição do tônus muscular por causa da redução à reação sobre o neurônio motor alfa, gerado pelo fuso muscular.3

Com a aplicação da TB o efeito clínico mais observado é fraqueza e paralisia muscular dependendo da dose administrada na musculatura, o que ocorrerá através da ação nos neurônios motores.3

O sétimo nervo craniano faz o controle de 17 músculos, que são responsáveis pela movimentação facial e por expressar as emoções através da face.4 Esse nervo promove a inervação dos músculos envolvidos na mímica facial, pelas contrações que ocorrem de forma voluntária e involuntária das hemifaces e pelo tônus quando em repouso.4

A toxina botulínica (BT) é um potente bloqueador neuromuscular utilizado com eficácia no tratamento de espasmos, espasticidade e distonia. Originalmente, TBA foi usado para tratar o estrabismo. Posteriormente, foi aplicado a outras doenças, como distonia (distonia cervical idiossincrática, espasmos oculares, estrabismo, espasmos laríngeos, distonia etc.), espasticidade (de qualquer causa), tremores, tiques, hiperidrose, acácia, fissura anal, vaginite e outros.4

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão bibliográfica onde foram utilizados dados obtidos a partir da literatura disponível.

Para a coleta de dados foram utilizados livros que tratam sobre o assunto, artigos e dissertações que trazem o tema Toxina Botulínica no Tratamento de acidente Vascular Cerebral com foco na paralisação facial. Os artigos foram pesquisados nos bancos de dados do Google acadêmico, SciELO, compreendidos no período de 2000 até 2021

Palavras de busca: Acidente Vascular Cerebral (AVC). Toxina Botulínica; Paralisia facial; Doenças cerebrovasculares; Fisioterapia motora. O material científico foi lido e seus dados analisados e discutidos.

3. RESULTADOS

Vários estudos indicam melhorias em membros espásticos em termos de higiene das mãos e função dos membros.5 Em um estudo multicêntrico de 1993 avaliando a segurança e eficácia da TBA no tratamento da espasticidade do membro superior após acidente vascular cerebral, foi observada diminuição do tônus muscular flexor do cotovelo em 2, 4 e 6 semanas, bem como uma melhora nas escalas de classificação global.5

4. DISCUSSÃO

O objetivo dos programas de reabilitação é devolver a esses pacientes um estilo de vida o mais normal possível ou, alternativamente, manter ou maximizar a função remanescente.3 A toxina botulínica tipo A há muito é utilizada como estratégia terapêutica para a espasticidade pós-AVC com o objetivo de melhorar a capacitância funcional desse grupo de pacientes.3

Nos estudos realizados sobre a aplicação da toxina botulínica em pacientes com paralisia facial fica claro que ela possui um índice alto de sucesso para promover o alívio dos sintomas de forma temporária, independente da causa da paralisia (Neuenschwander, Pribitkin, & Sataloff, 2000). O grande debate sobre esse assunto é que alguns autores preferem os métodos mais invasivos uma vez que os resultados obtidos com as técnicas cirúrgicas são definitivos, e a reabilitação com a Tchã nesses pacientes possuem apenas resultados temporários.6 Isso faz com que tenha a necessidade de várias aplicações da droga com o passar do tempo, visto que ela possui um tempo de duração dos seus efeitos.4 Entretanto, consideramos que nenhuma forma de terapia pode ser excluída, podendo também ser utilizada em associação com outros procedimentos, podendo assim funcionar como uma terapia complementar para esses pacientes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo demonstrou que os benefícios e objetivos do paciente devem ser levados em consideração na escolha do tratamento. As metas estabelecidas devem ser realisticamente possíveis. Em muitos casos não será possível restaurar a funcionalidade, mas cabe aos especialistas da equipe interdisciplinar elucidar os objetivos do tratamento.

A redução da dor e o melhor manejo do paciente pelos cuidadores podem ser os objetivos a serem alcançados nessa situação. A toxina Botulínica pode ser considerada como uma tentativa terapêutica e só deve ser repetida se comprovada melhora funcional evidente. O tratamento da espasticidade deve ser conduzido por profissionais de reabilitação e encarado como um objetivo holístico e adaptado a cada paciente.

A escolha do tratamento deve ser baseada nos objetivos do tratamento. Fisioterapeutas e terapeutas trabalhistas desempenham um papel fundamental na definição desses objetivos. É fundamental que esses profissionais integrar a equipe multidisciplinar e que possam contribuir para uma melhor escolha do tratamento. Existem algumas limitações para o estudo.

Devido aos benefícios da toxina botulínica na reabilitação de pacientes com paralisia facial, ela vem sendo muito utilizada e os estudos a respeito do produto estão aumentando cada vez mais. Portanto, pode-se concluir que a TB é uma das opções terapêuticas para melhorar a assimetria facial nesses pacientes, mesmo que ainda não exista um protocolo único de utilização, o que mostra a necessidade de pesquisas voltadas para essa área. Entretanto, a realização de novas pesquisas sobre o assunto é de grande importância e fundamental para que se estabeleça um protocolo que poderá ser seguido pelos profissionais da área para reabilitar os pacientes com paralisia facial através da utilização da toxina botulínica. Através desses trabalhos poderá ser padronizada a utilização da TB de forma terapêutica, definindo assim as doses, número, local de aplicação e duração dos efeitos do produto.

Em conclusão, estudos futuros podem revelar o uso de medidas de avaliação da espasticidade que auxiliam na identificação de melhora funcional, como a escala de tardei e o uso de técnicos biomecânicas.

BIBLIOGRAFIA

[1] Greenberg DA, Aminoff MS, Simon RP. Neurologia clínica, 2.Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996

[2] Sacco RL, Hauser WA, Mohr JP.Hospitalized stroke in Blacks and Hispanics in Northern Manhattan. Stroke 1991.

[3] Dressler, D., Saberi, F. A., & Barbosa, E. R. Botulinum toxin: mechanisms of action. Arq Neuro psiquiatra. 2005.

[4] Maio, M., & Soares, M. F. D. Toxina Botulínica em Paralisia Facial: um tratamento miminamente invasivo para redução da hipercinesia muscular da região perioral contralateral. Arq Int Otorrinolaringol. 2007.

[5] Bakheit AM, Fedorova NV, Skoromets AA, Timerbaeva SL, Bhakta BB, Coxon L. The beneficial antispasticity effect of botulinum toxin type. A is maintained after repeated treatment cycles. J Neurol Neurosu rg Psychiatry 2004.

[6] Neuenschwander, M. C., Pribitkin, E. A., & Sataloff, R.T. Botulinum toxin in otolaryngology: a review of its actions and opportunities for use. Ear Nose Throat J. 2000.