VÍCIO EM SMARTPHONE E SUA RELAÇÃO COM AS ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICOS EM UNIVERSITÁRIOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8319544


Erick Michell Bezerra Oliveira1
Roberta Taizar Bezerra Silva2
Julianne de Area Leão Pereira da Silva3
Aldileia Lima Costa Miranda4
Glenda Lima Negreiros5
Vanessa Cristina da Silva Oliveira6
João Victor Soares Sousa7
Alan Borba Pereira8
Adriano Correia de Sousa9
Valman Paulino dos Santos10


RESUMO

Introdução: Os smartphones tornou-se uma necessidade para a maioria das pessoas. São mais de 168 milhões de aparelhos em uso em 2016 e a projeção é que, até 2018, o número chegue 236 milhões. No entanto, para utilizar o aparelho é necessário, muitas vezes, olhar para uma tela pequena e realizar vários movimentos constantes e repetidos em uma determinada postura que pode com o passar do tempo ocasionar lesões musculoesqueléticas. Objetivo: Determinar a prevalência de vício em smartphone e relacionar com a presença de distúrbios musculoesqueléticos. Métodos: Estudo de campo, exploratório, descritivo, de coorte com 410 estudantes universitários de Fisioterapia. Sendo utilizado um protocolo estruturado com dados sociodemográficos, estilo de vida, uso do smartphone, e Questionário Nórdico para Sintomas Osteomuscular para determinar a presença de dor musculoesquelética. Na análise univariada foi utilizado à estatística descritiva, na bivariada o teste Qui-quadrado de Pearson e na multivariada a regressão de Poisson com efeito medido pela razão de prevalência (RP). Resultados: 30% dos universitários relataram ter vício em smartphone e a ele esteve relacionado a um aumento da prevalência de dor musculoesquelética na região de pescoço (RP = 1,31 e IC95%: 1,07-1,62), cotovelos (RP = 1,97 e IC95%: 1,01-3,84) e punhos e mãos com (RP = 1,30 e IC95%: 1,03-1,72). Conclusão: É necessária a criação e aplicação de estratégias com intuito de compreender a dimensão dos efeitos e, consequentemente, encontrar meios para prevenir futuras desordens derivado ao uso exacerbado de smartphone na postura incorreta.

Palavras-chaves: Dor Musculoesquelética. Smartphone. Estudantes. Prevalência.

ABSTRACT

Introduction: The smartphone has become a necessity for most people, are more than 168 million sets in use in 2016, and the projection is that, until 2018, the number reaches 236 million. However, to use the appliance it is necessary often, look for a small screen and perform various movements and repeated in a certain posture that can over time lead to musculoskeletal injuries. Objective: to determine the prevalence of addiction in smartphone and relate to the presence of musculoskeletal disorders. Methods: field study, exploratory, descriptive, 410 students with cohort of physiotherapy. Being used a structured Protocol with socio-demographic data, lifestyle, use of the smartphone, and Nordic Questionnaire for Musculoskeletal Symptoms to determine the presence of musculoskeletal pain. In univariate analysis was used the descriptive statistics, in bivariate Chi-square test of Pearson and in multivariate and Poisson regression with effect measured by the ratio of prevalence (RP). Results: 30% of college students reported having smartphone addiction and he was related to an increased prevalence of musculoskeletal pain in the region of neck (RP = 1.31 and 95% CI: 1.07 -1.62), elbows (RP = 1.97 and 95% CI: 1.01 -3.84) and handles and hand with (RP = 1.30 and 95% CI: 1.03 -1.72). Conclusion: there is a need for the creation and application of strategies in order to understand the scale of the effects, and thus find ways to prevent future disorders derived from the use of incorrect posture smartphone exacerbated. 

Keywords: Musculoskeletal Pain. Smartphone. Students. Prevalence.

1 INTRODUÇÃO

Os smartphones tornaram-se uma necessidade para a maioria das pessoas. Os números desses aparelhos no Brasil vêm crescendo de maneira vertiginosa nos últimos anos e foram mais de 168 milhões de aparelhos usados em 2016, e a projeção é que, até 2018, o número chegue a 236 milhões (FGV, 2016). 

A faixa etária dos usuários é variante, sendo eles usados, em sua maioria, para fins de comunicação e entretenimento, como acesso à internet, bate papos, músicas, mídia, fotos, redes sociais, envio de mensagens de texto, escrever documentos, entre outros (PARK et al., 2015).

No entanto, o seu uso constante pode resultar em vício ou dependência que é semelhante a muitos aspectos relacionados ao vício em internet. Porém os vícios de comportamento, como o vício do smartphone, geralmente são difíceis de definir devido ao fato de estarem relacionados tanto aos aspectos físicos como sociais e psicológicos. Não existe um critério de diagnóstico oficial para o vício do smartphone (LEE et al., 2014; KIM et al., 2013).

O vício em smartphone foi definido como o uso excessivo de smartphones na medida em que perturba a vida diária dos usuários. Pesquisas internacionais demonstram uma prevalência de vício em smartphone que podem variar de 8,4% até 39,7% (DEMIRCI; DEMIRCI; AKGONUL, 2016).

Os movimentos repetidos, a postura estática do usuário e as longas horas de exposição e manejo do aparelho, ocasionam uma tensão muscular mínima, que reduz a circulação sanguínea, impedindo que os nutrientes sejam fornecidos aos músculos, levando a quadro de fadigas e dor. Além disso, as posturas adotadas provocam efeitos negativos, tais como a redução da função fisiológica, perturbações do sistema nervoso autônomo, problemas na visão e nos sistemas musculoesqueléticos, levando a dores de cabeça, ansiedade, estresse e dependência do seu uso (DEMIRCI; DEMIRCI; AKGONUL, 2016; DEMIRCI; AKGONUL; AKPINAR, 2015; DEMIRCI et al., 2014).

Alguns pesquisadores têm sugerido que os smartphones frequentemente levam ao uso de uma postura incorreta do pescoço, ocasionando distúrbios nessa região. Além disso, a manutenção de uma postura da cabeça para a frente diminui lordose cervical das vértebras cervicais e inferior e cria uma curva posterior nas vértebras torácica superior para manter o equilíbrio; isso é conhecido como “síndrome textneck” (KIM et al., 2015; KANG et al., 2012).

No Brasil e no mundo, as pesquisas têm sido focadas na relação de distúrbios musculoesqueléticos, cefaleia e ansiedade com o uso excessivo do computador (SAUERESSIG et al., 2015). No Brasil, ainda não se verifica pesquisas que investiguem essa relação com o smartphone.

No entanto, nos dias atuais, os smartphones são usados por períodos mais abrangentes e com maior frequência do que os computadores, porque eles são pequenos, facilmente transportáveis e acessíveis. Apesar disso, tem havido pouca pesquisa sobre a relação entre a sua utilização, dor e postura e seus efeitos sobre a estrutura musculoesquelética de cada região do corpo, assim, justificando esta pesquisa bem como, apresentando o direcionamento no intuito de saber se as alterações ergonômicas associadas ao uso excessivo do smartphone são fatores que predispõe o desenvolvimento de lesões no sistema musculoesquelético.

            Portanto, a presente pesquisa teve como objetivo geral determinar a prevalência de vício em smartphone e relacionar com a presença de distúrbios musculoesqueléticos. Sendo os objetivos específicos: Traçar o perfil dos participantes da pesquisa, determinar a prevalência de vício em smartphone e distúrbio musculoesquelético e verificar os hábitos relativos ao uso do smartphone.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 As alterações osteomuscular

Os problemas decorrentes da postura são preocupações que envolvem a qualidade de vida do indivíduo, podendo assim interferir negativamente na produtividade funcional do mesmo. Existem vários desvios posturais que se desenvolvem com o crescimento e alterações provenientes do próprio desenvolvimento. Cada indivíduo apresenta uma postura unânime, assim não existe um padrão postural, pois a postura de cada um tem características próprias (LIMA, 2013).

Conceitua-se postura como uma posição corporal que o ser humano adota, e quando esta referida postura é influenciada a manter-se em maus hábitos poderá produzir mais tensão sobre as estruturas de suporte. As doenças que contempla o sistema musculoesquelético, especificamente as dores vertebrais, fazem parte de um problema atual deveras drástico em nossa sociedade, fazendo com que equipes multidisciplinares busquem maneiras adequadas para avaliar e tratar a coluna vertebral (JUNIOR et al., 2011).

A postura incorreta pode produzir repercussão negativa sobre o organismo humano, podendo propiciar vários tipos de desvios posturais bem como doenças graves ou crônicas, sendo considerados problemas de saúde pública, por apresentar alta incidência de alterações, tornando-se um fator preocupante, podendo acarretar comprometimentos musculares como o enfraquecimento dos músculos, pouca resistência à fadiga, limitações na ADM ou na flexibilidade muscular, promovendo modificações na estrutura do corpo humano, restringindo na habilidade funcional do indivíduo (XAVIER et al., 2011).

Os indivíduos abordados por estes problemas, podem não ter compreensão de sua postura defeituosa, bem como os problemas de força ou de flexibilidade gerando os desvios posturais que na população acontece em crianças e adolescentes, ou seja, quando o corpo está em desenvolvimento, a postura incorreta pode propiciar vários tipos de desvios posturais e doenças graves ou até crônicas. As alterações anatômicas da coluna vertebral acontecem por uma série de fatores como a idade, tipo de trabalho, sobrepeso, vícios posturais adotados durante as atividades diárias (SILVA, 2015).

Entretanto, os defeitos posturais podem ser congênitos ou adquiridos e consiste em uma anomalia postural. Um exemplo é a escoliose que causa a instabilidade dos corpos vertebrais o que ocasiona uma aplicação inadequada de força de cargas exercidas sobre a coluna, agravando a degeneração discal e a consequente inflamação de partes moles como os ligamentos e músculos (CORRÊIA, 2013).

Algumas alterações na coluna vertebral são provenientes de síndromes dolorosas corporais e apresentam-se como específicas em cada curvatura da coluna, percorrendo das vértebras cervicais a cooxígeas. A postura incorreta por acarretar outras patologias na coluna vertebral como: A lombalgia que está associada a uma disfunção podendo variar de uma dor súbita a dor intensa e prolongada, geralmente de curta ou longa duração. A escoliose é conceituada como desvio lateral do plano frontal do corpo, podendo ser associada ou não à rotação dos corpos vertebrais nos planos axial e sagital com ângulo maior que 10 graus (BARBIERI et al., 2014).

A hipercifose é caracterizada por ser ter uma formação anormal dos corpos vertebrais e defeitos intervertebrais congênitos causados por doenças sistêmicas ou adquiridos, entretanto, ao longo da vida, a hipercifose geralmente tem um aumento significante devido à idade e os idosos são os que mais sofrem com esse desvio postural (SILVA, 2015).

            A postura pode estar relacionada a uma modificação da consciência corporal, a qual proporciona a posição correta do corpo em relação ao meio. Um fator também importante é o formato dos pés, por ter uma profunda ligação com a postura, pois são responsáveis pela estática e dinâmica do corpo, suportam o peso, ajudam na propulsão e amortecimento durante a marcha e a corrida. Quando se encontra alguma deformação nos mesmos, podem-se diagnosticar patologias relacionadas acarretando uma postura incorreta (CORRÊA, 2013).

2.2 A relação entre o smartphone e desordem osteomuscular

O termo smartphone encontra uma definição exata e amplamente aceita entre a comunidade acadêmica, em referência à alta capacidade de processamento destes dispositivos sendo classificado como celular que oferece recursos avançados similares aos de um notebook. O smartphone é um celular com capacidade avançada, composto por um sistema operacional sofisticado, processamento avançado, conexões múltiplas e rápidas com tamanho de tela adequado e limitado (COUTINHO, 2014).

Os vícios de comportamento sobre o uso do smartphone pode causar problemas físicos relacionados com a saúde, tais como visão turva e dor em punhos ou pescoço bem como disfunção musculoesquelética. Este vício é difícil de ser definido por estar relacionado aos aspectos físicos, psicológicos de cada indivíduo e frequência de uso (DEMIRCI; DEMIRCI; AKGONUL, 2016).

As patologias musculoesqueléticas são diversas, mas, na maioria dos indivíduos, há uma dificuldade em se fazer o diagnóstico da razão etiológica. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas patologias têm uma múltipla causalidade, envolvendo fatores físicos, individuais, organizacionais, socioculturais e psicossociais (GRIEP; KISBOA; MAGNAGO et al., 2009).

O transporte de cargas elevadas exigindo contrações isométricas promove sofrimento aos músculos e ajustes posturais, os quais repercutem ou se mantêm no tempo, proporcionando o surgimento de distúrbios circulatórios e químicos dentro dos músculos resultando em contraturas (FONSECA; MOURA; PAIXÃO, 2009, p. 27).

A postura estática de pescoço flexionado, vinculado a movimentos repetitivos de punhos e mãos associado ao uso abusivo do smartphone provocam lesões nessas regiões devido à redução da função fisiológica, perturbações do sistema nervoso autônomo e problemas nos sistemas musculoesqueléticos. Tais sinais definem a síndrome testneck (KIM; KIM, 2015). 

O termo “Pescoço de texto ou textneck ” foi criado pelo Dr. Dean L. Fishman, que é um quiroprático americano. O pescoço de texto do termo é usado para descrever uma lesão por esforço repetitivo ou uma síndrome de uso excessivo, onde uma pessoa tem sua cabeça pendurada ou flexionada em uma posição de frente e está dobrada para baixo olhando para seu celular ou outros dispositivos eletrônicos por períodos prolongados de tempo (NEUPANE; ALI; MATHEW, 2017, v. 3, p. 141).

Para Leep; Barkley; Esfahani (2015), a possibilidade do uso da internet em qualquer hora e lugar tem acarretado o uso descomunal dessa tecnologia, podendo se constituir uma dependência comportamental grave, caracterizada por abstinência, dificuldade de realizar atividades diárias e distúrbios de controle de impulsos. Promovendo desordens na estrutura humana fisiológica. Segundo Kim et al. (2015, p. 15)“o uso contínuo de smartphone provoca a mudança de postura, além de déficits de propriocepção na coluna cervical”.

A carga sobre o pescoço afeta diretamente a coluna vertebral enquanto flexiona a cabeça para frente em vários graus. Quando a cabeça se inclina para a frente a 15 graus, a carga suportada na região cervical é de 12kg, a 30 graus 18kg, a 45 graus 22kg e a 60 graus 27kg (NEUPANE; ALI; MATHEW, 2017).

Figura 1 – Relação entre inclinação do pescoço e peso sobre a coluna cervical.

Fonte: Neupane; Ali; Mathew (2017).

Para Presoto et al. (2012), as desordens osteomusculares apresentam condições inflamatórias ou degenerativas e podem ocorrer de forma isolada ou por um trauma cumulativo, causando dores no pescoço, ombro, braço, punho, mãos, costas, quadris, joelhos, pés e queixas de formigamento, dormência, peso e fadiga precoce, sendo identificadas como problemas no sistema de sustentação humano o que as tornam um problema de saúde pública.

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de pesquisa e População

Tratou-se de uma pesquisa de campo, exploratória, descritiva, de corte transversal, com abordagem quantitativa.

O objetivo primordial da pesquisa descritiva está voltado para a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 2002).

A estrutura de um estudo transversal é semelhante à de um estudo de coorte, no entanto, nos estudos transversais, todas as medições são feitas num único momento, não existindo, portanto, período de seguinte dos indivíduos (GIL, 2002).

O universo do estudo envolveu todos os estudantes de Fisioterapia regularmente matriculados em uma instituição de ensino superior, situado na cidade de Caxias-MA, totalizando uma população de 450 universitários. Após os critérios de exclusão e assinatura do TCLE obteve-se uma amostra final de 410 indivíduos. A coleta de dados ocorreu nos meses de maio a junho de 2017.

3.2 Critérios de inclusão e exclusão

Estavam aptos a participar da pesquisa alunos regularmente matriculados no curso de Fisioterapia de ambos os gêneros, que concordaram em responder o questionário da pesquisa e que assinaram o TCLE. Não foram incluídos participantes gestantes, estudantes com dores ou lesões musculoesqueléticas por doenças infecciosas, onco-hematológicas, genéticas e traumáticas, e que se recusaram a responder o questionário da pesquisa e a assinar o TCLE.

3.3 Procedimentos para a coleta dos dados

O Instrumento para a coleta de dados foi composto por questões fechadas e estruturadas:

Para avaliar o vício em smartphone foi utilizada o auto relato através da pergunta “Você se considerada viciado em smartphone?” com resposta em escala Likert 1 = concordo totalmente, 2 = concordo, 3 = nem concordo nem discordo, 4 = discordo e 5 = discordo totalmente. Para análise dos dados coletados, as respostas foram dicotomizadas e assumiu-se como viciados em smartphone as respostas Concordo e Concordo totalmente, as demais respostas foram consideradas não viciados em smartphone (KWON et al., 2013).

Foram abordados também dados relativos ao uso do smartphone: tipo de aparelho utilizado (modelo e marca), local de utilização, turno que mais utiliza, postura adotada quando utiliza, finalidade de uso, bem como a duração média de tempo de uso em horas e se o usuário se considera depende do aparelho.

Os sintomas musculoesqueléticos foram avaliados pela parte geral do Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO) (KUORINKA, 1987), versão validada e adaptada para língua portuguesa (BARROS; ALEXANDRE, 2003).

Foram investigadas também outras variáveis, nos seguintes blocos de informações:

  1. Sociodemográficas e econômica: sexo, faixa etária, estado civil, raça/cor, religião, renda familiar, classe social (ABEP, 2015), local de moradia, número residentes domicílio, possui filhos, ocupação, escola no ensino médio, curso e período do curso;
  2. Estilo de vida: prática de atividade física, consumo de álcool, uso drogas ilícitas, estado nutricional, membros tabagistas na família.
  3. Aspectos saúde auto referidos: plano médico de saúde, foi ao médico nos últimos 12 meses, morbidades, satisfação com o sono, auto percepção saúde e estresse.
3.5 Projeto piloto

Previamente ao estudo principal, realizou-se um estudo piloto para testar e avaliar a metodologia proposta para realização do estudo. O estudo piloto foi realizado por sorteio aleatório no qual 10 alunos participaram do teste. Foram aplicados os questionários já descritos previamente. Os participantes inseridos no estudo piloto não serão incluídos no estudo principal.

3.6 Análises estatísticas

Os dados foram organizados e tabulados utilizando o Microsoft Excel versão 2010 para Windows e as análises estatísticas foram feitas por meio do SPSS versão 18.0 para Windows (SPSS Inc. Chicago, IL 60606, EUA).

A análise da confiabilidade dos questionários foi realizada por meio do coeficiente alpha de Cronbach. A consistência interna refere-se ao grau de uniformidade e de coerência entre as respostas dos participantes da pesquisa a cada um dos itens que compõem a prova, isto é, avaliam o grau em que a variância geral dos resultados se associa ao somatório da variância item a item. Valores de alpha de Cronbach acima de 0,7 foram considerados satisfatório para o estudo.

Na análise univariada foram aplicados os procedimentos de estatística descritiva. Na análise bivariada para a associação entre as variáveis de interesse foram utilizados o teste Qui-quadrado de Pearson (c²).

Para a construção do modelo final foi realizado uma análise multivariada por meio da regressão de Poisson com variância robusta dos erros-padrão com todas as covariáveis de interesse que apresentaram p<0,20 na análise bivariada. Foram calculadas as razões de prevalência brutas e ajustadas (RP) com seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) e significância obtida pelo teste de Wald. Em todas as análises realizadas foram utilizados um nível de significância de 5%.

3.7 Considerações éticas

O projeto foi autorizado pela instituição de ensino superior e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) Da Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão – FACEMA com CAAE: 91783318.6.0000.8007 e número de parecer: 2.875.668.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O número previsto para a coleta de dados foi de 450 (100%) alunos, porém havendo algumas intercorrências, restando um número absoluto de 410 (92%) participantes.

Tabela 1 – Características socioeconômicas e demográficas dos universitários participantes da pesquisa. Caxias-MA, 2017.

 N%
Sexo  
Masculino11127,1
Feminino29972,9
Faixa etária  
18-20 anos13933,9
  21-24 anos17743,2
25 anos ou +9422,9
Estado civil  
Solteiro(a)/Divorciado(a)33381,2
Casado(a)/União estável7718,8
Raça/Cor  
Branca7618,5
Negra7418,0
Parda26063,4
Renda familiar  
Menor 1 SM4912,0
1-2 SM24359,3
3-5 SM9523,2
Mais 5 SM235,6
Classe social  
C e D17041,5
A e B24058,5
Local de moradia  
Pais ou parentes26865,4
Pensão ou amigos6916,8
Sozinho(a)122,9
Outras6114,19
Possui ocupação  
Não22254,1
Sim18845,9
Ano do curso  
16716,3
26716,3
310024,4
411026,8
56616,1
Total410100,0
SM = Salário Mínimo (R$ 880,00), *Teste qui-quadrado de Pearson; RP: razão de prevalência bruta;
Fonte: Pesquisa direta.

A Tabela 1 revela que do total de 410 participantes, 27,1 % (111) foram do sexo masculino e 72,9% (299) do sexo feminino, a maioria dos constituintes, 43,2% (177), estavam em uma faixa etária entre 21-24 ambos, 81,2% (333) dos respondentes pertenciam ao estado civil solteiro (a) ou divorciado, 63,4% (260) correspondiam à raça parda, 59,3% (243) apresentavam renda familiar de 1 a 2 salários mínimos, 58,5% (240) eram das classes sociais A e B, 65,4% (268) residiam com pais ou parentes, 54,1% (222) relataram não possuir ocupação e estavam no 3° e 4° anodo curso respectivamente 24,2%(100) e 26,8% (110).

Tabela 2 – Características relacionadas ao estilo de vida dos universitários participantes da pesquisa. Caxias-MA, 2017.

Estilo de vidaN%
Nível de atividade física  
Sedentário15638,0
Insuficientemente ativo6415,6
Ativo9924,1
Muito ativo9122,2
Consumo de álcool  
Não20349,5
Sim20750,5
Tabagismo  
Não35787,1
Sim5312,9
Estado nutricional  
Baixo peso5511,0
Eutrófico31963,7
Sobrepeso10621,2
Obesidade214,2
Total410100,0
Fonte: Pesquisa direta.

Em relação ao estilo de vida dos participantes a Tabela 2 revela que 38,0% (156) das pessoas não praticavam nenhum tipo de atividade física, sendo considerados sedentários. 50,5 % (207) realizavam consumo de bebida alcoólica, 87,1% (357) relataram não ser tabagista, ou seja, não fizeram uso de cigarro e 63,7% (319) apresentaram estado nutricional eutrófico sendo considerado padrão nutricional normal ou ideal.  

O sedentarismo ganha espaço na vida dos indivíduos, conforme o aumento das atividades de vida diária que compõe a rotina dos estudantes universitários o que justifica o alto índice de sedentários nesta pesquisa. Sobre o consumo de álcool na tabela verifica-se que a amostra obteve diferença de 1% entre o grupo etilista e não etilista e sobre o uso de tabaco observa-se uma diferença significativa de 74,2%. Verificamos que os participantes estão atentos aos malefícios do tabaco, ocorrendo uma discrepância quando se compara a diferença do grupo etilista. O estado nutricional eutrófico é caracterizado pelo balanço entre a necessidade e a oferta de nutrientes e está intimamente ligado à saúde (BERTIN et al., 2010).

Tabela 3 – Características relacionadas ao uso do smartphone dos universitários participantes da pesquisa. Caxias-MA, 2017.

Uso do smartphoneN%
Turno que mais utiliza  
Manhã11327,6
Tarde7317,8
Noite14735,9
Madrugada379,0
Outros409,8
Você utiliza assim que acorda  
Sim32378,8
Não8721,2
Tempo que gasta utilizando  
Menos 1h4210,2
1-2h5312,9
2-3h6816,6
3-4h5413,2
4-5h5914,4
Mais 5h13432,7
Postura que adota quando utiliza  
Sentado19146,6
Deitado(a) de frente13633,2
Deitado(a) no rosto5513,4
Em pé092,2
Em pé caminhando041,0
Outros153,7
Local que você utiliza  
Casa39696,6
Biblioteca143,4
Sala de aula194,6
Lanchonete194,6
Reunião com amigos (os)266,3
Outros215,1
Qual a finalidade de uso  
Pesquisas11327,6
Leitura338,0
Jogos256,1
Músicas4711,5
Mensagens19748,0
Redes sociais18344,6
Outras finalidades235,6
Total410100,0
Fonte: Pesquisa direta.

Sobre o uso do smartphone, a Tabela 3 demonstra que o turno no qual os participantes mais utilizaram o celular foi o período da noite com um percentual de 35,9% (147), 78,8% (323) relataram usar o aparelho móvel logo ao acordar, 32,7% (134) usaram o aparelho por mais de 5 (cinco) horas, 46,6% (191) informaram que utiliza a postura mais adotada ao usar o celular é sentado, 96,6% (396) utilizaram o smartphone em casa, 48,0% (197) com a finalidade de uso para mensagens e 44,6% (183) com redes sociais.

Além disso, apresenta alto índice sobre o uso do smartphone logo ao acordar, possibilitando uma dependência no uso do aparelho, inserindo-o como um hábito no cotidiano dos participantes. Havendo uma associação entre alto índice de tempo utilizando smartphone no período da manhã e na posição sentada, supondo que há uso do aparelho durante a primeira refeição do dia com objetivo de se manter informado sobre as notícias através de aplicativos de mensagens e redes sociais, pois se sabe que o aumento dos usuários de smartphone e rede móvel viabiliza maior propagação de informações.

No estudo de Basu et al. (2018), realizado com estudantes do curso de medicina sobre o comportamento de dependência associado com o uso do telefone móvel entre estudantes de medicina em Nova Deli revelou que a maioria dos estudantes 87,1% relataram que usam regularmente a facilidade de Internet móvel. E 74% com objetivo de navegar na Internet, 66,1% grupo de mensagens, 64,8% navegação em redes sociais e uma quantidade da amostra 46,6% relataram uso do smartphone para fins acadêmicos, observando uma associação com esta pesquisa.

O estudo de Lepp et al. (2015) corrobora com esta pesquisa pois afirma que os telefones celulares são importantes para a vida dos estudantes universitários e sugere que o estudante universitário, em média, gasta quase 5h por dia usando o telefone celular porque estes fornecem quase os mesmos serviços que um computador conectado à internet e estão presentes em quase todos os aspectos da vida dos estudantes universitários.

No estudo de Prasad et al. (2018), realizado pelo departamento de Psiquiatria de um hospital de ensino de cuidados terciários no oeste da Índia sobre a magnitude e psicológico, correlaciona-se uso do Smartphone em estudantes de medicina, com abordagem telemétrica que serve para medir objetivamente a práticas de uso do smartphone para fins de investigação.

Esse estudo revelou que cerca de 36% dos participantes preenchiam critérios de dependência de smartphone sendo as mulheres com tempo gasto em aplicativo de câmera e galeria de foto, enquanto os homens usavam smartphone para ver vídeos em sites de redes sociais, jogos. A prevalência de dependência de smartphone não diferiu entre os sexos e concluiu-se que fatores psicológicos como traços de personalidade, materialismo e resiliência de ego podem ser vinculados ao maior uso de aplicativos de redes sociais, aplicativos de jogos e aplicativos de compras on-line. Segundo Deursen et al. (2015), apontam em seu estudo que as mulheres são mais propensas a desenvolver comportamentos habituais e viciantes de uso de smartphone do que os homens.  

Alguns estudos relatam que a postura estática com o pescoço flexionado sob o uso excessivo do smartphone pode desenvolver dor de garganta, como no estudo de Lee e Song (2014) sobre a análise de correlação entre horas de uso do smartphone e dor de garganta realizado no departamento de acupuntura de medicina, Faculdade de Medicina Oriental, na Universidade de Gachon com estudantes, concluiu-se que do total da amostra 66,97% dos participantes responderam que usam seu telefone inteligente diariamente mais de 2 horas e 48,18% responderam que usam seu smartphone entre 10 a 30 minutos, 41,3% da amostra apresentou correlação com a dor de garganta e ainda conclui que existe uma predominância de uso de smartphone no sexo feminino, corroborando com esta pesquisa.

Outros estudos também correlacionam o tempo de uso do smartphone a dor de cabeça, como no estudo de Demirci; Demirci; Akgonul (2016). Essa pesquisa revela a relação entre a severidade de uso do smartphone e dor de cabeça em estudantes universitários. A severidade de uso do smartphone foi positivamente correlacionada com a duração de ataque de dor de cabeça (r = 0,549, p < 0,001) e frequência de ataque de dor de cabeça (r = 0.523, p < 0,001). Verificou-se também que a frequência de dor de cabeça foi maior no sexo feminino (p = 0,03), e que entre os usuários de smartphone com dor de cabeça 37,8% usavam o smartphone para acessar internet.

No estudo de Samani et al. (2018), descreve a postura usada ao utilizar o smartphone, sendo esta: pescoço flexionado e ombros anteriorizado, movimento do polegar, e postura mantida por longo tempo, promovendo desequilíbrio das estruturas corporais utilizadas e causando constante contração da musculatura para compensar dando origem à síndrome de pescoço texto, acarretando os sintomas: dor no pescoço, nos ombros, dor nas costas, e espasmo muscular.

Ocorrendo assim, uma relação positiva entre uso de telefone móvel e problemas musculoesqueléticos quando telefones são usados constantemente sem nenhum descanso nesta postura por um longo período de tempo. Além disso, revelou que 42% da sua amostra utiliza seus celulares entre 2 à 4 horas ao dia e cerca de 27% da população, usa seu telefone entre 4 a 6 horas por dia, corroborando assim com esta pesquisa, pois confirmam altos índices de horas ao utilizar o aparelho móvel.

Figura 2 – Autorrelato relacionado ao vício em smartphone dos universitários participantes da pesquisa. Caxias-MA, 2017.

Fonte: Pesquisa direta.

No estudo da Figura 3 revela que 41% dos universitários participantes da pesquisa relataram não concordar e nem discordar em ter vicio de smartphone, sendo este a maior porcentagem, 21% dos participantes concordaram parcialmente e 9% concordaram totalmente, ou seja, 30% dos participantes da pesquisa relataram ter vicio de smartphone.

O estudo Carbonell et al. (2018), revelou em seu estudo uma auto avaliação dos participantes que se considerarem dependentes da Internet, onde 375 estudantes 47,4% concordaram parcialmente ou concordaram fortemente com esta afirmação. Ainda mostra que as pessoas que “concordou fortemente” com a afirmação “Eu sou viciado na internet” obteve significativamente maior resultado do que o resto dos participantes. As correlações com as experiências relacionadas com a internet e experiências relacionadas ao uso do aparelho móvel foram 0,38 (p <0,001) e 0,34 (p <0,001), respectivamente. O grau de concordância com a declaração “Sou viciado na Internet” pode ser usado como uma questão de triagem para o uso problemático. Corroborando com esta pesquisa que também apresentou elevados níveis de viciados autorrelatados.

Tabela 4 – Distribuição dos universitários segundo características relacionadas ao vicio com smartphone. Caxias-MA, 2017.

ItensDTDPNCNDCPCT
%%%%%
Já faltei a aula/trabalho devido ao uso do celular (smartphone)95,62,21,50,7
Tenho dificuldade em se concentrar em sala de aula, ao fazer tarefas ou ao trabalhar devido ao uso do celular (smartphone)70,215,17,36,11,2
Tenho a sensação de dor nos pulsos ou na parte de trás do pescoço ao usa o celular (smartphone)44,113,48,022,911,5
Não sou capaz de ficar sem o celular (smartphone)46,814,611,012,714,9
Sinto-me impaciente e irritado quando não estou segurando o celular (smartphone)68,812,98,86,33,2
Tenho o celular (smartphone) constantemente na minha mente, mesmo quando não estou com ele71,011,27,65,64,6
Eu nunca vou desistir de usar o meu celular (smartphone), mesmo quando a minha vida diária já é muito afetada por ele67,314,48,57,10,2
Eu constantemente fico verificando meu celular (smartphone) para não perder conversas entre outras pessoas no Twitter ou no Facebook ou instagram42,216,69,819,312,2
Eu utilizo o meu celular (smartphone) mais tempo do que pretendia34,914,411,218,321,1
As pessoas ao meu redor me dizem que eu uso muito o celular (smartphone)53,912,410,012,910,7
DT: Discordo totalmente, D: Discordo, NDNC: Não concordo nem discordo, C: Concordo e CT: Concordo totalmente.
Fonte: Pesquisa direta.

Sobre as características relacionadas ao vício de smartphone, no item “Já faltei à aula/trabalho devido ao uso do celular (smartphone)” 95,6% dos participantes da pesquisa discordaram totalmente e 0,7% concordaram parcialmente. No item “tenho dificuldade em se concentrar em sala de aula, ao fazer tarefas ou ao trabalhar devido ao uso do celular (smartphone)” 70,2% dos participantes discordaram totalmente e 1,2% concordaram totalmente.

No item “tenho a sensação de dor nos pulsos ou na parte de trás do pescoço ao usar o celular (smartphone)”, 44,1% dos participantes discordaram totalmente e 8,0% nem concordaram nem discordaram. No item “não sou capaz de ficar sem o celular (smartphone)” 46,8% dos participantes discordaram parcialmente e 11,0% nem concordaram e nem discordaram.

No item “sinto-me impaciente e irritado quando não estou segurando o celular (smartphone)”, 68,8% dos participantes discordaram totalmente e 3,2% concordaram totalmente. No item “tenho o celular (smartphone) constantemente na minha mente, mesmo quando não estou com ele”, 71,9% dos participantes discordaram totalmente e 4,6 % concordaram totalmente.

No item “eu nunca vou desistir de usar o meu celular (smartphone), mesmo quando a minha vida diária já é muito afetada por ele”, 67,3% dos participantes discordaram totalmente e 0,2% concordaram totalmente. No item “eu constantemente fico verificando meu celular (smartphone) para não perder conversas entre outras pessoas no Twitter ou no Facebook ou Instagram”, 42,2% dos participantes discordaram parcialmente e 9,7% não concordaram e nem discordaram.

No item “eu utilizo o meu celular (smartphone) mais tempo do que pretendia”, 34,9% dos participantes discordaram totalmente e 21,1% concordaram totalmente. No último item “as pessoas ao meu redor me dizem que eu uso muito o celular (smartphone)”, 53,9% dos participantes discordaram totalmente e 10,0% não discordaram e nem concordaram.

No estudo de Sales; Silva; Lima (2018), realizado com uma parte da população de Teresina-PI e Picos-PI sobre adaptação da escala de uso compulsivo de Internet para avaliar dependência de smartphone onde foi aplicada uma versão preliminar da Escala de Dependência de Smartphone, está classificada como escala de Likert composta de 14 itens que avaliam os comportamentos de dependência relacionados à internet, concluiu que esta apresenta boas qualidades psicométricas tanto para fins de pesquisa quanto para o diagnóstico do problema.

No estudo Mescollotto et al., (2018), sobre a utilização e adaptação da escala de Likert para a “escala de Dependência do Smartphone” onde foi traduzida e adaptada para a cultura brasileira e aplicada em um estudo com os alunos da Universidade em Piracicaba, São Paulo, Brasil, utilizou-se  as variáveis sobre uso do smartphone abordando os critérios uso durante o dia, tempo no trabalho, tempo de lazer com o smartphone, sendo avaliadas 10 perguntas dentre esses critérios e concluiu que esta escala é uma ferramenta confiável e que 33,1% da amostra apresentou dependência de smartphone.

Contudo o estudo de Mescollotto et al. (2018) tem abordagem similar a esta pesquisa, e em ambos os estudos é possível altos índices de prevalência de dor musculoesquelética sobre o uso do smartphone.

Figura 3 – Prevalência de dor musculoesquelética nos últimos 12 meses relatado pelos universitários no segmento superior. Caxias-MA, 2017.

Fonte: Pesquisa direta.

A Figura 4 revela que 56,3% das dores musculoesqueléticas estão localizadas na região de coluna lombar 52,9%, região de coluna torácica 47,3% em região de coluna cervical 35,1% e punho e mão 38,0%.

Os altos índices de dor musculoesquelética na região da coluna lombar, torácica e cervical, são causados pela postura mais adotada pelos participantes, as quais foram: sentado e consequentemente com cabeça flexionada para frente. Sabe-se que o manuseio prolongado do smartphone com os punhos e mãos provoca micro lesões nesta região ocasionando dor local.

No estudo de Mescollotto et al. (2018), revelou 31,4% de sua amostra relevou dor em pulsos e mãos. Ainda apresentou uma prevalência de 21,0% de jovens estudantes utilizando o smartphone por mais de 5 horas ao dia, corroborando significativamente para esta pesquisa.

Tabela 5 – Relação em autorrelato de vicio em smartphone e dor musculoesquelética nos membros superiores dos universitários participantes da pesquisa. Caxias-MA, 2017.

Dor musculoesqueléticaAutorrelato vicio em smartphoneP
SimNão
N%N%
Pescoço7359,812142,00,001
Ombros5141,89332,30,065
Cotovelos1512,3206,90,076
Punhos/mãos5044,311235,40,121
Costas superior7359,814450,00,068
Costas inferior7259,015955,20,477
Teste qui-quadrado de Pearson, dados em negritos associação estatisticamente significativa.
Fonte: Pesquisa direta.

Na Tabela 5 observamos a relação do vício em smartphone e a dor musculoesquelética, onde a dor na região do pescoço foi sinalizada por quase 60% da amostra pesquisada, apresentando significância estatística com o p no valor de 0,001. Para as outras estruturas, não se teve significância estatística, mas podemos destacar a região superior e inferior das costas, que apresentaram dor em aproximadamente 59% dos pesquisados.

   No estudo de Madadizadeh et al. (2017), sobre fatores de risco associados com distúrbios musculoesqueléticos do pescoço e ombro, e relevou que a ergonomia incorreta ao manuseio de aparelhos eletrônico e computadores é um dos fatores que ocasiona o desenvolvimento de desordens. O estudo mostrou alta prevalência desses distúrbios, sendo que 41,48% de sua amostra relataram ter algum tipo de desordens, especificamente no pescoço, corroborando com esta pesquisa.

            Para Knoll; Corso; Júnior (2016) os smartphones ganharam um lugar importante na vida de seus consumidores, fazendo parte de suas rotinas diárias e são sem dúvida, um grande avanço das telecomunicações. O que facilita nossas atividades diárias e que tem evoluído, com seus aplicativos, para facilitar ainda muitos outros aspectos de nossa vida pós-moderna. Contudo, há predisposição para desenvolverem uma dependência comportamental devido ao seu uso excessivo.

            A dependência de smartphone promove uso excessivo do aparelho e da estrutura do corpo que a manuseia como os punhos e mãos. Sabe-se que o esforço repetitivo de uma estrutura orgânica causa lesões nesta região, o que implica na saúde, promovendo sérias complicações. Portanto, o vício em smartphone requer atenção não somente a distúrbios psicológicos, mas também a distúrbios osteomuscular.

Tabela 6 – Modelo final da regressão do Poisson para relação entre vicio em smartphone e dor musculoesquelética nos membros superiores. Caxias-MA, 2017.

 RPbrutaIC95%P*RPajustadaIC95%P*
Pescoço1,421,06-1,900,0011,311,07-1,620,011
Ombros1,290,92-1,820,0591,260,96-1,670,100
Cotovelos1,770,91-3,460,0781,971,01-3,840,049
Punhos/mãos1,250,90-1,740,0841,301,03-1,720,030
Costas superior1,200,90-1,590,0581,160,96-1,400,131
Costas inferior1,070,81-1,410,4701,030,86-1,240,759
Dados ajustados para sexo, idade (anos), estado civil, classe social, índice de massa corporal, nível de atividade física, tempo de utilização do smartphone e postura adotada quando utiliza.
RP: Razão de prevalência, IC95%: Intervalo de confiança de 95%. *Teste de Wald,
Obs.: dados em negritos associação estatisticamente significativa.
Fonte: Pesquisa direta

            Esta pesquisa revelou que 30% dos universitários relataram ter vício em smartphone, e na análise multivariada através da regressão de Poisson na Tabela 6 observam-se as variáveis associadas a dor musculoesquelética sobre o vício em smartphone, onde correlaciona com o aumento da prevalência de dor musculoesquelética na região de pescoço (RP = 1,31 e IC95%: 1,07-1,62), cotovelos (RP = 1,97 e IC95%: 1,01-3,84) e punhos e mãos com (RP = 1,30 e IC95%:1,03-1,72). Corroborando com os sintomas apresentados na síndrome de text neck.

O estudo Neupane; Ali; Mathew (2017), descrevem o mecanismo da lesão na síndrome text neck por uso excessivo de smartphone, cuja a posição outro é cabeça flexionada com anteriorização de ombros, ocorrendo cisalhamento das vértebras promovendo estresse precisamente em região de c5 e c6 do pescoço. Da mesma forma, esta postura faz com que os músculos da parte superior das costas sofram sobrecargas continuamente para contrabalançar a força da gravidade na cabeça para frente. Esta postura eventualmente irrita as pequenas articulações no pescoço, bem como os ligamentos e tecidos moles, ocasionando dor no pescoço bem como pontos gatilhos que são dolorosos ao toque, acarretando amplitude limitada de movimento, e potencializa o surgimento da degeneração do disco, desencadeando uma hérnia de disco cervical.

Conforme Kwon et al. (2013), a mobilidade garantida pelo aparelho na sociedade moderna permite compartilhar diversas informações na internet e a dependência de smartphones é altamente susceptível de causar problemas físicos e psicossociais, bem como o vício em Internet. Resultados adversos causados pelo uso excessivo de smartphones podem ser facilmente vistos na sociedade de hoje, exemplo é a falta de atenção no ambiente externo ao smartphone que pode provocar acidentes diversos e acarretando alterações e dores musculoesquelética.

De acordo com Sánchez (2012), o sucesso dessa combinação entre mobilidade e internet gerou um novo contexto comunicativo, que pode ser batizado como a era dos smartphones. No Brasil, por exemplo, o comércio de smartphones vem crescendo de forma surpreendente nos últimos anos. Porém, o uso abusivo de smartphone se transforma em vicio e é caracteriza por comportamentos ou pensamentos repetitivos que forçam respostas a uma obsessão que após o ato compulsivo promove um estado de alívio temporário da ansiedade, pois, entende-se que compulsividade seria uma das principais características do problema.

Na presente pesquisa obteve relação direta com o vício em smartphone e alterações musculoesqueléticas. Por se tratar de uma pesquisa realizada com estudantes universitários da área da saúde, onde os altos índices de prevalência demostrado neste estudo é resultado da postura incorreta adotada ao uso excessivo de smartphone. A síndrome do uso abusivo de aparelho móvel, afeta a vida de milhares de indivíduos, conforme a propagação de informações e facilidade de comunicação, o que promove inconsequentemente problemas de saúde.

Contudo, com base nos considerados fatores de risco para esta população apontam a necessidade da implementação de promoção à saúde, visando medidas de sensibilização que informe a população os fatores de risco bem como minimizando os índices de prevalência de dores musculoesquelética derivado ao uso exacerbado do aparelho móvel ou smartphone. No entanto, embora o presente estudo tenha sido realizado somente com acadêmicos universitários, porém o mesmo apresentou efeito de casualidade.

5 CONCLUSÃO

            Conclui-se que o uso do smartphone por tempo prolongado provocando micro lesões no organismo sendo assim, um fator que predispõe distúrbios musculoesqueléticos. Esta causa impacta negativamente em milhares de jovens, pois a dor provoca um incômodo que gera impossibilidades nos indivíduos de realizar suas atividades de vida diária.     

Este trabalho apresenta uma alta prevalência de dor musculoesquelético pelo uso exacerbado do smartphone entre os universitários pesquisados, apresentando assim associação significativa em dor na coluna lombar, torácica e cervical, e região e punho e mãos. Portanto, existe a necessidade de mais informações sobre o vício do smartphone e disfunção osteomuscular com o intuito de compreender a dimensão que esta lesão provoca no organismo e consequentemente, de encontrar meio de intervenções para prevenir o desenvolvimento destes distúrbios.

Com esta pesquisa foi possível observar a carência de estudos sobre o uso excessivo do smartphone e distúrbios musculoesquelético no Brasil, onde se estima que com o tempo a população global acentuará o índice de viciados a ergonomia incorreta sob o uso do aparelho móvel, sendo assim indispensável a campanhas educativas afim de sensibilizar os indivíduos usuários de todas as idades, mas, principalmente os jovens para aumentar a percepção sobre o uso adequado dessas tecnologias.

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Mestre em Fisioterapia – UFPB1
Pós-Graduada em Fisioterapia em Pediatria Neonatologia – Inpirar2
Mestranda em Saúde do Idoso – UFMA3
Mestre em Biodiversidade e Conservação – UFMA4
Graduando em Enfermagem – UniFacema5
Graduando em Odontologia – Unifacema6,7,10
Bacharel em Odontologia – Unifacema8
Pós-Graduado em Fisioterapia Intensiva – Unifacema9