O USO DE CIGARROS ELETRÔNICOS E ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO NO ÂMBITO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8313154


Patrycia Sarah Martins Arruda1; Marcelle Aparecida de Barros Junqueira2;
Lucas Pereira Silva3; Maria Cristina de Moura-Ferreira4;
Letícia Rodrigues da Silva5; Luana Pacheco Silva6;
 Renata Martins Barbosa7


RESUMO

O consumo de cigarros eletrônicos vem aumentando significativamente nos últimos anos e apesar do aerossol destes dispositivos conter menos concentração de ingredientes em comparação aos cigarros tradicionais, isso não implica que sejam inofensivos. O presente trabalho apresenta uma revisão bibiliográfica do tipo narrativa a respeito do uso de cigarro eletrônico e as estratégias de prevenção ao consumo focadas na Atenção Primária à Saúde (APS). Embora tratado como hábito tradicional de tabagismo e com ações combativas focadas nas principais políticas públicas de controle do desse uso convencional, o consumo de cigarro eletrônico apresenta características de consumo exclusivas, como o modismo, a influência das redes sociais e a falsa percepção de não acarretar prejuízos à saúde. Considerando o protagonismo da Atenção Primária à saúde dentro das Redes de Atenção à Saúde, executar ações preventivas e de promoção focadas no controlo do tabagismo convencional e de cigarros eletronicos são primordiais. Apesar da escassez de estudos direcionados a esta temática, enfatiza-se as estratégias intersetoriais e com finalidade coletiva de conscientização em todas as faixas etárias, tendo foco na adolescência devido ser uma fase de iniciação ao consumo de substâncias, além da capacitação dos profissonais de saúde.

  Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Sistemas eletrônicos de liberação de nicotina. 

ABSTRACT

The consumption of electronic cigarettes has increased significantly in recent years and although the aerosol of these devices contain less concentration of ingredients compared to traditional cigarettes, this does not imply that they are harmless. This paper presents a literature review of the narrative type regarding the use of electronic cigarettes and consumption prevention strategies focused on Primary Health Care (PHC). Although treated as a traditional habit of smoking and with combative actions focused on the main public policies to control this conventional use, the consumption of electronic cigarettes presents exclusive characteristics of consumption, such as the fad, the influence of social networks and the false perception of not entailing health damage. Considering the role of Primary Health Care within Health Care Networks, carrying out preventive and promotional actions focused on controlling conventional smoking and electronic cigarettes are paramount. Despite the scarcity of studies directed to this theme, emphasis is placed on intersectoral strategies with a collective purpose of raising awareness in all age groups, focusing on adolescence, as it is a phase of initiation into substance use, in addition to training health professionals

Keywords:        Primary       Health       Care;       Eletronic       Ncotine      Delivery       Systems.

INTRODUÇÃO

Os cigarros eletrônicos são dispositivos portáteis que operam aquecendo uma solução ou e-líquido para produzir um vapor, que pode conter nicotina, aromatizantes e demais componentes quimicos. Foram inicialmente desenvolvidos na China, em 2003, como uma alternativa do fumo em locais onde o consumo de cigarros convencionais era proibido (INCA, 2016).

Embora o aerossol dos cigarros eletrônicos contenha significativamente menos concentração de ingredientes em comparação aos cigarros tradicionais, isso não implica que sejam inofensivos. A nicotina, por sua vez, trata-se de substância altamente viciante com base neural de dependência semelhante às outras drogas de abuso e é apontada como a grande responsável pela dependência do cigarro (PLANETA; CRUZ, 2005). 

Os estudos cientificos têm se dedicado em ampliar os conhecimentos sobre  os aerossóis dos cigarros eletrônicos para compreender melhor a possibilidade de toxicidades. No entanto, ainda existem lacunas importantes nos conhecimentos dos mecanismos danosos associados a esses dispositivos (FARSALINOS; STIMSON, 2014).

Há evidências consideráveis de que substâncias cancerígenas e compostos que causam danos ao DNA e mutagênese foram detectados nos aerossóis dos cigarros eletrônicos. Contudo, até o momento, não há evidências disponíveis que associam o uso desses dispositivos ao desenvolvimento de câncer, anomalias fetais ou defeitos imunológicos que levem ao aumento do risco de infecções respiratórias (KRISHNASAMY et al., 2020).

O uso de cigarros eletrônicos entre adolescentes e jovens adultos é motivo de grande preocupação para a saúde pública em todo o mundo, pois pode servir como uma porta de entrada para o tabagismo convencional ou mesmo levar à progressão para esse hábito (BERRY et al., 2019). Além disso, a literatura científica ainda carece de informações atualizadas sobre os riscos em longo prazo relacionados ao uso desses dispositivos (THIRIÓN et al., 2019).

Ao longo das últimas três décadas, o Ministério da Saúde tem implementado diversas políticas de controle do uso de cigarros, incluindo a proibição de fumar em espaços coletivos, restrição da publicidade em meios de comunicação e adoção de advertências sanitárias contendo imagens sobre os impactos negativos das doenças associadas ao tabagismo nas cartelas de cigarros (BARRETO et al., 2018). De acordo com Levi, Almeida e Szkli (2012) essas medidas têm desempenhado um papel significativo na redução do número de fumantes de cigarros convencionais no país com redução de prevalência de fumantes de 35% em 1989 para 15% em 2013. No entanto, a indústria do cigarro continua buscando constantemente inovações e estratégias para conquistar novos consumidores e os cigarros eletrônicos são resultados destas buscas (ERIKSEN et al., 2012).

Medidas preventivas são extremamnete necessárias para diminiuição da prevalência do consumo de cigarros eletronicos e a Atenção Primária à Saúde (APS) é o principal setor responsavel por essas ações no âmbito do Sistema Unico de Saúde (SUS). A APS é pilar central das Redes de Atenção á Saúde inseridas no SUS e por isso pode atender cerca de 80 a 90% das necessidades de saúde do individuo ao longo da vida (MENDES, 2009).

Considerando as ações voltadas ao combate ao tabagismo no contexto da saúde pública, a Política Nacional de Controle do Tabagismo tem como objetivo a implementação de medidas de saúde interdisciplinares para o controle do tabagismo. Nessa perspectiva, essas medidas na APS incluem a educação da população e a realização de campanhas de conscientização sobre os danos à saúde causados pelo tabagismo, bem como a prevenção do início do hábito de fumar. Além disso, a política também contempla medidas econômicas, como a fixação de um preço mínimo e o aumento de impostos sobre produtos derivados do tabaco. Medidas legislativas, como restrições à propaganda, à comercialização e ao uso desses produtos em ambientes fechados, também estão incluídas nas ações de controle (INCA, 2011).

Compreendendo a relevância de ações destinadas a prevenção do consumo de produtos a base de tabaco na principal fase de iniciação deste consumo, a adolescência, o Programa Saúde na Escola (PSE), objetiva uma articulação de ações da rede pública de Saúde com ações da rede pública da Educação. O Programa propõe que as equipes atuantes na Estratégia de Saúde da Família trabalhem em conjunto com as escolas por meio de ações promotoras de saúde (BRASIL, 2009).

Considerando o consumo de cigarros eletrônicos um problema saúde pública e a Atenção Primária à Saude setor responsavel pela implementação de ações preventivas, o objetivo deste trabalho foi identificar as principais estratégias para prevenção do uso de cigarros eletrônicos no âmbito da Atenção Primária à Saúde descritas pela comunidade cientifica.    

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão narrativa da literatura que consiste em analisar artigos, livros e demais estudos diante da analise critica e de interpretação autoral. Revisões narrativas tem capacidade de apropriação para discussão de determinado assunto sem estabelecer metodologia rigorosa, entretanto é fundamental para atualização e aperfeiçoamento da temática proposta a partir da evidenciação de novas problemáticas e seus métodos de resolução (VOSGERAU; ROMANOWSKI, 2014).

Dessa forma, a pesquisa desta revisão se fez através da busca de referenciais de pesquisa em bases eletrônicas, como, LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências de Saúde), e literatura internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), dentre outras fontes com a temática proposta utilizando descritores como “Atenção Primária à Saúde e Cigarros eletrônicos”. Foram considerados referenciais publicados de idioma português e inglês sendo incluidas referências dos últimos dez anos, além daquelas com data anterior com alta relevância. 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A cessação do consumo de cigarros é benéfica em qualquer fase da vida, trazendo consideráveis impactos positivos para a saúde pública. O investimento em tratamento para pessoas que fumam demonstra ser vantajoso nos cuidados de saúde, especialmente em relação a doenças crônicas. Portanto, uma intervenção clínica contínua pode resultar em reduções significativas tanto na prevalência do tabagismo quanto na frequência de visitas dos pacientes para tratar doenças associadas ao hábito de fumar (BARRETO et al, 2018). Isso evidencia a importância de abordagens efetivas para o controle destes hábitos e a promoção de um ambiente saudável para a população (RIBEIRO et al., 2011).

Uma problemática identificada relacionada aos cigarros eletrônicos, que é amplamente utilizados por jovens, reside na falta de conhecimento sobre os danos associados a essa prática. Essa questão evidencia uma preocupante carência de informações por parte dos usuários sobre os cigarros eletrônicos (SCHOLZ, ABE, 2019). Em um estudo conduzido por Cavalcante et al. (2017), os fumantes que tinham conhecimento sobre os cigarros eletrônicos acreditavam erroneamente que esses dispositivos eram menos prejudiciais do que os cigarros convencionais. No entanto, é importante destacar que os cigarros eletrônicos não se diferenciam dos cigarros tradicionais em termos de impactos na saúde, uma vez que também contêm componentes considerados tóxicos, além da presença de nicotina.

Apostanto em inovação, a indústria dos cigarros eletrônicos começou a produção de dispositivos recarregaveis conhecidos como “pods”, contendo 35 mg/ml (3%) de nicotina.  Cada pod contêm cerca 0,7 ml de e-líquido com nicotina, totalizando 200 tragadas, o que equipara a quantidade de uma certela de cigarros convencionais (ROMBERG et al., 2019). Entretanto, essas informações não estão disponiveis de forma clara nos rótulos, podendo gerar a falsa percepção de menor dano. 

Dentre as substâncias que podem estar na composição de cigarros eletronicos estão, o tetrahidrocanabinol (THC), principal psicoativo da maconha, e os flavorizantes, que são liberados para uso oral e não inalatório, disponíveis em mais de sete mil aromas e sabores para mascarar o gosto ruim característico da nicotina, além de ser um atrativo para crianças, adolescentes e adultos jovens (INCA, 2016)

Corroborando com a perspectiva do consumo de cigarros eletrônicos na adolescência, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE) de 2019 mostrou a prevalência de 16,8% de experimentação de cigarros eletrônicos entre os escolares da pesquisa, sendo mais alta naqueles com 16 e 17 anos (MALTA et al., 2022). 

No México, um estudo feito em 2015 com estudantes entre 12 e 13 anos de idade em 60 escolas públicas, acompanhados por 20 meses, mostrou que jovens que experimentaram somente os cigarros etetrônicos tiveram maior probabilidade de experimentar o cigarro tradicional quando comparados com aqueles que não haviam experimentado nenhum cigarro convencional ou eletrônico  (BERRY et al., 2019)

Diante deste cenário, é sugestivo que muitos indivíduos carecem de informações sobre os riscos potenciais associados ao uso de cigarros eletrônicos. Essa falta de conscientização pode levar a um aumento do consumo dos individuos que erroneamente acreditam estar adotando uma alternativa menos prejudicial ao fumo convencional. Dessa forma, torna-se crucial desenvolver iniciativas de educação e conscientização para esclarecer os reais riscos envolvidos no uso de cigarros eletrônicos e promover uma compreensão mais precisa dos potenciais danos à saúde associados a essa prática.

A Atenção Primária à Saúde configura cenário oportuno para realizações de ações relacionadas ao uso de cigarros eletrônicos por se tratar do setor responsável por ações preventivas e promotoras de saúde no âmbito individual e coletivo, contemplando também diagnóstico, tratamento, reabilitação e redução de danos, sendo capaz de desenvolver medidas que impacte na situação de saúde das pessoas (BRASIL, 2011).

Esta revisão identificou que  abordagens sobre o consumo de cigarros são predominantemente para o cigarro convencional constatando a escassez de estudos direcionados aos cigarros eletrônicos. 

Santos et al. (2019) conduziram uma revisão de literatura com o propósito de identificar diferentes abordagens aplicadas na atenção primária para enfrentar o hábito de fumar, focadas no tabagismo convencional. O estudo teve o objetivo de contribuir para o acúmulo de conhecimento que possa ser aplicado nas unidades básicas de saúde, visando reduzir esse comportamento prejudicial à saúde. A pesquisa foi realizada nas principais bases de dados eletrônicas entre os anos de 2010 e 2015, resultando na análise de 75 estudos relacionados, que foram discutidos no trabalho. A partir da análise e discussão desses artigos, os autores concluíram que a abordagem individual breve ou intensa, utilizando o método dos 5A’s (do Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento), é a mais amplamente adotada, juntamente com o uso de fármacos como adesivos de Nicotina e Bupropiona. O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento, que incorpora o método dos 5A’s, é amplamente empregado para compreender e facilitar a mudança de comportamento em diversas áreas, incluindo saúde e tratamento de vícios, incluindo o vício em tabaco. Com o crescente uso de tecnologia, são necessários novos estudos para investigar os impactos dessa abordagem no tratamento de fumantes. Além disso, ficou evidente a necessidade de melhor preparação dos profissionais de saúde para abordar esse tema com os usuários, assim como a importância de receber o estímulo adequado e contar com as condições apropriadas para atuar de maneira efetiva na Atenção Primária à Saúde (APS), refletindo os avanços científicos em sua prática clínica.

Considerando a adolescência fase de iniciação do uso das diversas substâncias e a prevalência da experimentação nesta faixa etária foram identificadas na literatura diferentes abordagens direcionadas aos adolescentes. No ambiente escolar, em relação ao tabagismo, Nascimento et al. (2015) mostrou  redução de 53% na frequência de consumo do cigarro  após abordagens intervenções com os adolescentes e os profissionais da escola, utilizando a metodologia de palestra unica com os escolares e a posterior capacitação dos professores. 

Pena et al. (2020) apresentou um relato de experiência sobre a implementação de ações de prevenção do tabagismo direcionadas a adolescentes, realizadas entre os anos de 2019 e 2020 pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. A autora enfatiza a relevância da abordagem intersetorial entre os setores de Saúde e Educação para desenvolver iniciativas que enfrentem o tabagismo entre essa faixa etária. Destaca-se que as escolas oferecem um ambiente propício para discutir questões de saúde voltadas aos adolescentes, especialmente considerando que eles frequentam as unidades básicas de saúde de forma irregular. A estratégia adotada consistiu na elaboração de um documento orientador para apoiar as escolas na implementação de ações de prevenção do tabagismo.

Além disso, foi descrito o processo de realização de uma oficina piloto de prevenção do tabagismo em escolas públicas. As dinâmicas utilizadas na oficina incluíram atividades como “Fato ou Fake?”, com o objetivo de fornecer informações sobre o consumo de cigarro de palha, narguilé e cigarro eletrônico. Através da discussão de três questões específicas, os participantes foram estimulados a refletir sobre os riscos associados ao consumo desses produtos, as informações verdadeiras e falsas relacionadas a eles. Outra atividade realizada foi a oficina “O que sabemos sobre os Novos Produtos de Tabaco?”, que buscou promover uma reflexão com base no conhecimento prévio dos participantes sobre as novas formas de consumo do tabaco. O relato de experiência destaca a importância fundamental do desenvolvimento de ações de comunicação e educação em saúde para a prevenção do tabagismo entre adolescentes. 

Cabe ressaltar que abordagens com os adolescentes nas escolas, em sua grande maioria, são fruto da articulação entre os sistemas de saúde e educação como é proposto pelo Programa de Saúde na Escola (PSE), permitindo ações preventivas e de promoção de saúde no ambiente escolar (BRASIL, 2009).

Em um estudo realizado na Atenção Primária de São Francisco – Califórnia, foi identificado elevadas taxas de co-uso entre cigarros eletrônicos e convencionais, a partir disso foi sugerido mudanças no tratamento de intervenções direcionadas a prevenção do tabagismo uma vez que encontrou-se a necessidade de reflexão sobre estas mudanças nos padrões de utilização dessas substâncias (THRUL et al., 2020)

A capacitação da equipe de profissionais de saúde na atenção primária desempenha um papel fundamental no processo de abordagem da população tabagista nas unidades de Atenção Primária. No entanto, a literatura evidencia a presença de lacunas no conhecimento disponível para esse propósito. Nesse contexto, a implementação de políticas públicas torna-se imprescindível para fortalecer a formação desses profissionais e consolidar os serviços oferecidos nesses ambientes de saúde (RAMOS et al., 2014).

Num estudo conduzido por Portes et al. (2014) foi identificado a necessidade  capacitação dos profissionais de saúde para aplicação de abordagens direcionadas ao Programa Nacional de  Controle  do Tabagismo, além disso, também foi evidenciado a importância de incluir os profissionais da assitência nos processos de viabilização e implementação dessas estratégias em nível municipal.  

 Apesar da ampla discussão a respeito das medidas preventivas ao uso de cigarro convencional, vale ressaltar a importância que a abordagem preventiva do cigarro eletrônico seja feita separadamente da prevenção e cessação geral do tabaco, já que os individuos nem sempre veem os cigarros eletrônicos como produtos do tabaco, dessa forma as ações efetivas para o uso de cigarro convencional podem não ter os mesmos resultados cquando aplicadas para o consumo de cigarros eletrônicos (MCKELVEY et al., 2018).

Além disso, enfatiza-se a necessidade de adequação da linguagem para diferentes os públicos, incluindo adolescentes e adultos, para que o conteúdo abordado e as informações repassadas sejam mais atraentes (LIU et al., 2022). É importante também que os programas de prevenção abordem as razões pelas quais os individuos usam cigarros eletrônicos e as crenças sobre o que constitui a dependência da nicotina ou a suscetibilidade ao marketing como um meio de permitir que os consumidores destes dispositivos reflitam sobre às suas decisões a respeito deste consumo  (LIU et al., 2020).

Em destaque encontram-se as parcerias interdisciplinares, visando uma abordagem mais ampla, bem como a exploração do potencial das tecnologias para alcançar a população jovem. Enquanto a terapia farmacológica pode acarretar custos significativos quando comparada ao tabagismo, outras abordagens comportamentais emergem como alternativas destacadas no combate ao vício em tabaco. Os profissionais que atuam em unidades da APS desempenham um papel crucial na promoção da saúde e na prevenção do consumo de tabaco por grupos de risco. Eles são capazes de superar desafios, como a escassez de recursos humanos e treinamento especializado, ao considerar aspectos locais de desenvolvimento, incentivar a participação e aceitação das mudanças pela população, além de investir esforços no aprimoramento profissional e no suporte dentro de uma estrutura culturalmente segura. Essas ações integradas podem contribuir significativamente para o controle do tabagismo e o bem-estar geral da população (MARLEY, 2014).

Além da questão da conscientização, torna-se evidente a importância de intensificar a fiscalização, com o objetivo de restringir o acesso dos usuários a esses dispositivos, além de fortalecer as iniciativas educativas voltadas à população para sensibilizá-la sobre os danos associados ao uso desses dispositivos e, por conseguinte, preservar a saúde pública. Ressalta-se que a resolução n°46, de 28 de agosto de 2009 proíbe a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletronicos no Brasil, entretanto a ausencia de fiscalização permite a incidência e prevalência do consumo desses dispositivos.

A partir deste pressuposto, a implementação de projetos e atividades queevidenciem os impactos negativos do cigarro eletrônico e os riscos à saúde se torna essencial (PELLEGRINO et al., 2012).

Portanto, além das ações desempenhadas na APS fica eviente a imrpotância de implementar estratégias educativas e de conscientização, abrangendo tanto adolescentes quanto adultos, com o intuito de disseminar informações precisas acerca dos riscos associados ao consumo desses dispositivos. Além disso, é fundamental adotar uma abordagem intersetorial promovendo a colaboração entre os setores de saúde, educação e outras áreas pertinentes. Essa abordagem facilitará o desenvolvimento de programas eficazes de prevenção, intervenção precoce e suporte a indivíduos em risco ou já envolvidos no uso de cigarros eletrônicos. A capacitação aprimorada dos profissionais de saúde na identificação e abordagem do uso desses dispositivos é outro elemento relevante para garantir uma prevenção ampla e com impacto positivo na saúde pública (ANVISA, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O consumo de cigarros eletrônicos tem experimentado um crescimento contínuo ao longo do tempo, tornando-se amplamente difundido, especialmente entre a população jovem. Erroneamente os cigarros eletrônicos são considerados menos prejudiciais á saúde, não se levando em consideração as substâncias de sua composição e seu potencial viciante. 

A APS é capaz de desenvolver ações preventivas do uso de cigarros eletrônicos da população através de suas caracteristicas. Apesar da existência de estudos que descrevam sobre abordagens de prevenção ao tabagismo no âmbito da APS e em parceria com outros setores, pouco se encontra a respeito de ações destinadas ao consumo especifico de cigarros eletrônicos. 

Estratégias educativas, de conscientização e abordagem intersetorial são essenciais para disseminar informações e desenvolver programas eficazes de prevenção. Cabe também a necessidade de formulação de estratégias voltadas ao publico alvo das ações a serem desenvolvidas. Embora as ações preventivas do uso de cigarro eletrônico devam ser amplamente difundidas na sociedade, intervenções voltadas principalmente no público juvenil são de extrema relevância, uma vez que a juventude é a fase de adoção das práticas voltadas para as tendências temporais, como o uso de cigarro eletrônico.

Contudo cabe ressaltar que a capacitação dos profissionais de saúde na APS é fundamental para garantir uma abordagem ampla e positiva na proteção da saúde da população.

REFERÊNCIAS

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1Mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Uberlândia.
e-mail: Patryciasarahenf@gmail.com

2 Doutora em Ciências. Docente da Universidade Federal de Uberlândia

3Graduação e Licenciatura em enfermagem pela Universidade Federal de Uberlândia.

4 Doutora pela USP. Docente da Universidade Federal de Uberlândia.

5Especialista em UTI Neonatal e Pediátria pela FACUMINAS- e Saúde da Família e Comunidade pela Universidade Federal de Uberlândia

6Graduação em Enfermagem pela Universidade Presidente Antônio Carlos

7Graduação em enfermagem pela Universidade Federal de Uberlândia