QUALIDADE DE VIDA EM IDOSAS: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ATIVAS E SEDENTÁRIAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8309738


Eder Magnus Almeida Alves Filho1
Monique Camargo de Oliveira1
Dr. Helio Lemos Furtado2


RESUMO

Tratou-se de um estudo transversal, comparativo, o qual objetivou comparar o nível de qualidade de vida em idosas ativas (n=61), participantes de um programa regular de ginástica (G1), e idosa sedentárias (n=31) (G2). Para coleta de dados, utilizou-se o protocolo WHOQOL-OLD. Os resultados revelaram que o G1 apresentou uma melhor qualidade de vida quando comparado ao G2. Quanto aos escores, houve diferença significativa entre os grupos (p=0,0156), tendo as idosas sedentárias apresentado menores escores em todas as facetas, todavia, ambas não alcançaram a pontuação pertinente à boa qualidade de vida. Destarte, é necessário firmar parcerias entre familiares, amigos, organizações sociais, profissionais do âmbito da saúde, dentre outros, a fim de conferir solução às variáveis que influenciam negativamente na qualidade de vida das idosas.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida. Idosas. Exercício físico. Sedentarismo.

ABSTRACT: 

This was a cross-sectional, comparative, which aimed to compare the level of quality of life in active elderly women (n = 61) participating in a regular exercise program (G1), and sedentary elderly (n = 31) (G2 .). For data collection, we used the protocol WHOQOL-OLD. The results revealed that the G1 had a better quality of life when compared to G2. As for the scores, there was significant difference between groups (p = 0.0156), and the sedentary elderly women presented lower scores in all facets, however, both failed to reach a score pertaining to good quality of life. Thus, it is necessary to establish partnerships between family, friends, social organizations, and health professionals, among others, in order to give solutions to the variables that negatively influence the quality of life of the elderly.

KEYWORDS: Quality of life. Elderly. Exercise. Sedentary lifestyle.

INTRODUÇÃO

Contemporaneamente, o fenômeno do envelhecimento populacional tem despertado a atenção de pesquisadores sociais e profissionais da área de saúde, tendo em vista o retardo dos conhecimentos da gerontologia1 e aumento da expectativa de vida, a qual, em brasileiros, alargou-se em 3,65 anos entre o período de 2000 a 2011, totalizando 74 anos e 29 dias de vida. Salienta-se as variáveis entre gêneros, apresentando, as mulheres, cerca de 7 anos a mais que os homens2. Nesse viés, os idosos representavam 8,1% da população em 2000 e, segundo projeções, no ano de 2050, esse percentual se aproximará a 29,8% no Brasil3.

O conceito de envelhecimento sugere o processo dinâmico e progressivo, levando a alterações morfofisiológicas, funcionais e bioquímicas pela alteração do mecanismo proteico e progressivamente altera o organismo e torna-o mais suscetível a agressões intrínsecas e extrínsecas4. Permeando a temática, diversas mudanças orgânicas podem influenciar o nível de qualidade de vida (QV), termo que não apresenta, na literatura, único significado5, bem como, sua definição não consta nas publicações que objetivam sua avaliação5. Diante da ausência consensual, considera-se como norte do presente estudo, que qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações6.

Neste contexto, diversas pesquisas afirmam sobre os benefícios da prática de exercícios físicos para atenuar os efeitos que atingem a saúde de indivíduos idosos7-10. Os exercícios contribuem para o aumento da satisfação de vida, da saúde percebida, da saúde mental, das funções cognitivas, da auto-estima e do senso de auto-eficácia11. Destarte, associa-se qualidade de vida à prática de exercícios físicos, posto que, com poucas horas semanais de  prática,  uma  pessoa  poderá ter  seu otimismo  potencializado  e  o  seu nível de estresse reduzido, melhorando tal avaliação12. Como variável dos níveis de qualidade de vida está o sedentarismo.

Imerso no universo contemplado pelos exercícios físicos, o presente ensaio destaca a ginástica. Dentre os principais objetivos e benefícios da ginástica na terceira idade tem-se a manutenção da massa magra, a prevenção de doenças crônicas degenerativas, aumento da resistência às doenças degenerativas, redução do estresse e aumento da auto-estima.8

Neste cenário, o presente estudo objetiva comparar o nível de qualidade de vida em idosos ativos, participantes de um programa de ginástica, e sedentários.

METODOLOGIA

Modalidade da pesquisa

Tratou-se de uma pesquisa descritiva quantitativa. A investigação descritiva observa, registra, analisa, correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los.13  A análise quantitativa é focada na mensuração de fenômenos, envolvendo a coleta e análise de dados numéricos e aplicação de testes estatísticos.14

Amostra

A amostra foi selecionada de forma intencional, constituída por sujeitos voluntários. Compondo-a, um grupo de 61 idosas, praticantes de um programa de ginástica (G1), do projeto Qualivida, desenvolvido pela Secretaria Especial de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SESQV), com aulas na frequência de cinco vezes por semana, estendendo-se por 60 minutos/ dia, e, um grupo controle (G2), formado por 31 idosas não praticantes de exercícios físicos, totalizando 92 indivíduos, com média de idade de 67,8 anos.

O estudo apresentou como critérios de inclusão na amostra: pertencer ao gênero feminino; possuir idade mínima de 65 anos; aceitar participar da pesquisa, através de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os organizadores do projeto Qualivida consentiram a realização da pesquisa através do Termo de Consentimento de Pesquisa Científica. A execução do presente estudo iniciou-se após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Castelo Branco, sob o número y.

Construíram critérios de exclusão: idosas com déficit de compreensão, que limitasse a resposta às questões dos protocolos e indivíduos psicologicamente ou fisicamente dependentes.

Instrumentos e procedimentos

Para avaliação da qualidade de vida foram utilizados o protocolo WHOQOL-OLD, instrumento de mensuração de qualidade de vida específico para uso em idosos, composto por 24 itens, divididos em 6 facetas (funcionamento dos sentidos, autonomia, atividade de passadas presentes e futuras, participação social, morte e morrer, intimidade). Cada um dos domínios possui 4 itens, com pontuação de 1 a 5 em cada; portanto, para todos os domínios o escore dos valores possíveis pode oscilar de 4 a 20, desde que todos os itens de um domínio tenham sido preenchidos. Os escores dos 24 itens do módulo WHOQOL-OLD são combinados para produzir um escore geral para a QV em idosos, denominado “escore total”, que por sua vez, pode oscilar entre 24 e 120. Quanto maior o valor do escore total, melhor a QV. Neste estudo foi considerado como ponto de corte para boa QV o escore total igual ou acima de 8015. O instrumento foi desenvolvido pela de The World Health Organization (WHO).

As respostas dos grupos foram avaliadas e comparadas.

Salienta-se que a coleta de dados foi realizada individualmente.

Tratamento estatístico

A análise estatística ocorreu através dos cálculos descritivos de média e desvio padrão, e a inferencial pelo teste t de Student para amostras independentes. Toda a análise foi realizada através do software BioEstat 5.3, sendo adotado como nível de significância valores de p<0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão expressos os escores de qualidade de vida em idosas ativas e sedentárias, coletados mediante o WHOQOL-OLD, assim como o valor de p entre grupos.

Tabela 1: Distribuição dos escores de QV dos 92 idosas ativas e sedentárias, segundo WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD.

+ = desvio padrão *Teste t-Student – p < 0,05 considerado significativo

Fonte: Autoria própria (2013).

A qualidade de vida mensurada pelo WHOQOL-OLD apresentou maior escore na faceta funcionamento dos sentidos para o G1, o qual avalia a visão, audição, tato, olfato e paladar e o impacto da perda das habilidades sensoriais na qualidade de vida. Tem sido sugerido que as limitações funcionais têm uma forte influência no comportamento da população idosa.15

No mesmo sentido, no que tange ao G2 salientam-se as atividade passadas, presentes e futuras. Esta categoria descreve a satisfação sobre conquistas na vida e coisas a que se anseia.

Os menores escores de qualidade de vida, respectivamente para o G1 e G2 foram junto à autonomia, a qual refere-se à capacidade de viver de forma autônoma e tomar suas próprias decisões – episódio que despertou a atenção dos pesquisadores, justificada pela características inerentes ao grupo, em que pese este estudo não ter identificado quais os fatores associados à insatisfação com a autonomia – e intimidade, bloco que avalia a capacidade de se ter relações pessoais e íntimas. Essa última faceta apresenta-se bem conceituada no G1, mantendo diferença significativa em relação ao G2 (p<0,05). 

O Gráfico 1 apresenta o escore total para cada faceta do G1.

Gráfico 1 – Escore total por faceta do WHOQOL-OLD referente ao G1.

Fonte: Autoria própria (2013).

Em face do grupo de idosas ativas, os domínios que apresentaram maior correlação com o valor elevado do escore total do WHOQOL-OLD foram funcionamento sensório, participação social (delineia a participação em atividades do quotidiano, especialmente na comunidade) e atividade passadas, presente e futuras. Tomando-se como base o ponto de corte para boa qualidade de vida (>80 pontos)16, observa-se que o grupo não alcançou em nenhuma faceta o escore equivalente à categoria. Considerando-se a média das facetas do G1 (72,83), o resultado, de igual maneira, figurou abaixo da nota de corte.

Gráfico 2 – Escore total por faceta do WHOQOL-OLD referente ao G2.

Fonte: Autoria própria (2013).

Conforme expressa o Gráfico Supra (2), os domínios de atividades passadas e funcionamento sensório também foram melhor correlação junto ao G2, aparecendo, posteriormente, o bloco morte e morrer, relacionado às preocupações, inquietações e temores sobre a morte e morrer.

Tal qual o G1, o G2 não atingiu em suas facetas 80 pontos, consequentemente, não obteve classificação de boa qualidade de vida (58,5 pontos).

Em uma análise geral, as idosas sedentárias apresentaram menores escores em todas as facetas quando comparados às idosas ativas, havendo diferença significativa (p=0,0156). Assim, certos grupos podem estar em risco de inatividade física, sendo de esperar consequências negativas quer no domínio da saúde física quer na saúde psico-social17. Todavia, em que pese tal afirmação, o estudo apontou que a qualidade de vida de ambos os grupos foi considerada insatisfatória.

Propiciar a discussão e a reflexão desta questão com idosos e pessoas próximas constitui provável contribuição para mudança deste cenário, repercutindo na melhoria da qualidade de vida.

Por fim, algumas limitações acompanharam a pesquisa, como a generalização dos resultados, tendo em vista a amostra pequena e a natureza transversal do seu desenho experimental, tal qual a necessidade de pesquisas adicionais para decretar a direção causal das associações.

CONCLUSÃO

Neste estudo verificou-se que idosas ativas apresentaram uma melhor qualidade de vida quando comparados a sedentárias, muito embora os níveis alcançados não sejam satisfatórios para classificá-la enquanto boa. 

Destarte, é necessário firmar parcerias entre familiares, amigos, organizações sociais, profissionais do âmbito da saúde, dentre outros, a fim de conferir solução às variáveis que influenciam negativamente na qualidade de vida dos idosos.

Cabe ressaltar que o conceito de qualidade de vida está associado às percepções e expectativas subjetivas individuais. Deste modo, sugere-se mais investigações científicas acerca da qualidade de vida em idosas, considerando diferentes contextos, outras modalidades, que não somente ginástica e amostras maiores, a fim de uma melhor elucidar o tema.

REFERÊNCIAS

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1Graduação em Bacharel em Educação Física pela Universidade Castelo Branco – RJ
2Orientador; Docente da Universidade Castelo Branco (UCB-RJ).