PARADIGMAS FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIAIS NA CONSTITUIÇÃO DO SOFRIMENTO DA PERSONALIDADE BORDERLINE

PHENOMENOLOGICAL-EXISTENTIAL PARADIGMS IN THE CONSTITUTION OF THE SUFFERING OF THE BORDERLINE PERSONALITY

PARADIGMAS FENOMENOLÓGICO-EXISTENCIALES EN LA CONSTITUCIÓN DEL SUFRIMIENTO DE LA PERSONALIDAD LÍMITE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8299858


Leonardo Mello1


Resumo: Este artigo propõe uma discussão a respeito da condição existencial para a personalidade borderline. O texto discorre a respeito de pesquisas teórico-bibliográficas sobre o transtorno de personalidade borderline, elucidando parâmetros nosológicos e fenomenológicos acerca do desenvolvimento do transtorno em questão, e das características que configuram a personalidade borderline.

Desta forma, relacionamos os dados bibliográficos com os dados descritivos da experiência de um caso clínico com esta psicopatologia, atendido entre os anos de 2020 e 2021, tendo como objetivo ressaltar de forma cronológica as vivências que levaram ao sofrimento em meio a esta psicopatologia. Explorou-se, a partir do modo-de-ser da pessoa atendida, a evolução biográfica do caso, adentrando período gestacional, a infância, a adolescência e seguindo até o início da vida adulta, quando esta chega até o atendimento psicoterapêutico. Desta forma, caracterizamos uma pesquisa correlacional dentre dados bibliográficos e dados experienciais, buscando encontrar a gênese do sofrimento, não a etiologia, do transtorno de personalidade borderline.

Palavras-chave:  Existencialismo; Personalidade borderline; Fenomenologia; Psicodiagnóstico.

Abstract: This paper proposes a discussion about the existential condition for the borderline personality. The text discusses theoretical and bibliographical researches about the borderline personality disorder, elucidating nosological and phenomenological parameters about the development of the disorder in question and the characteristics that configure the borderline personality.

In this way, we relate the bibliographical data with the descriptive data of the experience of a clinical case with this psychopathology, assisted between the years of 2020 and 2021, The aim is to highlight in a chronological way the experiences that led to suffering in the midst of this psychopathology. The biographical evolution of the case was explored, starting from the way-of-being of the person assisted, entering the gestational period, childhood, adolescence, and continuing until the beginning of adulthood, when the person assisted reaches the psychotherapeutic assistance. Thus, we characterized a correlational research between bibliographic and experiential data, seeking to find the genesis of suffering, not the etiology, in the borderline personality disorder.

Keywords: Existentialism; Borderline personality; Phenomenology; Psychodiagnosis.

Resumen: Este artículo propone una discusión sobre la condición existencial de la personalidad límite. El texto discute investigaciones teóricas y bibliográficas sobre el trastorno límite de la personalidad, dilucidando parámetros nosológicos y fenomenológicos sobre el desarrollo del trastorno en cuestión, y las características que configuran la personalidad límite.

De esta forma, relacionamos los datos bibliográficos con los datos descriptivos de la vivencia de un caso clínico con esta psicopatología, atendido entre los años 2020 y 2021, con el objetivo de destacar cronológicamente las vivencias que llevaron al sufrimiento en medio de esta psicopatología. . Se exploró la evolución biográfica del caso, a partir del modo de ser de la persona, entrando en el período gestacional, niñez, adolescencia y continuando hasta el inicio de la vida adulta, cuando llega a la atención psicoterapéutica. Así, caracterizamos una investigación correlacional entre datos bibliográficos y datos experienciales, buscando encontrar la génesis del sufrimiento, no la etiología, del trastorno límite de la personalidad.

Palabras Clave: Existencialismo; Personalidad límite; Fenomenología; Psicodiagnóstico.

1  Introdução

De início, proponho a reflexão que Laing (1973, pp. 29-35), nos coloca acerca das psicoses em seu livro “O eu dividido”, em um breve relato de uma exposição clínica de Kraepelin (1905, citado por Laing, 1973), quando este trouxera para seus alunos um paciente com sinais de “excitação catatônica”. Laing trouxe relatos da aflição que fora para o paciente ser exposto a uma forma de interrogatório antiético frente a tantas pessoas (os alunos de Kraeplein), demonstrado na fala do próprio paciente quando este se manifesta em uma explosão exasperada. Segue-se o relato:

Como se chama? Que é que ele fecha? Fecha os olhos… Por que não me responde? Está ficando novamente atrevido? Não quer se prostituir para mim? (Isto é, ele sente que Kraepelin objeta ao fato de ele não estar disposto a se prostituir diante de uma classe inteira de estudantes) . . . tão atrevido, sem vergonha, miserável, e nojento como eu nunca vi . . . etc. (Laing, 1973, p. 29).

Ainda com Laing (1973, p. 35), “ninguém sofre de esquizofrenia”. A pessoa é esquizofrênica. O esquizofrênico precisa ser conhecido sem ser destruído”. O que Laing (1973) opera em seu discurso que devemos conhecer a patologia sem destruir o humano. Para que não esqueçamos que, independentemente de etiologia ou patologia, o sofrimento é humano e, portanto, subjetivo. Cada sujeito em meio a sua singularidade, constrói o que faz com aquilo que fizeram dele (Sartre, 1952, citado por Schneider, 2006), o que significa, que nossa liberdade também dita a forma como experienciamos a afetação. Mas então, como seria possível discutirmos a gênese do sofrimento? Do ponto de vista da psicologia existencial, vai para o contexto do projeto-de-ser da pessoa, trazendo à tona a dialética entre esta subjetividade (o que o sujeito faz) e a objetividade do mundo concreto (o que fizeram dele).

Sendo assim, partimos do ponto de vista existencial, pois buscamos, não a constituição de uma etiologia psicopatológica, mas uma gênese do sofrimento humano na personalidade borderline. O transtorno de personalidade borderline, conforme CID 10[2], é caracterizado por um padrão generalizado de instabilidade e hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais, instabilidade na autoimagem, flutuações extremas de humor e impulsividade, sendo o diagnóstico realizado totalmente por critérios clínicos.

O presente artigo então discorre a uma pesquisa bibliográfica acerca da literatura existente sobre o transtorno de personalidade borderline (TPB) além de a apresentação de um caso clínico acerca da problemática da pessoa com TPB, elencando por meio das experiências vivenciadas pelo paciente, o agregado de fenômenos que culminaram no sofrimento originado da psicopatologia, relacionando-os com os dados bibliográficos buscando dar ênfase na constituição do sofrimento. O caso é relatado de forma sucinta, buscando evidenciar as informações coletadas durante os atendimentos realizados via serviço escola de psicologia do centro universitário Dante Alighieri (CRP12/0286-PJ), em Blumenau-SC, durante os anos de 2020 e 2021.

2  Metodologia

Partindo do viés da psicologia fenomenológica-existencial, fez-se uma pesquisa teórico-bibliográfico a respeito dos estudos exploratórios da psicopatologia do transtorno de personalidade borderline[3]. Levando em conta o modo-de-ser da pessoa com TPB, buscou-se apreender eventuais fenômenos descritos pela literatura acerca dos comportamentos e processos psicológicos, objetivando chegar a uma constituição de uma gênese4 do sofrimento nesta psicopatologia. Cruzou-se assim, dados bibliográficos com dados do estudo empírico observável, visando, desta forma, uma pesquisa correlacional.

De forma que a psicologia fenomenológica-existencial busca a compreensão existencial da pessoa – e não apenas o fator psicopatológico – faz-se necessário uma breve introdução à metodologia de investigação e intervenção clínica utilizada.

A Fenomenologia é definida por King (2001, p. 109, citado por Roehe, 2006) como “o estudo das formas como algo aparece ou se manifesta, em contraste com estudos que procuram explicar as coisas a partir de relações causais ou processos evolutivos”. A forma como algo se manifesta é o que se chama de fenômeno (Roehe, 2006). A Fenomenologia não explica o fenômeno a partir de conceitos prévios, ela o aborda e o interroga diretamente, procurando vê-lo da forma como ele próprio se mostra e buscando captar a sua essência (Martins & Bicudo, 1983, citado por Boava & Macêdo, 2004). De tal forma, contemplando o importante passo da investigação para a compreensão do processo, busca-se apreender o fenômeno a partir de como o mesmo se mostra. Sendo que, para a fenomenologia, o passado em si não tem importância, mas o passado como é visto no presente tem significativa importância (Ferreira, 2020b, p. 18).

Apropriando do exemplo utilizado por Holanda (2014), quanto ao “como” das possibilidades de concepções diferentes em um mesmo objeto, ilustrado na obra de Claude Monet (1840 – 1926) intitulada “AS TRINTA TELAS DA CATEDRAL DE ROUEN”, em que o autor expressa diferentes pinturas de um mesmo ente (catedral de Rouen pintada sobre a luz de diferentes horas do dia). Holanda (2014) traz à luz desta analogia, para a questão humana e as diferentes concepções de um mesmo evento/fenômeno, mesmo que, este seja descrito por um mesmo observador todas as vezes.

Figura 1

As trinta telas da Catedral de Rouen

Fonte: Imbroisi e Martins (2016).

Segundo Schneider (2011, p. 20), através desse método objetiva-se chegar à singularidade histórica – o homem concreto –, entendido como um ser significante, ao compreender que o menor dos seus gestos supera a situação em que se encontra em direção a um fim, ou seja, é a expressão de seu “projeto de ser”, bem como do “saber- de-ser” coletivo de um dado momento sociocultural, do qual o projeto é uma apropriação singular.

Para Roehe (2006), a abordagem fenomenológica-existencial mostra que: qualquer procedimento científico está vinculado ao modo de ser do homem; a psicologia não necessita adotar o modelo naturalista para suas investigações; e as ciências naturais não realizam a desejada assepsia metodológica.

3  O Transtorno de Personalidade Borderline

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) ou Transtorno de personalidade com instabilidade emocional – referenciado como F 60.3 segundo CID-10 –, também chamado de Transtorno de Personalidade Limítrofe, é descrito como uma grave condição de saúde psicológica que compreende um padrão característico de instabilidade nas relações interpessoais, na auto imagem, no afeto, assim como apresenta uma impulsividade acentuada (Cavalcanti & Nunes, 2016). Para Yontef (1998, citado por Melo et al., 2009), o sujeito chega a perder, em alguns momentos de seu desenvolvimento, as fronteiras de tempo, de espaço e da relação com o outro. O passado e o futuro não existem para o sujeito borderline como algo que faça sentido para sua forma de “estar-no-mundo” (Melo et al., 2009). Para Melo et al. (2009), tanto Yontef quanto Bin destacam que a forma de “ser-no-mundo” do sujeito borderline tem sua gênese no momento do estabelecimento do vínculo afetivo com a mãe. Há sempre uma história de abandono, que o faz desejar e, ao mesmo tempo, temer a relação com o outro.

Cavalheiro & Melo (2016), afirmam que o TPB é uma psicopatologia caracterizada por um persistente padrão de instabilidade afetiva, falta de identidade (self). Tais características se estruturam na personalidade do indivíduo no início da vida adulta e apresenta-se em diversos contextos. Os critérios diagnósticos incluem sintomas, como instabilidade afetiva, sentimentos crônicos de vazio, comportamentos para evitar um abandono real ou imaginário, relacionamentos intensos e instáveis, perturbação da identidade, impulsividade; comportamento automutilante ou suicida, entre outros.

Já segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (American Psychiatric Association – APA, 2014), os critérios diagnósticos são: Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:

Esforços desesperados para evitar o abandono (real ou imaginado) . . . ; Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização; Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo; Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar) . . . ; Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante; Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias); Sentimentos crônicos de vazio; Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes); Ideação paranóide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos. (APA, 2014, p 663).

Além disso, é comum o surgimento dos sintomas terem acontecido no início da idade adulta, mas também podem ocorrer durante a adolescência. (APA, 2014).

A causa do TPB é complexa e engloba diferentes fatores que se inter relacionam. A etiologia do transtorno está relacionada a uma disfunção do sistema de regulação emocional, proveniente de irregularidades biológicas e de ambientes invalidantes na infância, que desconsideram e rejeitam as respostas emocionais dos indivíduos (Lieb et al., 2004).

A invalidação das necessidades emocionais da criança parece estar ligada ao surgimento das características borderlines. Linehan (2010) considera que a invalidação ocorre devido a um ambiente invalidante, sendo este definido como:

Um ambiente invalidante é aquele onde a comunicação de experiências privadas é estabelecida com respostas erráticas, inadequadas e extremas. . . . As interpretações do indivíduo sobre seu próprio comportamento, incluindo a experiência de intenções e motivações associadas ao comportamento, são rejeitadas. (Linehan, 2010, p. 58).

Cavalheiro & Melo (2016) evidenciam que esses sujeitos costumam envolver-se em relacionamentos instáveis e intensos (Lieb et al., 2004) e apresentam comportamentos que dificultam o estabelecimento e a manutenção dessas relações (Cole et al., 2009), inclusive a relação psicoterapêutica.

O profundo medo de serem abandonados, sentido pelas pessoas com borderline, faz com que busquem, de todas as formas, não serem deixados sozinhos (Cavalheiro & Melo, 2016). Frequentemente mudam rapidamente de uma reação emocional a outra, podendo vivenciar diversos estados emocionais negativos e períodos de eutimia em apenas um dia (Lieb et al., 2004). É comum ocorrerem intensos afetos disfóricos, como raiva, tristeza, vergonha, pânico, terror e sentimentos crônicos de vazio e solidão (Cavalheiro & Melo, 2016). As mudanças emocionais parecem exageradas e imprevisíveis (Cole et al., 2009).

Segundo Linehan (2010) o problema principal do TPB é o padrão invasivo de regulação emocional. Com isso, todos os problemas comportamentais (automutilante, suicida e para-suicida), bem como a desregulação cognitiva (pensamento dicotômico, ideação paranóide transitória) e os problemas interpessoais (instabilidade nos relacionamentos), são ocasionados por esta desregulação emocional. Em resumo, a experiência afetiva do paciente borderline é caracterizada pela proeminência da raiva e da depressão (solidão-vazio), e algum grau de ansiedade e anedonia (Dalgalarrondo & Vilela, 1999).

Apesar de estudos (Spitzer et al., 1979; Brenas & Ladame, 1985; Steiner et al., 1998), que nos sugerem que fatores genéticos em casos de TPB, teriam (e pesquisas posteriores reforçam tal hipótese) um certo “parentesco” genético, portanto, nosológico, com transtornos afetivos (Dalgalarrondo & Vilela, 1999), nenhum destes parece sustentar que a causa do TPB seja exclusivamente genética, mas sim, multifatorial, conforme a pesquisa de Amad et al. (2019) aponta. Porém nenhum destes estudos parece considerar a fundo o desenvolvimento humano e social como aspectos condicionantes e/ou interacionistas durante a formação da personalidade do indivíduo. Conforme Sartre (1960), posto que a ação humana é sempre dialética a relação indivíduo/grupo ou singular/universal é aspecto essencial para o entendimento da realidade humana. Portanto, a constituição da personalidade permanece vinculada aos fatores existenciais da dialética entre ambiente e sujeito. O sujeito, pela mediação do outro, converte as relações sociais em funções psicológicas, que passam a funcionar como sendo próprias de sua personalidade (Vigotski, 1995; Vigotski, 1927, como citado em Souza & Andrada, 2013). A criança não está passiva à experiência com o meio, pelo contrário, ela reage afetivamente a ele, dialeticamente impactando-o e transformando-o (Lemos et al., 2022).

Como observado, estresses durante a primeira infância podem contribuir para o desenvolvimento de uma personalidade borderline: Histórico de negligência infantil, abusos físicos e/ou sexuais, separação dos cuidadores e/ou perda dos pais são comuns entre pacientes com transtorno de personalidade borderline (APA, 2014). Vemos como um dos principais conflitos do TPB as invalidações históricas presentificadas, que se intensificam e retroalimentam emoções irracionais tanto quanto a impulsividade exacerbada. Há frequentemente uma alternância de necessidades e desejos, cujo os quais manifestam-se em uma confusão do ser-aí culminando numa invalidação da autenticidade. Podemos colocar que existe uma exigência-de-ser que exerce motivações e carências opostas: Muita carga emocional enquanto a permanência das relações prossegue na fragilidade e na ausência de concretude. Até mesmo a intencionalidade de evitar o abandono por parte do outro leva o sujeito ao desespero frente à possibilidade.

4  Relato de caso clínico: Um breve resumo histórico de ‘Vis-&-Bia’

O caso intitulado aqui como ‘Vis-&-Bia’[5], refere-se a um paciente do sexo masculino com orientação sexual homoafetiva, tendo vinte e um anos de idade, residente da região da grande Florianópolis, em Santa Catarina – Brasil, e portador de uma doença congênita6 que causara deficiência física na parte inferior de seu corpo – tornando-o cadeirante – além de problemas cognitivos, problemas de funcionamento intestinal e da bexiga, sendo estes, também, a perda da sensibilidade da musculatura próximas aos órgãos e abaixo destes.

O paciente buscará a psicoterapia via o serviço escola de psicologia do Centro Universitário Dante Alighieri (UNIDANTE), com queixa inicial de ansiedade. Os atendimentos psicoterapêuticos tiveram continuidade pelo período de um ano, sendo estes realizados com a frequência de sessões semanais, e inteiramente no modelo online, devido a pandemia viral causadora da doença COVID-19[7].

Dentre os fenômenos iniciais descritos pelo paciente – relacionados à queixa – uma gama destes mostraram-se tautócronos para com conflitos familiares, e elencaram sofrimentos para além de processos ansiosos. Comportamentos de dispersão, pensamento arborizado, alterações bruscas de humor, foram constatadas desde o primeiro atendimento. Uma das queixas demarcadas no caso ‘Vis-&-Bia’, era o sentimento crônico de vazio existencial, que se estabelecia como a ausência ou transferência do Self. Segundo Lopes et al. (2017, citado por Usevicius et al., 2020) a questão do sentimento de vazio que indivíduos com TPB costumam sentir interfere na construção da personalidade dos mesmos, fazendo com que possuam a tendência de copiar personalidades alheias, estes também temem serem expostos e “invadidos” por ideias dos outros, perdendo sua individualidade.

‘Vis-&-Bia’ ora parecia transitar em uma dinâmica existencial de exigência-de-ser, ora parecia transitar numa dinâmica de ser-na-ameaça, ora apenas em divisão-de-ser, dificultando, desta forma, o processo psicoterapêutico. Linehan (2010) explica que esses pacientes expressam dificuldades em observar e interpretar o mundo que os circunda, além de registrar limitações quanto à compreensão de si mesmo e do outro. Ainda com Linehan (2010), a perda da identidade deve ser considerada presente no TPB. Diz-se, dessa forma, que o TPB afeta as noções de self.

Por fim, chegou-se à conclusão de que ‘Vis-&-Bia’ transitava por uma dinâmica existencial de exigência-de-ser, evidenciada em perspectivas de autocobrança exarcebada e frustração frente a impossibilidades de não-ser, estes que, teriam evoluído/mudado para uma dinâmica de divisão-de-ser, como se constata o quadro sintomatológico. Contudo, os comportamentos excludentes, como os de má-fé, lhe eram frequentemente utilizados como forma de auto sigilo da própria história, sempre que o vínculo ou a “direção” da sessão, chegavam à afetação emocional intensa. Vemos, portanto, que o paciente TPB representa um desafio à psicoterapia que está em busca da compreensão de uma personalidade.

A má-fé evidenciada na relação psicoterapêutica, nada mais era do que parte do auto abandono, de uma tentativa de não ser abandonado pelo psicólogo ao se abandonar. Possuindo uma resistência muito grande a vínculos afetivos (incluindo o vínculo psicoterapêutico), a carência de uma rede de apoio quanto amigos e familiares, se fazia fortemente presente. Manifestações de comportamentos manipulatórios, exacerbações emocionais incoerentes (indo, ora de expressões livres de raiva, até o congelamento das expressões faciais como em um solilóquio), além de incoerência histórico-cronológico de suas vivências, eram parte deste modo de ser que dificultava o contato autêntico com o outro.

Era frequente que ‘Vis-&-Bia’ dissesse algo acerca de sua história e mudasse o relato do mesmo posteriormente, ou acrescentasse partes que foram ocultadas no primeiro relato. Estes aconteciam mesmo fora das sessões psicoterapêuticas, por contato telefônico via mensagens ou ligações de WhatsApp, demonstrando assim, haver uma constante necessidade de contato fora do horário estabelecido da sessão.

As intervenções, tanto investigatórias quanto de gênese, só puderam se efetivar mediante a constantes manutenções da relação psicoterapêutica. Como dito anteriormente, não nos ateremos às intervenções, de quaisquer formas, focaremos na busca da gênese do sofrimento – assim sendo, por meio do método regressivo- progressivo, buscou-se os nomes que nos levassem da escolha primordial até a gênese do sofrimento de ‘Vis-&-Bia’. Segue-se de maneira cronológica à vivência do paciente, os relatos descritos, interrogados e organizados:

• Iniciando pelo período de pré-nascimento do paciente – via relatos de seus pais a respeito da gestação – fora constatado que a gravidez acontece de forma não planejada, tomando forma de indesejada por parte da mãe do paciente em determinado período da gravidez. Iniciou-se o processo de preocupações e expectativas em relação a este “futuro ser”. Os pais de ‘Vis-&-Bia’ casam-se.

• Ao nascimento, descobre-se uma doença congênita chamada mielomeningocele[8], que não havia sido identificada durante os pré-natais. Por conta da mielomeningocele, ‘Vis-&-Bia’ requisitava consultas periódicas e medicação contínua desde o nascimento. Fator este que exacerbava o cuidado, (mais tarde, considerado pelo paciente como cansativo e exaustivo) dos pais, e reduzia a relação de ambos ao filho.

• Logo no primeiro ano de vida do paciente, ocorre o divórcio dos pais. Ainda por relato dos pais do paciente, evidenciam que haviam se casado unicamente pela notícia da gravidez. Após a separação, ‘Vis-&-Bia’ acaba ficando com a mãe.

• Agora com 05 anos de idade, o paciente começa a perceber e sentir os percalços devido ao afastamento do pai. A relação passa a constituir-se apenas para com a questão financeira: O pai buscava fazer-se pai apenas no suporte financeiro e com a oferta de presentes/ganhos materiais. O vínculo afetivo era inexistente – a falta começava a delinear-se, e carecia uma resposta do “por que?”.

Devido aos constantes problemas de saúde relativos à mielomeningocele, a mãe do paciente desenvolveu um comportamento de hiper proteção. Desta forma, a primeira infância do paciente fora regada de privações e punições sempre que o mesmo não seguisse às ordens de sua mãe. Iniciou-se um ciclo de isolamento. Já por outra perspectiva, o pai do paciente não concordava com as exigências impostas pela mãe do paciente, e devido a discordância entre ambos a mãe acaba por privar as visitas do paciente para com seu pai.

• Aos 06 anos de idade, ‘Vis-&-Bia’ tem sua inserção social e é integrado na rede de ensino pública (escola primária). Ao relembrar o fato, o mesmo destaca que assim que chegou ao local (escola) acompanhado de sua mãe, percebeu-se “diferente dos demais”. Por sua vez, relata que sua mãe em uma tentativa de auxiliar a compreensão a respeito de sua estranheza, utiliza de uma positividade tóxica, menosprezando os problemas enfrentados por pessoas em sua condição (Pessoa com deficiência – PcD), apontando e evidenciando os problemas enfrentados por outras crianças (colegas), tentando forçar uma aceitação e a preferência pelo próprio sofrimento. Desta forma a aceitação fora distorcida em um conformismo – E a orientação da escolha deveria passar a ser o sofrimento e a diferença.

Podemos afirmar que foi neste momento que a escolha original de seu projeto-de-ser aconteceu, sendo este, salientar a diferença. A gênese de seu projeto consistia em escolher a si mesmo em destaque do outro, consciente ou não de seu sofrimento.

Como cuidadora e provedora financeira principal da família, a mãe de ‘Vis-&-Bia’ passou a demandar frequentemente que seu irmão (tio do paciente) tomasse conta de seu filho (paciente) para que o mesmo não precisasse sair de casa. Exacerbando ainda mais o ciclo de isolamento para a criança ‘Vis-&-Bia’.

• Aos 07 anos de idade, o tio que deveria ser cuidador e protetor de ‘Vis-&-Bia’, passa a violentá-lo sexualmente. Embora o paciente estivesse sob a proteção de sua mãe na maior parte do tempo durante a infância, o período em que passava com seu tio era marcado por constantes violências e violações. Os eventos de agressões sexuais tiveram a permanência de 04 anos, indo dos 07 anos de idade até os 11 anos de idade.

O abuso sexual no contexto familiar retrata a violência nas relações interpessoais marcadas pela hierarquia de poder do cuidador abusivo sobre a criança. Tal violência envolve atividades sexuais que violam leis como as que regem a proibição do incesto (Malgarim & Benetti, 2011).

• Aos 08 anos, após sofrer a violência, o paciente toma coragem para buscar ajuda e conta para a mãe sobre a agressão que estava sofrendo por parte do tio. Não acreditando no ocorrido, a mãe ignora o pedido de ajuda, não havendo comoção ou atitude alguma por parte da mãe.

Desta forma, o paciente sofre o primeiro grande abandono.

• Não obstante pelo evento com a mãe – e ainda em busca de ajuda – o paciente procura apelo no restante da família, contando a seus avós e tios sobre a violência que sofria. Porém devido ao descrédito da mãe para com a situação, o restante da família também não levou a sério as denúncias e ignoraram os pedidos de apelo de ‘Vis-&-Bia’.

Formando, assim, o segundo grande abandono. Fica evidente que fora nesta época que ‘Vis-&-Bia’ tivera seu projeto-de-ser deturpado em algo nulo. A noção de ser passa a transfigurar-se na exigência do outro, cria-se o desespero ontológico manifestado na dualidade do desejo e temor frente a qualquer relação humana[9].

• O período destes eventos de violência e isolamento, além do abandono (07 até 11 anos de idade), marcam o início de uma constância de comportamentos agressivos, que se desenvolvem e são expressados pelas exacerbações emocionais e ações danosas a si e a outras pessoas. Também surge uma presente culpabilização em relação a todos os eventos de violência e abandono ocorridos, onde o conflito se direciona ao próprio self.

Como explicam Perrone & Nannini (1998, citado por Padilha & Gomide, 2004), os sentimentos de culpa são frequentes entre os indivíduos que sofreram abuso prolongado, independentemente do grau de cooperação. As taxas de ocorrência reais do abuso sexual são provavelmente mais elevadas do que as estimativas existentes. A maioria dos casos nunca é revelada devido os sentimentos de culpa, vergonha, ignorância e tolerância da vítima. (Amazarray & Koller, 1998, citado por Padilha & Gomide, 2004). Mas ‘Vis-&-Bia’ havia externalizado, havia feito a escolha de revelar, e fora invalidada.

• Aos 12 anos ‘Vis-&-Bia’ inicia o comportamento autoflagelo como forma de viabilizar a dor emocional para a dor física, efetuando cortes em seu corpo, sobretudo, em seus braços. Ressalta-se também a punição que o mesmo dava a si mesmo por ser a si próprio.

Destaca-se o início do ódio/cólera relativo à sua condição PcD. O paciente ao se referir para parte inferior de seu corpo, relatava que estava carregando um “fardo” (SIC) para toda a vida, um fardo que era inútil e desprovido de função/razão. Anteriormente repudiado por sentimentos mistos, originados da impossibilidade de ter/ser o que o outro tem/está sendo, a parte inferior de seu corpo tomava forma de certeza. Para ‘Vis-&-Bia’ criança, a sua condição em relação ao outro era de desejo/raiva por não conseguir brincar/realizar atividades como as demais crianças. Já para ‘Vis-&-Bia’ da pré-adolescência, sua condição representava afirmação de sofrimento, já que não conseguia por si só viabilizar um escape/fuga e/ou solução.

O momento de acentuação da condição de angústia existencial ocorrera durante um dos eventos de violência que sofrera, donde relata que sua mãe flagra o momento da violência e não tomará partido (má-fé): Tanto o autor da violência quanto a vítima (paciente) perceberam a entrada da mesma no local. Quando questionado sobre o que ocorreu após aquilo, o paciente informou com tristeza um “nada” (SIC). A mãe teve o comportamento de congelar o semblante e fugir do local, dando abertura em permissividade para que a violência prosseguisse. Aqui definimos o maior e mais grotesco abandono sofrido por ‘Vis-&-Bia’. Em sua vivência, não só o descrédito em ser acusado como um “ser-mentiroso” por parte da família, como também sua principal protetora lhe abandona quando – nas palavras do paciente – a sua inocência[10] lhe era arrancada. É então, após esta série de eventos, que uma exigência-de-ser deturpada, aparece consolidada, evidenciando o constante medo irracional da possibilidade de abandono.

• Com 13 anos de idade, sua mãe ingressa em um relacionamento homoafetivo. O presente afeto da mãe (até então direcionado apenas para o paciente) por outra pessoa, o faz sentir que a nova parceira de sua mãe deseja afastá-la dele, tomá-la dele, pondo em risco sua relação familiar, atacando diretamente seu já frágil ser. Sofre, assim, com o medo do abandono. Devido estes, surgem intrigas e desavenças entre ambos. O paciente relata que a mãe passou a ficar menos tempo em casa e atribuiu a culpa disso à parceira de sua mãe. Era notável um presente ressentimento e uma explícita raiva sempre que se falava na pessoa que fora parceira de sua mãe.

Neste mesmo período, ocorre a primeira crise psicótica do paciente, donde o mesmo começa a ouvir vozes de comando que delegam a ele a função de realizar ‘coisas ruins’ (SIC), sendo estas descrições de ferir fisicamente a parceira de sua mãe para preservar-se. Após o desenvolvimento do sintoma psicótico, surge o desejo de matar a parceira da mãe e o tio abusador, sendo que as vozes de comando auxiliam nisso, verbalizando métodos e planos para efetuar a tentativa de homicídio.

• Com 14 anos de idade, o paciente influenciado pelas vozes, vai até o supermercado com o pai e às escondidas compra um kit de facas para realizar o plano. Porém, próximo do momento, sentiu-se nauseado e muito mal pelo motivo de ser este que fere o outro. Em estado de desespero após fracassar em executar qualquer tentativa de agressão, o paciente tenta o suicídio ingerindo produtos de limpeza. É levado ao pronto socorro e os danos pela ingestão agravam os problemas intestinais já presentes pela mielomeningocele.

• Com 15 anos de idade, o paciente passa a integrar um grupo social de amizades constituídas em sua escola. Segundo ele, era raro existirem pessoas que o aceitassem. Seus novos amigos lhe deram álcool e cannabis. Passou então a fazer uso das drogas (álcool e cannabis), interrompendo o uso dos medicamentos da mielomeningocele para não obter possíveis efeitos colaterais.

Vemos desta forma que o movimento de fuga começa a acontecer, tanto pela viabilização da consciência reflexiva do uso da droga, quanto pela consciência espontânea ao “dar mundo” às vozes de comando.

Embora as drogas tenham tomado um caminho “anestésico” para os conflitos de ‘Vis&-Bia’, o mesmo relatou que iniciaram o uso das drogas para ter a atenção da família. O mesmo relatou que sua família constantemente o julgava como “o problema”, então ele tornou-se “o problema” (má-fé). Segundo ele, este era o único jeito de ser visto e atendido, do contrário, se ele não causasse problemas, a família o ignorava. Vê- se, desta forma, como ‘Vis-&-Bia’ escolhe ser aquele que a família lhe dizia que ele era, ao escolher a escolha do outro. Em busca de um escape para a solidão, mas também como uma evitação de que o abandonassem, fazia-se problema, requisitando o envolvimento e/ou intervenção do outro.

A mãe do paciente descobre sobre a pausa dos medicamentos e consequentemente vai em busca do motivo. Descobre, desta forma, sobre o uso das drogas e como consequência disto, toma uma medida extrema: expulsando ‘Vis-&-Bia’ de casa, efetivando, portanto, outro abandono.

• Ainda com 15 anos, o paciente passa então a morar com seu pai, o qual não possuía vínculo afetivo. Em pouco tempo percebe-se morando com um desconhecido (seu pai) e tornando-se responsável pela maioria de seus cuidados – que antes eram realizados por sua mãe. Passa a sentir-se mais solitário e isolado devido a troca de residência e ao ‘corte’ para com as antigas amizades (que antes lhe eram mais acessíveis).

Também devido a troca de residência, a unidade básica de saúde (UBS, também chamada de ESF[11]) de sua antiga região passou a não visitá-lo (delegando esta função a UBS de sua nova região). Com o cadastro não refeito e, portanto, desatualizado, o paciente passa a não ser mais assistido pela atenção básica do sistema único de saúde (SUS) de sua cidade.

Com o tempo, passa a sentir-se mais vazio e solitário e o isolamento começa a tornar-se mais uma característica insuportável em sua vida. Assim, a abertura para a possibilidade de uma fuga de sua realidade por meio do imaginário (mágico), auxilia o retorno das vozes. Estas passam a delegar novamente as ideias homicidas/de vingança.

• O paciente, agora com 17 anos, passa novamente pela tentação das ideias que as vozes lhe atribuíam, porém, assim como antes, não consegue sustentar uma realidade onde seria o agressor e torna a tentar suicídio, desta vez, por ingestão de medicamentos e álcool. Sobrevivendo ao mesmo, a família decidiu interná-lo em uma clínica por 01 mês.

Como punição e tentativa de acautelar que o paciente tivesse acesso as bebidas alcoólicas (usadas na tentativa de suicídio), o pai retira o paciente de sua residência, e o coloca para morar em uma construção anexa aos fundos da casa da avó do paciente. Agravando assim os sentimentos de solidão que o paciente sentia. É válido ressaltar o processo dialético das relações do paciente para com sua família, pois, seja pela falta de vínculo, preceitos e medos, o diálogo nunca fora constituído de forma efetiva em suas relações familiares.

• Aos 19 anos de idade, ‘Vis-&-Bia’ assume sua homossexualidade. A família não aceita o mesmo, sobretudo, seu pai, que o pune retirando deste o acesso à internet, sendo este o único meio de contato efetivo com outras pessoas usado pelo paciente[12]. Considera-se que neste ponto de abandono e solidão, a realidade de ‘Vis-&-Bia’ tornara-se tão insuportável, que a viabilização de uma saída mágica (imaginária) de sua realidade (Ferreira, 2020a), fora forçada e subjetiva. Desta forma o paciente passa a organizar a vida pelo imaginário e não mais pela realidade (Sartre, 1940, p. 307, citado por Schneider, 2011)

A incompreensão, ou melhor, o sentimento de incompreensão sentido e experienciado pela pessoa que se sente solitária, é o que se estabelece como critério da própria relação solidão. Assim ocorre a primeira dissociação relativa ao fechamento da personalidade. Se registra de maneira definida a dualidade do que caracterizaria o início de uma possível divisão-de-ser, ocorrendo como a criação de um pseudoself para defesa frente ao vazio existencial que se torna crônico e a solidão que lhe era insuportável. Como citado anteriormente, ‘Vis-&-Bia’ criou um segundo self para servir-lhe de proteção e viabilização, sendo que, seria designado a este segundo self, possuindo todas as atribuições que lhe faltavam frente ao todo que lhe feria. É claro que esta saída não é uma saída concreta para a situação, mas uma forma de o próprio paciente colocar-se numa posição de valor/destaque (escolha original), donde conseguiria lutar e prevalecer as dificuldades impostas pela sua historicidade. De uma maneira metafórica, podemos dizer que a divisão de self ocasionava um “cabo-de-guerra” onde ambas as partes se puxam para lados opostos, como em “simbiose”. Assim sendo, estabelece o desespero em uma recusa de ser a si mesmo, tanto o nome (Vis) pela sua impotência e solidão, quanto o pseudonome[13] (Bia) pela impulsividade e agressividade.

Atendendo por dois perfis de distintos estados de humor[14], comportamentos e níveis de consciência, tais características de personalidade mostravam, lentamente, forma e nome. Para com tais, o paciente criara um pseudônimo que descreve outra forma de ser, pseudo independente e constituidora de seu self pessoal:

1-   Ao paciente se chamar pelo próprio nome (exemplo: “Vis”), integrava características tanto internas quanto externas, como o uso de ‘roupas populares’, semblante apático, fala baixa e lenta (como se estivesse desinteressado), humor deprimido e melancólico, comportamento retraído, trazendo como certezas a desesperança e a impotência, colocando-se como uma pessoa sofredora e fraca.

2-   Ao paciente se chamar por seu pseudônimo, que havia criado para si mesmo (exemplo: “Bia”), era frequente o uso pesado de maquiagem e o uso de roupas extravagantes, possuía um semblante opaco e alegre, e agia com impulsividade, falava alto e por vezes interrompendo a fala de outrem (com certeza de suas afirmações), humor hipomaníaco e vivaz, trazendo como certezas uma invulnerabilidade perante as situações da vida, colocando-se como uma pessoa “iluminada” e repleta de saberes inquebrantáveis.

Ao decorrer dos fenômenos últimos, o paciente passa a relatar o hedonismo como característica de imposição. O fenômeno, mais tarde, referido como formas de compulsões voltadas à impulsividade em busca de alívio imediato ou prazer imediato. Estes eram relatados como “incontroláveis” (SIC), em eventos pertinentes a busca de afeto libidinal, o álcool e a comida, sendo que a última (devido ao acesso fácil em relação às outras) tornara-se mais acentuada. Nestes, é válido incluir os comportamentos manipulativos do paciente que foram aperfeiçoados com o experienciar das situações vividas. O que antes era usado como defesa, agora integrava as certezas-de-ser do paciente. Contemplando, desta forma, a necessidade de provar-se em uma superioridade ocasional, mesmo que, fosse prejudicado no processo (o paciente agia para ter a “razão” sobre determinadas preposições).

Com o aumento exponencial do sofrimento do paciente e as notáveis alterações comportamentais do mesmo, houve a tentativa por parte do pai, de obrigá-lo a realizar atendimento psicológico com uma psicóloga com quem mantinha relações afetivas. Temendo ser “controlado” o paciente solicita para que se buscasse outro(a) profissional, que não uma pessoa diretamente ligada à sua família. Porém teve seu pedido negado. Mais uma vez se nota a negligência em relação a liberdade da pessoa, tendo em vista que, a intencionalidade do paciente é de que o profissional que realizasse seus atendimentos não tivesse vínculos afetivos com sua família, e não a recusa ao próprio processo psicoterapêutico. Fica evidente, não apenas pelas experiências passadas, mas pela realidade enfrentada na contemporaneidade do paciente, a necessidade de se ver enxergado e com valor, a necessidade de se ver existindo – sobretudo – como um ser que tem sua autonomia e liberdade.

• Agora, o paciente com 20 anos, destaca que após estes anos de isolamento constante e de sua espécie de “cárcere” frente às punições da família, iniciou-se a sintomática de lapsos de perda de memória (possivelmente atrelados a dissociação), que passam a integrar seu dia-a-dia. Há uma confusão cognitiva que torna implícita a fusão de passado, presente e futuro[15].

Estes eram notáveis logo nas primeiras sessões, onde na recusa de confiar suas intimidades, o mesmo colocava a situação como “superada”, evitando desta forma, o aprofundamento, ou até mesmo o próprio assunto. Novamente, se realiza a evidência do comportamento de má-fé ao realizar estes. Fora entrando em um estado de confusão sobre o período do processo psicoterapêutico[16], não conseguindo situá-lo corretamente em período cronológico.

Foi desta maneira que o paciente, tentando realizar seu projeto-de-ser, em meio a angústia do desespero e influenciado pelo seu meio antropológico, decide lançar-se para profissões de criação de conteúdo na internet[17]. Forma esta encontrada para aumentar a participação e a vivacidade do pseudônimo sobre o nome, tornando assim, “Bia” viva por mais tempo do que “Vis”. Embora o desejo do paciente fosse autêntico, pois viabiliza seu projeto original, a família o impõe a necessidade de continuar os estudos, obrigando-o a cursar o ensino superior, sendo este, de responsabilidade do paciente escolher o curso. O mesmo opta pela escolha de serviço social.

Devido a faculdade, conhece os serviços prestados pelos serviço-escolas (sobretudo a clínica-escola de psicologia) e vai em busca da psicoterapia. Em meio a pandemia do vírus SARS-CoV-2, cria-se a possibilidade do atendimento psicológico, integrado e realizado pelos acadêmicos.

• Com 21 anos, ‘Vis-&-Bia’ inicia os atendimentos psicológicos e seu processo psicoterapêutico.

5  Conclusão

A personalidade borderline possui em sua estrutura o medo ativo do abandono intimamente interligada com os rompimentos de “limites” que integram a pessoa em seu corpo bio-psico-físico, seus processos psicológicos e suas noções de self, que passam a serem interpretadas como ‘invasões’ que rompem as “linhas de borda” do que se define como integralidade do ser (noções de self, noções sociais, e noções de mundo/realidade). O sofrimento, dá-se pelo conflito de ter que buscar no outro, que internalizou como uma ameaça, a sua proteção (Bocca & Freitas, 2016). O modo de ser borderline é uma forma de relacionar-se com o mundo, mesmo que deturpada pela constante ameaça e oscilações de humor, ainda assim, encontra-se em busca do movimento autêntico que integre a realização de seu projeto-de-ser.

O sofrimento em si, deve ser buscado na singularidade de cada sujeito que o sofre: Cada uma das condutas humanas, sendo conduta do homem no mundo, pode nos revelar ao mesmo tempo o homem, o mundo e a relação que os une. (Sartre, 1943,p. 44, citado por Pragmácio & Boris, 2018).

Podemos verificar na cronologia dos eventos demarcados pelos nomes presentes durante as investigações psicológicas, o elencar de uma série de fenômenos cujos quais ‘Vis-&-Bia’ não possuía condições de enfrentamento, tanto singular quanto social. Tanto a pesquisa bibliográfica quanto o caso clínico apontam para a infância, sobretudo, tendo sua etiologia com eventos que demarcam os processos de formação da personalidade. Eventos como: o avanço exacerbado dos limites reforçados diversas vezes (quanto violências extremas); abandonos grotescos; a série de imposições familiares (inautenticidade); a solidão; a não valorização do emocional; a ausência de sentido existencial; e por fim, a necessidade de uma saída imaginária frente às violências. Para Dör (1993, citado por Melo et al., 2009), a gênese do adoecimento do sujeito borderline encontra-se na unilateralidade, o que significa que ele encaminha o seu projeto de vida em uma direção ou em outra, isto é, numa exclusão das possibilidades e na impossibilidade de seu entrelaçamento. Para Dör (1993, citado por Melo et al., 2009), tal unilateralidade acontece no momento do encontro primário com o mundo, ou seja, na infância. Sendo estes, cruciais para o desenvolvimento de uma personalidade borderline.

Aparentemente o desamparo, a fragilidade do self e a invalidação das necessidades estão infimamente conectadas aos objetos[18]-emocionadores que permeiam a instabilidade. A falta de autocompreensão, e a solidão estão atreladas à própria vivência da qual se manifesta o próprio afetamento. No caso de ‘Vis-&-Bia’, quando nenhum adulto o auxilia durante a infância e, a necessidade de realizar a escolha de “o que fazer com o que fizeram de si” (Sartre, 1952, citado por Schneider, 2006), mesmo sem ter condições para tal, fizeram com que comportamentos dicotômicos surgissem. A intencionalidade e a efetividade de suas escolhas geram comportamentos de auto abandono como forma de solucionar o conflito do medo ativo e do desespero frente a possibilidade do abandono.

É pertinente ressaltar que o comportamento de auto abandono pertence a condutas de má-fé, como respaldo histórico, segregação diagnóstica, além de responsabilizar excessivamente o outro (objetivo/externo). Desta forma, comportamentos manipulatórios (e até mesmo a psicose), podem se tornar formas de proteger-se daquilo que ameaça suas existências, incluindo a si próprios. A unilateralidade citada anteriormente (Dör, 1993, citado por Melo et al., 2009), faz com que o projeto-de-ser da pessoa não se viabilize dentre multiplicidade existencial. A constituição da gênese do sofrimento borderline é, portanto, o auto abandono em/de seu projeto-de-ser, que leva a pessoa a extensão da grande gama de sofrimentos e sintomas descritos anteriormente. É, portanto, aqui que definimos o epicentro que capacita ao psicólogo a conseguir realizar precisamente uma intervenção de gênese.

Podemos pontuar que este também fora o fator de sofrimento mais intenso relatado no caso ‘Vis-&-Bia’. Fora apenas durante as sessões psicoterápicas, que ‘Vis-&-Bia’ pode chegar a sua compreensão de sujeito, aceitamento de condição e tratamentos, além da atitude autêntica, e enfim, a liberdade.

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1Bacharel em psicologia pelo centro universitário Dante Alighieri (UNIDANTE), formação em psicologia clínica pelo Centro de Psicologia Simone de Beauvoir. CRP 12/21659 – Contato: (psicologoleonardomello@gmail.com).

[2] Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde – Vol 10 (CID10). Amplamente utilizado em todo sistema público de saúde no Brasil.

[3] A partir deste momento utilizaremos as letras TPB para nos referirmos ao Transtorno de personalidade com instabilidade emocional (Borderline) – Cid10: 60.3. 4 E não etiologia – Como já citado acima.

[4] Nome fictício utilizado para preservar a identidade do paciente. Vis-&-Bia faz alusão ao mito grego e ao mito romano sobre o conceito de ‘força’, apresentados nos contos relativos a titanomaquia. 6 Mielomeningocele.

[5] A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maioria (cerca de 80%) dos pacientes com COVID-19 podem ser assintomáticos ou oligossintomáticos poucos sintomas), e aproximadamente 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório.

[6] A mielomeningocele é um tipo de espinha bífida aberta. Logo é a forma mais grave da doença. Na mielomeningocele, uma porção da medula espinhal do bebê e dos nervos adjacentes se projetam através de uma abertura na coluna vertebral. Um disco ou bolsa exposta e plana é visível nas costas. Isso expõe a medula espinhal do bebê ao líquido amniótico no útero da mãe e pode ser prejudicial ao desenvolvimento do bebê. Portanto a mielomeningocele é o único tipo de espinha bífida que expõe a medula espinhal do bebê ao líquido amniótico. As crianças que nascem com mielomeningocele podem ter sérios problemas de saúde, como hidrocefalia (acumulação excessiva de líquido no cérebro) e paralisia. A gravidade da paralisia depende de onde a abertura ocorre na coluna. Quanto mais alta a abertura geralmente pior é o prognóstico.

[7] Como citado anteriormente pela pesquisa bibliográfica, para o TPB, frente ao desespero estes são indivisíveis.

[8] Constantemente era escolhido a palavra “inocente” para descrever-se na lembrança da época (Infância/préadolescência). O sentimento de culpa atrelado a perda da inocência.

[9] As unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF) surgiram para reorganizar o sistema de atenção básica, com o intuito de melhorar o acesso da comunidade à rede de saúde. Fonte: https://www.saofranciscodosul.sc.gov.br/noticia/6056/entenda-como-funciona-uma-unidade-de-estrategiasaude-da-familia-esf-

[10] Chamo aqui por “efetivo”, devido ao fato de que, nas relações virtuais da época, a autenticidade ainda se fazia presente.

[11] Nomearemos o pseudoself como pseudonome.

[12] É valido ressaltar que a hipótese de transtorno maníaco-depressivo fora levada em consideração e descartada após longa investigação do caso e a ruptura de aspectos necessários a definição do diagnóstico. Os humores de ‘Vis-&-Bia’ não possuíam fases distintas, eram presentes em oscilações. Ficara evidente no decorrer dos atendimentos, que os humores estavam associados a personalidade e não a estágios mentais específicos.

[13] Estes sintomas já haviam sido relatados anteriormente, optou-se por situa-los neste momento pela sua acentuação e a tomada de consciência destes pelo paciente.

[14] Durante os primeiros três meses, era frequente ouvir do paciente que o mesmo estava em processo psicoterapêutico durante um ano.

[15] Como fator antropológico e contemporâneo, sobretudo entre os mais jovens, a internet pode ser usada para alcançar visibilidade e o afeto pela simples exposição da vida. Como afirma o sociólogo Zygmunt Bauman (1997, como citado em Guedes, 2005) sobre a contemporaneidade de relações liquidas em que o medo da exposição foi abafado pela alegria de ser notado. Aqui, para relação do caso, a necessidade encontrou a oportunidade. A socialização (pelo menos na sociedade moderna) visa a criar um ambiente de ação feito de escolhas passíveis de serem ‘desempenhadas discursivamente’, que se concentra no cálculo racional de ganhos e perdas” (Bauman, 1997, p. 138, como citado em Guedes, 2005).

[16] Tudo que for externo ao sujeito (pertencente ao mundo concreto-objetivo).


Nota de agradecimento: O autor agradece ao Centro de Psicologia Simone de Beauvoir
(centrosimonedebeauvoir@gmail.com) pelo auxílio e suporte teórico e técnico que possibilitaram a elaboração prática das intervenções de investigação presentes no caso descrito neste artigo.