USO DE TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES DURANTE GESTAÇÃO E PARTO

USE OF INTEGRATIVE AND COMPLEMENTARY THERAPIES DURING PREGNANCY AND DELIVERY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8280833


Paloma Santa Rosa Alves
Aryanne Silva Teixeira dos Santos
Patrick Guirra Oliveira
Caroline Vitorino Feitosa dos Santos
Cristiane dos Santos Santana
Gessica de Jesus do Amor Divino Caldas
Darlene Alves Andrade
Henrique Almeida Assis Costa
Cássia Menaia França Carvalho Pitangueira
Carlos Jefferson do Nascimento Andrade


RESUMO

Introdução:As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são métodos terapêuticos que auxiliam no processo saúde-doença, com destaque na escuta acolhedora, no aperfeiçoamento do vínculo terapêutico e na inclusão do cuidado holístico humano. Objetivo:Analisar os benefícios do uso da aromaterapia, auriculoterapia e acupuntura durante a gestação e parto. Metodologia: Revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa. Foram selecionados 10 artigos, identificados pelo título e resumo, utilizando o buscador booleano AND. ResultadoseDiscussão:A enfermagem tem um papel no oferecimento dessas terapias para as gestantes e parturientes nos momentos oportunos. É comumente vista a utilização dessas técnicas durante a fase ativa do parto, porém há um crescimento do uso no decorrer de toda a gestação. O atendimento singular, individualizado e holístico juntamente com o uso das terapias integrativas e complementares são práticas benéficas durante o ciclo gestacional, porque promovem o bem-estar do binômio mãe-bebê e auxiliam na minimização dos sintomas apresentados pela gestante. Conclusão: Redução da ansiedade, redução de dores durante a gestação e no trabalho de parto, redução do tempo de trabalho de parto e auxílio no autoconhecimento da mulher pelo próprio corpo foram os benefícios oferecidos pela utilização das terapias.

Palavras-chave: Gestação. Parto. Práticas Integrativas e Complementares.

ABSTRACT

Introduction:Integrative and Complementary Health Practices (ICHP) are therapeutic methods that help in the health-disease process, with emphasis on welcoming listening, improving the therapeutic bond and the inclusion of holistic human care. Objective:To analyze the benefits of using aromatherapy, auriculotherapy and acupuncture during pregnancy and childbirth. Methodology:Bibliographic review, with a qualitative approach. Ten articles were selected, identified by title and abstract, using the boolean AND search engine. Results and Discussion: Nursing has a role in offering these therapies to pregnant and parturient women at appropriate times. It is commonly seen the use of these techniques during the active phase of childbirth, but there is an increase in use throughout pregnancy. Unique, individualized and holistic care together with the use of integrative and complementary therapies are beneficial practices during the gestational cycle, because they promote the well-being of the mother-baby binomial and help to minimize the symptoms presented by the pregnant woman. Conclusion: Reduction of anxiety, reduction of pain during pregnancy and labor, reduction of labor time and assistance in the woman’s self-knowledge by her own body were the benefits offered by the use of therapies.

Keywords: Pregnancy. Childbirth. Integrative and Complementary Practices.

1. INTRODUÇÃO

A gestação é um processo fisiológico que ocorre após a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, esse período é representado por grandes mudanças, não só para a mulher, como também para seu (sua) parceiro (a) e família (BRASIL, 2020). As transformações que acontecem no corpo da mulher durante a gestação fazem com que alguns sintomas próprios da gravidez surjam, com alguns sendo mais presentes do que outros e que variam de gestante para gestante (BRASIL, 2020).

O parto é um momento de grande veemência e durante o processo, até a saída do bebê, a mulher passa por diversos períodos de dor, que podem ser reduzidos através de métodos que ajudem a mulher relaxar e assim facilitar o trabalho de parto.

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) define a dor como uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial (SBED, 2020). De acordo com Read (1933, apud FREDDI, 1973), a tríade “medo-tensão-dor” é a responsável pela dor e desconforto no momento do parto, essa tríade inicia-se desde o descobrimento da gravidez, onde a mulher, por conta de influências ambientais, fica com medo da situação em que se encontra e do que se espera no futuro, o que leva a tensão surgir, que impossibilita a coordenação da contratilidade uterina, e assim a dor acontece. A dor aumenta o medo, que aumenta a tensão e acaba levando a parturiente a entrar em um círculo vicioso.

Uma das ações proposta pela portaria n° 1.459, de 24 de junho de 2011 – que institui a Rede Cegonha – é a “prática de atenção à saúde baseada em evidências científicas”, que apesar de seguir os termos do documento apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 1996, já era proposto a utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor.

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são métodos terapêuticos que auxiliam no processo saúde-doença, com destaque na escuta acolhedora, no aperfeiçoamento do vínculo terapêutico e na inclusão do cuidado holístico humano (BRASIL, 2015).

Em 2006, foi implantado no Brasil a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), com a intenção de entender, apoiar, incorporar e concretizar práticas que já vinham sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados (BRASIL, 2015).

A utilização dessas práticas integrativas e complementares durante todo o processo de gestação e parto fazem com que haja uma participação ativa das mulheres nesse momento especial, dando mais autonomia para suas escolhas e dando suporte social e emocional (BORGES; MADEIRA; AZEVEDO, 2010).

Deste modo, o presente estudo avaliará o uso de terapias complementares e integrativas durante a gestação e parto, evidenciando os resultados satisfatórios da utilização, de forma que os profissionais de saúde aprimorem seu aprendizado técnico-científico voltado a essas práticas, e que busquem auxiliar as gestantes e parturientes.

Sendo também utilizado para que os estudantes de enfermagem busquem informações sobre a temática para respaldar a atuação profissional no futuro, estimulando assim ambas as classes a adotar esse tipo de cuidado.

Tendo isso em vista, a questão norteadora é: quais são os benefícios do uso das terapias integrativas e complementares durante a gestação e parto? E para melhor análise, foi utilizado como objetivo geral: especificar quais são as terapias integrativas e complementares mais utilizadas durante a gestação e parto. E específico: analisar os benefícios do uso da aromaterapia, auriculoterapia e acupuntura durante a gestação e parto.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa, que consiste em abordar nos benefícios da utilização das práticas complementares e integrativas nas gestantes e parturientes. A revisão bibliográfica, segundo Alves-Mazzotti (2002, apudVOSGERAU; ROMANOWSKI, 2014), tem a intenção de construir um conteúdo para o problema e analisar as hipóteses existentes na bibliografia examinada para a criação do referencial teórico do estudo. A pesquisa qualitativa não se baseia na verificação de estatística para sua conclusão ou em recursos quantitativos para junção de fatos, mas sim na experiência pessoal frente a uma ideia ou evento (CÂMARA, 2013; GLAZIER & POWELL, 2011, apud,CÂMARA, 2013).

Utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica, as quais foram consultadas nos seguintes bancos de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Os critérios de inclusão desta pesquisa foram artigos que estivessem na língua portuguesa, com textos completos, com data de publicação entre os anos de 2012 e 2022 e os que estavam de acordo com o objetivo de estudo. Segundo os critérios de exclusão: artigos em língua estrangeira, textos incompletos, artigos de revisão e sem conformidades com o assunto, definimos os trabalhos que não participaram deste estudo. Após a leitura dos resumos, os que não relacionavam de alguma forma com o estigma sobre a área do objeto do estudo também foram excluídos.

A busca bibliográfica foi feita na Biblioteca Virtual em Saúde utilizando os descritores: “práticas integrativas” AND “gravidez” AND “parto”, em seguida foi alterado o descritor “práticas integrativas” para os métodos expostos no estudo: “aromaterapia”, “auriculoterapia” e “acupuntura”, e “práticas integrativas” AND “gestação” AND “parto”. Foi realizada também uma pesquisa apenas com o descritor “aromaterapia”. Para a pesquisa no SCIELO foram utilizados os descritores: “acupuntura”, “auriculoterapia”, “aromaterapia”.

A busca inicial teve como resultados 186 publicações, sendo 77 do Portal BVS e 109 do SciELO. Após a pesquisa, foram aplicados os critérios de exclusão, pois os de inclusão foram utilizados para filtrar os artigos, e desta forma, foram selecionados 10 artigos, sendo 2 do SciELO e 8 do Portal BVS.

Decidiu-se por empregar as três etapas apresentadas por Bardin (2016) no livro Análise de Conteúdo, são elas: 1) pré-análise, 2) exploração do material, 3) tratamento dos resultados. A primeira etapa consiste em sistematizar as ideias, tornando-as operacionais, de forma a facilitar o desenvolvimento dos estágios seguintes. A organização ocorre em quatro partes: (a) leitura flutuante, onde ocorre o primeiro contato com o texto e começa a conhecê-lo; (b) escolha dos documentos a serem estudados; (c) formulação das hipóteses e dos objetivos, decidindo o que vai ser verificado de forma provisória; (d) referenciação dos índices e a elaboração de indicadores (BARDIN, 2016).

A segunda etapa é a exploração do material, que consiste na classificação dos dados como forma de facilitar o acesso as características apropriadas do conteúdo (BARDIN, 2016). A terceira etapa consiste no tratamento dos resultados, onde ocorre a interpretação das resoluções obtidas durante as fases anteriores e destacam as principais a serem analisadas (BARDIN, 2016).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o quadro 1 que expõe os estudos citados nesta revisão bibliográfica, sobre o uso de terapias complementares e integrativas durante a gestação e o parto, foi notório a prevalência de trabalhos elaborados nos anos de 2016 (n=2), 2018 (n=1), 2019 (n=3), 2020 (n=1), 2021 (n=2), 2022 (n=1).

A enfermagem tem um papel no oferecimento dessas terapias para as gestantes e parturientes nos momentos oportunos, explicando como é realizada tais práticas e quais os benefícios irão trazer. É comumente vista a utilização dessas técnicas durante a fase ativa do parto, porém há um crescimento do uso no decorrer de toda a gestação.

Quadro1: Quadro-síntese das características dos estudos incluídos na revisão integrativa. Salvador, BA, 2022.

Autor, Ano, RevistaObjetivoTipo de estudoResultados

DUARTE, et al. 2019 Cogitare Enfermagem

Identificar as tecnologias do cuidado utilizadas por enfermeiras obstétricas em um Centro de Parto Normal.



Estudo descritivo
A enfermeira obstétrica utiliza métodos não farmacológicos como banho de aspersão, massagem, bola suíça, cavalinho, aromaterapia, musicoterapia, livre movimentação, ambiente acolhedor e presença do acompanhante, como práticas do seu cuidado junto às mulheres.
MAFETONI, et al. 2018 Revista Mineira de Enfermagem – REME

Avaliar os efeitos da auriculoterapia sobre o tempo de trabalho de parto e taxa de cesárea.


Ensaio clínico controlado e randomizado
A média de duração do trabalho de parto foi menor no grupo de auriculoterapia (607,8 versus placebo: 867,9 versus controle: 694,7 minutos; p-valor = 0,845); a taxa de cesárea foi maior no grupo placebo (55,9% versus auriculoterapia: 26,5% versus controle: 20,6%; p-valor = 0,0045).


MAFETONI, SHIMO 2016 Revista da Escola de Enfermagem da USP




Avaliar os efeitos da auriculoterapia no controle da dor e seus desfechos na duração do trabalho de parto.




Ensaio controlado, randomizado e duplo-cego
Não houve significância estatística entre os grupos com relação à dor; no entanto, as mulheres do grupo de auriculoterapia, apresentaram menor intensidade e menor percepção da dor aos 30, 60 e 120 minutos do tratamento. A média de duração do trabalho de parto foi menor no grupo de auriculoterapia (248,7 versus placebo 414,8 versus controle 296,3 minutos); a taxa de cesárea foi maior no grupo placebo (50%) e igual nos outros (10%).
CHEROBIN, OLIVEIRA, BRISOLA 2016 Cogitare Enfermagem
Analisar os resultados da acupuntura e auriculoterapia como controle da dor


Pesquisa convergente assistencial


Demonstraram que n=15 (79%) das mulheres obtiveram alívio da dor nos primeiros 30 minutos de tratamento.

MARTINS, et al. 2019 Acta Paulista de Enfermagem
Avaliar os efeitos da prática de acupuntura realizada no alívio da dor lombar em gestantes que se encontram no segundo e terceiro trimestre de gravidez, bem como na execução das atividades diárias.


Estudo quase experimental
Encontrou-se redução significante (p<0,05) dos escores do índice de dor. A média da dor diminuiu na avaliação da segunda (4,92), quarta (3,24) e sexta (1,00) sessão. Algumas mulheres tiveram sua dor cessada antes de completar as seis sessões e houve melhora nas atividades prejudicadas pela dor.
PRATA, etal. 2022 Escola Anna NeryDescrever as contribuições terapêuticas da utilização de tecnologias não invasivas de cuidado, oferecidas por enfermeiras obstétricas, durante o trabalho de parto.
Estudo qualitativo e descritivo
Para aliviar a dor e promover relaxamento, recorrem ao estímulo à participação do acompanhante e à respiração consciente, à aplicação da massagem, à promoção do ambiente acolhedor e ao uso da água morna e dos óleos essenciais. Para ativar o trabalho de parto, auxiliar na descida da apresentação e correção do posicionamento fetal, incentivam posicionamentos verticalizados e movimentos corporais, com alguns instrumentos.
PAVIANI, TRIGUEIRO, GESSNER 2019 Revista Mineira de Enfermagem – REME

Descrever o estado atual dos conhecimentos sobre o uso de óleos essenciais no trabalho de parto e parto.




Revisão de escopo
Da análise, diversos óleos essenciais foram citados, bem como sua forma de aplicação, em destaque para a lavanda. A utilização dos óleos essenciais resumiu-se nas seguintes finalidades diminuição da dor e da ansiedade, melhora da satisfação materna e diminuição da duração do trabalho de parto, náusea e vômito.
LARA, etal. 2021 Revista de Pesquisa Cuidado é FundamentalO estudo descreve a vivência de mulheres submetidas ao uso de essências florais como terapia não farmacológica para o alívio da dor e ansiedade durante o trabalho de parto.

Pesquisa descritiva exploratória
Constatou-se que os efeitos da terapia floral, atuaram em sinergia, na redução dos sintomas de estresse- medo-tensão, além do aumento do bem-estar emocional proporcionando às parturientes a oportunidade de protagonizar o seu próprio trabalho de parto e parto.



BOMFIM, et al. 2021 Revista Baiana de Enfermagem




Conhecer a percepção de mulheres sobre a assistência de Enfermagem recebida durante o processo de parto normal.





Descritiva com abordagem qualitativa
Emergiram duas categorias científicas: assistência de Enfermagem permeada por satisfação; e assistência permeada por relações verticais e sentimentos de abandono. As mulheres verbalizaram satisfação com a assistência de Enfermagem relacionadas à aplicação dos métodos não farmacológicos para alívio da dor, apoio e promoção do bem-estar, embora também se fez presente a verticalização das relações e a ausência de acompanhamento profissional.



SILVA, etal. 2020 Acta Paul Enfermagem



Avaliar os efeitos da auriculoterapia nos níveis de ansiedade em gestantes atendidas em pré-natal de baixo risco.



Estudo clínico randomizado, simples-cego
No primeiro momento ambos os grupos apresentaram Traço de Ansiedade e Estado de Ansiedade em nível médio, não houve diferença estatística entre os grupos, o que evidenciou homogeneidade da amostra (p=0,385 e p=0,352, respectivamente); após a intervenção com auriculoterapia houve uma redução significante do Estado de Ansiedade do grupo intervenção (p=0,033) entre a terceira e quarta consulta, o mesmo não ocorreu no grupo controle (0,052).

Compreender o que a mulher está passando durante a gestação e parto, contribui na forma de como auxiliá-la, Paviani, Trigueiro e Gessner (2019), afirma que o atendimento singular, individualizado e holístico juntamente com o uso das terapias integrativas e complementares são práticas benéficas durante o ciclo gestacional, porque promovem o bem-estar do binômio mãe-bebê e auxiliam na minimização dos sintomas apresentados pela gestante.

Em complemento a Paviani, Trigueiro e Gessner (2019), Lara et al. (2020) declara que manter o equilíbrio emocional da mulher desde a gestação ao momento do parto é fundamental para o alívio da dor e ansiedade, facilitando dessa forma todo o processo ao qual o corpo da mulher é exposto.

A dor referida no parto não é decorrente apenas de fatores físicos, mas também é envolvida a fatores emocionais, sensoriais e culturais. Dessa forma, fica evidenciado que ações que reduzam o estresse e ansiedade da gestante durante o trabalho de parto auxiliarão na diminuição da dor. Nesse sentido, é importante que os enfermeiros obstetras desenvolvam ações para a evolução fisiológica que reduzam o estresse e a ansiedade no trabalho de parto (LARA etal.,2020).

Duarte etal.(2019) traz em seu estudo a importância da utilização de métodos não tecnicista para a autonomia da mulher, pois eles garantem a segurança e favorece o relaxamento para que o parto aconteça de forma mais fluída. A mesma autora também afirma que tais práticas, que serão oferecidas pelos profissionais de enfermagem à parturiente, não devem ser invasivas e não podem interferir no processo de parturição.

Em concordância a Duarte et al. (2019), Prata et al. (2022) traz em sua pesquisa que as práticas integrativas tendem a valorizar o protagonismo feminino, dando as mulheres opções para que possam escolher como querem ser cuidadas, sem a necessidade do uso de técnicas metódicas, prezando-a como pessoa única e com desejos únicos.

Complementando Duarte etal.(2019) e Prata etal.(2022), Bomfim etal.(2021) afirma que uma relação direta entre o profissional de saúde e as parturientes, durante o parto, auxilia no processo da atenção oferecida, estimulando uma participação ativa tanto da mulher quanto do acompanhante e proporcionando a liberdade de escolha sobre qualquer método que possa ser utilizado. A valorização do protagonismo é um passo importante para humanizar a assistência oferecida no processo de parturição, dando a mulher a oportunidade de decidir o que realizar no seu momento.

Paviani, Trigueiro e Gessner (2019) também falam que a contribuição desses métodos complementares não é só na diminuição do uso de medicamentos analgésicos e anestésicos durante todo o processo de parição, como também na redução da dor e no avanço do trabalho de parto.

O cuidar desmedicalizado está inserido no tratamento oferecido pelos enfermeiros, que são os profissionais mais próximos das parturientes, e que, de acordo com Prata et al. (2022), tais especialistas devem associar os conhecimentos teóricos ao comportamento apresentado pela mulher durante o atendimento que está sendo realizado, visando a autonomia feminina e respeitando a fisiologia do momento.

Apesar de existir variadas técnicas não farmacológicas que podem auxiliar de diversas formas durante o processo de gestação e parto, Duarte et al. (2019) orienta que a oferta dessas práticas devem ocorrer de forma individualizada e como opção, não obrigatoriedade. A responsabilidade da explicação sobre cada método que poderá ser utilizado para com a mulher, de forma a melhorar a gestação, auxiliar no parto ou diminuir a dor, é do profissional que está oferecendo o cuidado.

A aromaterapia é uma técnica que consiste na utilização de óleos essenciais, de forma tátil ou olfativa, com a intenção de atuar em quadros patológicos e psicológicos (PAVIANI, TRIGUEIRO E GESSNER, 2019). Todos os autores que estudaram a aromaterapia como foco principal ou secundário, encontraram resultados satisfatórios na redução de dor e ansiedade nas gestantes e parturientes.

Tanto Paviani, Trigueiro e Gessner (2019), quanto Prata etal.(2022), apresentam em seu trabalho que os aromas utilizados por via inalatória agem diretamente no sistema límbico e no hipotálamo, ativando receptores que auxiliam no controle das emoções e sentimentos, resultando em mudanças físicas e psicológicas.

Duarte et al. (2019) traz em seu estudo resultados relacionados a outros trabalhos pesquisados pelos próprios autores, de acordo com tais artigos, o uso da aromaterapia juntamente com as massagens, promoviam relaxamento, atenuando a dor, a ansiedade e o medo em 89% das participantes, porém não influenciavam o parto normal em nenhum nível. Ao trazer efeitos significativos na percepção da dor e da ansiedade, a duração das fases do processo de parto eram reduzidas, por conta de impulsionar os receptores sensitivos e, dessa forma, quebrar o círculo vicioso da tríade “tensão-medo-dor”.

Em consonância a Duarte et al. (2019), Lara et al. (2020), declara que seu estudo concluiu que o uso da essência floral, “proporcionou calma, relaxamento, concentração e coragem às parturientes”, fazendo com que as mulheres se tornassem o personagem principal do seu parto.

Prata et al. (2022) demonstra que há variadas formas de utilizar os óleos essenciais, sendo elas “através da difusão ambiental, da inalação, do uso tópico ou da diluição em água, sendo comum a associação com a massagem ou escalda pés” e que deve analisar a individualidade de cada gestante e parturiente para saber qual o melhor método a ser implantado.

Paviani, Trigueiro e Gessner (2019) consideram a lavanda como o melhor óleo essencial para ser manipulado durante o trabalho de parto, pois possui efeitos calmante e tranquilizante. Duarte et al. (2019) também cita a lavanda como um dos óleos essenciais mais utilizados, porém também há opções como o eucalipto, o jasmim, a rosa e a laranja.

A acupuntura está inserida entre os inúmeros métodos da medicina tradicional chinesa (MTC). Essa terapêutica acredita que através da inserção de agulhas no corpo em pontos específicos no meridiano “gera sinais elétricos, conhecidos como potencial de ação, que percorrem os dendritos, chegam ao corpo celular, posteriormente ao axônio e finalmente ao cérebro por meio das sinapses” (CHEROBIN et al., 2016).

Cherobin, et al. (2016) relata em sua pesquisa que há um interesse pela acupuntura para alívio da dor durante o parto, pois estimula “a condução dos sinais elétricos, sensibilizando regiões do cérebro como o tronco cerebral, córtex e outras regiões do encéfalo”, não alterando os níveis de consciência e possibilitando interação da mãe durante e após o parto, e podendo agregar outras formas terapêuticas para amenizar a dor.

Segundo Martins, etal.(2019) a acupuntura tem tido um crescimento constante e vem sendo favorável a recomendação para alguns casos de patologias álgicas. Em sua pesquisa voltada para dor lombar em gestantes, houve redução considerável na dor que se deu por um processo contínuo e gradual, pois quanto mais se tem sessões, maior é o resultado benéfico para o bem-estar da gestante.

Dessa forma, podemos entender que a acupuntura tem se mostrado benéfica em vários estágios da gestação e tem sido “positiva para a assistência ao trabalho de parto por se tratar de métodos de baixo custo e seguros, aumentando o número de alternativas não farmacológicas para as parturientes” (CHEROBIN etal., 2016).

As pesquisas de Mafetoni et al. (2018), Cherobin et al. (2016) e Silva et al.(2020), afirmam que a auriculoterapia tem sido usada para tratar diferentes disfunções e promover analgesia por meio de estímulos em pontos reflexos no pavilhão auricular.

A utilização da auriculoterapia mostrou resultado na redução da ansiedade em gestantes com gravidez de baixo risco. O estudo feito por Silva et al. (2020) consistiu em três sessões, realizadas durante três das quatro consultas de enfermagem, com intervalo de três dias em cada sessão, do qual se obteve resultado significativo entre o terceiro e quarto atendimento.

Tal desfecho demonstra que o uso da auriculoterapia como método de intervenção durante a gestação é de grande valor, pois a ansiedade está relacionada ao surgimento de prejuízos no sistema nervoso do recém-nascido e é de fácil aplicabilidade e de baixo custo (SILVA et al.,2020).

Mafetoni et al. (2018) fez um estudo sobre o uso da auriculoterapia durante o trabalho de parto (TP) e foi percebido uma média de TP menor no grupo que sofreu a intervenção, quando comparado aos grupos de placebo e controle, porém, estatisticamente, não houve relevância. Contudo, estudioso da terapia indicaram que estímulos em pontos auriculares ativaram o sistema nervoso, do qual é responsável pelas contrações uterinas, o que pode ser o motivo da redução do tempo de TP.

A redução no tempo do TP foi um dos principais pontos dito por Mafetoni et al.(2018), trazendo também que, apesar de não ter havido diferença entre os grupos estudados referente a taxa de cesárea, o uso dessa prática não acarreta reações adversas, visto que não causou nenhuma piora em outros indícios. Ou seja, a auriculoterapia apresenta boas evidências em seu uso durante o parto e pode ser utilizada como alternativa de cuidado para com as parturientes.

O estudo sobre o uso da auriculoterapia para redução da dor durante o trabalho de parto realizado por Mafetoni e Shimo (2016), apresentou resultados positivos quando comparados aos outros grupos (placebo e controle) no que se diz ao aumento da dor durante as contrações, no entanto, não houve diferença em relação aos escores anteriores. Tal resultado também pode ter sido afetado, pois, na unidade obstétrica na qual foi realizada o estudo, havia a rotina de utilizar analgesia.

Cherobin (2016), concorda com Martins etal.(2019) e Mafetoni e Shimo (2016) em relação a diminuição da dor após a utilização da acupuntura e auriculoterapia em gestantes e parturientes. Seu estudo trouxe que apesar das mulheres já sentirem alívio nos primeiros 30 minutos, no decorrer do tempo há a possibilidade de manter ou melhorar o grau de dor.

4. CONCLUSÃO

Mediante a pesquisa realizada, evidenciou-se que as terapias estudadas tiveram resultados positivos. Redução da ansiedade, redução de dores durante a gestação e no trabalho de parto, redução do tempo de trabalho de parto e auxílio no autoconhecimento da mulher pelo próprio corpo foram os benefícios oferecidos pela utilização das terapias da aromaterapia, acupuntura e auriculoterapia.

As PICS são comumente utilizadas durante o trabalho de parto, a partir desse estudo, percebe-se uma necessidade maior de pesquisa do uso no decorrer de toda a gestação, tendo em visto que possuí diversos benefícios. Apesar de serem conhecidas, as terapias utilizadas no estudo requer um maior conhecimento por parte dos aplicadores, o que seria interessante no futuro que cursos fossem ofertados para formação ou atualização, já que são uteis, de fácil aplicabilidade e de baixo custo.

Tais terapias são ofertadas gratuitamente nos âmbitos do SUS, porém, com a baixa quantidade de funcionários com conhecimento a divulgação é baixa. Maiores estudos auxiliariam na propagação dessas terapias e nos seus benefícios, fazendo com que o atendimento fosse menos medicalizado (em relação ao uso de medicamentos analgésicos e anestésicos), mais humanizado e com foco principal na mulher.

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