TRATAMENTO FARMACOLÓGICO, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL DE BEBÊS ACOMETIDOS POR SÍFILIS CONGÊNITA: REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8302810


Renata dos Santos Bueno1
Laís Rodrigues Gerzson2
Sara Caroline Fontoura Dall’Alba3
Carla Skilhan de Almeida4


RESUMO

Objetivo: Identificar evidências científicas dos últimos cinco anos sobre sífilis congênita (SC), incluindo tratamentos farmacológicos, manifestações clínicas e desenvolvimento dos bebês. Métodos:  Trata-se de uma revisão de escopo, realizada através das bases de dados MEDLINE (via PubMed), Embase, Scientific Electronic  Library Online, EbscoHost e PEDro, durante o mês de novembro de 2022. Descritores: “Sífilis Congênita” associada ao “Tratamento Farmacológico”; “Sinais e Sintomas”; “Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos Globais do Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos do Neurodesenvolvimento”. Resultados: 14 estudos foram selecionados. A maioria era da América Latina, especificamente do Brasil. As manifestações clínicas evidenciadas foram icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia. O tratamento mais observado foi com Penicilina G. Foi observado prevalência do tratamento inadequado da mãe e seu parceiro e poucos estudos mencionaram o desenvolvimento dos bebês. Conclusões: Neste estudo, observou diferentes manifestações clínicas, seguida da ausência do tratamento adequado durante o pré-natal e da escassez de estudo que relatasse sobre o desenvolvimento desses bebês.

Descritores: Desenvolvimento infantil; Sífilis congênita; Tratamento Farmacológico; Sinais e sintomas; Saúde Pública.

ABSTRACT

Objetive: Identify scientific evidence from the latest five years on Congenital Syphilis (CS), including drug treatment, clinic manifestation and child development. Methods: It is a literature review, made through MEDLINE database (via PubMed), Embase, Scientific Electronic  Library Online, EbscoHost and PEDro, during november of 2022. Descriptors: “Congenital Syphilis” associated with “Pharmacological Treatment”; “Signs and Symptoms”; “Child Development”; “Children facing global development disorders”; “Neurodevelopmental Disorders”. Results: 14 studies were selected. Most originated from Latin America, specifically, Brazil. The clinic manifestations in evidence were jaundice, hepatomegaly, splenomegaly. The biggest share of treatment was observed with Penicillin G. It was observed the prevalence of inadequate treatment from the mother and the partner, and few studies mentioned the baby development. Conclusion: In this study, it was detected different clinic manifestations, followed by the absence of appropriated treatment during antenatal and lack of study that acknowledge the development of these children.

Descriptors: Child Development; Syphilis Congenital; Drug Therapy; Signs and Symptoms.

RESUMEN

Objetivo: Identificar la evidencia científica de los últimos cinco años sobre sífilis congénita (CS), incluyendo tratamientos farmacológicos, manifestaciones clínicas y desarrollo infantil. Métodos: Se trata de una revisión de alcance, realizada a través de las bases de datos MEDLINE (vía PubMed), Embase, Scientific Electronic Library Online, EbscoHost y PEDro, durante el mes de noviembre de 2022. Descriptores: “Sífilis congénita” asociada a “Tratamiento farmacológico”; “Signos y síntomas”; “Desarrollo infantil”; “Trastornos Globales del Desarrollo Infantil”; “Trastornos del Neurodesarrollo”. Resultados: se seleccionaron 14 estudios. La mayoría eran de América Latina, específicamente de Brasil. Las manifestaciones clínicas evidenciadas fueron ictericia, hepatomegalia y esplenomegalia. El tratamiento más observado fue con Penicilina G. Se observó un predominio de tratamiento inadecuado de la madre y su pareja y pocos estudios mencionaron el desarrollo de los bebés. Conclusiones: En este estudio se observaron diferentes manifestaciones clínicas, seguidas de la ausencia de un tratamiento adecuado durante el prenatal y la escasez de estudios que informen sobre el desarrollo de estos bebés.

Descriptores:  Desarrollo Infantil; Sífilis Congénita; Quimioterapia; Signos y Síntomas. 

INTRODUÇÃO

A Sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), de caráter sistêmico, causada pela bactéria gram-negativa Espiroqueta Treponema Pallidum. Trata-se de uma doença passível de tratamento e prevenção. No entanto, quando não tratada, pode evoluir para complicações mais graves, acometendo diferentes órgãos e sistemas1. Sua principal forma de contaminação é adquirida por meio do contato sexual, podendo ocorrer também por meio vertical, ou seja, quando a gestante com Sífilis não é tratada ou realiza o tratamento de forma inadequada, a transmissão ocorre para o feto através da corrente sanguínea por via transplacentária, denominada Sífilis Congênita (SC)2.

Dentre as possíveis consequências que a sífilis pode gerar durante o período gestacional estão: risco de aborto espontâneo, óbito fetal e nascimento pré-termo3. Entretanto, no período pós-parto, cerca de 60% a 90% dos recém-nascidos com diagnóstico de SC não apresentam sintomas da doença, podendo ter as primeiras manifestações da doença até os dois anos de vida, quando não tratada. Os sintomas comumente apresentados na SC são: distúrbios dermatológicos, distúrbios ósseos, alterações cognitivas, neurológicas, motoras, auditivas e visuais4

A transmissão da doença entre a gestante e o feto acontece em qualquer fase da gestação, sendo influenciada pelo estágio da doença na mãe e pelo tempo de exposição intra útero. Contudo, a taxa de infecção nesse período é de 70% a 100%, podendo ocorrer óbito fetal, nascimento prematuro ou morte neonatal em cerca de 30% a 50% dos bebês acometidos pela SC. Diante disso, pode-se considerar que a SC é um grave problema de saúde pública, principalmente em países de baixa e média renda5;6

Somente durante o ano de 2021, foram notificados no Brasil 167.523 casos de Sífilis adquirida, ou seja, 78,5 casos para cada 100.000 habitantes. Destes, 74.095 casos eram de Sífilis em gestantes, demonstrando a maior taxa de detecção da doença já observada no país, com 27,1 casos para cada 1.000 nascidos vivos. A taxa de incidência nacional da SC também foi a maior já detectada, com 9,9 casos para cada 1.000 nascidos vivos durante o mesmo ano, totalizando 27.019 casos notificados de SC. Em contrapartida, foi observado que as taxas de aborto e natimortalidade decorrente da SC manteve-se com um percentual estável, sendo observado apenas 3,8% e 2,8% respectivamente7.

Diante da necessidade de compreender melhor os casos de SC no Brasil e no mundo, e, principalmente, verificar as características do desenvolvimento neuropsicomotor nos estudos atuais, o presente manuscrito tem como objetivo realizar uma revisão de escopo com as evidências científicas dos últimos cinco anos sobre a sífilis congênita (SC), incluindo os tratamentos farmacológicos, as manifestações clínicas e o desenvolvimento dos bebês afetados.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão de escopo da literatura, que utilizou a seguinte pergunta norteadora: “Como a Sífilis Congênita tem afetado o desenvolvimento infantil da criança acometida pela infecção e quais manifestações foram apresentadas no período pós-parto e o tratamento realizado?”. Diante da seguinte questão, o presente estudo utilizou os artigos que abordassem os tratamentos realizados durante o período intrauterino pela gestante e os efeitos pós-parto; as manifestações clínicas da SC apresentadas na criança; e o desenvolvimento infantil da criança com SC como critério de elegibilidade. 

Como estratégia de busca, foi realizada pesquisas nas bases de dados MEDLINE (via PubMed), Embase, biblioteca digital Scientific Electronic Library Online (Scielo), EbscoHost e PEDro, publicado nos últimos cinco anos, além de busca manual em referências de estudos já publicados sobre o assunto. A busca foi realizada através de uma associação do descritor “Sífilis Congênita” ou “Syphilis Congenital” com os seguintes: “Tratamento Farmacológico”; “Sinais e Sintomas”; “Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos Globais do Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos do Neurodesenvolvimento”; “Drug Therapy”; “Signs and Symptoms”; “Child Development”; “Child Development Disorders”; “Neurodevelopmental Disordera”.

Na busca dos estudos, foram identificados 23 artigos que abordassem os temas acima citados, sendo destes, cinco foram excluídos pois se tratava de estudos de caso, três por abordarem somente a sífilis gestacional e um por focar no tratamento de outras patologias. Inicialmente, foram avaliados todos os títulos e resumos, localizados através da nossa estratégia de busca. Os artigos que não forneciam informações suficientes em seu resumo, foram selecionados para avaliação do texto completo, sendo avaliados posteriormente. A extração dos dados ocorreu através de um formulário onde foram coletadas informações sobre os autores, objetivo do estudo, metodologia utilizada, participantes, resultados e desfechos.

O nível de evidência das investigações foi ordenado por meio da avaliação do seu desenho metodológico, sendo utilizada a maioria dos estudos no nível III, ou seja, evidências derivadas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização. 

RESULTADOS 

A estratégia utilizada identificou 66 artigos com os temas descritos, dos quais foram selecionados 23 artigos considerados relevantes e selecionados para análise. No entanto, somente 14 artigos preencheram os critérios de elegibilidade e foram selecionados para participar do presente estudo (Figura 1). Abaixo, pode-se observar na Tabela 1 as principais características dos estudos selecionados.

Tabela 1 – Principais características dos estudos selecionados.

EstudoObjetivoMetodologiaResultadosDesfechos
Freitas
et al.8
Verificar se os
RNs de risco para
atraso no
desenvolvimento
motor
apresentaram
neuroimagem e
avaliação
neurológica
alteradas durante
sua internação na
UCIN.
Transversal,
UCIN de
hospital
público.
Escala
avaliativa:
HNNE e
GM37
37 RNs de risco,
predominou:
meninos, parto
cesáreo, raça
branca.
Prematuridade e
sífilis congênita
foram os
principais
diagnósticos.
Associação da SC
com menor
número de
consultas pré-
natal. HNNE com
pontuação
“alterada” e GMA
a classificação
“subótimo”.
Realização de
exame de imagem
é um recurso
limitado no
hospital deste
estudo. Destacam
sobre a
necessidade de
ampliar a atenção
para RNs a termo
e acompanhar os
casos de SC, assim
como os bebês
com baixo peso e
Apgar menor.
Aleem et al. 9Descrever uma
série de casos
graves de SC na
UTIN
Revisão
retrospectiva
com lactentes
com
diagnóstico
de SC
internados no
Duke
Intensive
Care Nursery,
de Junho de
2016 a
Fevereiro de
2020.
Participaram
5 lactentes
com
manifestações
graves
decorrente da
SC
Todos precisaram
de ventilação
mecânica
invasiva. Uma
teve hidropisia
fetal e veio a
óbito. Quatro
bebês
sobreviventes
tiveram
encefalopatia
hipóxicoisquêmica,
hipertensão
pulmonar
persistente grave,
hepatite e
convulsões, foram
tratados com
penicilina G. Três
bebês
sobreviveram.
A SC pode estar
associada a
encefalopatia
hipóxicoisquêmica,
hipertensão
pulmonar
persistente grave e
coagulopatia
intravascular
disseminada em
lactentes afetados.
Importância da
triagem durante o
terceiro trimestre
da gestação, no
momento do parto
e tratamento
adequado.
Almeida et al.10Investigar em
gestantes com
Sífilis, fatores
associados a
ocorrência de SC e descrever os casos dessa doença quanto à justificativa para notificação e aspectos relativos ao recém-nascido.
Coorte,
município de
Botucatu/SP.
Participaram
158 gestantes
com sífilis,
notificadas entre 2013 e
2015.
74 (46,8%) casos de SC nos RNs. Associação da SC com o menor número de consultas prénatais. O não tratamento da mãe e do parceiro foram as justificativas mais frequentes para
definição do caso de SC. As
intercorrências
foram: icterícia;
Restrição de
crescimento
intrauterino;
Anemia; Baixo
peso ao nascer;
Cardiomegalia;
Coarctação de
aorta;
Esplenomegali;
Hepatomegalia eOsteocondrite.
Os autores
sugerem que o
município deverá qualificar o
seguimento, com oferta de
consultas,desenvolvimento de ações de
educação em
saúde,
implementação de investigação
diagnóstica e de tratamento
adequado para
gestante, e
parceiro quando
necessário.
Araújo et al.11Analisar os
fatores associados à prematuridade
nos casos
notificados de SC no município de
Fortaleza, no
Ceará, Brasil.
Transversal,10 maternidades
públicas.
Participaram
478 casos de
SC notificados
em 2015.
73 (15,3%) foram
partos prematuros, sendo que 52 (71,2%) realizaram prénatal. Esteve
associado a
maiores chances
de prematuridade:
titulação do teste
VDRL >1:8 no
parto; o não
tratamento da
gestante ou
tratamento com outras drogas além da penicilina durante o prénatal.
A prematuridade
decorrente da SC é uma condição
evitável. Observou
fragilidades na
assistência prénatal, destacando a
importância de
políticas voltadas
para a melhoria da qualidade da
assistência prénatal.
Garcia et al.12Analisar os casos de SC entre os anos de 1987 a 2019 que ocorreram no Hospital Infantil de Buenos Aires,
na Argentina.
Corte prospectiva
com coleta
retrospectiva
de dados.
Incluídos 61
prontuários
de pacientes
com SC
atendidos no
Servicio de Parasitología
-Chagas, Hospital de
Niños “Ricardo
Gutierrez”, na Argentina.
Pico de casos
durante os anos
1992-1993 e em
2014-2017. A
média de idade no momento do
diagnóstico foi de 2 meses.
Manifestações
clínicas:
alterações ósseas(59%),
hepatoesplenome galia (54,1%), anemia (62,8%), lesões cutâneas
(42,6%) e
comprometimento renal (33,3%). 60
participantes
receberam
Penicilina G
endovenosa,
enquanto 1
recebeu
ceftriaxona. 1,6%
dos lactentes
morreram, 6,5%
apresentaram
distúrbios renais
persistentes e
1,6% apresentaram
sequelas ósseas.
A morbidade
esteve relacionada
com o diagnóstico
tardio.
Observaram boa resposta
terapêutica ao
tratamento. A SC requer um maior esforço do sistema
de saúde para rastrear
adequadamente durante a gravidez e detectar os casos mais
precocemente, a fim de fornecer o
tratamento
adequado.
Lim et al.13Analisar as
manifestações e a evolução da SC, incluindo o
tratamento e o
seguimento, com base em um estudo nacional.
Corte, estratificado
por ano. Dados
obtidos através do Banco de
dados do
Serviço Nacional de
Seguro de
Saúde da Coreia do
Sul. Identificados
548 bebês
acompanhado
s durante o
primeiro ano
de vida, entre
2013 e 2018.
148 tiveram
diagnóstico
confirmado,
altamente
provável ou
possível de SC e
receberam
tratamento por 10 dias. 66 tiveram suspeita de SC ou menos propensos a ter, e receberam
tratamento por
apenas 1 dia.
Manifestações
clínicas: icterícia (56%), deficiência
auditiva (14%),
doença renal (8%) e alterações
neurológicas
(8%). Ocorreram
14 casos de
neurossífilis.
Associado a
neurossífilis:
bebês que apresentaram
alterações
neurológicas,
envolvimento
ocular, deficiência
auditiva ou
doença renal. 73% receberam
tratamento com Penicilina
benzatina.
Deve ser
estabelecido
diretrizes para
padronizar a
avaliação da SC, o tratamento
realizado e os
planos de
acompanhamento, melhorando os
cuidados maternos e neonatais na
Coréia do sul.
Rocha et al.14Identificar as
evidências
científicas sobre
as complicações e
manifestações
clínicas da SC e
aspectos
relacionados a sua prevenção
Revisão
integrativa,
com publicações
entre os anos
de 1996 e 2017.
Os desfechos
negativos, as
alterações
laboratoriais e as manifestações
clínicas da SC,
foram: baixo peso ao nascer, anemia,
hepatoesplenomegalia e alterações
dentárias. A falta de tratamento das
gestantes no prénatal foi a ocasião mais comum em
que se perdeu a
oportunidade de prevenir as
complicações da SC.
As evidências
analisadas,
identificaram
complicações
graves que
poderiam ser
prevenidas se a
doença fosse
diagnosticada
durante o prénatal.
Rocha et al.15Avaliar todos os
nascidos vivos,
notificados com
SC durante 2015, a fim de
identificar os
diferentes regimes
terapêuticos
utilizados em
recém-nascidos
durante este
período de
escassez de
penicilina.
Transversal,
com dados
extraídos de
prontuários.
Incluídos 469
prontuários
de casos de SC durante 2015 em Fortaleza/CE.
210 (44,8%)
foram tratados
com um
tratamento
recomendado
nacionalmente.
Os tratamentos
alternativos
observados foram: ceftriaxona (13,8%),
cefazolina (3,2%)
e a associação de mais de um
medicamento
(38,2%).
A maior
probabilidade de ser tratado compenicilina foi observada nos: RNs sintomáticos
com títulos de
VDRL elevados,
prematuros, baixo peso ao nascer, icterícia e
hepatomegalia.
Durante o período
de escassez da
penicilina, em
Fortaleza, menos
da metade dos
RNs notificados
com SC foram
tratados com o
esquema
recomendado
nacionalmente.
Ferro et al.16Descrever o
tratamento
terapêutico de
crianças com SC, bem como as alterações
clínicas,
radiológicas e
laboratoriais
associadas a esta doença.
Retrospectivo, descritivo,
exploratório,
quantitativo,
realizado
através de
204 fichas de
notificações
de SC de uma
maternidade
da região
metropolitana
de Vitória/ES,
durante o
período de
janeiro de
2016 a dezembro de
2017.
88,7% das
puérperas
realizaram o
acompanhamento pré-natal. 85,3% dos RNs eram
assintomáticos.
As manifestações
clínicas presente
foram: icterícia
(20,59%) e lesões cutâneas (0,98%). 63,7% realizou tratamento com
penicilina G e
27,5% utilizou
outro esquema
terapêutico.
O tratamento
realizado na
instituição do
presente estudo,
está de acordo
com as diretrizes
do MS.
Oloya et al.17Descrever a
prevalência,
fatores associados
e apresentação
clínica dos casos de SC em
Mbarara, na
Uganda.
Transversal,
com mães e
crianças RNs.
Identificadas
2.500 mães e
2.502 RNs.
Realizado
entre junho e
setembro de
2015, em
Mbarara.
4,1% das mães tinham sífilis e 3,8% dos RNs SC. Associado aos fatores de risco para SC: idade materna < 25 anos, histórico de úlcera genital, histórico de corrimento vaginal anormal e histórico de tratamento para úlcera genital, coceira genital, corrimento vaginal ou dor abdominal inferior na gravidez. Asmanifestações clínicas foram:
esplenomegalia
(58,3%),
hepatoesplenomegalia (52,4%),
lesões na pele
(16,5%),descamação da pele (16,5%), icterícia (2,9%) e
pesudoparalisia
(2,9%).
Observou uma
prevalência para sífilis acima do
esperado.
Destacam a
importância da
política nacional
para o controle dasífilis na Uganda
ser fortalecida
para incluir uma triagem universal de sífilis em mães e RNs.
Ribeiro et al.18Analisar as
variáveis
associadas a
neurossífilis em
RNs brasileiros de gestantes com Sífilis.
Caso controle, com 21 casos de RNs com neurossífilis e
42 casos
controle de
SC.
Não houve
alterações na
radiografia de
ossos longos.
42,8% dos RNs
com neurossífilis
apresentaram
hiperproteína na análise do LCR, 28,6% tinham elevados números de leucócitos e
28,6%
apresentaram
VDRL positivo.
As seguintes
manifestações
clínicas foram
observadas: baixo peso ao nascer
(12,7%, n=8/63) e
prematuridade
(34,9%,n=22/63).
A cobertura prénatal não é
suficiente para
prevenir a
neurossífilis.
Recomendam
melhorar a
qualidade dos
serviços de saúde,tornando o atendimento mais eficaz, a fim de identificar e tratar a sífilis durante a
gestação,
reduzindo os casos de SC e
neurossífilis em
RNs.
Cavalcante et al.19Analisar os
fatores associados ao acompanhamento ambulatorial de
crianças com SC
Coorte não
concorrente.
Identificaram
460 crianças
com SC, que
realizava
acompanham
ento em UBS
e em três
maternidades
de referência
em Fortaleza/CE.
332 crianças
buscaram
acompanhamento, sendo 45
retornaram ao
ambulatório
hospitalar, 108 a
UBS e
ambulatório e 179 somente a UBS. 236 crianças que
compareceram naUBS,
A maioria das
crianças
notificadas com
SC comparecem a
uma UBS, porém nesse nível da
atenção não são
seguidas as
recomendações
do MS para o
seguimento
adequado. Tornase necessário amelhoria dos
sistemas de
referências, a fim de proporcionar
um atendimento
adequado
Pastro et al. 5Analisar a
qualidade do prénatal e as
condições clínicas dos neonatos
expostos à sífilis
em uma
maternidade
pública de Rio
Branco-Acre
Transversal,
maternidade
pública de Rio
Branco/AC.
Participaram
92 gestantes
com Sífilis,
durante o
período de
julho a dezembro de
2017.
Dois participantes
tiveram óbito
fetal. Predominou
parto normal
(65,5%). 16 (17,8%)
apresentaram
sofrimento fetal
agudo e 10 (11,2%)
necessitaram de manobras de
reanimação.
10% foram
prematuros e
12,2% eram PIG.
29,5% das
puérperas
realizaram o prénatal completo.
29,3% das
gestantes
realizaram o
tratamento de
forma adequada e
58% dos parceiros
sexuais não
aderiram ao
tratamento.
A qualidade do
pré-natal das
gestantes com
sífilis, foi inferior
ao que o MS
recomenda.
Verghes e et al.20Relatar os
resultados do
neurodesenvolvim
ento na primeira
infância de
crianças expostas
a Sífilis gestacional.
Coorte, de
conveniência,
revisão de
prontuários.
Identificadas
39 mulheres
gestantes com sífilis entre
2002 e 2010,
em
Edmonton, no
Canadá.
Escalas
avaliativas:
Bayley Scales
of Infant
Development
II, Wechsler
Preschool
and Primary
Scale of
Intelligence,
Full Scale
Intelligence
Quotient e
Preschool
Language
Scale.
Das gestantes, 4 tiveram sífilis
latente tardia, 2
natimortos e 3
óbitos neonatais.
10 realizaram
tratamento adequado durante a gestação e as crianças não apresentavam SC. Perdeu-se contato com 12 crianças. 11 crianças com SC e 7 crianças sem SC realizaram o teste. 27% das crianças com SC apresentaram comprometimento do neurodesenvolvimento e 14% nas sem SC. O atraso de linguagem foi observado em 36% das crianças com SC e em 42% das crianças sem SC.
Crianças expostas
à Sífilis na
gestação
apresentam alto risco de
comprometimento do neurodesenvolvimento. Destacam a
importância de
todos receberem
avaliações do
neurodesenvolvimento e
encaminhamento precoce para
serviços, conforme
necessário.
SC: Sífilis Congênita; UTIN: Unidade de Terapia Intensiva Neonatal; RNs: Recémnascidos; UCIN: Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal; HNNE: Hammersmith Neonatal Neurological Examination; GMA: General Movements Assessment; UBS: Unidade Básica de Saúde; MS: Ministério da Saúde; VDRL: Venereal Disease Research Laboratory; LCR: líquido cefalorraquidiano; PIG: Pequeno para idade gestacional.

Ao analisar a Tabela 1, observa-se que a metade das publicações selecionadas foram de estudos realizados no Brasil (50% n=7), com uma predominância de estudos realizados na cidade de Fortaleza no Ceará (n=3). Além disso, observou-se predominância de estudos com delineamento transversal (35,71%; n=5) e de coorte (35,71%; n=5). Pode-se destacar que os dados dos estudos apresentados mostram diferentes achados com relação às manifestações clínicas apresentadas na SC, os tratamentos realizados e o desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças. 

Dos artigos analisados, nove apresentaram as manifestações clínicas e complicações decorrentes da SC na população do estudo, oito abordaram questões relacionadas com os tratamentos realizados na SC durante a gestação e, somente dois, trouxeram sobre as avaliações da função neurológica e do neurodesenvolvimento. No entanto, observou-se que outros dois estudos abordaram sobre a presença da neurossífilis em pacientes com SC. Além disso, constatamos que cinco estudos relataram questões relacionadas ao pré-natal. 

Manifestações Clínicas e Complicações decorrentes da SC:

A SC é uma infecção sistêmica que pode atingir diferentes órgãos e sistemas, podendo ocasionar aborto espontanêo, natimortalidade e prematuridade. Em contrapartida, apenas três estudos analisados nesta revisão apresentaram a presença da prematuridade em recém-nascidos com SC. No entanto, outras complicações estão comumente presentes nessas crianças, entre as mais observadas na presente pesquisa foram: icterícia (44,44%; n=4/9), hepatomegalia (44,44%; n=4/9), esplenomegalia (44,44%; n=4/9), anemia (33,33%; n=3/9), baixo peso ao nascer (33,33%; n=3/9), lesões cutâneas (33,33%; n=3/9), alterações ósseas (22,22%; n=2/9), alterações renais (22,22%; n=2/9), restrição de crescimento intrauterino (11,11%; n=1/9), cardiomegalia (11,11%; n=1/9), coarctação da aorta (11,11%; n=1/9), alterações auditivas (11,11%; n=1/9), alterações neurológicas (11,11%; n=1/9), alterações dentárias (11,11%; n=1/9), descamação da pele (11,11%; n=1/9), pseudoparalisia (11,11%; n=1/9) e pequeno para idade gestacional (11,11%; n=1/9). 

Perante o exposto, podemos afirmar que as manifestações e complicações apresentadas no recém-nascido com SC são de amplo espectro, podendo apresentar em casos mais graves encefalopatia hipóxico-isquêmica, hipertensão pulmonar persistente grave, hepatite e convulsões. Diante disto, torna-se necessário a equipe de saúde hospitalar realizar uma triagem adequada, a fim de identificar precocemente as complicações e iniciar o tratamento medicamentoso. 

Tratamentos da SC realizados durante a gestação e após o nascimento 

A sífilis é uma infecção causada pela bactéria Treponema Pallidum, portanto seu tratamento deve ser administrado com doses de antibioticoterapia, mais em específico, com a penicilina G. Quando a presença de sífilis é identificada na fase gestacional, a administração da medicação de forma correta na gestante e no seu parceiro sexual, pode prevenir a incidência da SC nos recém-nascidos. Entretanto, dois estudos observados nesta pesquisa (25%; n=2/8) relataram a prevalência da SC em crianças em que a mãe e o parceiro não realizaram o tratamento adequado, estando o mesmo associado a prematuridade também. 

Além disso, 62,5% (n=5/8) abordam sobre o uso da Penicilina G critalina e/ou Penicilina G benzatina como forma de tratamento indicado pelo Ministério de Saúde (MS). No entanto, um estudo aborda sobre a escassez da matéria prima da Penicilina durante o ano de 2015, onde foram administrados outros medicamentos, como a Ceftriaxona e Cefazolina, mesmo ambos não tendo indicações de eficácia no tratamento da SC ou sífilis gestacional.  Também foi observado nesta revisão, um estudo que analisa o acompanhamento na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou no ambulatório hospitalar de crianças com SC. Em contrapartida, este estudo observou que das 287 crianças com SC que compareceram na UBS, 236 não tinham informações sobre o diagnóstico de SC em seu prontuário, não realizando o acompanhamento de forma adequada, como o MS orienta.

Desenvolvimento Neuropsicomotor

Apesar de saber que a SC pode levar a alterações músculo esquelética e neurológicas, pouco se tem estudos que avaliaram este público e observaram seu desenvolvimento. Nesta revisão integrativa, foram identificados somente dois estudos que abordam esse tema, sendo um deles específico para SC e outro um estudo que avaliou RN’s com risco para atraso no desenvolvimento motor. 

Ao analisar os RN’s com risco para atraso no desenvolvimento motor, os autores do estudo observaram que crianças nascidas a termo com diagnóstico de SC apresentavam a avaliação alterada pela escala Hammersmith Neonatal Neurological Examination (HNNE), que visa avaliar a função neurológica de recém-nascidos. Neste estudo, foi observado que as crianças com SC apresentaram uma média de 26,5 pontos na escala, sendo o recomendado para a idade mais de 30,5 pontos. Já, outro estudo realizado no Canadá, observou que as crianças expostas à sífilis durante o período gestacional, apresentaram comprometimento do neurodesenvolvimento e atraso na linguagem aos 18 meses, mesmo aquelas que não desenvolveram a SC. Diante disto, torna-se necessário a realização de novos estudos que abordam este tópico.

DISCUSSÃO

No presente artigo, realizou-se uma revisão integrativa no que se refere às manifestações clínicas, tratamentos e desenvolvimento neuropsicomotor na SC. Estudos têm demonstrado que as infecções maternas estão associadas às complicações fetais e neonatais, principalmente quando se refere à Sífilis gestacional. Isso pode ser demonstrado na literatura, uma vez que a infecção por sífilis é considerada a segunda causa de morte fetal evitável no mundo3

Apesar da SC ser uma doença infecciosa que pode desencadear sintomas graves, levando ao óbito neonatal, a mesma, na maioria das vezes, apresenta-se assintomática, ou seja, cerca de 60% a 90% dos RNs com diagnóstico de SC não apresentaram sintomas da doença ao nascimento, tendo os primeiros sinais e sintomas das doenças somente após os três meses de vida, podendo delongar até os 2 anos4. Na pesquisa, observou-se um amplo campo de manifestações clínicas decorrentes da SC, acometendo diferentes órgãos e sistemas. Isto ocorre porque, durante a transmissão vertical da doença, a bactéria Treponema Pallidum é liberada através da via transplacentária, diretamente na circulação sanguínea do feto, ocasionando diferentes respostas inflamatórias decorrentes da disseminação das espiroquetas pelos órgãos e sistemas4.

Dentre os acometimentos da SC mais grave estão os casos em que a espiroqueta se dissemina no sistema nervoso central, ocasionando a neurossífilis. No estudo realizado por Lim et al.13, esteve relacionado com a presença da neurossífilis os recém-nascidos que apresentavam alterações neurológicas, deficiência ocular, deficiência auditiva ou doença renal. No entanto, para o diagnóstico da neurossífilis, deve ser realizada a análise do líquor cefalorraquidiano (LCR). Porém, por se tratar de um exame de alta complexidade e custo, ainda é alta a porcentagem de crianças sintomática com SC que não realizam a análise. Pastor et al.5 identificaram que 28,2% da sua amostra não realizou o exame, enquanto, na pesquisa de Lopes; Albernaz21, essa porcentagem reduziu para 24,9%. Além disso, o estudo de Ribeiro et al.18 concluíram que a cobertura pré-natal realizada no território brasileiro não é suficiente para prevenir a ocorrência de neurossífilis nos recém-nascidos de mães com sífilis. 

Embora a SC possa ser evitada através do tratamento precoce da gestante, durante o acompanhamento pré-natal, ainda é observado a não adesão do tratamento pelas gestantes com sífilis ou a adesão incorreta do mesmo. É considerado como tratamento adequado quando a gestante e seu parceiro sexual realizam todo o tratamento com penicilina benzatina, pois é o único medicamento eficaz, que atravessa a barreira transplacentária4. Em contrapartida, a presente revisão evidenciou que estava associada com a presença de SC no recém-nascido o não tratamento da gestante com sífilis e de seu parceiro de forma adequada. Além disso, observou-se que esteve associado com a prevalência da SC o menor número de consultas pré-natais, ou seja, quanto mais consultas pré-natais a gestante realiza, menor será a chance de o feto desenvolver SC8;10.

Apesar do amplo conhecimento a respeito da SC, ainda há uma escassez significativa de estudos que abordem os aspectos motores e do neurodesenvolvimento das crianças acometidas pela doença. O estudo de Verghese et al.20 concluiu que crianças expostas à sífilis congênita durante a gestação apresentam risco elevado para comprometimento do neurodesenvolvimento e atraso na aquisição da linguagem aos 18 meses, mesmo naqueles que não desenvolveram a doença congênita. Dados como este devem servir de justificativa para a realização de novos estudos nesta área. 

Além disso, a maioria dos estudos da presente revisão, tanto os nacionais quanto os internacionais concluíram que há uma necessidade de estabelecer diretrizes eficazes no acompanhamento pré-natal, a fim de reduzir o número de casos relacionados à SC e estabelecer normas para o tratamento adequado dessas gestantes e dos recém-nascidos. Com isto, a SC torna-se um problema de saúde pública mundial, afetando principalmente a população de baixa e média renda. No entanto, é responsabilidade dos profissionais de saúde, realizarem estratégias de intervenção eficaz, a fim de reduzir a incidência da SC, tanto na atenção primária quanto na atenção terciária.

A presente pesquisa, apresentou como limitação a escassez de estudos que abordassem sobre o desenvolvimento infantil em crianças acometidas pela SC, destacando a necessidade de novos estudos sobre o assunto.

CONCLUSÕES 

O presente estudo apresentou uma revisão integrativa dos últimos cinco anos sobre as manifestações clínicas, tratamento farmacológico e desenvolvimento infantil das crianças acometidas pela SC. No entanto, foi possível concluir que, na literatura atual, há diferentes manifestações clínicas, resultante da disseminação da infecção no sistema circulatório do feto. Em contrapartida, todas essas manifestações poderiam ser evitadas com o acompanhamento e tratamento adequado da gestante. Porém, há uma escassez quando nos referimentos ao desenvolvimento neuropsicomotor desses bebês, sendo necessário novos estudos para avaliar seu desenvolvimento. 

Contudo, pode-se concluir que o sistema de saúde mundial ainda é falho na detectação precoce da sífilis em gestantes durante o acompanhamento pré-natal, para tratar de forma adequada, prevenindo então as complicações decorrentes da SC, principalmente em países em desenvolvimento. 

REFERÊNCIAS

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1. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, Brasil ORCID: 0000-0003-3184-5869
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