PERFIL, PREVALÊNCIA, FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS QUE PREDISPÕEM QUEDAS EM IDOSOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8253466


Karine Vaccaro Tako1; Rosiane Dantas Pacheco1; Lucélia Costa Andrade2; Marcelo Santos Lopes2; Aurélio Dias Santos3; André de Gois Santana4; Andrei de Gois Santana4; Belmiro Firmino dos Santos Neto4; Hélison de Jesus Oliveira4; João Victor Andrade dos Santos Sandes5; João Victor Máximo Figueiredo4; Larissa Santana de Jesus6; Mateus Medeiros Silva4; Nathalia de Azevedo Souza4; Sabrina dos Santos Souza5; Susane Andrade de Santana4; Tarcísio Nascimento Cardoso4


Resumo

Objetivo: Esse trabalho objetiva identificar o perfil dos idosos do município de Lagarto e relacioná-lo à prevalência e aos fatores extrínsecos e intrínsecos que predispõem a risco de quedas. Metodologia: O método utilizado foi estudo populacional, de delineamento transversal, cuja população alvo constitui-se de idosos, residentes na área urbana de Lagarto-SE. Os dados para identificação de perfil e de prevalência foram coletados por meio de entrevistas realizadas em domicílio na área de abrangência de quatro Unidades Básicas de Saúde do município. Foram aplicados 420 questionários contendo até 95 itens. Quanto à identificação de fatores intrínsecos e extrínsecos que predispõem às quedas, foram coletados dados apenas da parcela correspondente ao objetivo da pesquisa, sendo excluídos 186 idosos da pesquisa anterior, restando 234 questionários semiestruturados, contendo até 54 itens, além de dois testes funcionais (Teste de Alcance Funcional – TAF e Time Up and Go – TUG). Utilizou-se como instrumento para tabulação dos dados o programa Microsoft Excel. Observou-se um predomínio do sexo feminino, casadas, alfabetizados apesar da baixa escolaridade. Resultados: As principais comorbidades encontradas foram diminuição da acuidade visual e hipertensão. Apenas 24,3% sofreram queda no último ano, mas a maioria afirmou ter medo de cair. Uma grande parcela estava na faixa de baixo risco na aplicação do TAF, assim como no TUG. Conclusão: O estudo reforça o impacto das quedas como questão de saúde pública no município de Lagarto-SE, além de mostrar que existe uma relação proporcional entre os testes funcionais e a idade. Assim, fica evidente que essa situação é um problema importante entre os idosos, não só pela frequência, mas pelos danos físicos e psicológicos que causam. 

Palavras Chaves: Idoso; Acidentes por quedas; Envelhecimento.

Abstract

Objective: This study aims to identify the profile of the elderly population in the municipality of Lagarto-SE and relate it to the prevalence and intrinsic and extrinsic factors that predispose to the risk of falls. Methodology: The method used was a population-based cross-sectional study, with the target population consisting of elderly individuals residing in the urban area of Lagarto, Sergipe. Data for profile identification and prevalence were collected through interviews conducted in households within the coverage area of four Basic Health Units in the municipality. A total of 420 questionnaires were administered, containing up to 95 items. Regarding the identification of intrinsic and extrinsic factors predisposing to falls, data were collected only from the portion corresponding to the research objective, excluding 186 elderly individuals from the previous study, resulting in 234 semi-structured questionnaires containing up to 54 items, as well as two functional tests (Functional Reach Test – FRT and Timed Up and Go – TUG). Microsoft Excel was used as the data tabulation tool. A predominance of females was observed, who were married and literate despite their low educational level. Results: The main comorbidities found were decreased visual acuity and hypertension. Only 24.3% experienced a fall in the last year, but the majority reported a fear of falling. A large portion of the participants scored in the low-risk range in the application of FRT as well as TUG. Conclusion: The study reinforces the impact of falls as a public health issue in the municipality of Lagarto, Sergipe, while also demonstrating a proportional relationship between functional tests and age. Thus, it is evident that this situation is a significant problem among the elderly, not only due to its frequency but also because of the physical and psychological harm it causes.

Keywords: Elderly; Accidental Falls; Aging

1 INTRODUÇÃO

O Brasil assim como outros países da América Latina vem passando por uma transição demográfica, ou seja, está havendo mudanças nos níveis de mortalidade e fecundidade de maneira rápida, fazendo com que passe de um regime demográfico de altas taxas de natalidade e mortalidade, para baixa taxa de mortalidade e conseguinte baixa taxa de fecundidade, levando a um envelhecimento da população.

As quedas na população idosa são frequentes e determinam complicações que alteram negativamente a qualidade de vida dessas pessoas. O termo queda é definido como um evento não intencional, sobre o qual o corpo passa da sua posição inicial para um nível mais baixo, com incapacidade de correção imediata, desestabilizando o indivíduo. A queda, bem como suas lesões resultantes, é considerada hoje problema de saúde pública, promovendo impacto social sobre países com avançado envelhecimento populacional. (BUSKMAN, 2008)

Os determinantes sociais, como renda, educação e moradia, impactam diretamente na saúde da população idosa. Idosos com menor nível socioeconômico têm maiores dificuldades para obter condições de moradia que possibilitem acessibilidade durante a realização de suas atividades de forma segura e sem riscos de queda. Ademais, as mulheres são expostas a discriminação no acesso à educação e a baixas rendas.

Portanto, este trabalho de delineamento transversal, pela importância do fenômeno quedas para população idosa, analisa e verifica, em casuística de idosos de Lagarto (Sergipe, Brasil), a prevalência, frequência e os fatores intrínsecos e extrínsecos que predispõem ao risco de quedas e fraturas, no período de um ano que antecedeu a entrevista.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

2.1 ENVELHECIMENTO 

 O grande problema no Brasil como em países subdesenvolvidos é que a população envelhece em meio a economias frágeis, desigualdade social e econômica (LEBRÃO, 2007).

O envelhecimento feminino, em número, é maior que o masculino devido a diversos fatores, como diferenças biológicas por hormônio, diferenças no consumo de álcool e tabaco e diferenças de atitudes em relação à doença. Portanto, como consequência da maior longevidade, as mulheres são mais expostas à violência doméstica, discriminação no acesso à educação e baixa renda (LEBRÃO, 2007).

Associada à transição demográfica, ocorrem mudanças nos padrões de saúde e doença que interagem com determinantes sociais, caracterizando a transição epidemiológica.

Durante a transição epidemiológica, houve um momento onde as pandemias de doenças infecciosas foram substituídas por doenças degenerativas, acarretando mudanças nos padrões de mortalidade e morbidade. Omran (1971) dividiu esse momento em três estágios:

1º Idade da pestilência e da fome: caracterizada por uma estagnação das taxas de óbitos em níveis extremamente altos por um longo período. As principais causas de morte eram a gripe, pneumonia, diarreia, varíola, tuberculose e atingiam mais os jovens, gerando uma expectativa de vida que oscilava entre 20 e 40 anos. 

2º Idade da regressão das pandemias: nesse período, os picos e depressões de mortalidade estavam associados à implementação de saneamento básico e medidas médicas favorecendo assim a melhores condições sociais e de saúde. Doenças e agravos crônicos não transmissíveis atingiam adultos e velhos, assim a expectativa de vida aumentou para cerca de 50 anos.

3º Idade das doenças degenerativas e doenças causadas pelo homem: nessa época, as principais causas de mortes eram doenças cardíacas, cerebrovasculares e neoplasias, que tendem a matar em idades próximas do limite biológico. A expectativa de vida aumentou para 70 anos (LEBRÃO, 2007).

Além disso, tanto a transição demográfica quanto a epidemiológica acabam repercutindo no sistema público de saúde, visto que esse sistema não está preparado para a alta demanda de idosos, ao precisar dividir os recursos com a atenção prestada aos jovens que ainda é parcela significativa da população brasileira. Essa repercussão também se estende para o sistema previdenciário, pois o aumento da expectativa de vida acaba gerando desemprego para a terceira idade acarretando aumento do orçamento previdenciário. (MACIEL, 2010)

 A Organização Mundial da Saúde (OMS) define as bases para um envelhecimento saudável, destacando a equidade no acesso aos cuidados de saúde e o desenvolvimento continuado de ações de promoção à saúde e prevenção de doenças. 

Envelhecer corresponde a mudanças graduais, inevitáveis e individuais relacionadas à idade, mas que não impede o indivíduo de desfrutar de boa saúde e um estilo de vida dinâmico e saudável dentro de suas limitações. Alguns conceitos tornam-se importantes para compreender o processo fisiológico do envelhecimento. Assim surge a necessidade de saber diferenciar o que é natural da idade e o que não faz parte desse processo de envelhecimento. Neste contexto, a senescência é o período em que os declínios físico e mental são lentos e graduais, que há uma diminuição da reserva funcional. É uma fase normal da vida de um indivíduo sadio, não é uma manifestação doentia. Enquanto a senilidade é a fase do envelhecer em que o declínio físico é mais acentuado e há desorganização mental, desenvolvimento de uma condição patológica que manifesta uma incapacidade progressiva para a vida ativa. (CIOSAK, 2011)

2.2 QUEDA EM IDOSOS

As quedas são consideradas um problema grave para idosos e constituem um problema social importante no Brasil. São eventos com alta morbimortalidade, que reduzem a capacidade funcional do idoso e ocasionam institucionalização precoce de público: considera-se que no Brasil 40% dos internalizados em instituições de longa permanência aconteçam devido a essa problemática (Duncan et. al., 2022). Ainda segundo o mesmo autor , estima-se que 1 em cada 4 idosos no Brasil tenha tido uma queda no último ano e que esse risco é 60% maior em mulheres idosas comparado aos seus pares masculinos (Duncan et. al., 2022)

Segundo estudos realizados a incidência de quedas por faixa etária é de 28% a 35% nos idosos com mais de 65 anos sendo maior em idosos com mais de 75 anos, 32% a 42%. Além disso, a ocorrência de quedas é maior em mulheres, devido à baixa produção de hormônio, a osteoporose, na faixa etária de 70 – 80 de idade, com baixa escolaridade, com consumo de mais de uma medicação. Alguns estudos abordam que 30% a 60% da população com mais de 65 anos cai anualmente e metade apresenta mais de duas quedas, sendo que os que já sofreram queda correm maior risco de caírem novamente (BUKSMAN, 2008)

Frequentemente esses episódios de quedas levam a algum tipo de lesão de menor ou maior gravidade e fraturas. Destas, as mais comuns ocorrem nas vértebras, fêmur, úmero, rádio distal e costelas. 

As consequências das quedas durante o envelhecimento podem ser diminuição da autonomia, dificuldade na realização das atividades da vida diária, ocorrência de fraturas, medo ou “Síndrome pós-queda”, isolamento social ou a depressão, aumento dos custos com os serviços de saúde e até a morte. As ocorrências das quedas podem ser evitadas com medidas preventivas adequadas, identificando principalmente as causas e desenvolvendo estratégias que reduzam essas ocorrências como incentivando a prática de exercício físico, dieta balanceada, orientando os pacientes e seus cuidadores, correções dos fatores ambientais, Tai Chi Chuan, correções visuais e avaliação geriátrica (RIBEIRO, 2008)

2.3 PERFIL, PREVALÊNCIA E FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS ASSOCIADOS ÀS QUEDAS

Ao se discutir a população idosa, é necessário trazer ao cenário os conceitos de autonomia e independência, conceitos fundamentais na geriatria, ao representarem a capacidade de os idosos terem controle sobre suas próprias vidas e tomarem decisões que afetam sua saúde e bem-estar. Esses aspectos são essenciais para promover a qualidade de vida e a dignidade na velhice. A autonomia envolve o direito dos idosos de participarem ativamente nas decisões relacionadas à sua saúde, enquanto a independência refere-se à habilidade de realizar atividades diárias sem depender de outras pessoas. Garantir a autonomia e a independência na geriatria é um objetivo fundamental para proporcionar um envelhecimento saudável e satisfatório (DUNCAN, 2022).

Os determinantes sociais desempenham um papel crucial na saúde do idoso, como apontado pelo relatório sobre envelhecimento e saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2015. O documento destaca que fatores sociais, econômicos e ambientais têm influência significativa no envelhecimento saudável. Os determinantes sociais, como nível de educação, renda, moradia, acesso a serviços de saúde e apoio social, têm impacto direto na saúde e no bem-estar dos idosos. Por exemplo, idosos com menor nível socioeconômico podem enfrentar maiores desafios na obtenção de cuidados de saúde adequados e condições adequadas de moradia que possibilitem acessibilidade durante a realização de suas atividades diárias com segurança e sem risco de queda importante. Portanto, é essencial abordar e mitigar os determinantes sociais da saúde do idoso para promover um envelhecimento saudável e equitativo (OMS, 2015).

As alterações que têm relação com a idade são resultados de variações nas alterações fisiológicas latentes que ocorrem com o avanço da idade, presença de outras doenças e condições clínicas, predisposição genética, estilo de vida, variabilidade intrínseca às doenças e condições clínicas em geral. Embora nenhuma hipótese explique inteiramente o processo de envelhecimento, surgiram dois grupos principais de teorias. O primeiro se refere às causas programadas denominadas de teorias genéticas, e o segundo se refere às causas estocásticas, nas quais a genética ou influências ambientais limitam a viabilidade (GOLDMAN, AUSIELLO, 2009).

Com o avanço da idade as alterações fisiológicas predispõem a mais doenças e a maior sua facilidade de agravamento. Além disso, a passagem do tempo resulta em alterações que, não sendo devidas ao envelhecimento, podem ser relacionadas à “dose-tempo” como, por exemplo, a exposição prolongada ao sol resulta no aparecimento de anormalidades e doenças como o câncer (GOLDMAN, AUSIELLO, 2009).

            As causas das quedas em idosos podem ser variadas e os fatores responsáveis são classificados em intrínsecos, ou seja, são alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, às doenças e o uso de fármacos, e extrínseco, esses fatores envolvem o ambiente que proporcionam riscos aos idosos, aumentando ainda mais os riscos de quedas àqueles idosos que já apresentaram dificuldade na marcha e no equilíbrio. Entre esses fatores extrínsecos estão ambientes que propiciem escorregar, tropeçar, pisar em falso ou esbarrar em objetos, pessoas ou animais. Geralmente, idosos não caem por realizar atividades perigosas (subir em escadas ou cadeiras) e sim em atividades rotineiras. As causas por fatores intrínsecos podem ser idade, surgimento de doenças, quedas anteriores, redução da acuidade visual, distúrbios do equilíbrio e da marcha, lesões do sistema nervoso, uso de medicações, dispersão ou falta de atenção ao deslocamento, sedentarismo, comprometimento dos mecanismos reguladores da pressão arterial (barorreceptores). Enquanto as causas por fatores extrínsecos só ocorrem devido a ambientes inadequados como superfícies escorregadias, iluminação inadequada, degraus altos ou estreitos, obstáculos no caminho, ausência de corrimãos, roupas e calçados inadequados, órteses mal adaptadas, prateleiras excessivamente baixas ou altas (FABRICIO; RODRIGUES; JUNIOR, 2004).

As causas das quedas em idosos podem variar, e geralmente se inter relacionam, podendo ter causas intrínsecas, que se referem às alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento e as doenças, ou extrínsecas, como ambientes pouco ergonômicos (pisos escorregadios, calçadas desniveladas) que propiciam desafios aos idosos (principalmente aqueles que apresentam algum déficit de equilíbrio e/ou marcha). O maior número de quedas em idosos não está associada, majoritariamente, a atividades de caráter perigoso (subir ou descer em escadas, ou cadeiras), uma vez que o medo de realizar essas determinadas atividades diminui sua frequência de ocorrência e, consequentemente,  diminuem suas oc e sim em atividades do dia a dia (FABRICIO; RODRIGUES; JUNIOR, 2004). 

As atividades do dia-a-dia são os principais fatores de queda, como caminhada, atividades em casa, etc. A falta de informação aos idosos, com um índice alarmante também contribui de forma bastante significativa para as ocorrências dos eventos de queda.

O Teste de Alcance Funcional (TAF) e Timed Up and Go Test (TUG) são dois dos instrumentos utilizados para avaliar em idosos o risco de quedas e o equilíbrio cor­poral estático e dinâmico, podendo auxiliar, entre outros, no estabelecimento de um programa efetivo de reabilita­ção.

O TAF determina o quanto o idoso é capaz de se deslocar no limite de estabilidade anterior. É utilizado para identificar o risco de queda. Para realização do teste, uma fita métrica é presa à parede, paralela ao chão, e posicionada na altura do acrômio do voluntário. O indivíduo, descalço, é posicionado com os pés confortáveis e paralelos entre si, perpendicularmente em relação à parede e próximo ao início da fita métrica. Com punhos em posição neutra, cotovelos estendidos e ombro com flexão de 90º, o voluntário é instruído a realizar a inclinação para frente sem tocar na fita e, em seguida, deve-se verificar o deslocamento sobre ela. O resultado é representado pela média da diferença entre a medida na posição inicial e a final registrada na régua, após 3 tentativas. Deslocamentos menores que 15 cm indicam fragilidade do paciente e risco de quedas, no entanto, estudos relatam que idosos com alcance funcional menor ou igual a 17 cm apresentam 13 vezes maiores chances de cair (KARUKA; SILVA; NAVEGA, 2011).

O TUG visa avaliar a mobilidade e o equilíbrio funcional. O teste quantifica em segundos a mobilidade funcional por meio do tempo que o indivíduo realiza a tarefa de levantar de uma cadeira, caminhar 3 metros, virar, voltar rumo à cadeira e sentar novamente. No TUG, o idoso parte da posição inicial com as costas apoiadas na cadeira. A cronometragem é iniciada após o sinal de partida e parada somente quando o idoso se coloca novamente na posição inicial, sentado com as costas apoiadas na cadeira. Estudos consideram que a realização do teste em até 10 segundos é o tempo considerado normal para adultos saudáveis, independentes e sem risco de quedas; valores entre 11 – 20 segundos é o esperado para idosos com deficiência ou frágeis, com independência parcial e com baixo risco de quedas; acima de 20 segundos sugere que o idoso apresenta déficit importante da mobilidade física e risco de quedas. Os mesmos autores determinam um desempenho de até 12 segundos como tempo normal de realização do teste para idosos comunitários (KARUKA; SILVA; NAVEGA, 2011).

3 MÉTODO

O método utilizado foi estudo populacional, de delineamento transversal, cuja população alvo constitui-se de idosos, residentes na área urbana de Lagarto- SE. Os dados para identificação de perfil e prevalência foram coletados por meio de entrevistas realizadas a domicílio na área de abrangência de quatro Unidades Básicas de Saúde do município. Foram aplicados 420 questionários contendo até 95 itens. Quanto à identificação de fatores intrínsecos e extrínsecos que predispõem às quedas, foram coletados dados apenas da parcela correspondente ao objetivo da pesquisa, sendo excluídos 186 idosos da pesquisa anterior, restando 234 questionários semiestruturados, contendo até 54 itens, além de dois testes funcionais (TAF e TUG). Utilizou como instrumento para tabulação dos dados o programa Microsoft Excel. Observou-se um predomínio do sexo feminino, casadas, alfabetizados apesar da baixa escolaridade.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

4. 1. Interpretação dos resultados da relação do perfil e prevalência de quedas dos idosos do município de Lagarto-SE.

Na análise dos questionários aplicados, podemos concluir que no tocante às características sócio-demográficas, a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino, branco, que residem em Lagarto a uma média de 45,6 anos. Dessa amostra, 64% sabem ler, apesar do nível de escolaridade ser baixo, pois a maioria só estudou até o primário. A maior porcentagem dos entrevistados era de casados, há uma média de 36,4 anos. A média de filhos dos entrevistados foi de 5,09 e em média vivem nos domicílios 2,68 pessoas.

Tabela 1. Características sócio-demográficas

Em relação ao fator satisfação em relação à vida, 84,3% dos entrevistados dizem estar satisfeitos com suas vidas. A parcela não satisfeita apontou como principal fator para a insatisfação problemas de saúde, estando em segundo lugar os conflitos de relacionamento pessoais.

Quando indagados sobre seu estado de saúde, 47,4% avaliam sua saúde como regular, apesar de 88,3% dos entrevistados não terem deixado de realizar suas atividades rotineiras nos últimos 15 dias que antecederam a entrevista, e 98,8% não terem ficado acamados no mesmo período de tempo.

 Quanto ao uso de medicamentos, 65,9% faz uso contínuo de algum medicamento, numa média de 2,27 comprimidos por dia.

Tabela 2. Caracterização da amostra quanto às características sociais.

Os principais problemas de saúde encontrados foram uso de óculos (63,6%), maior parte das pessoas com esse problema obteve diagnóstico médico (59,2%) e apenas uma pequena parcela (1,5%) faz auto uso; pressão alta (50,7%), dos quais 53% obtiveram diagnóstico médico e apenas 1,9% realizou autodiagnóstico;  artrose (24%) com 68,3% com diagnóstico médico e 30,7% se autodiagnosticou; deficiências de memória (21,9%) foi o problema que teve maior autodiagnóstico com uma porcentagem de 97,8% e somente 2,2% com diagnóstico médico; diabetes (19,3%), doenças do coração (10%), sendo 73,8% diagnosticado por médico e 11,9% com autodiagnóstico, reumatismo (9,5%) com 22.5% de diagnóstico médico e 37,5% de autodiagnóstico; depressão (7,8%) com 48,5 de diagnóstico médico e 30,3 de autodiagnóstico.

Tabela 3. Caracterização da amostra quanto aos problemas de saúde mais comuns

Em relação à utilização dos serviços de saúde 15,2 % dos entrevistados relataram que possuíam plano de saúde médico ou odontológico enquanto que 84,8% não possuíam.  No quesito de utilização do Sistema Único de Saúde 91,2% usufruíram dos serviços enquanto 8,8% não utilizam e 82,6% chegaram a utilizar os serviços da Unidade Básica de Saúde (UBS). Dos entrevistados 57,8% costumavam procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) quando estavam doentes; 24,5 % consultório de clínica particular e 17,5 % costumavam procurar outros tipos de serviços.
Nos últimos 12 meses 81,7% dos entrevistados se consultaram com algum médico obtendo uma média de 3,44% de consultas durante o ano, quando indagados se chegaram a ficar internados durante o ano 91 % não relataram internamento, mas dos 9% dos que se internaram, a média foi de 1,78% vezes ao ano com duração de 6,64 dias.
Quando questionados se receberam visita de algum profissional de saúde em sua residência, 80% afirmaram relatando o Agente Comunitário de Saúde (ACS) como sendo o profissional que mais visitam as residências.

Tabela 4. Utilização dos Serviços de Saúde

Em relação às quedas no último ano, 75,7% não sofreram nenhum evento, porém o restante (24,3 %) o tiveram e com média de 1,69 vezes no ano. Dos 81,9% que afirmaram ter medo de cair, 43,5 % relataram não deixar de fazer suas atividades.
Dos que caíram 54,4 % relatou como local da queda sua residência, no período da manhã (67,3%), sendo a área externa (23,6%), quarto (20%) e banheiro (18,2%) os principais cômodos da casa como locais específicos da queda. A grande maioria (54,5%) não tropeçou em algo, 50,5% não necessitam de ajuda para se levantar após a queda e 90,1% não perderam a consciência quando caíram, 68,3% falaram que quando caiu o corpo foi para frente, não conseguiram se apoiar para evitar a queda.  Relataram que não usam óculos no momento que caíram (33,7%) e não se sentiram tontos (81,2%).  As quedas em sua maioria geraram dor (26,7%) seguido de hematomas (23,7%), 75,3% não procuraram nenhum serviço de saúde após as quedas, mas dos que procuraram, 48,5 % recorreram aos serviços do hospital. Das quedas que geram (6,4%) a média foi de 8,66 dias. 76,3% dos entrevistados não receberam orientações sobre quedas.

Tabela 5. Caracterização da amostra quanto à ocorrência de quedas.

4.2. Interpretação dos resultados da relação dos fatores extrínsecos e intrínsecos que predispõem às quedas em idosos em Lagarto – SE,

Na análise dos questionários aplicados, podemos concluir que em relação às características sócio-demográficas, a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino. A maior porcentagem dos entrevistados eram casados.
Tabela 1. Características sócio-demográficas

Em relação às quedas no último ano 73,1% dos entrevistados não sofreram nenhuma queda, porém dos 16,9% que caíram, tiveram como média de quedas 1,95 vezes no ano. Entre os entrevistados, 82% afirmaram ter medo de cair. Porém, mesmo com a maioria revelando esse medo, 65,4% declaram não deixar de fazer nenhuma atividade por medo de cair.

No tocante ao local da queda, a maioria teve ocorrência na rua com 57,14%, sendo o período da manhã (77,7%) o predominante. Dos que caíram na própria residência (39,68%), a área externa (28%) foi o principal cômodo das quedas sendo seguido pela cozinha (16,4%) e banheiro (16%). Uma parcela discretamente maior (52,38%) tropeçou em algo e 50,7% necessitaram de ajuda para se levantar após a queda e 100 não perderam a consciência quando caíram, 63,68% falaram que quando caiu o corpo foi para frente e 84,13 não conseguiram se apoiar para evitar a queda.  A maioria dos idosos usavam óculos no momento que caíram (42,85%) e não se sentiram tontos (77,77%).  As quedas em sua maioria geraram principalmente escoriações (41,2%) seguido de dor (23,8%) e hematomas (15,8%), 87,31% não procuraram nenhum serviço de saúde após a queda. Os casos que precisaram de internação (3,17%) tiveram uma média de 2,46 dias. A grande maioria dos entrevistados nunca recebeu nenhuma orientação sobre quedas (90,48%).

Tabela 2. Necessidade de cuidador

Na aplicação do Teste de Alcance Funcional (TAF), a maioria dos idosos se encontrava na faixa de baixo risco (78,60%). O risco moderado englobou 16,20% e o alto risco apenas 5,20%. Em relação ao sexo, 145 mulheres e 39 homens se enquadraram no baixo risco. No risco moderado tivemos 30 mulheres para 8 homens e no alto risco 10 mulheres para dois homens. As porcentagens em relação ao risco aumentavam proporcionalmente a idade, e assim no alto risco com 80 anos ou mais tivemos 33,30% enquanto o baixo risco para essa idade foi 4%. 

O Timed Up and Go Test (TUG) avalia a mobilidade e o equilíbrio funcional. No baixo risco tivemos 222 (94,90%) idosos. A minoria ficou dividida entre médio risco, com 9 entrevistados, e baixo risco com 3 idosos. Em relação a sexo, 176 mulheres e 46 homens se enquadraram no baixo risco, enquanto que no risco médio foram 6 mulheres para 3 homens  e o alto risco 2 mulheres para 1 homem. 

IDADE x TAF

Gráfico de Dispersão – Análise de correlação linear (Pearson)*

IDADE x TUG
Gráfico de Dispersão – Análise de correlação linear (Pearson)*

Analisando os gráficos de dispersão verifica-se a influência da idade em relação a TAF e TUG. Na análise observa-se que a correlação da idade com TUG foi de 0,81658, indicando uma alta correlação entre as duas variáveis. Destaca-se também o valor positivo de, indicando uma relação de influência direta de uma variável sobre a outra. Em ambos os casos, o valor de r apresentou significância estatística (r > p).

5 DISCUSSÃO
Independentemente da idade, todo mundo cai. A queda é um evento comum na vida das pessoas e, muitas quedas, especialmente em crianças e adultos jovens, têm pouca consequência e não apresentam nenhum impacto funcional (CHANDLER, 2002).
De acordo com dados do DATASUS, a população idosa de Lagarto em 2012 é de 10476 idosos. A parcela da amostra que sofreu alguma queda foi de 102 idosos. Por esses dados podemos calcular que a incidência de quedas na cidade de Lagarto gira em torno de 9,73/1000 habitantes.
As quedas são um problema importante entre os idosos, não só por sua frequência, mas, principalmente, por suas consequências, sendo comum que as pessoas se preocupem apenas com as lesões físicas ocasionadas, negligenciando as consequências psicológicas e os danos sociais decorrentes do evento. Uma das principais consequências psicológicas é o medo que o idoso desenvolve após uma queda, tornando-o menos ativo e mais dependente de familiares e cuidadores (MAIA et al., 2011). Nos resultados, podemos perceber bem claro esse tópico, pois grande maioria afirmou ter medo de cair novamente, e até mesmo os que não caíram tem medo de um dia cair.
Com o envelhecimento aumentou-se também a prevalência de doenças neurodegenerativas, enfermidades cardiovasculares e metabólicas, influenciando o número de medicamentos consumidos por idosos. Logo, ele associou que os idosos com risco de quedas, são os que usufruem de muitos medicamentos, estes podem causar algumas alterações no corpo como sonolência e perda do equilíbrio (FALLEIROS et al, 2021). Essa relação também pode ser encontrada nos dados coletados, onde a maioria dos idosos que caíram fazem uso contínuo de medicamentos e sofrem de algumas doenças comuns à comunidade.
Uma das medidas mais importantes na avaliação multidimensional do idoso é a avaliação geriátrica quanto à polifarmácia. A atenção dos profissionais de saúde ao prescrever e estar vigilante quanto aos efeitos colaterais ou interação medicamentosa em pacientes idosos é crucial na prevenção de quedas, sobretudo porque muitos fármacos usados na população geriátrica são psicotrópicos e podem alterar a funcionalidade dessas pessoas. Gusso (2019) aponta que nos países mais idosos o uso excessivo de fármacos é mais ameaçador do que
eventualmente as próprias doenças que esses medicamentos buscam corrigir e um dos motivos, há de ser reforçado, é pelo risco de quedas associadas a isso. As causas das quedas em idosos podem ser variadas e estar associadas, podendo os fatores ser intrínsecos que se refere a alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento e as doenças ou, extrínsecos, como o ambiente (pisos escorregadios, calçadas desniveladas) que propicia desafios aos idosos, principalmente aqueles que apresentam algum déficit de equilíbrio ou na marcha. Pensando em alterações fisiológicas que levam o idoso a queda, é possível destacar duas condições : perturbação do equilíbrio e deficiência dos sistemas responsáveis pelo controle postural (JUNIOR; HECKMAN, 2006).
Por fim, é importante salientar que idosos não sofrem queda por realizar atividades consideradas perigosas (subir ou descer em escadas ou cadeiras) e sim em atividades do dia a dia (FABRICIO; RODRIGUES; JUNIOR, 2004).

6 CONCLUSÃO
Este estudo reitera o impacto do fenômeno queda enquanto uma questão de saúde pública, no município de Lagarto-SE. Além disso, mostra por meio do cruzamento de dados que existe uma relação proporcional entre os testes funcionais e a idade, sendo essa relação mais forte com o TG.
Da mesma forma, destaca a necessidade de investimentos em campanhas de conscientização e informação para idosos, familiares e cuidadores, sobre as quedas, como evitá-las, já que o nosso equilíbrio e os sistemas responsáveis pelo controle postural começam a declinar com a idade favorecendo a recorrência. Essa implementação poderá contribuir para redução do número de quedas em idosos nos próximos anos. O enfrentamento da subnotificação é outro aspecto relevante, que tende a diminuir a ocorrência do evento, favorecendo o planejamento de medidas de prevenção.

7 REFERÊNCIAS

BUKSMAN, S; VILELA, ALS; PEREIRA, SRM; LINO, VS; SANTOS, VH. Quedas em Idosos: prevenção. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, 2008.

CHANDLER, J. M. Equilíbrio e queda no Idoso : Questões sobre a Avaliação e o Tratamento. In: Guccione AA. Fisioterapia Geriátrica. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 265-77.

CIOSAK, SI; BRAZ, E; COSTA, MFB NA; NAKANO, NGR; RODRIGUES, J; ALENCAR.
Senescência e senilidade: novo paradigma na Atenção Básica de Saúde. Revista Escola de Enfermagem USP. 2011 45(2): 1763-176.

DUNCAN, Bruce B.; SCHMIDT, Maria Inês; GIUGLIANI, Elsa RJ. Medicina ambulatorial:
condutas de atenção primária baseadas em evidências. In: Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências . 2006. p. 1600-1600.

FABRÍCIO, S.C.C.; RODRIGUES, P. A. P. JUNIOR, M. L. C. Causas e consequências dequedas de idosos atendidos em hospital público. Revista Saúde Pública . São Paulo, v. 38, n. 1, p. 93-99, jun./jul. 2004.

FALLEIROS, I. F. I. et al. Influência de medicamentos no risco de queda em idosos. Revista Eletrônica Acervo Científico, v. 23. 2021. DOI: https://doi.org/10.25248/REAC.e7055.2021.

GOLDMAN, L.; AUSIELLO, D. Cecil Medicina . 23° Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

JÚNIOR, C. M. P.; HECKMAN, M. F. Distúrbios da postura, marcha e quedas. In: FREITAS, E. V.; PY, L.; CANÇADO, F.; GORZONI, ML.; DOLL, J.; et al. Tratado de geriatria e gerontologia . 2ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006, p. 954-961.

KARUKA, A. H; SILVA, J. A. M. G.; NAVEGA, M. T. Análise da concordância entre instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Revista Brasileira de Fisioterapia [online]. São Carlos, vol.15, n.6, p. 460-466. 2011. ISSN 1413-3555. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-35552011000600006 .

LEBRÃO, Maria Lúcia. O envelhecimento no Brasil: aspectos na transição demográfica e epidemiológica , Revista Saúde Coletiva. 2007 4(17): 135-140

MACIEL, A. Quedas em idosos: um problema de saúde pública desconhecido pela comunidade e negligenciado por muitos profissionais da saúde e por autoridades sanitárias brasileiras . Revista Médica. 2010 20(4): 554-557

MAIA, B. C. et al. Consequências das Quedas em Idosos Vivendo na Comunidade. Rev. Bras. Geriat. Gerontol ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 381-393. 2011.

RIBEIRO, AP; Souza, R. E; ATIE, S; SOUZA, AC; SCHILITHZ, AO. A influência das quedas na qualidade de vida de idosos. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. 2008 13(4): 1265-1273

SIRENA, S.A. et al. Avaliação multidimensional do idoso. In : DUNCAN, Bruce et al . Medicina ambulatorial : Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022. v. 1&2, cap. 50, p. 1640-1666. ISBN 978-65-5882-043-7.

MARGIN, Dee; Heath, Iona. Polifarmácia. In : GUSSO, Gustavo; LOPES, José; DIAS, Leda. Medicina de Família e Comunidade : Princípios, formação e prática. 2. ed. São Paulo: Artmed, 2019. cap. 30, p. 809-833. ISBN 978-85-8271-540-6.

WHO. Word Health Organization. World report on ageing and health . Luxemburgo: [ s. n. ], 2015 260 p. ISBN 9789240694811. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/186463/9789240694811_eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 20 maio 2023.


1Docente, Departamento de Educação em Saúde, Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor Antônio Garcia Filho.

2Médica(o), Graduada(o) pela Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor Antônio Garcia Filho.

3Docente, Curso de Fisioterapia, Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (Unileão).

4Discente, Departamento de Medicina, Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor Antônio Garcia Filho.

5Discente, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor Antônio Garcia Filho.

6Discente, Departamento de Odontologia, Universidade Federal de Sergipe, Campus Professor Antônio Garcia Filho