PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E A PERCEPÇÃO DE IDOSOS SOBRE TUBERCULOSE EM BARREIRAS – BA

PREVALENCE AND PERCEPTION OF THE ELDERLY ABOUT TUBERCULOSIS IN BARREIRAS – BA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8228719


Lucas Rériston Bastos Araujo¹, Luciana Rapôso Freitas Vasconcellos¹, Rafael Carvalho Maganhoto de Matos¹, Ana Luísa Silva Oliveira¹, Marina Batista Cipriano¹, Viviani Dias Orben¹, Ana Paula Bianchi², Maiara Bernardes Marques³, Juliana Leles Costa4


RESUMO

Objetivo: Avaliar a prevalência e o perfil epidemiológico de tuberculose da população de Barreiras – Ba, e averiguar o nível de conhecimento dos idosos acerca desta enfermidade. Métodos: Trata-se de uma pesquisa documental e em campo, um estudo observacional, analítico (transversal) com método quanti-qualitativo, através de análise documental disponibilizada pela Vigilância Epidemiológica (VIEP) do município de Barreiras no extremo oeste da Bahia, para avaliar a prevalência de tuberculose na população barreirense de 2014 a 2019; e entrevista semiestruturada realizada pelos pesquisadores com assistidos (com idade igual ou superior a 60 anos) em duas Unidades Básicas de Saúde dos bairros Vila Amorim (UBS Hans Werner) e Vila Brasil (UBS Vila Dulce). O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: Os dados revelaram que houve 328 casos notificados de tuberculose no período analisado.  A infecção pelo Mycobacterium tuberculosis tende a aumentar com o envelhecimento, havendo uma maior prevalência sobre o sexo masculino. A maioria dos idosos entrevistados detinham o conhecimento acerca da sintomatologia da enfermidade e sabiam que a tuberculose apresenta tratamento. Conclusão: A maior quantidade de infecção pelo Mycobacterium tuberculosis ocorreu em 2017. Além disso, a faixa etária de 45 a 49 anos foi a mais predominante, sendo observada uma tendência de maior acometimento na população idosa. O conhecimento dos idosos do município de Barreiras foi consideravelmente maior do que o esperado acerca da tuberculose e suas características, apesar de a grande maioria apresentar um baixo grau de escolaridade.

Palavras-chave: Doença infecciosa pulmonar, Tuberculose pulmonar, Mycobacterium tuberculosis, Doença infectocontagiosa, Tuberculose em idosos.

ABSTRACT

Objective: To assess the prevalence and epidemiological profile of tuberculosis in the population of Barreiras – Ba, and to ascertain the level of knowledge of the elderly about this disease. Methods: This is a documentary and field research, an observational, analytical (cross-sectional) study with a quantitative and qualitative method, through document analysis provided by the Epidemiological Surveillance (VIEP) of the municipality of Barreiras in the extreme west of Bahia, to assess the prevalence of tuberculosis in the population of Barreiras from 2014 to 2019; and a semi-structured interview carried out by the researchers with patients (aged 60 years or older) in two Basic Health Units in the neighborhoods of Vila Amorim (UBS Hans Werner) and Vila Brasil (UBS Vila Dulce). The study was approved by the Research Ethics Committee. Results: The data revealed that there were 328 notified cases of tuberculosis in the analyzed period. Mycobacterium tuberculosis infection tends to increase with aging, with a higher prevalence among males. Most of the elderly people interviewed had knowledge about the symptoms of the disease and knew that tuberculosis has treatment. Conclusion: The highest number of Mycobacterium tuberculosis infections occurred in 2017. In addition, the age group from 45 to 49 years old was the most prevalent, with a trend of greater involvement being observed in the elderly population. The knowledge of the elderly in the city of Barreiras was considerably higher than expected about tuberculosis and its characteristics, despite the fact that the vast majority had a low level of education. 

Key words: Infectious lung disease, Pulmonary tuberculosis, Mycobacterium tuberculosis, Infectious disease, Tuberculosis in the elderly.

1. INTRODUÇÃO

A Tuberculose (TB) é um relevante problema de saúde pública em todo o mundo, sendo responsável por milhares de óbitos anualmente, apresentando como característica sua fácil transmissão e longo tratamento (OMS, 2015). Os desequilíbrios sociais constituem fatores que apresentam potencial para interferir no controle ou cura de tuberculose, tais como: renda, idade, desemprego, o acesso à alimentação, exames e serviços de saúde, bem como situações de vulnerabilidade social, crença religiosa, condições de habitação, populações vulneráveis (indígenas, mulheres), aqueles que residem tanto em zona rural, quanto urbana, dentre outros (BERTOLOZZI MR, et al., 2020).

Um tratamento multidisciplinar na atenção básica e a identificação de lacunas na oferta de ações são essenciais para a adesão ao tratamento da TB, podendo ajudar os serviços de saúde a modificarem e melhorarem o cenário epidemiológico da doença (BARREIRA D, 2018). Existem dificuldades em sua resolução como, a não adesão ou abandono do tratamento, inviabilizando a sua cura e cuidado integrado e centrado no paciente (SANTOS TA e MARTINS MF, 2018).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que, para o controle da doença, a meta de cura seja igual ou superior a 85% e a de abandono seja menor do que 5%. Apesar de esses percentuais apresentarem melhora na série histórica, o país ainda possui encerramentos aquém dos valores definidos pela OMS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Em 2020, na Bahia, foram registrados 318 óbitos por TB, perfazendo um coeficiente de mortalidade de 2,1/100.000 habitantes, a forma pulmonar representou 87,69% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022).

Embora tenha sido observada uma constante tendência de queda entre os anos de 2011 e 2016, o coeficiente de incidência de TB no país aumentou entre os anos de 2017 e 2019. Todavia, em 2020, em momento de pandemia pelo vírus SARS-COV-2 (COVID-19), observou-se uma acentuada da incidência em comparação ao ano anterior. É importante salientar que, a proporção de cura entre os casos novos de TB pulmonar com confirmação laboratorial no Brasil, em 2019, foi de 70,1%. As UF do Amapá, Rondônia, Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas, Bahia e Espírito Santo apresentam percentuais de cura de TB pulmonar abaixo do percentual nacional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).

Ainda em meio ao cenário mundial da pandemia da COVID-19, cerca de 10,6 milhões de pessoas adoeceram por TB no ano de 2021, havendo um aumento de até 4,5% em relação ao ano de 2020. Além disso, aproximadamente 1,6 milhão vieram a óbito por TB, incluindo neste grupo 187 mil entre as pessoas vivendo com infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida – HIV (OPAS, 2022).

Diante desse cenário, em que há ainda uma alta incidência de TB na Bahia, e que a recomendação da OMS sobre a erradicação da doença era para até 2020, é importante conhecer a prevalência e o perfil epidemiológico da doença. Além de, averiguar o conhecimento da população mais vulnerável pela doença. Dessa forma, políticas de prevenção, busca ativa e difusão do conhecimento poderão ser implementadas de forma a melhorar os índices da doença na cidade de Barreiras – Ba.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos do Centro Universitário Maurício de Nassau de Barreiras (UNINASSAU) com número CAAE 17609419.2.0000.5026. Foi realizada uma pesquisa documental e em campo, um estudo observacional, analítico (transversal) com método quanti-qualitativo, através de análise documental disponibilizada pela VIEP (Vigilância Epidemiológica) do município de Barreiras no extremo oeste da Bahia, para avaliar a prevalência de TB na população barreirense de 2014 a 2019; e entrevista semiestruturada realizada pelos pesquisadores com assistidos (com idade igual ou superior a 60 anos) em duas Unidades Básicas de Saúde dos bairros Vila Amorim (UBS Hans Werner) e Vila Brasil (UBS Vila Dulce).

O instrumento de coleta de dados constituiu nos casos notificados de TB de 2014 a 2019 na VIEP. Foram coletados os seguintes dados: faixa etária, sexo, escolaridade, cura e óbito. Além disso, a aplicação da entrevista com perguntas acerca de dados gerais e sete perguntas norteadoras. Os procedimentos do estudo foram desenvolvidos de forma a proteger a privacidade dos indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária.

As entrevistas com os idosos foram realizadas durante os meses de setembro a novembro de 2019. Nesse sentido, para a realização da entrevista foram apresentados os objetivos e a importância do estudo aos idosos nas UBS citadas acima; seguida da apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, após assinatura, foi realizada a entrevista com gravador de voz no celular dos pesquisadores, ao fim houve a transcrição para o papel e, posteriormente, o áudio foi deletado.

Após finalizar o número amostral das entrevistas, foi apresentada uma palestra e entrega de material informativo sobre a doença para todos os indivíduos presentes na UBS. A atenção neste estudo também esteve voltada para os pacientes que já foram portadores de TB e se dispuseram a realizar palestra com propósito de demonstrar este fenômeno sob a ótica de quem o vive. Os dados foram organizados em planilhas no programa Excel do pacote Office para a confecção de tabelas e gráficos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados mostraram que a infecção pelo Mycobacterium tuberculosis tende a aumentar com o envelhecimento, com um predomínio na população envelhecida. Poucos casos foram notificados em crianças. A maior quantidade de casos (40) foi na faixa etária de 45-49 anos, seguido de 65-69 anos (35) (Gráfico 1).

Conforme Oliveira RRD, et al. (2019) percebe-se que a tuberculose se configura uma problemática prevalente na população idosa, o que está associado principalmente ao processo de envelhecimento, que torna o idoso mais propenso a esse processo de adoecimento, além de resultar em uma maior gravidade, especialmente quando na presença de comorbidades e outros agravos associados.

Mesquita CR, et al. (2021) conclui que a maioria dos idosos portadores de tuberculose era do sexo masculino, residente da zona urbana, entre 60 e 69 anos e com baixa escolaridade. Oliveira RRD, et al. (2019) realizando buscas entre os anos de 2001 e 2008 acerca dos casos de tuberculose em idosos notificados no Brasil, totalizaram-se 210.085 casos, sendo a prevalência dos casos na região sudeste, no sexo masculino, na raça/cor parda e forma clínica pulmonar foram predominantes. Da mesma forma, Silva LF, et al. (2019) observou uma alta prevalência (16,1%) de tuberculose em idosos (≥60 anos) no estado do Maranhão, no período de 2010 a 2015, sendo que o grau de escolaridade foi menor do que oito anos de estudo.

Gráfico 1 – Número de casos por faixa etária notificados de Tuberculose em Barreiras – Ba no período de 2014 a 2019.

Fonte: Vigilância Epidemiológica – Barreiras, Bahia, Brasil, 2019.

Durante o período de 2014 a 2019, houve 328 casos no total, em que notou-se uma maior quantidade de casos notificados de tuberculose em Barreiras no ano de 2017, havendo uma tendência a declinar nos anos subsequentes (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Número total de casos notificados de Tuberculose no município de Barreiras por ano (2014 a 2019).

Fonte: Vigilância Epidemiológica – Barreiras, Bahia, Brasil, 2019.

Durante o período analisado (2014 a 2019) houve uma predominância de infectados pelo M. tuberculosis no sexo masculino. Os dados refletem uma realidade brasileira, com prevalência no sexo masculino (Gráfico 3).

Silva TC, et al. (2022) conclui que o papel social do homem, como provedor financeiro, e da mulher, como cuidadora, são elementos expressivos na influência do gênero na adesão ao tratamento da tuberculose. A desigualdade de gênero é notada na epidemia da tuberculose mundialmente e, entre os vários processos que evidenciam essa realidade, encontram-se as diferenças socioeconômicas e culturais. Os papéis exigidos socialmente aos homens podem aumentar o contato social, deixando-os mais expostos ao bacilo, e quando diagnosticados com a doença, podem mostrar-se frágeis. Muitos homens também apresentam baixa ou nenhuma escolaridade, trabalham e apresentam maior tempo dedicado a atividades extra domicílio. Em contrapartida, muitas mulheres apresentam maior escolaridade, trabalham e dedicam mais tempo a atividades no próprio domicílio.

Muitos fatores de risco estão associados à dificuldade em controlar a tuberculose, são eles: o aumento da resistência aos antibióticos, diabetes, transtorno por uso de drogas, tabagismo e uso do álcool, e infecção pelo HIV. Especialmente no sexo masculino que se observa o maior consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e uso de drogas, o que favorece a alta prevalência nesse grupo (OMS, 2020).

Gráfico 3 – Número total de casos notificados de Tuberculose no município de Barreiras no período de 2014 a 2019 por sexo.

Fonte: Vigilância Epidemiológica – Barreiras, Bahia, Brasil, 2019.

Não foi possível obter o índice de cura, abandono e morte dos últimos anos, mas em 2015 e 2016, notou-se uma queda nos coeficientes pesquisados, no entanto, pela escassez de informações, não há como saber a etiologia de tal “melhora” (Gráfico 4).

Vários fatores estão relacionados ao abandono do tratamento da tuberculose, dentre eles o principal fator se encontra numa fraca relação entre a equipe de saúde e o paciente, haja vista que o paciente que está em tratamento da tuberculose necessita de uma boa relação e interação com a equipe que o está acompanhando. Além disso, é fundamental que a equipe de saúde o esclareça e o oriente da melhor forma, fazendo com que haja uma adequada adesão à terapia medicamentosa. Dentre outras causas, o alcoolismo também é um importante fator contribuinte para o abandono do tratamento de tuberculose (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020). Um importante fator determinante para o considerável número anual de óbitos por tuberculose é a ausência de acesso aos sistemas de saúde públicos por algumas populações, ou até mesmo indivíduos que vivem em situações precárias de habitação, aqueles que possuem baixo nível socioeconômico, desnutrição e pessoas que vivem em espaços pequenos e aglomerados (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2022).

Gráfico 4 – Relação entre abandono ao tratamento, cura e óbito por tuberculose no município de Barreiras – Ba no período de 2015 e 2016.

Fonte: Vigilância Epidemiológica – Barreiras, Bahia, Brasil, 2019.

Foram entrevistados na UBS Hans Werner, nove idosos e na UBS Vila Dulce, 37 idosos, totalizando 46 indivíduos. Foi constatado nas entrevistas, que 93,48% dos pacientes entrevistados relataram o conhecimento quanto ao conceito sobre a TB. Este fato pode estar associado a informações adquiridas por terceiros (familiares e vizinhos), por profissionais da saúde e através de campanhas governamentais sobre o tema. Por outro lado, apenas 6,52% dos mesmos não souberam o significado da patologia em questão. Detectou-se que, dos indivíduos entrevistados, 69,57% nunca tiveram contato com a TB e não conheciam ninguém com essa enfermidade, enquanto 30,43% afirmaram conhecer, pelo menos, uma pessoa que já teve a doença. Dentre os idosos estudados, 78,26% detinham a compreensão sobre as formas de contágio, enquanto 21,73% não souberam responder a essa informação. Daqueles que detinham da compreensão sobre a forma de contágio, 13,04% relataram a tosse como principal meio de contaminação, enquanto 4,34% relacionaram a transmissão a partir de utensílios e ao uso compartilhado de objetos pessoais (Tabela 1).

A principal fonte de infecção de TB se dá pela inalação de gotículas de partículas que advém da tosse, espirro ou fala (SILVA EA e SILVA GA, 2016). Comumente, a tuberculose não possui transmissibilidade por itens compartilhados. Os bacilos, que se depositam sobre as vestes, cobertores, lençóis e talheres são difíceis de se dispersar em aerossóis não sendo, portanto, uma forma de transmissão significativa dessa enfermidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE).

Tabela 1 – Componentes do indicador de conhecimento sobre Tuberculose com os idosos assistidos nas Unidades Básicas de Saúde Hans Werner e Vila Dulce em Barreiras – Ba.

PerguntaHans WernerVila DulceTotal
n%n%n%
P1 – Você sabe o que é tuberculose?
Sim777,783697,294393,48
Não222,2212,7036,52
P2 – Você já teve contato com esta doença? (conhece alguém que já teve a doença?)
Pessoas conhecidas222,221232,431430,43
Não777,782567,573269,57
P3 – Você sabe se essa doença é transmissível?*
Sim888,882875,673678.26
Tosse**333,3338,10613,04
Objetos infectados**111,1112,7024,34
Não111,11924,321021,73
P4 – Você conhece os sintomas característicos da doença? Quais sintomas?*
Sim555,552772,973369,56
Emagrecimento**19,0925,4036,52
Tosse**444,442259,452656,52
Febre**111.111335.131430.43
Fraqueza**00718.91715.21
Dor Torácica**00410.8148.69
Falta de Ar**111.1125.4036.52
Falta de Apetite**0025.4024.34
Dor de Cabeça**00410.8148.69
Insônia**0012.7012.17
Emagrecimento**0025.4024.34
Hemoptise**0025.4024.34
Não444.44924.321328.26
P5 – Você sabe qual exame é indicado para identificar se a pessoa tem tuberculose?*
Sim333,331848.642145.65
Hemograma**0012,7012,17
Radiografia**222,2212,7036,52
Tomografia**0012,7012,17
Cultura de Escarro**111,111129,731226,09
Não666,671962,162554,34
P6 – Você sabe como se trata a tuberculose?*
Sim333,331848.642145.65
Isolamento**0025.4024.34
Tratamento por 6 meses**0012.7012,17
Internação Hospitalar**0012.7012,17
Boa Alimentação**0012.7012,17
Antibiótico**111,1138.10919,57
Folhas Medicinais**111,110012,17
Xarope**111,110012,17
Não666,671951.352554,34
P7 – Você sabe se a tuberculose tem cura?
Sim666,673183,783780,43
Não333,33616.21919,57
*Para esta variável, foi utilizada a técnica de múltiplas respostas para um mesmo indivíduo. **Citados pelos indivíduos entrevistados que responderam sim às perguntas.
Fonte: Araujo LRB, et al., 2019.

Os dados coletados mostraram que maioria soube afirmar sobre os sintomas de tuberculose. A maioria (56,52%) relatou conhecer a tosse como sintoma da patologia, seguido por febre, fraqueza, dor torácica e dor de cabeça, falta de ar, falta de apetite, respectivamente, emagrecimento, hemoptise e insônia também foram citados, 17,81% afirmaram não saber os sintomas. Apenas 45,65% relataram conhecer os exames indicados para o diagnóstico da TB, ainda citaram a cultura de escarro, tomografia, radiografia e hemograma como provável meio de diagnóstico. 63,04% não souberam quais os exames que são indicados em caso de suspeita. Cerca de 45,65% dos indivíduos sabiam que a TB pode ser tratada e 54,34% afirmaram não saber. 21,05% afirmaram que o tratamento é feito por meio do uso de antimicrobianos. Isolamento, boa alimentação, internação hospitalar e tratamento por seis meses também foram citados como condutas terapêuticas. Quanto à cura, 80,43% afirmaram possível bom prognóstico (Tabela 1).

A sintomatologia no adulto tem início inespecífico, como febre diurna, sudorese noturna, perda ponderal, anorexia, mal-estar e fraqueza, com a progressão da doença, os pacientes desenvolvem tosse, com hemoptise maciça ocasional. Em parte dos indivíduos, a infecção primária é assintomática ou branda, podendo causar febre e dor torácica pleurítica ocasional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). Para o diagnóstico da tuberculose são utilizados a baciloscopia, teste rápido molecular para TB, cultura para identificação da micobactéria e radiografia de tórax (SANTOS TA e MARTINS MF, 2018). A baciloscopia é o método mais utilizado na rede pública, sendo um exame simples e seguro. Sua realização permite detectar o bacilo álcool-ácido-resistente (BAAR) pelo método de Ziehl-Nielsen. Por outro lado, o exame padrão-ouro para o diagnóstico da tuberculose é a cultura e/ou testes moleculares (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

O tratamento consiste na combinação de diversos fármacos anti-TB, a sua introdução é de forma fixa e combinada no esquema com quatro medicamentos: rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, essa recomendação é utilizada para adultos e adolescentes na maioria dos países, conforme preconizado pela OMS (RABAHI MF, et al., 2017). Quanto às ações de vigilância, ressalta-se a importância do preenchimento da ficha de notificação, haja vista a importante incompletude encontrada, especialmente em relação à nova variável do SINAN-TB: ser beneficiário de programa de transferência de renda do governo (SANTOS JN, et al., 2018).

Vale ressaltar a extrema importância da realização da busca ativa dos casos suspeitos pelos profissionais da saúde, além do acompanhamento constante de todo o processo de tratamento dos pacientes diagnosticados com TB, realizado pela Unidade Básica de Saúde, de forma gratuita, tanto em relação ao atendimento, quanto ao fornecimento das medicações, garantindo que a terapia seja realizada de forma adequada. Pois, a adesão do paciente é um ponto-chave para o sucesso da terapêutica, uma vez que o tratamento é longo e se faz necessário o seguimento correto de todo o fluxograma, elevando de maneira significativa as chances de cura e diminuindo a resistência bacteriana tão temida atualmente.

4. CONCLUSÃO

Com o desenvolvimento deste estudo foi identificado que no período entre 2014 a 2019 em Barreiras – BA a maior quantidade de infecção pelo Mycobacterium tuberculosis ocorreu em 2017, sendo que, o ano de 2019 teve o menor número de casos notificados. Além disso, a faixa etária de 45 a 49 anos foi a mais predominante, havendo uma tendência de maior acometimento na população idosa, sendo mais prevalente no sexo masculino. O conhecimento dos idosos do município de Barreiras foi consideravelmente maior do que o esperado acerca da doença e suas características, apesar de 56,52% apresentarem um baixo grau de escolaridade.

Após a realização de palestras informativas planejadas pelos pesquisadores, os idosos assistidos pela pesquisa amplificaram o seu conhecimento com relação aos sinais e sintomas da doença, tendo em vista a busca por um diagnóstico e tratamento precoce com melhoria do prognóstico. Ademais, o funcionamento, a prevenção e as formas de um tratamento efetivo, evitando o agravo dessa enfermidade, bem como a sua transmissão. Dessa forma, o conhecimento adquirido pelos idosos pode ser compartilhado para familiares e pessoas do convívio mais íntimo, de forma que estes também possam atuar como multiplicadores do saber.

5. REFERÊNCIAS

BARREIRA D. Os desafios para eliminação da tuberculose no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 2018.

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¹Graduando em Medicina no Centro Universitário Maurício de Nassau de Barreiras (UNINASSAU). lucasreristonart@gmail.com.
2Docente do Centro Universitário São Francisco de Barreiras (UNIFASB), Barreiras – Ba. Nutricionista graduada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade de Passo Fundo – UPF.
3Doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Pós – Doutoranda pela Universidade de Pernambuco, pelo programa de Pós – Graduação em Saúde e Desenvolvimento Socioambiental.
4Docente no Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Barreiras – Ba. Doutorado em Ciências (Biologia na Agricultura e no Ambiente), Universidade de São Paulo. profajulianaleles@gmail.com.