RELAÇÃO ENTRE OBESIDADE E A SÍNDROME METABÓLICA: MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8210043


Rebeca Leal Martins1; Lucas Vinicius Alves Santos1; Flávia Rocha Brilhante Vendramini1; Victoria Rocha Chamon1; Pedro Enzo Medeiros Cardoso1; Marcos Felipe Menezes Magalhães1; Nathan Costa Ribeiro1; Mariana Coelho Gomes Costa1; João Rodrigo Filgueira Sales1; Ana Iracema Marques Teixeira1; Renata Moura Matos1; Ana Luiza Vicente Portante1; Alessandra Oliveira Lima1; Gabriel de Oliveira Gratão1


RESUMO 

A Síndrome Metabólica corresponde a um conjunto de doenças cuja base é a resistência  insulínica, pela dificuldade de ação da insulínica, decorrem as manifestações que podem fazer  parte da síndrome. A insulina é o hormônio responsável por retirar a glicose do sangue e levá-la às células do nosso organismo, sendo fundamental para o metabolismo das gorduras.  Resistência insulínica corresponde então a uma dificuldade desse hormônio em exercer suas  ações. A Obesidade tem se apresentado como um dos fatores favoráveis para desencadear a  síndrome metabólica. É sobre estes fatores e acometimento que se torna essencial o  entendimento do mecanismo fisiopatológico para a intervenção precoce a fim de que auxilie na  qualidade de vida. Trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter exploratório, tendo como  base teórica Medline, Google Acadêmico, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Scielo,  para elaborar o presente artigo, o que contribui no alcance dos objetivos pré-estabelecidos. 

Palavras-Chave: Fisiopatologia. Obesidade. Eventos cardiovasculares. 

ABSTRACT 

Metabolic Syndrome corresponds to a set of diseases whose basis is insulin resistance.  Insulin is the hormone responsible for removing glucose from the blood and taking it to the  cells of our body, being fundamental for the metabolism of fats. Insulin resistance then corresponds to a difficulty for this hormone to exert its actions. Obesity has been presented as  one of the favorable factors to trigger metabolic syndrome. It is about these factors and  involvement that it becomes essential to understand the pathophysiological mechanism for early  intervention in order to help in the quality of life. This is an exploratory bibliographical review,  based on Medline, Google Scholar, Sociedade Brasileira de Endocrinologia and Scielo, to  prepare this article, which contributes to the achievement of pre-established objectives. 

Keywords: Pathophysiology. Obesity. Cardiovascular events. 

1. INTRODUÇÃO  

A síndrome metabólica descreve um conjunto de fatores de risco metabólico que se  manifestam no indivíduo e aumentam as chances de desenvolver doenças cardíacas, derrames  e diabetes. Tem como base a resistência à insulina. A insulina age menos nos tecidos, obrigando  o pâncreas a produzir mais insulina para o aparecimento: os genéticos, excesso de peso  (principalmente na região abdominal) e ausência de atividade física. 

A obesidade é resultado de um balanço energético positivo, e a hipóxia ocorre quando,  de forma simplificada, a expansão do tecido adiposo excede a capacidade de oxigenação local  (devido a uma combinação dos vários fatores etiológicos discutidos acima), e ocorre o estresse  oxidativo, com liberação de citocinas. Essas, por sua vez, atraem macrófagos que exacerbam o  processo de inflamação, ocasionando resistência à insulina3

Contribuindo para isso, o excesso de ácidos graxos começa a se depositar em órgãos  viscerais, visto que o tecido adiposo não consegue recebê-los integralmente devido à  inflamação. O aumento de gordura visceral leva à lipotoxicidade, com consequente disfunção  tecidual. Os órgãos acometidos, em especial o fígado e os músculos, amplificam a produção  dessas citocinas inflamatórias por meio de macrófagos locais; como resultado, há diminuição de células T reguladoras e eosinófilos, responsáveis pelo controle da inflamação, perpetuando,  assim, o quadro inflamatório de baixo grau2

 A síndrome metabólica associada à obesidade, principalmente àquela com  adiposidade visceral, sendo uma das principais características a presença de resistência à  insulina; além disso, ocorre aumento de ácidos graxos livres circulantes e hiperativação do  sistema renina-angiotensina-aldosterona2-3

A importância do entendimento do mecanismo fisiopatológico e do acometimento  sistêmico visa melhorar a qualidade de vida dos pacientes, prevenção de estresse oxidativo, e consequentemente desencadear síndrome metabólica. 

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Obesidade como um fator desencadeante para Síndrome  Metabólica  

Outra questão que vem recebendo destaque nos últimos anos é o modo como a gordura  corporal se distribui. Uma forma objetiva de avaliar essa distribuição é através da medição do  Perímetro da Cintura (PC) e da Relação Cintura-Quadril (RCQ). Segundo a OMS, em pacientes  caucasianos, um perímetro de cintura ≥ 94 cm no homem (ou RCQ maior que 0,9), ou ≥ 80 cm  na mulher (ou RCQ maior que 0,85) acarreta maior risco de complicações metabólicas,  principalmente hipertensão arterial e síndrome metabólica. 

Um hormônio denominado leptina é secretado pelos adipócitos em resposta à  hiperalimentação e ao ganho de gordura corporal, a leptina é um marcador da obesidade: quanto  mais obeso o paciente, maior é o nível plasmático de leptina. A leptina é importante  fisiologicamente para evitar a desnutrição: quando o indivíduo se alimenta pouco e perde peso,  há um bloqueio fisiológico de sua produção pelos adipócitos, estimulando o apetite e fazendo  a pessoa ingerir mais alimentos.  

Segundo a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome  Metabólica), os critérios aceitos para o tratamento farmacológico da obesidade são:

∙ IMC ≥ 30 kg/m2

IMC ≥ 25 kg/m2 ou ≥ 27 kg/m2 (no caso da liraglutida e da lorcaserina)  na presença de comorbidades; 

Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico (a história  prévia de falência com dieta hipocalórica já é suficiente). 

Várias propostas de critérios diagnósticos para Síndrome Metabólica podem ser encontradas na literatura médica. O que todas elas apresentam em comum é a inclusão de marcadores para:

▶ Fatores de risco cardiovascular modificáveis com hábitos de vida: hipertensão arterial  e dislipidemia – geralmente, hipertrigliceridemia e colesterol HDL baixo;

▶ Distúrbios do metabolismo da glicose: resistência à insulina, hiperinsulinemia,  glicemia alterada em jejum ou após teste de tolerância à glicose, diagnóstico prévio de Diabetes  Mellitus (DM);

▶ Obesidade: Índice de Massa Corpórea (IMC), cintura abdominal ou relação cintura-quadril.

Apesar da obesidade visceral e a resistência à insulina parecerem os principais fatores  responsáveis pelo surgimento das anormalidades componentes da Síndrome Metabólica (SM),  provavelmente não são os únicos. Em média, indivíduos com Síndrome Metabólica têm maior  resistência à insulina do que indivíduos sem Síndrome Metabólica (SM). Entretanto, há aqueles  com resistência — demonstrada por estudos bioquímicos — que não apresentam os  componentes da SM, assim como há indivíduos com diagnóstico de SM sem evidências  bioquímicas de resistência5

Provavelmente, os fatores genéticos desempenham um papel ao menos parcial na  determinação da SM, haja vista que algumas mutações — por exemplo, no gene do receptor da  insulina, ou no PPAR-gama — podem provocar um estado de resistência à insulina e  manifestações compatíveis com a SM4

O envelhecimento também aumenta significativamente o risco de SM. É muito  provável, no entanto, que a maioria dos casos de SM tenha etiologia multifatorial e complexa,  associando uma predisposição genética a fatores ambientais, como sedentarismo, dieta  altamente calórica e rica em gorduras saturadas e acúmulo de gordura na região abdominal, que  contribuem para o seu desencadeamento8

2.2 Prevenção e fatores modificáveis 

O principal objetivo da terapia antiobesidade é a redução global de risco, que deve ser  considerada mais importante do que a estética. Diversos trabalhos mostraram que reduzir peso  em obesos diminui consideravelmente o risco de síndrome metabólica, entre outras patologias.  É claro que a melhorar a estética (um critério subjetivo) é importante, pois aumenta a autoestima  e reduz o efeito estigmatizante da doença4-5

O médico deve orientar o paciente quanto aos objetivos reais do tratamento: o “peso dos  sonhos” é muito difícil de ser atingido e não deve ser o objetivo central da abordagem e sim,  alertar dos riscos que a obesidade pode acarretar e das possíveis consequências1

Os objetivos do tratamento da obesidade são: (1) reduzir o peso do paciente, em pelo  menos 5–10% do peso anterior, em um período de seis meses; (2) reduzir o peso em uma taxa  de 0,5–1,0 kg/semana; e (3) manter o peso após a perda, de preferência indefinidamente. Os  dois primeiros objetivos são fáceis de serem alcançados, mas o terceiro é o mais difícil, pois  exige uma grande disciplina, mas sendo incluindo a dieta hipocalórica, exercícios físicos  regulares, terapia comportamental e acompanhamento multiprofissional10

Para que o paciente tenha boa adesão à dieta, o segredo é a orientação: a educação alimentar. O paciente deve aprender sobre a quantidade calórica dos principais alimentos,  discutindo com o médico, ou o nutricionista, qual é a dieta que melhor se enquadra no seu  paladar e nos seus hábitos de vida. Pacientes com dificuldades de aderir à dieta podem ser  encaminhados para um terapeuta comportamental especialista em obesidade9

É outra parte fundamental da terapia. O exercício físico sem dieta não exerce efeito  significativo na perda ponderal. Quando associado à dieta hipocalórica, a principal função do  exercício é evitar o ganho de peso no futuro, ou seja, ele ajuda o paciente a manter o peso após  a dieta7-9

3. METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão de literatura, com caráter descritivo. A estratégia de  identificação e seleção dos estudos foi a busca nas bases de dados Medline, Google Acadêmico,  Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Scielo. Os critérios de inclusão predeterminados para  a construção do referencial teórico são 1) Artigos que estejam condizentes com o eixo temático  proposto 2) Artigos em idiomas diferentes do português, como o inglês. Dentre os critérios de  exclusão: 1) Artigos que discutem obesidade relacionado a outras patologias 2) Artigo  inferior a 2020. As vantagens superam quaisquer riscos, pois visa destacar a importância do  exercício físico, dieta balanceada e prevenção da obesidade para prevenção da Síndrome  Metabólica. Exclusão de qualquer interesse pessoal ou financeiro relacionado aos dados  coletados, confirmação de interesse puramente científico para avaliar características de  prevalência pré-determinadas de acordo com os objetivos da pesquisa. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A obesidade é uma doença complexa que envolve múltiplos fatores genéticos,  ambientais e biológicos, entre os quais o balanço energético. O resultado positivo é o ganho de  peso por meio do acúmulo de gordura. É considerado um dos maiores problemas de saúde  pública por estar associada a maior morbidade e mortalidade, e sua prevalência ter a taxa de  crescimento é impressionante em todo o mundo, especialmente em países subdesenvolvidos. 

Segundo dados do Vigitel de 2019, que consiste em um sistema de vigilância de fatores  de risco para doenças crônicas não transmissíveis, feito por meio de inquéritos telefônicos nas  26 capitais e no Distrito Federal, 55,4% da população brasileira encontrava-se acima do peso,  sendo 20,3% constituídos por indivíduos obesos, sem diferença significativa entre homens e mulheres. Frente a uma pandemia de obesidade, é necessária a construção de estratégias para  prevenção e tratamento adequados11.  

Em primeiro lugar, a avaliação antropométrica do paciente deve ser parte fundamental  do exame físico, pois permite a classificação nutricional e o início da conversa sobre o excesso  ponderal. Tenha em mente que a abordagem da doença deve ser feita de forma a não  estigmatizar o paciente como “preguiçoso”, mas com o intuito de acolhê-lo e incentivá-lo às  mudanças de estilo de vida. a elevação do IMC tem relação com o aumento da  morbimortalidade10.  

Assim, quanto mais grave a obesidade, maior será o custo para o sistema de saúde, visto  que há inúmeras comorbidades associadas ao excesso ponderal, entre eles, o risco de alterações  endócrino-metabólicas, resistência à insulina e diabetes mellitus tipo 2, perfil lipídico  aterogênico (aumento do LDL pequena e densa, diminuição de HDL e aumento de triglicérides) e hirsutismo4-6.  

Mediante a estes fatores, torna-se importante o entendimento dos mecanismos  fisiopatológicos relacionando a obesidade com síndrome metabólica a fim de prevenir futuros  eventos cardiovasculares e melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

1. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. 2021 – SBEM,  Brasil. 

2. SANTOS, Isleide Santana Cardoso et al. Intervenção educativa na  qualidade de vida e conhecimento da síndrome metabólica. Acta Paulista de  Enfermagem, v. 35, p. eAPE02982, 2022. 

3. FERREIRA, Mirela Argolo et al. SÍNDROME METABÓLICA. AS  BASES DO DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO, v. 1, n. 1, p. 200-206, 2023.

4. SANTOS, I. S. C. et al.Intervenção educativa na qualidade de vida e  conhecimento da síndrome metabólica. Acta Paulista de Enfermagem, v. 35, 2022.

5. SANTOS, F. A. A. DOS.et al. Nível de atividade física de lazer e sua associação com a prevalência de síndrome metabólica em adultos: estudo de base  populacional. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, 2020. 

6. RODRIGUES, A. L. M. et al.Variáveis clínicas consideradas fatores de  risco para a síndrome metabólica: um estudo transversal. Escola Anna Nery, v. 26,  2022.

7. OLIVEIRA, L. V. A. et al.Prevalência da Síndrome Metabólica e seus  componentes na população adulta brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n.11,  2020. 

8. LEE, J.-. KYU.EFFECTS OF EXERCISE TYPE AND INTENSITY ON  VISFATIN AND THE METABOLIC SYNDROME IN OBESITY. Revista  Brasileira de Medicina do Esporte, v. 27, n.02, 2021. 

9. NOGUEIRA-DE-ALMEIDA, Carlos Alberto; HIROSE, Thiago Santos; ZORZO,  Renato Augusto; VILANOVA, Karla Cristina Malta; RIBAS-FILHO, Durval.  Critério da Associação Brasileira de Nutrologia para diagnóstico e tratamento da  síndrome metabólica em crianças e adolescentes.International Journal of Nutrology,  v. 13, n. 03, p. 054–068, dez. 2020. 

10. NASCIMENTO, Bianca Maria Oliveira; DIAS, Natália Ximenes Delfino;  BARBOSA, João de Sousa Pinheiro. Fatores que influenciam na prevalência da  síndrome metabólica: revisão literatura. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, v.  6, n. 13, p. 406-414, 2023.

11. NASCIMENTO, Bianca Maria Oliveira; DIAS, Natália Ximenes Delfino;  BARBOSA, João de Sousa Pinheiro. Fatores que influenciam na prevalência da  síndrome metabólica: revisão literatura. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, v.  6, n. 13, p. 406-414, 2023.


1Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos – UNITPAC, Araguaína/TO, Brasil.