COMO A OCITOCINA DESEMPENHA SEU PAPEL EM RELACIONAMENTOS, CONSTRUINDO CONEXÕES MAIS PROFUNDAS E SIGNIFICATIVAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8190035


Renilda Albuquerque Souza


Resumo

O presente artigo, vale-se de uma visão teórica. Seu destaque concentra-se na ligação entre os aspectos biológicos e os socioafetivos, a partir da identificação da ocitocina como um neurotransmissor influente nas competências sociais, interacional e psicoafetivas. Comportamento e tomadas de decisão em contextos sociais são processos cognitivos complexos envolvendo múltiplos circuitos neurais associados ao processamento de emoções, motivações e pensamentos. Estes processos envolvem diferentes sistemas de neurotransmissão, em que o papel da ocitocina tem sido destacado. A ocitocina é um neuropeptídio produzido pelo hipotálamo, cujas funções cognitivas sociais têm sido amplamente abordadas em estudos de comportamento e decisão social. É possível que a ocitocina participe de tomadas de decisão social e atitudes de comportamentos através de interações em sistemas centrais de recompensa, facilitando o aprendizado social modulado pela recompensa. A metodologia da pesquisa caracteriza-se como uma elaboração teórica, pretendendo reunir aprofundamento científicos a partir do tema proposto, tem o propósito de harmonizar conceitos e ideias em prol de um conhecimento epistemológico.

Palavras Chaves: Ocitocina, comportamento e decisão.

Abstract

This article is based on a theoretical view. It highlights the connection between biological and socio-affective aspects, based on the identification of oxytocin as an influential neurotransmitter in social, interactional and psycho-affective skills. Behavior and decision-making in social contexts are complex cognitive processes involving multiple neural circuits associated with the processing of emotions, motivations and thoughts. These processes involve different neurotransmission systems, in which the role of oxytocin has been highlighted. Oxytocin is a neuropeptide produced by the hypothalamus, whose social cognitive functions have been widely addressed in studies of behavior and social decision. It is possible that oxytocin participates in social decision-making and behavioral attitudes through interactions in central reward systems, facilitating reward-modulated social learning. The research methodology is characterized as a theoretical elaboration, intending to gather scientific deepening from the proposed theme, with the purpose of harmonizing concepts and ideas in favor of an epistemological knowledge.

Keyword: Oxytocin, behavior and decision.

Introdução

Popularmente conhecida como “hormônio do amor”, a ocitocina (OT), é um hormônio, (substância química que controla diversas funções no organismo), produzida pelo hipotálamo, que é, (considerado o elo integrador entre os sistemas endócrino e nervoso), e liberado pela hipófise (glândula pituitária). Ela desempenha um papel fundamental na regulação de várias funções fisiológicas e comportamentais, incluindo a resposta ao estresse, a ejeção de leite e o parto. A (OT), também está envolvida na formação de laços sociais, comportamental e de decisões, igualmente nos relacionamentos amorosos, em geral esse hormônio é liberado quando estamos próximos de nossos parceiros, diminuindo significantemente os níveis de cortisol.

Toda palavra tem sua origem e a ocitocina origina-se do grego Okytokine, que quer dizer “nascimento rápido”, uma referência aos seus efeitos na indução do trabalho de parto e nas contrações uterinas (Bethlehem, Van Honk, Auyeung & Baron-Cohen, 2013). Como também, esse hormônio assume o papel na responsabilidade dos comportamentos sociais, visto que,  tem recebido muita atenção científica. A (OT) tem propriedades farmacodinâmicas similares às do hormônio arginina-vasopressina (AVP), cuja participação em comportamentos sociais é estudada conjuntamente com a (OT) (Bethelehem et al., 2013). Todavia, pela complexidade do tema, os mecanismos pelos quais (OT) e (AVP) exercem seus efeitos e o mapeamento da distribuição de seus receptores no sistema nervoso central, ainda estão longe da total compreensão.

As ações centrais da (OT) ocorrem através de influências sobre os sistemas de neurotransmissão dopaminérgico e serotonérgico. Vale ressaltar que muitos comportamentos sociais em espécies humanas e não humanas são modulados por via dopaminérgicas e de recompensa, onde há receptores de (OT) (Skuse & Gallagher, 2009), além disso, os efeitos ansiolíticos da (OT) parecem ser exercidos por interações com vias serotonérgicas (Dolen, Darvishzadeh, Huang & Malenka, 2013).

Em seres humanos a ação deste peptídeo ocorre em estruturas cerebrais que compreendem o córtex pré-frontal ventromedial, a amígdala, o giro fusiforme e o sulco temporal superior (Adolphs, 2009), tal justificativa, tem o interesse em compreender suas respectivas influências no cérebro e no comportamento social, uma vez que este reflete direta e indiretamente em circuitos relacionados ao processamento da informação social. As regiões cerebrais de sinalização de recompensa e punição, como o estriado ventral, a amígdala e o córtex órbitofrontal, também parecem ser modulados pela (OT), e, indiretamente podem interferir em processos de tomada de decisão social (Zhao et al., 2017).

Há uma ampla expressão de receptores de (OT) e de (AVP) nas estruturas da Rede de comportamento social (RCS) e da Rede de decisão social (RDS), o que sugere que estes peptídeos façam parte de processos regulatórios da conectividade entre elas, determinando comportamentos sociais distintos. Assim, os processos neurais de gestão da informação social são assuntos de interesse da cognição social, um ramo da psicologia social voltado à compreensão dos domínios emocionais, motivacionais e cognitivos subjacentes à presença de outras pessoas e ao convívio em grupo, cujas linhas de pesquisa variam desde o estudo da neuropsicologia do reconhecimento e identificação de emoções e da percepção de traços de personalidade, até a pesquisa de fenômenos mentais mais complexos como a empatia, o altruísmo e a moralidade.

Nesse contexto, a interação entre o cérebro social ou de estruturas (RCS) e centros de processamento da recompensa e da punição, ou mesmo, de estruturas da (RDS), é fundamental, uma vez que eles garantem o reforço/positivo ou a esquiva/negativa, frente a diferentes estímulos sociais, permitindo respectivamente a aproximação ou o distanciamento deles. Dessa forma, essas interações sofrem uma forte influência significativa da (OT).

A biogênese na sua complexidade explica o fenômeno da vida, onde as primeiras células teriam sido originadas nos mares a partir da aglomeração de átomos existentes na atmosfera primitiva (OPARIN, 1956). Nessa análise superficial da vida, nos concede a ideia de que tudo e todos possuem parte interativa na realidade existencial. Em razão desse aglomerado de proteínas envoltas por moléculas de água, quando unidos, buscavam uma consistência existencial, garantindo subsistência a vida, pois, a finalidade é manter o meio interno em um equilíbrio quase constante (homeostase), independentemente das alterações que ocorram no ambiente externo.

São vários os fenômenos orgânicos que exercem influência na complexidade do desenvolvimento humano, entre eles, temos as reações decorrentes da liberação do neuropeptídio ocitocina (OT). Vale ressaltar que esse hormônio é um potente estimulador biológico e psicológico capaz de guiar comportamentos relativos a cada espécie e está presente diante de estímulos socioemocionais parental e de interação social, desde, percepção emocional, empatia, confiança, entre outros (CLARK-ELFORD,2014). Essas e outras autorregulações são promovidas no intuito de manter a estabilidade funcional do organismo humano, diante de perturbações externas e internas. As perturbações podem apresentar-se como estímulos/desafios a serem compreendidos/interpretados, criando as redes de conexão (RCS ou RDS).

O presente artigo tem como objetivo analisar sistematicamente a literatura sobre a ação central da (OT), confirmando estas possíveis influências e apresentando os respectivos reflexos nas tomadas de decisão em contextos sociais, levando em conta ações deste peptídeo sobre estrutura componentes dos circuitos (RCS e RDS).

Objetivos da Pesquisa

Investigar possíveis relações entre o peptídeo (OT), analisar a literatura sobre sua ação, de forma a compreender relações entre a liberação de (OT) e os comportamentos pró-sociais, inclusive os conceitos das redes (RCS e RDS).

Metodológicos da Pesquisa

Todo organismo vivo tem um sistema complexo e organizado, de forma que, esse sistema ocorre mediante um processo de interação qualitativamente eficaz, onde ambos os indivíduos se sintonizam e passam a interagir por intermédio de uma mesma escala de entendimento de realidade e de reciprocidade na aceitação do outro (SANT’ANA-LOOS, 2007). Dentro desse contexto, esse artigo propõem uma análise do material de estudo, identificado como uma produção teórica, reunindo aprofundamento científico a partir de uma investigação do tema proposto, cujo o intuito é de   harmonizar conceitos e ideias em prol de um dimensionamento da visão epistemológica.

Investigação Teórica

Durante todo o processo evolutivo da espécie humana e as interferências dos processos seletivos naturais, foi possível desenvolver habilidades de reação intelectual diante dos estímulos externos, utilizando nossas capacidades biológicas e potencialidades genéticas para o aprimoramento das estruturas cerebrais e seus funcionamentos, aperfeiçoando o recebimento das percepções sensoriais e fenomênicas, garantindo reações conscientes que melhor possam nos auxiliar. O desenvolvimento de atividades conscientes requer estímulos e auxílios externos, para que posteriormente seja condensado e convertido em habilidades automáticas capazes de gerar reações, (LURIA, 1981). Ao analisarmos esse contexto, fica claro a influência do meio externo em nosso organismo, consolidando a visão integrada que devemos ter do funcionamento humano, envolvendo as estruturas neuronais e psíquicas que, por sua vez, promovem as capacidades afetivas, sociais e intelectuais do indivíduo.

O que motiva o interesse em compreender a estrutura da atividade mental se dá pela busca constante em nos reconhecermos como seres únicos e distintos, porém, de uma igualdade biológica. Justifica o interesse pelos estudos neurocientíficos, os quais estão cada vez mais determinados no progresso de um cérebro vivo, estabelecendo correlações entre mente e cérebro, (POPPER & ECCLES, 1977).

A OT no sistema nervoso central

O sistema nervoso central, composto pelo cérebro e pela medula espinhal, desempenha um papel fundamental em nosso corpo. Ele é responsável por coordenar e controlar todas as funções do nosso organismo, desde os movimentos mais simples até as emoções mais complexas.

A OT, é um peptídeo produzido principalmente no hipotálamo (região do cérebro que faz parte do sistema nervoso central. Ela desempenha diversos papéis no nosso organismo, sendo conhecida principalmente por sua função no parto e na amamentação. É no hipotálamo que acontece a regulação e liberação da OT, incluindo outros hormônios. Em geral acontece quando ocorrem estímulos específicos, como a sucção do bebê durante a amamentação ou a estimulação dos mamilos durante o parto, assim, o hipotálamo é ativado e passa a liberar OT na corrente sanguínea.

Uma vez a OT liberada no organismo, passa a ter efeitos incríveis, a exemplo disso é durante o trabalho de parto, com a ação da OT, ocorre um maior estimulo das contrações uterinas, auxiliando no processo de expulsão do bebê. Além disso, ela também é responsável por promover a ligação entre mãe e filho, estimulando sentimentos de afeto e amor.

Ao que se refere a amamentação, a OT desempenha um papel fundamental na ejeção do leite materno. Quando o bebê suga o seio da mãe, o hipotálamo é estimulado a liberar OT, fazendo com que o leite seja liberado e que flua facilmente.

Além dessas funções, a OT também está envolvida em outras interações, como a social e emocional. Ela é popularmente conhecida como o “hormônio do amor”, por estar relacionada com sentimentos de confiança, empatia e apego. As pesquisar mostram que a OT pode influenciar nosso comportamento social, promovendo a cooperação e reduzindo o estresse.

A ação da OT nas interações sociais

A OT, tem provocado muito interesse pelo fato de ser apontada como capaz de modular respostas comportamentais a uma variedade de estímulos ambientais (HEINRICHS; DOMES, 2008 apud PIANA et al., 2015). Denota-se um potente estimulador biológico e psicológico capaz de guiar comportamentos relativos a cada espécie, ou seja, as reações de empatia, afeição, afetividade e interação social, relacionada a uma capacidade mais evoluída dos sistemas neuronais do ser humano, e em outros seres vivos, ligadas a sociabilização e relação sexual, objetivando a reprodução e a perpetuação da espécie.

Muito embora já seja evidente que a ação da OT vai muito além do contexto reprodutivo, muitos autores compartilham da ideia de que são necessários aprofundamentos sobre o tema, cujo objetivo é obter uma compreensão mais completa do circuito de regulação do cérebro social (ROSS; YOUG, 2009) e o envolvimento da OT na interação humana ao longo da vida (FELDMAN et., 2011).

 A OT no Sistema Endócrino

O sistema endócrino é responsável por uma série de funções vitais em nosso corpo, e um dos hormônios mais conhecido produzido por esse sistema é a ocitocina. Ele é composto por várias glândulas que secretam hormônios diretamente na corrente sanguínea. Esses hormônios são responsáveis por regular uma variedade de processos em nosso corpo, como crescimento, metabolismo e reprodução. A OT é um desses hormônios, e é, produzida principalmente pela glândula hipófise, localizada na base do cérebro.

Esses hormônios podem ser:

. Peptídeos (um ou mais aminoácidos conectados por ligações químicas) de vários tamanhos;

. Esteroides (derivados do colesterol);

. Derivados de aminoácidos.

Os hormônios se ligam seletivamente a receptores localizados na superfície ou dentro das células-alvo. Os receptores no interior das células interagem com hormônios que regulam a função gênica, a exemplo disso, temos: corticoides, vitamina D e hormônio tireoidiano. Os receptores na superfície das células se ligam a hormônios que regulam atividades enzimáticas ou afetam canais de íons, como os: GH (hormônio do crescimento) e TRH (liberador da tireotrofina).

Algumas das ações e particularidades ocitocinérgicas no organismo humano e suas respectivas referências:

Os autores Ross e Youg (2009), fizeram um apanhado histórico da ocitocina.     Descreveram estudos variados onde a ocitocina tem ação central, desde a modulação deste neuropeptídio junto aos comportamentos interacionais, entre as espécies, onde a escolha do parceiro sexual tinha grande influência na liberação e regulação de (OT); Diante da ejeção do leite materno e no auxílio da contração uterina em humanos e animais até a sua compreensão mais profunda nos processos cognitivos humanos, como a formação de memórias sociais, o auxilio nas aprendizagens diante da ação efetiva da cognição e do afeto. Os pesquisadores acreditam que os efeitos comportamentais da ocitocina são moldados pela plasticidade na expressão neuronal. Da mesma forma, os autores acreditam também que os efeitos da ocitocina sobre o comportamento social humano e animal têm implicações importantes em diferentes áreas do conhecimento. Nota-se porém, que eles acreditam que são necessários um olhar mais minucioso sobre a liberação periférica da (OT) e a sua ação central junto aos comportamentos modulados, de modo que se possa obter uma compreensão mais completa dos circuitos que regulam o cérebro social.

Os estudos realizados pelos pesquisadores, Gordon, Martin, Feldman e Leckman (2012), trouxe literaturas que descrevem o papel da ocitocina e da vasopressina em comportamentos variados, como: os sexuais, as relações de cuidado parental, a formação e a manutenção de vínculos entre adultos, a motivação social e as vias de recompensa. De acordo com a literatura encontrada, os autores afirmam que a ocitocina, secretada pela hipófise posterior, envolve receptores em múltiplos locais, permitindo que o neuropeptídio desempenhe papéis diversos na manutenção da homeostase. Entretanto, ainda há questões que permanecem desconhecidas e que necessitam de melhor aprofundamento. Logo, em análise do que foi descrito, a ocitocina modula a percepção social, a cognição e o comportamento social e, consequentemente, promove a aproximação e a formação de laços entre as pessoas. E para além dos efeitos ansiolíticos, a ocitocina modula funções cognitivas sociais, como a confiança e o reconhecimento de emoções (LANDGRAF, NEUMANN, 2004 apud CAMPOS; GRAVETO, 2010).

É fato que nosso organismo tem um emaranhado de funções, dependente em prol de um desempenho homeostático, entretanto, apresenta-se permeável às circunstâncias externas e mutáveis perante as transformações  psíquicas e emocionais do indivíduo. Essa genuína construção biológica, por vezes, é esquecida por diversos autores em suas pesquisas literárias, quando estes se prendem demais a analiticidade que fragmentam a realidade. Assim, sob o ponto de vista esclarecedor de determinado fenômeno, o recorte de um contexto  amplo torna-se válido. Entretanto, só pode ser pensado enquanto encaminhamento temporário da busca da compreensão do que está em análise (SANT’ANA-LOOS, 2016, p. 44), para não modificar e transcrever uma realidade que não existe, ou, necessitando de seu funcionamento pleno, o qual é composto por diversas conexões fenomênicas e interacionais. Entender a natureza dessas influências é, contudo, crucial para o contexto teórico da neurologia, neurociência social e evolução do cérebro.

Na regulação de comportamentos pró-sociais, a recompensa ocupa um lugar de destaque, foram analisados em macacos rhesus (macaca mulatta), uma espécie cujos grupos sociais caracterizam-se por acasalamento promíscuo, cuidado uniparental feminino da prole e consequentemente baixa expectativa de cooperação (Chang et al., 2012). Este estudo demonstrou que, em determinadas circunstâncias a (OT) exógena pode aumentar a sensibilidade às recompensas recebidas por outros indivíduos daquela espécie, através da ampliação da orientação, do tempo de atenção e deliberação em relação a coespecíficos. O autor descreve um processo chamado de reforço vicariante, o qual seria amplificado pela (OT), em que um animal prefere que outro indivíduo receba uma recompensa quando a alternativa é “ninguém recebe a recompensa”. Embora quando o cenário é “eu ou o outro recebe a recompensa”, a (OT) favorece o comportamento egoísta. Logo, é possível afirmar que a (OT) sinaliza a recompensa priorizando a gratificação autocentrada em cenários competitivos, em uma equação comportamental que, na dependência das circunstâncias, favorece o indivíduo ou o grupo em que ele está inserido.

Existe uma forte atividade ocitocinérgica também em humanos, por trás da atribuição de saliência a diferentes estímulos sociais. A (OT) parece ter algum efeito sobre o caráter neutro, aversivo ou recompensador de diferentes estímulos sociais que variam desde faces humanas, há exemplo disso temos: faces infantis costumam despertar saliência positiva, enquanto o desrespeito as regras sociais habitualmente é experimentado como aversivo, sob a forma de emoções complexas, como a indignação e o desprezo (Zahn, Oliveira-Souza & Moll, 2015; Fontelle, de Oliveira-Souza, & Moll, 2015), particularmente quando praticados por um indivíduo do mesmo grupo social. Se por um lado o caráter recompensador facilita a aproximação a determinados estímulos sociais, a aversão despertada por outros tende a desencorajá-los. Assim, a capacidade de reagir positiva ou negativamente a diferentes cenários sociais pode ter sido favorecida evolutivamente, facilitando o convívio em grupo e regulando possíveis conflitos relacionados à competição e a escassez de recursos, de forma que grupos teriam mais vantagens evolutivas quando os indivíduos são recompensados pelo altruísmo ou quando se indignam com a sabotagem, desejando puni-la.

Conclusão

O comportamento social é variável a espécie e modificável conforme as experiências adversas ao longo da vida. Não podemos negar que somos uma espécie social, a qual manifesta a partir das relações a potencialidade biológica de desenvolvimento. Logo, interagir é uma constante busca de desenvolvimento e de aprimoramento das capacidade humanas, criando para isso, ferramentas e habilidades que nos proporcionem tal progresso. Analisando dentro desse contexto, a ocitocina (OT), atua como um modulador das relações interpessoais e comportamentos sociais. Age como se estivesse em sintonia com o processo de aprendizagem, cujo fenômeno é belíssimo, decorrente da união de aspectos biológicos, sociais, afetivos, cognitivos e comportamentais no desenvolvimento dos indivíduos.

Comportamentos de cooperação (altruísmo), podem ter sido favorecidos na espécie humana porque eles representam uma solução ao problema de disputas sociais em sociedades onde existe escassez de recursos. Estes comportamentos atingiram um alto nível de sofisticação em nossa espécie, entretanto, esboços de atitudes ou de postura pró-sociais como as discutidas acima, já existam em outras espécies. Diversas estruturas cerebrais parecem ser recrutadas na configuração de comportamentos pró-sociais, em particular a RDS e a RCS, cuja atividade é regulada por peptídeos como a OT e a AVP, Esta regulação parece ser exercida, pelo menos em parte, através de ações sobre sistemas de recompensa e aversão, que envolvem preponderantemente a transmissão dopaminérgica.

A importância da compreensão das ações de substâncias como a OT, não se restringe à apreensão de sua fisiologia, mas se estende à aplicabilidade terapêutica em potencial, particularmente em condições em que decisões sociais estão severamente comprometidas, assim como na regulação de comportamentos humanos, envolvendo aspectos estudados a respeito das tomadas de decisão.

Diante desse contexto interacional, a ocitocina (OT) modula-se conforme as situações e atua de forma a integrar o indivíduo ao meio, adaptando-o de acordo com as relações interpessoais. A atividade interacional está intimamente ligada a expressão humana e, é por meio dela, que decorre os processos de aprendizagem e desenvolvimento, tratado nesse artigo.

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Graduada em Licenciatura Plena em Letras, Faculdades Integradas Rui Barbosa; Pós-graduada em Educação Empreendedora, Universidade Federal de São João Del Rei; Graduada em Terapias Integrativas Complementar, Universidade Cesumar; Graduando em Biomedicina, Universidade Fatecie.
E-mail: massoterapeutarenilda@gmail.com