TRAUMA CARDÍACO PENETRANTE RESULTANDO EM COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10081837


Matheus Santana Schwaab


INTRODUÇÃO:

O traumatismo cardíaco penetrante é uma das principais causas de morte em pacientes vítimas de violência urbana, constituindo-se um verdadeiro desafio às equipes de trauma devido à elevada mortalidade. Além disso, mesmo sobrevivendo à injúria inicial, o paciente pode apresentar complicações tardias graves.

RELATO DE CASO:

Paciente 28 anos, sexo masculino, admitido no pronto socorro vítima de agressão por ferimento de arma branca em região tórax anterior esquerdo (precordial). Na avaliação primária paciente apresentava-se instável hemodinamicamente, PA 80×40 mmHg,  frequência cardíaca 84 bpm, com choque hipovolêmico grau III, na ausculta apresentava murmúrios vesiculares presentes e reduzidos em hemitórax esquerdo, sinais de choque obstrutivo, apresentando E-FAST sugestivo de derrame pericárdico, sendo submetido à toracotomia de emergência. Após a abertura da cavidade torácica observou a presença de hemopericárdio moderado e hemotórax discreto, foi realizada a abertura do pericárdio e identificado uma lesão puntiforme em ventrículo direito, sendo então realizado a rafia da lesão. Após a cirurgia, paciente foi encaminhado para UTI, onde foi acompanhado seu pós-operatório. No 13°dia de pós-operatório, foi percebido presença de um sopro sistólico em foco mitral 3+/4+ à ausculta cardíaca, sendo suspeitado de outra lesão cardíaca associada, a qual foi confirmada com um ecocardiograma, tratando-se de uma comunicação interventricular de 12 mm de diâmetro, na porção muscular anterior médio apical, conferindo shunt E-D significativo com gradiente VE-VD: 105 mmHg, a qual foi corrigida cirurgicamente, feito o fechamento  da CIV com patch de pericárdio bovino. No pós-operatório imediato, paciente apresentou anisocoria, solicitado TC de crânio, onde evidenciou a presença de AVC isquêmico em região frontal e occiptal. Paciente apresentou melhora do quadro de AVCi, com pupilas isocóricas e fotorreagentes, teve boa evolução, recebendo alta hospitalar após 20 dias da correção da CIV.

DISCUSSÃO:

A apresentação clínica do trauma cardíaco penetrante depende de vários fatores: tempo da injúria até o atendimento, mecanismo, extensão e localização da lesão, presença de tamponamento cardíaco e outras lesões associadas. As localizações mais comuns de lesões cardíaca são, nesta ordem: ventrículo direito, ventrículo esquerdo, átrio direito e átrio esquerdo. A incidência de CIV após trauma cardíaco penetrante é de 1-5%, sendo de difícil diagnóstico e, muitas vezes, realizado tardiamente. Sua suspeição se dá na maioria das vezes pela persistência da instabilidade hemodinâmica ou através de achado incidental de sopro cardíaco, como no caso descrito, sendo o ecocardiograma uma das ferramentas diagnosticas mais úteis nestes casos. Tem-se postulado algumas hipóteses para o diagnóstico tardio das CIV traumáticas, entre elas o fechamento temporário do defeito por um espasmo muscular ou por coágulos.

CONCLUSÃO:

Apresentamos o caso de um paciente vítima de trauma cardíaco penetrante, que resultou na formação de uma CIV traumática com diagnóstico tardio. Embora não raro, a CIV traumática é incomum e seu diagnóstico pode não ser realizado durante o atendimento inicial.

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