ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE APLICADA À SAÚDE: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA 

SPIRITUALITY AND RELIGIOSITY APPLIED TO HEALTH: INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8183708


 Laurita Faustino1
Débora Fernandes Pinheiro2
Eliana Rezende Adami3


Resumo

A espiritualidade corresponde a um componente estruturante da vida humana, está ligada à manutenção e ao fortalecimento da saúde física, mental e social. Assim, busca-se descrever qual a melhor forma com que a espiritualidade e a religiosidade podem servir de suporte a uma boa saúde, em seu sentido amplo, bem como estes dois fatores são abordados nos artigos constantes das publicações científicas nacionais. Dessa forma o objetivo deste trabalho foi analisar produções científicas, de forma integral, que abordem a espiritualidade e a religiosidade aplicadas à saúde. Fica então a questão: Como a espiritualidade pode influenciar para a manutenção e o fortalecimento da saúde física, psicológica, emocional, mental e social? Procurou-se respostas que possam atender a esse objetivo. Metodologia: A composição desta revisão integrativa foi realizada com apoio da técnica de revisão bibliográfica, sendo esta quantiqualitativa, restrospectiva e transversal, apoiada e pesquisada nas bases de dados Scielo, BVS e PubMed, na qual utilizou-se dos termos descritivos: “espiritualidade”, “religiosidade” e “saúde”. Foram consultados artigos entre 26 de setembro de 2021 e 05 de outubro de 2021. Resultados: Neste levantamento foram selecionados 13 artigos que atenderam ao objetivo da pesquisa, publicados entre 2010 e 2020, focando no conceito de espiritualidade e religiosidade. Ambas, formam uma dimensão de suporte e compreensão dos benefícios para o favorecimento da saúde e o enfrentamento da doença, além da forma como abordar a espiritualidade ao longo dos encontros clínicos.  Conclusão: no meio científico tem havido grande aumento de interesse pela conexão, saúde, espiritualidade e religiosidade. Da mesma forma, as pessoas que atuam em saúde têm verificado sua relevância nesta dimensão. Contudo, ainda se faz necessário o desenvolvimento e a capacitação dessas temáticas nas respectivas escolas do ensino de saúde fornecendo subsídios com segurança para aplicar e disseminar melhor conhecimento a respeito do tema. 

Palavras-chave: Espiritualidade. Religiosidade. Saúde.

Abstract – Spirituality corresponds to a structuring component of human life, it is linked to the maintenance and strengthening of physical, mental and social health. Thus, we seek to describe the best way in which spirituality and religiosity can support good health, in its broadest sense, as well as these two factors are addressed in articles in national scientific publications. Thus, the objective of this work was to analyze scientific productions, in an integral way, that address spirituality and religiosity applied to health. So the question remains: How can spirituality influence the maintenance and strengthening of physical, psychological, emotional, mental and social health? Answers were sought that could meet this objective. Methodology: The composition of this integrative review was carried out with the support of the bibliographic review technique, which is quantitative, qualitative, retrospective and cross-sectional, supported and researched in the Scielo, BVS and PubMed databases, in which the descriptive terms were used: “spirituality”, “religiosity” and “health”. Articles were consulted between September 26, 2021 and October 5, 2021. Results: In this survey, 13 articles were selected that met the research objective, published between 2010 and 2020, focusing on the concept of spirituality and religiosity. Both form a dimension of support and understanding of the benefits for favoring health and coping with the disease, in addition to how to approach spirituality during clinical meetings. Conclusion: in the scientific community there has been a great increase in interest in connection, health, spirituality and religiosity. Likewise, people who work in health have verified their relevance in this dimension. However, it is still necessary to develop and train these themes in the respective schools of health education, providing subsidies with confidence to apply and disseminate better knowledge on the subject.

Key words: Spirituality. Religiousness. Health.

INTRODUÇÃO

O ser humano se caracteriza pelas seguintes dimensões:  

1 – “física-matéria”, que é o corpo; 2 – “mental, cognitiva ou alma”, que tem pensamentos. Alma equivale a vida; pessoa; cadáver; apetite; coração; ser vivente; pronomes pessoais; 3 – “espiritual”, espírito é a força que dá vida; vento (respiração); espírito no sentido de alento, ânimo; atitude ou estado de espírito; sopro ou hálito de Deus (A BIBLIA SAGRADA, 2008).

Em hebraico a palavra para espírito também significa vento ou sopro. Assim, quando Deus soprou vida no homem significa que lhe deu o espírito (Gênesis 2.7) (QUADROS, 2018).  

Pelas características acima, pode-se considerar o ser humano um ser holístico, resultando na necessidade de a saúde ter que abranger também este particular e não apenas se caracterizar como uma forma para curar doenças. Deus, o criador, revela na bíblia que Ele fez o ser humano com três dimensões, física, mental e espiritual, sendo assim, em especial os profissionais de saúde, devem tratar o paciente como um todo, não somente o problema do paciente, deste modo havendo uma abrangência maior que denominamos integralidade. 

Deste modo, deve-se conceituar a saúde de forma mais ampla com a inclusão de outras dimensões, como a biológica, a psicológica, a social e, também, a espiritual (EVANGELISTA et al, 2015). 

Durante as últimas décadas diversos estudos têm demonstrado benefícios diretos com a inclusão dessas dimensões, resultando em menos estresse oxidativo, contribuindo para o enfrentamento às neoplasias e doenças degenerativas, como o Alzheimer, ansiedade e depressão, além de menor consumo de diversos tipos de substâncias, inclusive com menos tentativas de suicídios (FERNANDES, 2020). 

Outros fatores a serem realçados são o prognóstico psiquiátrico e a melhor qualidade de vida, tendo em vista ainda a expectativa do aumento de vida em até 7 anos adicionais (FERNANDES, 2020).

De acordo com Esporcatte et al., (2020) muitos pacientes dependem da espiritualidade como forma de bom suporte para sua saúde e vida pessoal, além de cuidados em casos de doença e eventos desfavoráveis em sua vida.

Assim, quando ocorre um isolamento domiciliar ou mesmo hospitalar, com a ausência desse suporte espiritual e religioso, o paciente deseja manter um relacionamento mais próximo com os profissionais da saúde que o atendem, com destaque aos médicos e enfermeiros (as), sentindo a empatia e confiança além de um melhor acolhimento no local e melhor adesão ao tratamento evitando, assim, o sofrimento espiritual, e a falta deste, imprimindo à sua debilidade de saúde uma piora da evolução, repercutindo em abandono ou desleixo no tratamento.

Para conseguir que esses profissionais possam servir de âncora aos necessitados, mister se faz, que conheçam com maior profundidade aspectos de espiritualidade, religiosidade, e mesmo religiões, e possam prestar esclarecimentos adequados para o entendimento das diversas distinções e funções. A espiritualidade, enfim, se constitui em uma dimensão bem profunda já que busca a verdadeira essência da religião, tendo maior comunhão com Deus (BOFF, 2006 apud Gomes, Farina e Dal Forno (2014). 

Com este propósito, através de “um olhar” sensível, esta pesquisa tem por objetivo encontrar respostas que aparem esta indagação: Como a espiritualidade pode influenciar para a manutenção e o fortalecimento da saúde física, psicológica, emocional, mental e social?  

ESPIRITUALIDADE

Segundo Gomes, Farina e Dal Forno (2014) a espiritualidade é algo inerente ao ser humano que tem a necessidade de busca por algo sagrado e por respostas aos aspectos fundamentais da vida. A espiritualidade não está sob domínio das religiões, de alguma organização ou denominação espiritual. É um ato de conexão entre o ser humano e o Ser Divino numa dimensão que pode ser entendida como a busca do ser humano para encontrar respostas para a vida por meio de conexões intangíveis, como: de onde vim? para onde vou? qual o sentido da vida? qual a minha missão no mundo? 

Melo et al., (2015) aponta que as manifestações religiosas são inatas a maior parte da humanidade e que, nos dias de hoje, permanecem muito presentes na vida da maioria das pessoas (MELO et al., 2015). Por esta razão os pesquisadores têm interesse em verificar como a religiosidade atua na dinâmica social das pessoas influenciando no relacionamento com os outros e os efeitos em si mesmo, inclusive para sua saúde. 

A questão fundamental do ser humano contemporâneo é a de busca de sentido e propósito (BOFF, 2006; SILVA; SIQUEIRA, 2009; ZOHAR; GOMES; FARINA; DAL FORNO, 2014). Visando cobrir esta lacuna, a partir do ano 1988, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou relevante a espiritualidade e sua integração na saúde, devendo ser levada em conta na sua avaliação e promoção, todavia, com ampla liberdade das diversas crenças e práticas religiosas (GOMES; FARINA; DAL FORNO, 2014).

RELIGIOSIDADE 

Segundo Oliveira e Junges (2012) a religiosidade refere-se à capacidade que o indivíduo possui para refletir e praticar sua religião, seja ela qual for. A religiosidade está relacionada à expressão ou prática do crente condizente com o segmento religioso ou com a instituição religiosa. Outro aspecto observado é a forma como o sujeito se relaciona com sua crença religiosa, seja com experiências místicas, mágicas e esotéricas, seja com rezas, orações ou rituais. O estudo de Oliveira e Junges (2012) apontou que, para a maioria de seus entrevistados, a religiosidade se aproxima muito do significado da espiritualidade, isto é, trata da relação que o indivíduo possui com esta crença. A religião é a base em que se apoia a crença do indivíduo em Deus (ou deuses) e na fé divina, sendo ainda um sistema com normas organizacionais e dogmas.

Ainda que tenham relevância, a espiritualidade e a religião, devido à cultura da população, são irrelevantes, ou ocultadas dos meios acadêmicos nos cursos de saúde, de forma a não qualificar os profissionais nesta formação para terem melhor conhecimento e poderem tratar deste assunto com seus pacientes, na sua prática (MOREIRA; ALMEIDA, 2009; OLIVEIRA; JUNGES, 2012; AGUIAR; SILVA, 2021).

Dal Farra e Geremia (2010), em suas buscas, fazem referência a respeito das dificuldades conceituais sobre a espiritualidade e da negação histórica no âmbito da ciência em trazer a prática da espiritualidade para ser aplicada ao ser humano apesar dos estudos que têm apresentado impactos positivos sobre diversos parâmetros de saúde e que podem ser mensurados de forma metodologicamente eficiente, de acordo com as diversas publicações em bases de dados, a exemplo de Medline, PsycLIT, Embase, Ciscom e Cochrane Library. 

Estas publicações têm identificado os benefícios do envolvimento religioso trazendo indicadores de bem-estar psicológico com inclusão da satisfação na vida, da felicidade, da diminuição de casos de depressão bem como da utilização de drogas perniciosas, entre outros (DAL FARRA; GEREMIA, 2010).

Murakami e Campos (2012) apontam a existência de consenso entre cientistas sociais, filósofos e psicólogos sociais que, a despeito dos problemas espirituais, afetivos e sociais, a religião desempenha importante fator de significação e ordenação da vida, sendo ela relevante em momentos de adversidades na vida das pessoas. 

METODOLOGIA

O presente estudo de revisão integrativa da literatura avalia o panorama de pesquisas a respeito da relevância das temáticas “espiritualidade” e “religiosidade” no campo da “saúde”. Essas temáticas representam uma ferramenta bastante importante tendo em vista a busca, a avaliação crítica e a síntese de evidências a respeito do tema a ser investigado.

Para a realização do estudo foram selecionadas publicações científicas com amplas informações, dada sua similaridade com as hipóteses relacionadas ao tema (THIENGO et al., 2019; MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

Os descritores utilizados foram: “espiritualidade”, “religiosidade” e “saúde”. Os termos foram cruzados entre si, utilizando-se o operador booleano AND/OR. Também foram realizadas estruturações intrínsecas às buscas de acordo com as características de cada banco de dados eletrônico. Ao final, optou-se pelo método de pesquisa manual e eletrônica, com acesso às seguintes bases de dados:

National Library of Medicine (MEDLINE/PubMed);

– Scientific Electronic Library Online (SciELO);

– Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).

Os critérios de inclusão utilizados foram objetos de artigos publicados entre os anos 2010 a 2021, nos idiomas português, inglês e espanhol, que abordassem o tema “espiritualidade e religiosidade aplicado à saúde do ser humano” com apresentação das temáticas propostas já no título, no resumo e na descrição sempre que estivessem disponíveis para seu acesso (SOARES et al., 2014).

Foram excluídos editoriais, artigos em duplicidade publicados em outros idiomas à exceção dos três já mencionados, os que antecederam o ano 2010 e aqueles que não contemplavam os critérios inicialmente propostos.

O estudo e a análise dos artigos foram realizados entre 26 de setembro de 2021 e 25 de outubro de 2021. Além disso, foi utilizado o banco de dados do software Microsoft Office Excel 2010, composto das seguintes variáveis: título do artigo, ano de publicação, país, base dos dados, título do periódico, delineamento do estudo, resumo, intervenção, desfecho e conclusão (EVANGELISTA et al., 2015).

Finalmente, após leitura dos títulos de 466 artigos, 434 foram excluídos, 32 artigos foram lidos o título e resumo, dos quais foram excluídos 18 face não se mostrarem suficientes para atender ao tema proposto, sendo 1 duplicado. Assim, no total, selecionaram-se 13 referências para esta Revisão Integrativa verificando-se os conteúdos que contemplavam o objetivo do estudo e sob criteriosa leitura. Foram identificadas as similaridades em relação a definição dos conceitos de espiritualidade e religiosidade e os benefícios dessas para a saúde, bem como verificado autores, ano de publicação, revista, título e principais conclusões. O processo de análise envolveu a apreciação crítica do material tendo por base a questão de pesquisa, a razão e a finalidade de obtenção de respostas (SOARES et al., 2014).

Na Tabela 1 são apresentadas as sínteses da revisão integrativa, bases consultadas e respectivas estratégias de busca, o total de referências recuperadas e a quantidade selecionada após analisar o título e o resumo de cada referência contendo nome do autor, ano de publicação, objetivo, método, instrumento utilizado, tamanho da amostra, resultados/conclusão e base de dados.

Tabela 1 Síntese da revisão integrativa

Autoria e anoTítuloObjetivoMétodoInstrumento utilizadoTamanho da amostra e localResultados –ConclusãoBase de dados
Arrieira et al. (2018)Espiritualidade nos cuidados paliativos: experiência vivida de uma equipe interdisciplinarCompreender a vivência da espiritualidade no cotidiano de um paliativo equipe interdisciplinar assistencialQualitativo fenomenológicoAtividades espirituais comooração e atendimento integral foram recursos terapêuticos úteis para oferecerconforto, sobrevivência com dignidade e humanizaçãoN= 06 profissionais participaram do estudoA espiritualidade exercida pelosprofissionais junto aos pacientes propiciou sentido ao seu trabalho em cuidados paliativos mostrando-se um facilitador na formação de vínculos entre equipe, paciente e sua família.PubMed
Evangelista et al.(2015)Cuidados paliativos e espiritualidade: revisão integrativa da literaturaAnalisar no cenário internacional cuidados paliativos e espiritualidadeRevisão integrativaRealizou-se o levantamento bibliográfico por meio de busca eletrônica nas seguintes bases de dados disponíveis na BibliotecaVirtual em Saúde39 artigosEstudos com relevância da dimensão espiritual como cuidado paliativo.PubMed
Ferreira et al.(2015)Concepções de Espiritualidade e Religiosidade e a Prática Multiprofissional em Cuidados PaliativosIdentificar as concepções de espiritualidade e religiosidade e sua interface com a prática multiprofissional entre profissionais da equipe de cuidados paliativos de um hospital de referência localizado na cidade de Recife – PEEstudo descritivo, de caráter transversal e natureza quantitativaUtilizou-se um questionário-padrão autoaplicávelN= 59 profissionais.Do profissional se espera conhecimento clínico, a oferta do cuidado integral e que este vincule-se ao mundo subjetivo do paciente que passa por um delicado processo. Que a espiritualidade seja um componente fundamental da subjetividade humana, seja valorizada pelo paliativista.BVS
Panzini et al.(2011)Validação brasileira doInstrumento de Qualidade deVida/espiritualidade, religião ecrenças pessoaisAnalisar propriedades psicométricas do Instrumento de Qualidadede Vida da Organização Mundial da Saúde – Módulo Espiritualidade,Religiosidade e Crenças Pessoais (WHOQOL-SRPB).Qualiquantitativo- longitudinal
Questionário geralInventário Beck de Depressão (BDI4);Escala de Coping Religioso-Espiritual Abreviada(Escala CRE-Breve);Instrumento de Qualidade de Vida da OMSAbreviado (WHOQOL-Bref);Instrumento WHOQOL-SRPB.N= 404 pacientes e funcionários de hospital universitário e funcionários de universidade, em Porto Alegre – RS.O presente estudo pretende disponibilizar um instrumento de base transcultural desenvolvido a partir de um projeto multicêntrico da OMS que contribua parao desenvolvimento de pesquisas sobre espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais.BVS
Melo et al.(2015)Correlação entre religiosidade, espiritualidade e qualidade de vida: uma revisão de literaturaA presente pesquisaobjetivou realizar uma revisão bibliográfica de meta análise verificando osestudos existentes que exploram a correlação entre a qualidade de vida e a religiosidade em diferentes aspectos e contextos.Revisão da literatura,tipo de pesquisa caracterizada pela análise da produção bibliográfica.Estudo de revisão, através da meta análise,De 263 artigos analisadosapenas 14 corresponderam aos critérios de inclusão.A partir do que foi exposto até aqui não se pode desconsiderar os aspectos benéficos que a religiosidade e a espiritualidade têmindicado. Por isso, é de fundamental importância repensar uma aproximação da formação profissional com esses fenômenos entendendo que eles se constituem como aspectos sociais e culturais dos contextos nos quais os indivíduos estão inseridos.BVS
Silva (2012)Do governo da alma ao governo do corpo: a religião nos discursos da enfermagemConhecer e analisar os discursos sobre religião e religiosidade veiculados por revistas de artigos científicos de enfermagens nacionais considerando as condições de possibilidades  do uso destes recursos identificando como as enfermeiras utilizam tais saberes com a intenção de produzir determinados efeitos na vida dos pacientes.Análise textual com pós-estruturalismo, qualitativa e descritiva.Artigos publicados em revistas científicas de enfermagem localizadas através dos descritores de religião e religiosidade com análise textual e associada com pós-estruturalismo.46 bibliografiasFazendo um apanhado do estudo, entende-se que a profissão de enfermeira está intimamente ligada a herança cristã, ao modelo biomédico que promove um poderoso dualismo entre corpo e alma posicionando a enfermeira desde os primórdios da    profissão entre o discurso da religião e da ciência.BVS
Thiengo et al.(2019)Espiritualidade e religiosidade no cuidado em saúde: revisão integrativaDescrever como a saúde, espiritualidade e religiosidade são abordadas nas publicaçõesRevisão integrativa de literaturaArtigos científicos publicados em periódicos.155 artigos e, a partir da leitura criteriosa de títulos e resumos, foram selecionados 67.É importante ouvir o que pensam a família e os líderes religiosos a respeito do tema considerando-os parceiros importantes na rede social de apoio ao paciente. Conclui-se que há uma grande dificuldade de pesquisar e definir limites entre as relações saúde, doença, religião, religiosidade e espiritualidade, por serem fenômenos multifatoriais e multidimensionais.BVS
Resende et al.(2018)Espiritualidade e Saúde: aplicações práticasAuxiliar clínicos como médicos, enfermeiros, psicólogos e demais profissionais da saúde a incluírem, de modo ético e baseado em evidências, a abordagem a R/E na sua prática cotidiana.Edição temáticaArtigos científicos publicados em periódicos.04 artigosEmbora a maioria das escolas brasileiras ainda não tenha inserido de modo consistente a R/E em seus currículos, tem havido um crescente interesse no tema na graduação em grande parte liderado pelas 45 ligas acadêmicas de saúde e espiritualidade já existentes no BrasilBVS
Oliveira, Santos e Yarid (2018)Espiritualidade/religiosidade e o Humanizasus em unidades deSaúde da FamíliaDescrever e comparar a influência da espiritualidade/religiosidade e do HumanizaSUS na prática clínica de profissionais de saúdede Unidades de Saúde da Família.Estudo descritivo e transversalInstrumento de coleta de dados foi um questionário adaptado do estudo Multicêntrico SEBRAME (Spiritualityand Brazilian Medical Education) coordenado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Universidade Federal deJuiz de Fora (UFJF) e pela Associação Médico Espírita do BrasilEntrevista com   todos os 10 profissionais de saúdede nível superior das Unidades de Saúde da Família do município de Jiquiriçá – BAFoi possível concluir que há influência da espiritualidade/religiosidade sobre comportamento clínico dos profissionaisinvestigados, independentemente da crença em Deus ou vínculo religioso.BVS
Taunay et al.(2011)Validação da versão brasileira da escala de religiosidade de Duke (DUREL)Determinar a consistência interna, aconfiabilidade teste-reteste e a validade convergente-discriminante do P-DUREL em duas amostras distintas.Estudo transversalQuestionários estruturados. P-DUREL e o Instrumento de Avaliação da Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saude – Módulo Espiritualidade, Religiosidadee Crenças Pessoais (WHOQOL-SRPB)Amostra 1:  alunos dos cursos de graduação em Psicologia e medicina (= 200) da Universidade Federal do Ceara (UFC). Amostra 2:Composta de 113 pacientes atendidos no ambulatório de Psiquiatria Geraldo Hospital Universitário Walter Cantidio (HUWC).Não obstante as limitações apresentadas, os dados sugerem que a P-DUREL pode contribuir para o estudo de dimensões da religiosidade em amostras brasileiras com diferentes características sociodemográficas. O presente estudo abre importantes direções para pesquisa futura. Por exemplo, há a necessidade de estudos prospectivos que confirmem de modo mais conclusivo as relações entre religiosidade, espiritualidade e sintomas de sofrimento psicológico apresentadas neste estudo.





BVS
Gil et al.(2020)Espiritualidade e qualidade de vida em praticantes da religião protestanteAnalisar a relação entre SRPB e QV em homens e mulheres praticantes dareligião protestante. Foram utilizados o WHOQOL-bref e o WHOQOL-SRPBEstudoquantitativoForam utilizados o WHOQOL-bref e o WHOQOL-SRPB,A amostra para o estudo foi composta por 62 participantes, 31homens e 31 mulheresEstudos e meta análises examinadas mostram que o próprio envolvimento religioso e a espiritualidade já estariam associados com melhores índices de saúde, bem como atividade imunológica, saúde mental, neoplasias e doenças cardiovasculares e, até mesmo, uma média de até 12 anos de maior longevidade.SCIELO
Cervelin et al.(2014)Qualidade de vida e espiritualidadeConhecer os discursos sobre espiritualidade e religiosidade que circulam nos livros sobre cuidados paliativos e saber como tais dispositivos operam produzindo verdades.Análise textualColeta dos dados a partir da leitura interessada dos livros.  Apoiaram-se no referencial de Foucault.Utilizar seu entendimento acerca de discurso e poder e governo. A pesquisa destaca os livros sobre cuidados paliativos.Os livros apontam vantagens de ser religioso e/ou espiritualizado. Observa-se o governo dos sujeitos por meio da religião e da espiritualidade de forma a conduzir suas condutas e influenciar o seu modo de ser e agir.SCIELO
Forti, Serbena e Scaduto2020Mensuração da espiritualidade/religiosidade em saúde no Brasil:uma revisão sistemáticaO objetivo desse estudo é apresentar uma revisão sistemática sobre saúde e espiritualidade/religiosidade, como foco em instrumentospara sua mensuração.Revisão sistemáticaTrês instrumentos com mais estudos foramo WHOQOL-100 (incluindo sua versão reduzidae o módulo SRPB), a Escala de Bem-estar Espiritual(EBE) e a Escala de Coping Religioso/Espiritual(CRE) e sua versão abreviada (CRE-Breve).Artigo original, disponível em formatocompleto, publicado em inglês, portuguêsou espanhol.  Descrever escalas específicas de espiritualidade/religiosidade adaptadas para ocontexto brasileiro.As evidências sobre a relação entre religiosidade/espiritualidade e saúde sustentam a importância de investimento na investigação e desenvolvimento de instrumentos efetivos para avaliação dessa dimensão humana.PubMed

Fonte: A Autora (2021).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A população contemplada nos estudos foi: graduandos, funcionários de instituições de saúde profissionais da área da saúde e, em outros artigos, os pacientes. Esta revisão integrada foi constituída por um total de treze publicações que versaram sobre a temática Espiritualidade e Religiosidade aplicada a Saúde onde atenderam: abordagem quantitativa/qualitativa (02), estudo transversal (04), revisão integrativa (03), revisão sistemática (01), análise contextual/temática (02) e dissertação (01). Todos os estudos foram publicados em língua portuguesa.

O universo do estudo foi constituído de 466 artigos dirigidos à temática investigada. De modo que, as publicações (12,02%) datam do ano de 2013. O Brasil se destaca nas publicações (85,65%) e maior parte dos estudos foi de revisão (26,39%) e concentram-se na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) (54,29%), como demonstrado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Publicações

Fonte: A Autora (2021).

Após análise dos critérios de inclusão e exclusão a amostra foi composta por 13 artigos. Foram avaliados doze (12) artigos e uma (01) dissertação de mestrado. As publicações foram uma em cada revista a seguir: Revista Ciência e Saúde Coletiva, Revista Brasileira de Enfermagem, Revista Escola de Enfermagem, Revista Saúde Pública, Revista Kairós Gerentologia, P@PSIC Estudos e Pesquisas em Psicologia (periódicos eletrônicos), LUME Repositório Digital UFRGS, Revista Cogitare Enfermagem UFPR, H.U. Revista, Revista Brasileira Promoção em Saúde, Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), Research Gate Psicologia Saúde e Doenças e Research Escola Ana Neri.

As publicações dos trabalhos avaliados vão de 2011 a 2020, sendo que o maior número de publicações ocorreu em 2018 (03) e 2011 (03), sendo as demais em 2015 (02), 2014 (01), 2012 (01), 2019 (01), 2020 (02).  

A Figura 1 mostra o fluxograma da seleção dos artigos, após busca em base de dados. 

Figura 1 – Fluxograma da seleção dos artigos, após busca em base de dados 

Fonte: A Autora (2021).

Em relação aos trabalhos publicados de acordo com a área de concentração   se destaca a enfermagem que publicou 07 trabalhos, seguido pela psicologia com 04 trabalhos e em terceiro a medicina com 02 trabalhos publicados.

A Tabela 01 demonstrou as informações dos artigos selecionados para amostra.

Foram selecionados, previamente, 466 estudos. Após a leitura dos títulos, foram eliminados 434 e após a leitura de títulos e resumos foram selecionados 32 estudos. Destes, foram excluídos 19 estudos por se encontrarem sem relação com o objetivo/temática e/ou duplicados. Assim, foram selecionados para leitura na íntegra, 13 artigos e estes compuseram a amostra final, conforme mostra Figura 1.

Após a realização de leitura criteriosa dos estudos selecionados foi possível verificar similaridades de pensamentos, temas ou assuntos afins, sendo eles: Definição de E/R (espiritualidade e Religiosidade) e seus benefícios; E/R na prática dos cuidados paliativos e o preparo dos profissionais e os Instrumentos WHOQOL-SRPB e Religiosidade de DUKE (P-DUREL), assim, estas informações foram agrupadas, descritas e debatidas a seguir.

Os artigos mesclam-se entre si apontando os benefícios da espiritualidade e religiosidade para a vida de pacientes, estudantes, profissionais e funcionários da saúde.

No enfrentamento de doenças pelo ser humano, de um modo geral, as pesquisas têm demonstrado que as medidas relacionadas à espiritualidade e religiosidade influenciam nesse processo, portanto, considera-se que cada vez mais deve ser algo indispensável para atender as demandas de cuidados espirituais dessas pessoas (ARRIEIRA et al., 2017).

Ainda, na busca desta revisão, de maneira semelhante aos trabalhos científicos e acadêmicos encontrados, os autores relatam a espiritualidade e religiosidade como fatores adjuvantes no processo de cuidado para a saúde e enfrentamento do adoecimento. 

Para Panzini et al. (2011) o Brasil compõe-se de 95,3% da população de crentes, sendo assim, em diferentes culturas, a questão das crenças é muito valorizada. No caso da espiritualidade e religiosidade há crescente valorização por parte do paciente sob a perspectiva da compreensão do fenômeno saúde-doença, sobretudo, no caso dos pacientes. 

No processo de análise constatou-se semelhanças de ideias no que refere-se a definição de espiritualidade e religiosidade, bem como a influência destas no sentido de oferecer força, resistência, superação e resiliência para o positivo enfrentamento de possíveis eventos adversos e, também, com repercussão direta para proporcionar melhor saúde, conforme demostrado abaixo.

DEFINIÇÃO DE ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE E SEUS BENEFÍCIOS PARA A SAÚDE 

Silva (2012) cita que a figura da enfermagem era de uma pessoa recatada, discreta e com devoções cristãs, era vista como alguém mais inclinada ao sacerdócio, ao ato de servir e o modelo Nigthingaliano foi aperfeiçoando para formalizar como profissão. Contudo, Florence Nigthingale foi criada com sólidos princípios religiosos e destaca a importância do servir, ela refere que uma boa enfermeira tem, em si, sentimentos delicados e discretos, é observadora sagaz e sóbria, alguém que respeita a vida, de quem Deus pôs em suas mãos, assim é observável a importância da religião.

Na Assembleia Mundial de Saúde de 1988, a Organização Mundial da Saúde (OMS) insere o domínio Espiritualidade/Religiosidade/Crenças pessoais (SRPB) como fator intimamente ligado à saúde (WHO, 1998a). Esse conceito passou a ser considerado científico e estatisticamente válido devido ao fato de que saúde não estaria mais pautada na lógica de presença ou ausência de doença, mas sim toda a dinâmica multifatorial que contribui para o completo bem-estar físico, mental, social e espiritual (OLIVEIRA; JUNGES, 2012 apud GIL et al., 2020). Posteriormente, pesquisadores apontam SRPB como um componente relevante da percepção da Qualidade de Vida (QV) (GALLARDO-PERALTA, 2017 apud GIL et al., 2020).

Taunay et al. (2012) define que religiosidade diz respeito a um indivíduo que acredita, segue e pratica uma determinada religião e espiritualidade. Tem a ver com a busca pessoal e compreensão das questões existenciais maiores (por exemplo, o fim e o sentido da vida) e suas relações com o sagrado e/ou transcendente e que não há necessidade de envolvimento com a prática de uma religião ou na formação de comunidades religiosas.

Para Forti, Serbena e Scaduto (2020) em 1999 a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a qualidade de vida como multidimensional nas dimensões física, psíquica, social e espiritual. A Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) admite que religiosidade e espiritualidade têm implicações de prevalências significativas no campo da saúde para diagnóstico, tratamento, desfechos clínicos e prevenção de doenças.

Ainda, para Lucchetti et al. (2017 apud FORT et al., 2018) a espiritualidade é uma busca intrínseca a respeito das questões existenciais humanas pessoais no que tange ao sentido da vida, e da morte, e suas relações com o sagrado/ transcendente. Ao passo que religiosidade está estreitamente ligada a práticas em que o indivíduo acredita, segue e participa de um sistema doutrinário organizado onde a torna-se membro frequentador em templo religioso, bem como faz uso de leitura de livros religiosos e rezas\orações. 

Conforme Evangelista et al. (2016) se faz necessário distinguir espiritualidade de religiosidade, sendo que a espiritualidade se refere a algo transcendental, sua relação com o sagrado e compreensão pessoal dos acontecimentos da vida, e que independe de prática religiosa. No entanto, a religião está imbuída de crenças, práticas, rituais e símbolos, tudo num sistema organizado que leva o indivíduo a uma comunhão com o sagrado ou transcendente.

Nesta ótica, Arrieira et al. (2018) destaca a importância em diferenciar do conceito de espiritualidade e religiosidade para o cuidado em saúde. Religiosidade define-se por um sistema de crenças e práticas de uma determinada comunidade, amparada por rituais e valores. Enquanto a espiritualidade pode, ou não, ter uma ligação com a religião e compreende dimensões que transcendem o palpável em relação aos sentidos da experiência humana.

Em sua abordagem, Resende et al. (2018) diz que, no Brasil, mais de 90% da população refere possuir uma religião e que 84% consideram importante ter uma religião e, por esta razão, afirma ser esta escolha muito importante para a população brasileira. Todavia, o conhecimento e correlação com a saúde a respeito do assunto espiritualidade e religiosidade pelos profissionais de saúde pode ser um dos maiores desafios atualmente, ou seja, como poder direcionar ao cuidado clínico? Esta pergunta encontra dificuldades na resposta principalmente pela ausência de publicações em português que discorra de modo abrangente e a utilização prática da espiritualidade e religiosidade na clínica e ainda destaca a relevância desta para a saúde mental e aplicação na psicoterapia. 

Oliveira, Santos e Yarid (2018), visando descrever e comparar a influência da espiritualidade e religiosidade como um dos métodos de aplicabilidade na prática clínica em Unidades da Saúde da Família uma vez que é preconizado sob a ótica do Sistema único de Saúde (SUS), estando ele em construção, relata que surgiu a Política Nacional de Humanização (PNH), ou Humaniza-SUS, e, também, a Estratégia Saúde da Família (ESF) com foco na atenção Básica (AB), onde cabe à equipe de saúde da família atuar na promoção, prevenção, recuperação e na manutenção da saúde da população. 

Neste sentido, utilizar-se de estratégias e métodos que possam potencializar uma saúde mais resolutiva e humanizada vem ao encontro e, por que não, fazer uso deste recurso, inclusive permitindo ao profissional uma visão integral da saúde. Observando uma condição holística e integral do homem e rompendo o modelo biomédico, a promoção da saúde passa a ser vista sob outro enfoque. A neurociência e outras áreas das ciências têm realizado novas descobertas trazendo à tona a existência do “transcendental” e do “divino”, especialmente a sua atuação na existência do ser humano. Além de dar mais sentido à vida, a espiritualidade pode ser uma via para a prevenção e o tratamento e um importante alimento que pode auxiliar as pessoas no enfretamento das adversidades do dia a dia, bem como, nos eventos relacionados aos processos de adoecimento.

ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NA PRÁTICA DOS CUIDADOS PALIATIVOS E O PREPARO DOS PROFISSIONAIS

Em três (03) estudos verificou-se a espiritualidade e religiosidade na prática dos cuidados paliativos. Para Evangelista (2016) estes estão em pleno desenvolvimento e ganhado um campo onde os profissionais de saúde são instados a utilizar-se deste conhecimento como estratégia e incluir a dimensão espiritual na abordagem do cuidado. Contudo, neste contexto, necessitam aprimorar seu conhecimento para incorporar a espiritualidade na assistência aos pacientes sob cuidados paliativos onde, também a razão deverá ceder à sensibilidade para as necessidades espirituais do paciente, respeitando os desejos do doente e de seus familiares, uma vez que a enfermagem, sobretudo, deve abarcar esta condição sob o prisma holístico. 

Conquanto, Arrieira (2018) cita que os profissionais carecem de formação no que tange a espiritualidade para a abordarem e, em detrimento disso, não é atendida esta necessidade imprimindo uma lacuna no cuidado em saúde sendo que a equipe, quando do contato em relação aos cuidados paliativos, constataram que esta demanda não pode ser deixada de lado. 

Para Ferreira (2015) 27,6% dos profissionais, em seu cotidiano de trabalho, relataram que, habitualmente, indagam a respeito da espiritualidade/religiosidade dos pacientes. 49,1% só o fazem quando questionados e preparados para tratar do tema com o paciente, 10,3% dos profissionais alegaram estar muito preparados para abordarem o assunto, 43,1% achavam-se moderadamente preparados e 36,2% que se autoavaliaram como pouco preparados.

Cervelin et al. (2014) referem que ter um segmento religioso reflete em melhor saúde física e mental, resultando em melhor qualidade de vida, bem como estes tem menos depressão. Destacam que depender da fé em Deus e ter convívio como integrantes de um grupo religioso experimentam paz, senso de pertencer e bem-estar. 

Em relação ao uso dos instrumentos abaixo mencionados para investigar a contribuição da espiritualidade e religiosidade apresentaram nuances particulares em alguns aspectos quando da formulação dos questionários; contudo, verificou-se os resultados da E/R pelos grupos estudados em relação situações desfavoráveis com bom manejo quando da prática da E/R.

OS INSTRUMENTOS WHOQOL-SRPB E RELIGIOSIDADE DE DUKE (P-DUREL)

Em conformidade, quatro (04) artigos utilizaram o instrumento WHOQOL (SRPB). Taunay et al. (2012) se utilizou desta escala WHOQOL-SRPB, mas também de outras subescalas para comparação onde se correlacionaram significativa e moderadamente com a medida geral de espiritualidade. No entanto, suscitam que outros autores defendem que esta escala pode mensurar o bem-estar psicológico em vez da espiritualidade, porém, apontam que sua investigação tem algumas limitações visto que sua amostra foi extraída de um centro terciário de atenção à saúde mental.

Forti, Serbena e Scaduto (2020), nas aferições da escala WHOQOL-SRPB, citam que na espiritualidade/religiosidade há correlação com a qualidade de vida, compreendendo que tais fatores são positivamente associados com o nível de saúde e indicam características adaptativas da vida. Gil et al. (2020) explana que as mulheres apresentaram medias significativamente superior nas facetas conexão a ser ou força espiritual da escala WHOQOL-SRPB, pois estudos sugerem que as mulheres têm uma tendência a praticarem mais as atividades religiosas se envolvendo mais com questões espiritualizadas. 

Em relação aos homens a amostra se trata, na maioria, de praticantes da religião, sendo assim, pertencer ou praticar uma religião pode influenciar para a qualidade de vida. Panzini et al. (2011) observaram que o resultado não é homogêneo em relação ao estado de saúde, mas, diferentemente dos domínios de QV do WHOQOLBreve onde os indivíduos são saudáveis, apresentam médias mais altas em todos os domínios. No WHOQOL-SRPB, todavia, há facetas em que os doentes apresentam médias superiores, resultado que pode ser clinicamente significativo, mas não estatisticamente. Outro ponto a ser destacado nos construtos espiritualidade/religiosidade foi o reteste que se manteve estável, confirmando a homogeneidade dos itens, portanto, resultando em fidedignidade.

Ainda, Taunay et al. (2012) e Forti, Serbena e Scaduto (2020), em seus estudos investigativos do instrumento Índice de Religiosidade de Duke (DUREL)/PDUREL, relatam que os achados demonstram adequada consistência interna e confiabilidade do instrumento, ainda, que esta escala seja aplicável somente para dimensões da religiosidade, portanto, não considerando a espiritualidade. Referem que os estudos apontam os dados que a P-DUREL pode contribuir para o estudo de dimensões da religiosidade em amostras brasileiras com diferentes características sociodemográficas, que também foi possível verificar a confiabilidade, consistência e validade entre os escores das diversas dimensões do P-DURE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pesquisas examinados apontam para a relevância da dimensão espiritual na assistência e necessidade de integralizar todas as dimensões do ser humano, a saber: psíquica, espiritual e social, resultando na sua concepção holística.  A relação entre a religiosidade, espiritualidade e saúde sinalizam a importância de investir em instrumentos efetivos para aplicabilidade dessa dimensão humana. Nos estudos, constatou-se que práticas ligadas à espiritualidade, como o ato de orar e outros cuidados integrais, permitem aos profissionais maiores sentido ao trabalho de cuidados paliativos, principalmente, quando lidam com pessoas em estado terminal. Seria importante que a espiritualidade, tida como um componente fundamental, fosse valorizada e utilizada de forma terapêutica pelos profissionais de saúde.  

Observou-se nos estudos certa carência de mais trabalhos desenvolvidos ou pesquisados a respeito do tema E/R aplicada à saúde, sobretudo em âmbito nacional. Na mesma linha de raciocínio, estudos referiram a falta de oferta nos meios acadêmicos e ao preparo de profissionais ao assunto E/R para promoção de formação capaz de prestar uma assistência correlacionada à saúde.

Dessa forma, haveria estímulo para sua prática com segurança, pois a maior parte das escolas brasileiras de ensino não tem inserido, em seus currículos, este tema E/R, sobretudo, no ensino acadêmico de saúde no qual tem-se verificado crescimento e interesse no assunto espiritualidade. Destaca-se, ainda, a importância do conhecimento espiritual e religioso como componente essencial e auxiliador aos profissionais de saúde, uma vez que em alguns estudos, nos quais o paciente tem contato ou participa de grupos religiosos, há uma tendência da pessoa ter uma vida com menos problemas relacionados a saúde, resultando em menos ansiedade e melhor aceitação de eventos adversos.

Em relação aos instrumentos utilizados, O WHOQOL-SRPB manteve a consistência quando realizadas as avaliações, além de que o P-DUREL é adaptável ao estudo de dimensões da religiosidade em amostras brasileiras com diferentes características sociodemográficas e pode contribuir para o estudo da influência dos diversos domínios da religiosidade, sobretudo os relacionados à saúde mental.

Foi possível constatar, também, que religiosidade e espiritualidade possuem aspectos contributivos e determinantes quando a pessoa recorre a estes recursos em busca do alívio para sofrimento humano, com promoção a   melhor qualidade de vida, fato que repercute em saúde. Desse modo, as palavras dignidade e honra distinguem os profissionais de saúde que, em suas atribuições, venham a oferecer esta prática terapêutica visando abrandar angústias, inseguranças, conflitos e dores por intermédio de assistência qualificada. Afinal, o aspecto material para o ser humano deveria ser irrelevante e a busca projetada no transcendental fomentaria e sustentaria sua esperança e seu sentimento de paz e fé.

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1Mestranda do Programa de Mestrado Acadêmico em Desenvolvimento e Sociedade – PPGDS da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP.

2Docente da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP, Doutoranda em Engenharia de Alimentos – Universidade Federal do Paraná.

3Docente do Programa de Mestrado Acadêmico em Desenvolvimento e Sociedade – PPGDS da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP, Doutora em Farmacologia.