THE PILATES METHOD: PRINCIPLES AND SPECIFICITIES FOR HEALTH
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8157459
Cristina Carvalho de Melo1,2
Michelle Sena de Castro Silva3
Herbert Ugrinowitsch2
Resumo
A vida dos indivíduos e todos os seus afazeres vem acompanhada de responsabilidades que fazem com que, com o tempo, se tornem menos ativos e, muitas vezes, sejam acompanhados de doenças e de patologias. Uma das estratégias para uma vida ativa e saudável é o Método Pilates. Portanto o objetivo deste estudo foi analisar e criticar a literatura científica acerca do Método Pilates a fim de contribuir para a compreensão de seus princípios e especificidades no campo da saúde. O presente estudo possui caráter descritivo e caracteriza-se como uma revisão narrativa de literatura com o propósito de analisar e interpretar a produção científica existente acerca do Método Pilates. As bases de dados utilizadas para a busca foram a Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde (LILACS) e Portal CAPES. Além de arquivos pessoais dos autores, como livros específicos do Método Pilates não presentes em bases de dados. A pesquisa fundamentou-se nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “Pilates” e “Método Pilates”. A revisão final contou com 18 trabalhos. Os resultados revelam que, embora já se percebam tantos benefícios relacionados ao Método Pilates, é importante verificar, como os profissionais da saúde se apropriam desses conhecimentos e como os usuários se beneficiam em seu cotidiano no enfrentamento das doenças. Nesse contexto, é essencial compreender as características e especificidades do Método para então aplicá-lo com qualidade no campo da saúde.
Palavras chave: Saúde; Método Pilates; Exercício Físico.
ABSTRACT
The lives of individuals and all their tasks are accompanied by responsibilities that make them, over time, become less active and are often accompanied by diseases and pathologies. One of the strategies for an active and healthy life is the Pilates Method. Therefore, the objective of this study was to analyze and criticize the scientific literature about the Pilates Method in order to contribute to the understanding of its principles and specificities in the health field. The present study has a descriptive character and is characterized as a narrative literature review with the purpose of analyzing and interpreting the existing scientific production about the Pilates Method. The databases used for the search were the Scientific Electronic Library Online (SciELO) and the Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS) and CAPES Portal. In addition to personal files of the authors, such as specific books on the Pilates Method not present in databases. The research was based on the Health Sciences Descriptors (DeCS) “Pilates” and “Pilates Method”. The final review included 18 works. The results reveal that, although so many benefits related to the Pilates Method are already perceived, it is important to verify how health professionals appropriate this knowledge and how users benefit in their daily lives in coping with diseases. In this context, it is essential to understand the characteristics and specificities of the Method in order to apply it with quality in the field of health.
Keywords: Health; Pilates; Physical Exercise.
1. Introdução
A vida dos indivíduos e todos os seus afazeres acompanhada de responsabilidades fazem, com o tempo, que estes se tornem menos ativos e, muitas vezes, sejam acompanhados de doenças e de patologias (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2018). Soares (2018) assegura que o exercício físico pode prolongar a sobrevida com qualidade, mesmo em caso de doenças graves, desde que respeitadas as contraindicações e especificidades de cada caso e especificidades de cada exercício.
Uma das estratégias para uma vida ativa e saudável é o Método Pilates. Vários efeitos do Método Pilates aplicado a indivíduos com doenças têm sido relatados, um estudo de revisão sistemática sobre intervenção com Pilates para pacientes com câncer (CA) de mama, antes ou após a cirurgia (ESPÍNDULA et al., 2017), revelou que o Método Pilates pode ser uma intervenção conjunta adicional ao tratamento padrão, contribuindo principalmente com a melhora da amplitude de movimento, dor e fadiga. Posteriormente, Barbara et al. (2018) concluíram que o Método Pilates pode ser um tratamento seguro e indicado para a reabilitação funcional de pacientes com Câncer.
Alguns estudos apontaram efeitos positivos em aspectos psicológicos e sociais verificados através do Método Pilates revelado a importância da temática, são eles: autoestima (BOIX-VILELLA e ZARCEÑO, 2018), atenção e concentração (CALDWELL et al., 2010), autoeficácia (CALDWELL et al., 2009), qualidade de vida (RIBEIRO et al. 2021), otimismo diante da vida (BOIX-VILELLA e ZARCEÑO, 2018); motivação (CASTELO BRANCO et al., 2017), satisfação geral (CASTELO BRANCO et al., 2017; DANTAS et al., 2015), depressão (FERREIRA et al., 2014; BOIX-VILELLA, ZARCEÑO e ROSA, 2014; EKICI, YAKUT e AKBAYRAK, 2008), ansiedade (VANCINI et al., 2017), percepção de valorização das pessoas (SILVEIRA, LUDOVICI e BITELLI, 2013), qualidade do sono (BOIX-VILELLA, ZARCEÑO e ROSA, 2014; LEOPOLDINO, 2013; CALDWELL et al., 2010), autoimagem (STAN et al., 2012), percepção do estado de saúde (SILVEIRA, LUDOVICI e BITELLI, 2013) estresse (CALDWELL et al., 2010), autonomia (FIGUEIREDO e DAMÁZIO, 2018), qualidade emocional (FIGUEIREDO e DAMÁZIO, 2018; LEOPOLDINO, 2013) e estado de humor (MELO et al., 2020; BOIX-VILELLA, ZARCEÑO e ROSA, 2014; STAN et al., 2012; CALDWELL et al., 2010).
Estudos também revelaram efeitos em outros aspectos como: composição corporal sobre os níveis séricos de marcadores inflamatórios, manutenção da capacidade funcional aptidão física, capacidade aeróbia submáxima, mobilidade funcional, tempo para alta hospitalar, força muscular, função cognitiva, padrão de movimento, reabilitação cardíaca, velocidade da marcha e dor (RIBEIRO et al. 2021).
Porém ressalta-se que esse método vem sendo aplicado por diferentes profissionais sem respeitar sua filosofia e desenho do metodológico, implicando em riscos e prejuízos para os pacientes e alunos. Sabendo que o Método Pilates pode ser benéfico para a saúde se bem aplicado, é importante que os profissionais que trabalham com essa técnica a conheça em profundidade; entendendo o desejo do método, e sabendo aplicar seus princípios para a saúde a fim de oferecer com qualidade em diferentes contextos e especificidades da saúde. Portanto, o objetivo deste estudo foi analisar e criticar a literatura científica acerca do Método Pilates a fim de contribuir para a compreensão de seus princípios e especificidades no campo da saúde.
2. Método
O presente estudo possui caráter descritivo e caracteriza-se como uma revisão narrativa de literatura com o propósito de analisar e interpretar a produção científica existente acerca do Método Pilates. Esta análise contribui para o avanço do conhecimento para a prática fundamentada em evidências, uma vez que o Método Pilates tem sido amplamente utilizado como estratégia de intervenção não farmacológica no campo da saúde.
Este tipo de estudo sustenta-se no propósito da aquisição e atualização do conhecimento sobre temáticas específicas, evidenciando novas ideias, métodos e subtemas que têm sido foco da literatura e campo de trabalho (TOLEDO e RODRIGUES, 2017; VOSGERAU e ROMANOWSKI, 2014; ELIAS et al., 2012).
As bases de dados utilizadas para a busca foram a Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde (LILACS) e Portal CAPES.
Critérios de inclusão: Os artigos foram pesquisados nos idiomas português, inglês e espanhol. Além disso, a pesquisa contou com arquivos pessoais dos autores, como livros específicos do Método Pilates não presentes em bases de dados. Selecionaram-se artigos e demais obras a partir de 1934 (início das publicações de Joseph Pilates sobre o método) até novembro de 2022, desde que apresentassem princípios e especificidades do método e não apenas citasse seu nome. A pesquisa fundamentou-se nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “Pilates” e “Método Pilates”.
Inicialmente foi realizado filtro através dos títulos dos trabalhos. Inicialmente foram encontrados 347 artigos, posteriormente foi realizada leitura dos resumos verificando se, de fato, os trabalhos apresentavam “princípios e especificidades do método” ou apenas utilizavam o método Pilates como a forma de exercício aplicada. Ou seja, como critérios de exclusão adotou-se: não abordar “princípios e especificidades do método”. Os trabalhos que passaram dessa fase foram incluídos na revisão e análise, ficaram para a revisão final 19 trabalhos.
3. Resultados e Discussão
Para a revisão final incluiu-se 19 trabalhos que foram discutidos em forma de capítulos.
3.1 O Método Pilates
3.1.1 A história do método e seu criador
Pilates é um método de condicionamento físico, que integra corpo, mente e espírito através do movimento e apresenta popularidade crescente, em especial nos últimos anos (MELO, 2021; LATEY, 2001; BERNARDO, 2007). A Internet apresenta uma infinidade de vídeos e imagens sobre o método (SEGAL, HEIN e BASFORD, 2004). De acordo com Chang (2000), o número de praticantes de Pilates nos EUA subiu de 5 mil em 1990 para 5 milhões no ano de 2000. O sistema de treinamento físico denominado Pilates é composto por exercícios que utilizam aparelhos criados por Joseph Humbertus Pilates (1880 – 1967) em 1918. No Método Pilates o estado psicológico é elemento central, haja vista que ao longo do tempo de prática e envolvimento, o mesmo se torna um estilo de vida, modificando a forma de se movimentar e se posicionar diante da vida. Joseph Pilates combinou todas as práticas realizadas por ele, como yoga e artes marciais e criou o método que a princípio denominou Contrology ou Contrologia (CAMARÃO, 2004; SMITH e SMITH, 2005).
A teoria e prática do Método Pilates foi descrita em dois livros nos quais Pilates contou com a colaboração de seu amigo William John Miller. O primeiro livro chamado Your Health, publicado em 1934 (LATEY, 2001) é um compêndio de sua filosofia. E em 1945, o livro Return to life Through Contrology (Retorno à vida através da Contrologia), apresentava, além da parte referente à filosofia, uma lista de trinta e quatro exercícios com fotos para a prática de Pilates em casa (LATEY, 2001; CAMARÃO, 2004). Em 1998 aconteceu a publicação da união dos dois livros, denominado: Return to life Through Contrology and Your Health (PILATES, 1934-1998) que definiu a técnica como completa integração entre corpo, mente e espírito (CAMARÃO, 2004; PILATES , 1934). Além disso, temos outras obras como “Joseph H. Pilates: Escritos” que apresentam ideias deixadas por Joseph e publicadas posteriormente por seus discípulos e equipe (GALLAGHER e GARCIA, 2012).
Quando Joseph Pilates morreu, aos 87 anos, em 1967, além de não deixar herdeiros, não designou um sucessor para dar continuidade ao seu método. Mesmo assim, a marca foi registrada e gerou um processo que se arrastou por muitos anos. Em 20/10/2000, a corte federal de Nova York, através da juíza Dra. Miriam Goldman Cedarbaum, considerou a palavra “Pilates” um termo de uso genérico para designar uma modalidade de exercícios físicos e tornou nulas as marcas registradas; logo, Pilates hoje é uma palavra de domínio público, sem a necessidade de regulamentação quanto sua qualidade ou metodologia (CAMARÃO, 2004). Após a morte de Joseph em 1967, Clara, sua esposa continuou a trabalhar no Studio em Nova York até 1977, quando faleceu (LATEY, 2001). O autor ainda afirma que após a morte de clara, um livro chamado The Pilates Method of Physical and Mental Conditioning escrito por Friedman e Eisen foi publicado em 1980, livro este que auxiliou o processo de disseminação do Método Pilates, este livro cita o mesmo método, os conceitos dos seis princípios do Método Pilates como Joseph o descreve em 1934. Entretanto, o livro inclui alguns conceitos extras em relação ao que Joseph Pilates chamava de “Power House“.
O Pilates é comumente subdividido em níveis iniciante, intermediário e avançado, divisão esta que não existe em qualquer literatura escrita por Joseph Pilates, porém é amplamente difundida por seus discípulos. O livro também inclui posicionamentos corretos para pé, ombro e todas as articulações durante a prática de Pilates. Ele apresenta novos conceitos como proteção da coluna, contraindicações em relação à realização de graus de movimentação extrema da coluna lombar como, por exemplo, a hiperlordose lombar APARÍCIO e PÉREZ, 2005; SMITH e SMITH, 2005).
É importante ressaltar que vários alunos de Joseph, seus elders, tornaram-se instrutores e foram responsáveis pela continuidade e propagação de seu método após sua morte (GALLAGHER e GARCIA, 2012). A partir de 1990 muitos professores do método começaram a utilizá-lo em várias áreas e com diversas abordagens (ANDERSON e ESPECTOR, 2005). Atualmente o Pilates é uma modalidade de condicionamento físico que tem sido amplamente utilizada por profissionais de Educação Física e Fisioterapia. Entretanto, até o momento, existem poucas evidências científicas que descrevem os benefícios da prática regular de Pilates (LA TOUCHE, ESCALANTE e LINARES, 2008).
O Método Pilates é um sistema baseado na Contrologia que, de acordo com Pilates, é a completa coordenação entre corpo, mente e espírito (PILATES e MILLER, 2012; PILATES e MILLER, 2010). Com base nestes princípios, o Pilates é um método que associa conceitos de prática corporal, disciplina mental e energia vital, composto por exercícios de aparelhos e solo criados por Joseph Pilates em 1918 (LATEY, 2002; APARÍCIO e PÉREZ, 2005; SMITH e SMITH, 2005).
Pilates acreditava que a contrologia só acontecia se o core abdominal, centro de força ou cinturão abdominal, estivesse ativo (ANDERSON e ESPECTOR, 2005; PILATES, 1934). Em todos os exercícios existe um enfoque direto em relação a contrair o músculo transverso do abdômen, chamado de core ou centro de força por Joseph (SEGAL, HEIN e BASFORD, 2004). Além disso, o Método Pilates envolve exercícios para facilitar alguns movimentos e posições que minimizem ativações musculares desnecessárias e movimentos ineficazes (ANDERSON e ESPECTOR, 2005). Os exercícios podem ser realizados com o uso dos equipamentos de Pilates ou somente com exercícios no chão, também chamados de exercícios MAT (PETROFSKY, MORRIS e BONACCI, 2005; MUSCOLINO e CIPRIANI, 2004). Atualmente, o Pilates é utilizado sobre duas principais abordagens: o Pilates Clássico e o Pilates Contemporâneo. Alguns livros, artigos e elders citam que a atividade de Pilates é dividida em três níveis de intensidade: básico, intermediário e avançado (LATEY, 2002; APARÍCIO e PÉREZ, 2005). Todos os exercícios são devidamente descritos no Método Pilates com suas progressões.
3.1.2 Princípios do Método Pilates
Os seis princípios do método como conhecemos hoje foram descritos didaticamente em 1980 no livro “The Pilates Method of Physical and Mental Conditioning” (O Método Pilates de condicionamento Físico e Mental) de autoria de Gail Eisen e Philip Friedmam (KOLYNIAK, CAVALCANTI E AOKI, 2012). No Método Pilates os princípios são proposições fundamentais que norteiam a prática: concentração, centralização, precisão, respiração, controle e fluidez (LATEY, 2001; LATEY, 2002; MUSCOLINO e CIPRIANI, 2004; APARÍCIO e PÉREZ, 2005; PILATES 1998; PILATES 1934; PILATES e MILLER, 2012).
O princípio “centralização” fala sobre o centro de força que é definido como o “cinturão” abdominal que se estende desde a base das costelas até a região inferior da pelvis. Constitui o pilar fundamental do método. Todo trabalho começa e é sustentado pelo Power House. O centro suporta o tronco, facilita movimentos equilibrados e melhora o controle motor das extremidades. Durante a execução de todos os exercícios é utilizada a contração do músculo transverso do abdome, visando melhor estabilização tóraco-lombar (APARÍCIO e PÉREZ, 2005).
No princípio “concentração” observa-se a essência do método: coordenação entre corpo, mente e espírito indicando que cada exercício deve ser executado com atenção no momento da execução, sem dispersão e com total entrega e concentração no gesto que está sendo realizado (MELO, 2021; PILATES 1998; PILATES 1934; PILATES e MILLER, 2012). GALLAGHER e GARCIA, 2012; APARÍCIO e PÉREZ, 2005). Ao realizar os exercícios é fundamental, no sistema descrito por Joseph, ter consciência de todas as partes do corpo (PILATES 1998; PILATES 1934; PILATES e MILLER, 2012). O Método Pilates descreve uma grande necessidade de concentração para estar no comando de cada movimento para então realizar os movimentos precisos e perfeitos (GALLAGHER e GARCIA, 2012; APARÍCIO e PÉREZ, 2005).
O princípio “controle” tem forte relação com o nome original do método: Contrologia. Cada exercício deve ser efetuado prestando atenção nas extremidades (posicionamento dos pés e mãos) e atenção em relação ao posicionamento da cabeça, tronco e principalmente a coluna. Nenhuma parte do corpo deve ficar sem “energia” ou intenção de movimento. Representa o controle dos movimentos executados sem permitir posturas inadequadas. Aqui temos um trabalho constante de Lifting e Two-way stretch (GALLAGHER e GARCIA, 2012).
Já o princípio “precisão” revela que todos os exercícios apresentam uma estrutura clara, uma forma precisa e uma dinâmica adequada. Essa dinâmica, inclusive de transição entre os movimentos, foram planejados por Joseph para a obtenção do máximo benefício e desempenho. Deve-se prestar muita atenção aos detalhes, já que a qualidade nos movimentos é mais importante que a quantidade. Pilates escreveu: ”Concentre-se nos movimentos corretos cada vez que se exercitar, ou os fará de maneira incorreta e eles perderão seu valor” e “não importa o que você faz e sim como você faz” (APARÍCIO e PÉREZ,).
Para Gallagher e Garcia (2012), o princípio “respiração” reforça que a mesma deve ser adequadamente coordenada com os movimentos. É importante reforçar que no início da prática deve-se permitir que o aluno respire de maneira mais natural possível e aos poucos coordenar a respiração com os movimentos. Além disso, existem movimentos específicos para treinamento da respiração; a expiração completa é o ponto chave.
A essência do princípio “fluidez” traduz parcialmente a velocidade de execução dos exercícios. Os exercícios não devem ser realizados muito rápido ou muito lento, ou mesmo com pequenas quebras em sua execução. A velocidade ideal é a que permite fluidez de movimento, ou seja, que o movimento aconteça respeitando as particularidades da respiração. É a manutenção de um ritmo harmonioso durante a execução dos exercícios (MUSCOLINO, 2004; APARÍCIO e PÉREZ, 2005; GALLAGHER e GARCIA, 2012).
3.1.3 Terminologia e posturas adotadas no método
3.1.3.1 Pilates Position – “V” Position
Uma pessoa com boa postura, em geral, se mantém elegante na posição de pé sem exagerar em nenhuma das curvaturas da coluna, com a cabeça, o tronco e as pernas alinhadas (GALLAGHER e GARCIA, 2012; APARÍCIO e PÉREZ, 2005). Na postura preconizada no Método Pilates, a pessoa deve se sentir alinhada, mas não rígida, com o peso uniformemente distribuído nos dois pés; as pernas devem ficar suavemente esticadas com os músculos estendidos, os abdominais ligeiramente contraídos e as costas comodamente retas e esticadas; o peso deve estar distribuído uniformemente, nem excessivamente para frente e nem para trás (APARÍCIO e PÉREZ, 2005). O objetivo principal é alcançar um melhor equilíbrio e estabilização.
3.1.3.2 O Box e o Power House
A linha central no Pilates divide o corpo em duas metades, uma linha imaginária no ombro e outra nas cristas ilíacas, o Método Pilates trabalha em torno desta linha central (MUSCOLINO, 2004; APARÍCIO e PÉREZ, 2005). Podemos desenhar uma linha de ombro a ombro e de quadril a quadril; estas duas linhas retas correm perpendiculares à linha central. A intersecção destas com outras duas linhas que, paralelas à linha central, unem o ombro ao quadril de cada lado, constituem os limites do que denominamos “caixa”. A caixa serve como referência para o resto do corpo. Seguir cada exercício dentro dos limites da caixa assegura alinhamento correto e controle de extremidades (PILATES 1998; PILATES 1934; APARÍCIO e PÉREZ, 2005;).
O músculo transverso do abdômen é considerado um músculo postural primário que é responsável por participar diretamente dos mecanismos de estabilização lombo-pélvica e a ineficácia desses mecanismos é uma das causas de lombalgias. Joseph Pilates fazia referência a este músculo e aos mecanismos de estabilização tóraco-lombar, quando citava a necessidade de estabilizar o centro e manter o abdome seguro, firme e contraído; as articulações da coluna são extremamente importantes no método, pois envolvem o centro de força ou core abdominal relacionado ao Power House que é a caixa constituída pelos músculos abdominais na frente, pelos paravertebrais e pelos glúteos na parte posterior, pelo diafragma no teto e pelo assoalho pélvico e pela cintura pélvica no assoalho (MUSCOLINO e CIPRIANI, 2004).
3.1.3.3 Scoop, Round e C-Curve
No Pilates, a postura ideal refere-se à posição em que a coluna mantém suas curvas naturais. É um conceito importante mas, em alguns exercícios, de difícil manutenção. Também chamada de pelve neutra, é obtida quando a base do sacro apresenta um ângulo de 30 graus, portanto a posição neutra e pelve neutra do Pilates apresenta-se com uma lordose, considerada fisiológica. A pelve neutra evita movimentos compensatórios e busca alinhar posturas. (MUSCOLINO e CIPRIANI, 2004).
No Método Pilates não existe o conceito de ventre plano. Usando o centro de força trabalham-se os abdominais para que eles realizem a função correta: sustentar o tronco, protegendo a coluna e a mantendo flexível (GALLAGHER e GARCIA, 2012). Complementando o conceito de Scoop “umbigo na direção da coluna, para dentro e para cima” que aplicamos igualmente quando ao pressionar o ventre para dentro, forma-se uma curva côncava na forma de um C, conseguindo mais espaço entre a cintura e os quadris e, com isso, mais espaço para os órgãos internos (APARÍCIO e PÉREZ, 2005).
A postura ideal pode ser vista em formato de C, comumente conhecida como curva C (C-Curve) em forma de colher (Scoop) ou uma volta em torno da coluna vertebral (Round). O alcance dessa postura ideal e controle devem ser transferidos para as posturas do dia a dia.
As articulações adjacentes ao centro de força devem ser orientadas durante a prática em relação à coordenação da respiração com o movimento, à estabilização da cintura escapular e pélvica durante os movimentos e à movimentação dos abdominais, cabeça e o pescoço durante o exercício no sentido de gerar flexão (SEGAL, HEIN e BASFORD, 2004).
3.1.3.4 Lifting e Two-way stretch
No Two way Stretch ou “Alongar em Duas Direções” utiliza-se de conexões musculares para gerar forças vetoriais em oposição entre os segmentos corporais, proporcionando a realização do crescimento axial ou alcance e ganho de espaço entre as articulações (Lifting). Este conceito relaciona-se diretamente com o centro de gravidade e com o correto alinhamento dos pés, quadril, coluna, cabeça e membros. Deve estar presente durante toda dinâmica dos movimentos.
3.1.4 Pilates clássico e Pilates Contemporâneo
O Pilates é subdividido em duas principais abordagens: O Pilates Clássico (tradicional ou autêntico) e o Pilates Contemporâneo (moderno) (LATEY, 2001; LATEY, 2002).
O Pilates Clássico compreende todos os exercícios originais descritos nos livros e escritos de Joseph e todo método desenvolvido pelo mesmo e difundido por seus discípulos (PILATES 1998; PILATES 1934; FRIEDMAN, EISEN e MILLER, 1980). No Pilates Clássico, apesar da padronização de exercícios, transições e número de repetições, existem adaptações para os indivíduos a partir de seu nível atual, adaptação, histórico e demais necessidades; sem contudo descaracterizar o método.
No Método Pilates clássico os aparelhos de Pilates utiliza-se apenas os aparelhos e acessórios criados por Joseph Pilates, estes mantém a fidelidade das medidas, ergonomia e funcionalidade iguais aos originais; é utilizado o repertório de exercícios criados por Joseph Pilates respeitando ordem, número de repetições, sequências, transições, dentre outros pontos que são trabalhados de forma universal (MARTINS, 2020). Ou seja, em todos os lugares do mundo o Método Clássico mantém um padrão. A respeito do nome dos exercícios, no clássico, utilizam-se apenas os nomes em inglês que é universal independente do idioma do país, há um padrão dos nomes exatamente igual no mundo todo. Na primeira aula ministrada pela perspectiva do Método Pilates clássico, normalmente inicia-se no Reformer, seguindo uma sequência de exercícios que estimula todo o corpo de maneira uniforme, o Reformer é utilizado como avaliador funcional do praticante para, posteriormente, levá-lo aos aparelhos que trabalharão as necessidades especiais (MARTINS, 2020). A respeito da respiração, esta deve ser natural e orgânica, Joseph Pilates criou alguns exercícios específicos para a respiração e, nesses sim é exigido um padrão específico de respiração como Hundred, Breathing, Chest Expansion, mas não em todos os exercícios do método (MARTINS, 2020). Sobre a finalização de aula, no Pilates Clássico utilizam-se exercícios com maior vigor que estimulam todo o corpo e prepara a mente, deixando-a mais ativada quando comparado ao início da aula (MELO, 2021). Existem exercícios específicos de finalização em sua maioria na posição vertical, algumas vezes exercícios de respiração, pois o aluno deve terminar a sessão com o corpo revigorado e energizado prontamente ativo para as tarefas diárias (PILATES 1998; PILATES 1934; FRIEDMAN, EISEN e MILLER, 1980; MARTINS, 2020).
O Método Pilates contemporâneo inclui todas as variações do Método Pilates. A ideia central é que se utilize a filosofia do Método Pilates e introduza alguns exercícios, movimentos e aparelhos diferentes do criado por Joseph. O principal problema do Pilates Contemporâneo é que, como ele se tornou um nome de domínio público e lucrativo, muitas abordagens não respeitam a filosofia e princípios do método, apenas utilizam o nome Pilates a fim de vender um programa de exercícios. O Pilates Contemporâneo vem ganhando espaço e é uma excelente abordagem quando se respeita o essencial para manter os padrões de qualidade e eficiência do método, aliados ao planejamento de exercícios para cada aluno, com o objetivo de ganhar flexibilidade, melhorar a postura e aumentar a força dos músculos (LATEY, 2001).
A respeito dos aspectos já apresentados no Pilates clássico, quando falamos de contemporâneo temos infinitas variações. Em relação aos aparelhos, utilizam-se alguns aparelhos criados por Joseph com modificações e uma infinidade de acessórios, como a bola, por exemplo, que se tornou um símbolo popular do Pilates, embora não tenha relação com o método original de Joseph Pilates (MARTINS, 2020). A respeito dos exercícios e nome dos exercícios, no contemporâneo, nem sempre se utiliza os mesmos exercícios e uma língua padrão, existe uma criação infinita de exercícios e nomes diferentes para os mesmos. Além disso, não existe um aparelho direcionado para a primeira aula, bem como o direcionamento de aula/avaliação. A respeito da respiração, geralmente é controlada desde o primeiro dia com momentos específicos para inspirar e expirar, mesmo quando o aluno não está preparado para realizar uma boa execução do movimento e controlar a respiração.
Por fim, a finalização de aula costuma ser realizada através de massagens, relaxamento e técnicas de fisioterapia que não fazem parte do método (PILATES 1998; PILATES 1934; FRIEDMAN, EISEN e MILLER, 1980; MARTINS, 2020). Trata-se de uma mistura de abordagens e técnicas trazidas para dentro do Pilates. Com todas essas considerações não pretendemos retirar a possibilidade de trabalho com o método contemporâneo, mas destacar que devido à possibilidade de utilização do nome Pilates em diferentes contextos e sem algum mecanismo de controle que garanta respeito aos princípios e diretrizes do método, muitas vezes o método sob essa abordagem é utilizado sem qualidade e eficiência.
3.1.5 Pilates aparelhos e MAT Pilates (Pilates Solo)
O Pilates pode ser executado em aparelhos ou no solo (Mat). Os principais aparelhos de Pilates são: Reformer, Cadillac, Wunda Chair, High Chair, Ladder Barrel. Existem outros aparelhos e acessórios como: Arm Chair, Spine Corrector; Pedi Pole, Guillotine, Wall Unit, Bean Bag Roll Up Device, Breath-a-Cizer, Foot Corrector, Neck Stretcher, Push Up Device, Toe Exerciser, dentre outros que complementam o funcionamento destes citados anteriormente (PILATES 1998; PILATES 1934; PILATES e MILLER, 2012). O Pilates solo ou MAT Pilates são os exercícios do método realizados sem a necessidade de aparelho, embora exista um aparelho denominado MAT que facilita a execução dos exercícios, principalmente no nível básico (PILATES e MILLER, 2012).
4. Conclusão
Através da revisão narrativa foi possível perceber que o Método Pilates, devido às suas características baseadas na contrologia e trabalho global em todos os exercícios, e também de olhar para a pessoa mais macroscopicamente, reforçando a abordagem holística do indivíduo, tem sido indicado pelos profissionais da saúde e ganhando diversos adeptos pelo mundo no tratamento de doenças. Porém, nem sempre seus princípios e filosofia são conhecidos.
A presente revisão apresenta limitações no que diz respeito ao acesso às informações relativas aos princípios e especificidades do Método Pilates, pois grande parte dos trabalhos publicados sobre Pilates apenas utilizam o mesmo como forma de exercício sem explorar sua essência. A maioria dos registros sobre Método Pilates fazem parte de arquivos pessoais de discípulos e outros seguidores e multiplicadores do Método de Joseph Pilates tornando difícil o acesso e a realização de publicações dessas informações. Neste sentido, sugerem-se novas pesquisas de campo, com entrevistas e grupos focais com estes discípulos e multiplicadores do Método Pilates a fim de compreender e analisar o entendimento acerca dos princípios e especificidades do método.
Esta revisão evidenciou como é importante analisar a forma como os profissionais da saúde se apropriam dos conhecimentos, princípios e especificidades do método para aplicação em seu cotidiano profissional. Bem como, revelou a escassez de estudos científicos sobre a temática. O Pilates pode ser uma excelente ferramenta no cotidiano e no enfrentamento de diversas doenças e para a saúde geral da população, mas para isso, os profissionais precisam conhecê-lo e aplicá-lo com responsabilidade.
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1Programa de Pós-Graduação em Ciências do Esporte da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.
2Centro Universitário UNA de Belo Horizonte
3Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.