TRACIONAMENTO DE CANINO INFERIOR INCLUSO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8145748


Franciane Alvez Gomes1
Priscila Pinto Brandão de Araujo2
Carlos Eduarde Bezerra Pascoal3
Fabíola Brasil Roberto4
Débora Cristina Martins5
Tiago Drumond Valadares Freitas6


RESUMO

O tracionamento de canino inferior incluso é o tratamento que, por meios ortodônticos, expõe o dente incluso ao arco dental. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso clínico de paciente jovem, com maloclusões e inclusão de canino inferior. O diagnóstico se dá por meio de exames clínicos e radiográficos e seu plano de tratamento está diretamente relacionado à posição e local que esse dente incluso se encontra. Para se obter o resultado desejado, o paciente foi submetido, primeiramente, a exodontia dos dentes decíduos remanescentes, depois, instalação de aparelho fixo para alinhamento e nivelamento, associado a mecanismos para obtenção de espaço necessário para o tracionamento do dente 43. Tendo espaço no arco inferior, foi realizada a Ulectomia para exposição da coroa e fixação de botão metálico, que em seguida, com fio de amarrilho 0,25”, conjugou o botão ao arco de NiTi 0,014” intraoral inferior, sendo assim realizado o tracionamento do dente. Esta técnica se mostrou eficiente, de fácil execução, baixo custo e sem danos ao dente. O paciente continuará em tratamento para solucionar outras maloclusões.

Palavras-chave: Incluso, extrusão, ortodôntico.

The included lower canine traction is the treatment that, through orthodontic means, exposes the included tooth to the dental arch. This study aimed to report a clinical case of a young patient, with malocclusions and inclusion of a lower canine. The diagnosis is achieved by clinical and radiographic examination and its treatment plan is related to the position and location of the included tooth. To obtain the desired result, a patient was submitted, first, extraction of the remaining primary teeth, then installation of a fixed appliance for alignment and leveling, associated with mechanisms to obtain the necessary space for traction of the tooth 43. After achieving enough space in the lower arch for the tooth, an Ulectomy procedure was performed, in order to expose the crown and bond of an orthodontic metallic button, which then, with 0.25” binding wire, conjugated the button to the lower intraoral 0.014” NiTi arch, thus being performed the tooth traction. This technique proved to be efficient, easy to perform, low cost and without damage to the tooth. The patient will continue treatment to resolve other malocclusions.

Keywords: Included, extrusion, orthodontic.

INTRODUÇÃO

Os dentes geralmente seguem uma sequência de irrupção que levam a uma boa oclusão, mas, em algumas pessoas, podemos observar que, no período de transição da dentadura mista para a permanente, ocorrem alterações na sequência, ou mesmo no trajeto de irrupção dentária, podendo levar à inclusão e impactação de dentes (CAPPELLETTE et al., 2008).

A dentadura mista caracteriza-se pela presença de dentes decíduos e permanentes no arco dentário, e se inicia, em média, aos 06 anos e vai aproximadamente aos 12 anos de idade. Esta etapa pode ser subdividida em três períodos: primeiro período transitório, período intertransitório e segundo período transitório (CAMPOS, 2015).

Segundo Escoda & Laytés (2004), existe uma prevalência acentuada, de inclusão de caninos, no sexo feminino de até 3,5 vezes mais que no sexo masculino, e canino superior apresenta uma frequência de inclusão maior que o inferior.

Bishara (1992), considera que as causas mais comuns são locais, e podem ser resultado de uma ou mais combinações dos seguintes fatores:

  • Tamanho dental;
  • Discrepância do comprimento do arco;
  • Retenção prolongada ou perda precoce do canino decíduo;
  • Posição anormal do germe dental;
  • Presença de uma fenda alveolar;
  • Anquilose;
  • Formação cística ou neoplásica;
  • Dilaceração da raiz;
  • Origem iatrogênica.

O tratamento de caninos inclusos é muito importante, pois, são dentes de proteção do sistema estomatognático, essenciais na harmonia oclusal e indispensáveis nos movimentos de lateralidade. Portanto se faz necessário um planejamento rigoroso em seu tratamento (BRITTO et al., 2003).

De acordo com Maahs et al., (2004), a escolha do tratamento deve ser baseada nos seguintes de fatores:

  • Idade cronológica:
  • Relação esquelética maxilomandibular;
  • Comprimento das arcadas dentárias;
  • Posição do dente incluso/impactado;
  • Suspeita de anquilose;
  • Dilaceração;
  • Posição e estágio de formação radicular;
  • Relação com os dentes vizinhos e presença ou ausência de espaço;
  • Grau de cooperação e receptividade ao tratamento.

Jardim et al., (2011) e Frezzatti (2020), relacionam as opções de tratamentos utilizadas para os dentes retidos da seguinte forma:

  • Proservação: tratamento totalmente conservador, uma vez que o elemento retido não é submetido a nenhum tipo de abordagem cirúrgica.
  • Exposição cirúrgica sem tracionamento ortodôntico: eliminação parcial ou total do tecido gengival, e ou, ósseo e pericoronário que recobrem a coroa do elemento dentário retido, quando o mesmo possuir força eruptiva, e espaço suficiente para sua irrupção no arco.
  • Exposição cirúrgica com tracionamento ortodôntico: nesse caso o dente apresenta raiz bem formada e o ápice fechado, e ou, está fora do seu eixo normal de erupção. A coroa dental será cirurgicamente exposta e tracionada com auxílio de mecanismos ortodônticos.

Segundo Bellão (2017) e Cruvinel et al., (2017), a terapêutica mais utilizada no tratamento dos caninos inclusos é o tracionamento ortodôntico. Contudo, deve-se observar a quantidade de formação radicular, a posição e direção do dente incluso, e o grau das dilacerações presentes que podem comprometer o sucesso do tracionamento dentário.

Este trabalho tem como objetivo relatar o caso clínico de um tracionamento de canino inferior incluso, abordando sua possível causa, tratamento escolhido e o prognóstico do paciente.

RELATO DE CASO 

Paciente, CEFB, 13 anos, sexo masculino, compareceu ao curso de especialização em ortodontia da Ceproeducar, acompanhado do responsável, apresentando como queixa principal que os “dentes de leite não amoleciam e os permanentes sempre nasciam fora da posição correta”. De acordo com a anamnese realizada, o paciente não possui doenças sistêmicas ou síndromes, também não relatou nenhuma hipersensibilidade a medicações ou alimentos e também não relatou nenhum hábito deletério.

Após realização de exame extraoral, intraoral e radiográfico, o paciente foi classificado com Padrão III, Perfil Côncavo e dólicofacial (figura 1 A-C). Ao exame intraoral observou-se que o paciente se encontrava no estágio de dentadura mista com os seguintes problemas oclusais: apinhamento dental anterior superior e inferior moderado, mordida profunda anterior, desvio de linha média inferior para a esquerda, Incisivos inferiores lingualizados (figura 2 A-E). Tendo em mãos a radiografia panorâmica, telerradiografia lateral (figura 3 e 4) e traçado cefalométrico (anexo A) foi realizado o planejamento do tratamento ortodôntico.

Figura 1 – Fotos extraorais. (A) frontal, (B) sorriso, (C) perfil.

Figura 2 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda, (D) superior, (E) inferior.

A análise cefalométrica foi realizada seguindo o padrão USP, e consta em (anexo B). O plano de tratamento eleito para o paciente foi: exodontia dos dentes decíduos remanescentes e instalação de aparelho fixo, prescrição Roth, slot 22 (Morelli, São Paulo – Brasil).

Figura 3 – Radiografia panorâmica

Uma imagem contendo no interior, menina, mulher, carro

Descrição gerada automaticamente

Figura 4 – Telerradiografia lateral.

Iniciamos o tratamento com o aparelho fixo, instalando-o apenas no arco superior, com a técnica de colagem direta de bráquetes nos dentes 14,12,11, 21, 22, 24 e tubo simples nos dentes 16 e 26, associado ao fio NiTi 0,012” superior (figura 5 A-C).

Figura 5 – Fotos intra orais. (A) direita, (B) esquerda, (C) inferior.

Após 30 dias, foi realizada evolução do fio para NiTi 0,014” superior e instalação de batentes de metal, na palatina dos dentes 11 e 21, devido a mordida profunda do paciente.

Com intervalo de 30 dias foi realizada a colagem direta de bráquetes nos elementos 15 e 25, mantendo o fio NiTi 0,014” superior. E no arco inferior, foi realizada a colagem direta de bráquetes nos dentes 45, 44, 42, 41, 31, 32, 34 e fio NITI 0,012” inferior.

Após 30 dias foi realizada evolução de fios para: NiTi 0,016” Superior e NITI 0,014” inferior.

Após 06 meses do início do tratamento o paciente se mostrava colaborador e assíduo. Já se notava a presença dos dentes 13 e 23 em processo de irrupção e também os dentes 33 e 35 no arco inferior (figura 6 A-E).

Figura 6 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda, (D) superior, (E) inferior.

Foi realizada uma nova radiografia panorâmica (figura 7), para acompanhamento do tratamento, e após a avaliação da mesma, observou-se que não haveria espaço suficiente para a irrupção completa dos dentes 13 e 23, 33 e 35 e 43.

Figura 7 – Radiografia panorâmica.

O atendimento na clínica da Ceproeducar foi suspenso por 04 meses, devido à Pandemia do COVID-19, e o paciente não pôde realizar a manutenção mensal do aparelho. Durante esse período os dentes 13 e 23 irromperam e estavam em infraoclusão (figura 8). Por esse motivo foi feita a colagem direta de bráquetes nos dentes 13 e 23, de forma passiva, para incluí-los no arco dentário, e utilizado o fio NiTi 0,012” superior (figura 9).

Após 30 dias foi realizada a colagem direta de tubos simples nos dentes 36 e 46, com mola aberta entre 36 e 34, 34 e 32, e 42 e 44, para ganho de espaço, associado ao fio NiTi 0,016” inferior e no arco superior foi feita a evolução do fio para NiTi 0,014” superior (figura 10 A-E).

Figura 10 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda, (D) superior, (E) inferior.

Após 30 dias, fizemos a colagem direta de braquete no dente 33 e colagem direta de botão no dente 35 conjugado ao fio para vestibularização do mesmo. Evoluímos o fio para NiTi 0,016” superior e fio NiTi 0,016” inferior. (figura 11 A-E).

Figura 11 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda (D) superior (inferior).

Em 30 dias depois, já foi possível substituir o botão do dente 35 por bráquete, iniciando assim o processo de alinhamento do mesmo no arco inferior, nesse momento utilizamos fio NiTi 0,012” inferior. No arco superior evoluímos o fio para NiTi 0,18” superior. Mantivemos mola aberta entre os dentes 42 e 44 para adquirir espaço suficiente para o dente 43, que ainda se encontrava incluso (figura 12 A-E).

Figura 12 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda, (D) superior, (E) inferior.

Em posse de uma nova radiografia panorâmica (figura 13), no mês subsequente, observou-se que o dente 43 encontrava-se com raiz formada e com espaço suficiente no arco, porém o mesmo ainda se encontrava incluso (figura 14). Nesta mesma consulta, foi realizado um procedimento cirúrgico chamado Ulectomia, que consiste na remoção da porção gengival que recobre a coroa dentária, expondo- a para um tracionamento através de acessório ortodôntico (figura 15).

O acessório eleito foi o botão de metal, fixado ao dente na face vestibular, através de condicionamento ácido – sistema adesivo – resina composta fotopolimerizável. Após a colagem direta, usou-se um amarrilho 0,25mm amarrando o botão ao próprio arco intraoral (figura 16). Os fios utilizados foram, NiTi 0,014” inferior e NiTi 0,020” superior. Associado a este mecanismo, foi orientado ao paciente a utilização do elástico intraoral látex leve ¼, nos dentes 13, 14, 15, 34 e 35 para vestibularização e extrusão dos dentes 34 e 35, durante 30 dias, trocando-o a cada 2 dias e removendo apenas no momento da higienização e alimentação. A (figura 17 A- E) mostra as associações realizadas nessa consulta.

Figura 16 – Foto intraoral (tracionamento de canino com acessório ortodôntico).

Figura 17 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda, (D) superior, (E) inferior.

No mês seguinte, pôde-se notar que o tratamento já mostra bons resultados. (figura 18 A-C). Evoluímos o arco inferior para o fio de NiTi 0,016”, com mola de secção aberta entre o botão e o dente 44, para continuar o tracionamento do dente 43 e promover mesialização do mesmo. Entre os dentes 44 e 45 foi colocado uma mola de secção fechada para evitar giroversão do dente 44 (figura 19). No arco superior, manteve-se o fio de NiTi 0,020”.

Figura 18 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) superior, (C) inferior.

Manteve-se o uso do elástico intraoral látex leve ¼, porém, desta vez, nos dentes 13,14 e 34, 35 para vestibularização e extrusão dos dentes 34 e 35, durante 30 dias, trocando-o a cada 2 dias. (figura 20).

Em sua última consulta, foi realizada a colagem direta de bráquete no dente 43, para iniciar o processo de alinhamento e nivelamento, com arco NiTi 0,012” inferior. Foi necessário conjugar, com fio de amarrilho 0,25”, os dentes 44 e 45, 42 a 33 para ancoragem dos mesmos. No arco superior utilizamos NiTi 0,020” superior (figura 21 A-C) (figura 22 A-B).

Figura 21 – Fotos intraorais. (A) frontal, (B) direita, (C) esquerda.

Figura 22 – Fotos intraorais. (A) superior, (B) inferior.

Com o encerramento do curso, o paciente foi encaminhado para outra turma para continuar seu tratamento, porém o tracionamento do dente 43 foi obtido com sucesso. Para finalizar este caso clínico, foi solicitado novos exames radiográficos (figura 23 e 24) e cefalométricos (anexo C e D) para documentar os avanços alcançados com o tratamento.

Imagem em preto e branco

Descrição gerada automaticamente

Figura 23 – Radiografia panorâmica final.

Uma imagem contendo no interior, foto, bolsa, bebê

Descrição gerada automaticamente

Figura 24 – Telerradiografia lateral final.

O resultado do tracionamento do dente 43 atendeu à expectativa e o paciente continuará seu tratamento ortodôntico. Todavia, será necessário o acompanhamento com o ortodontista até o fim da fase de crescimento para obter o melhor controle do resultado adquirido.

DISCUSSÃO

No caso clínico relatado, o paciente procurou tratamento ortodôntico porque se queixava de algumas anormalidades no processo de troca dos dentes, fato que realmente pode ocorrer, concordando com Cappellette et al. (2008), que afirmou que alguns indivíduos podem ter algum distúrbio nesse processo de troca dentária.

O paciente, de 13 anos, se encontrava em fase de dentadura mista, porém com os dentes permanentes já em estágio avançado de rizogênese, e iminente esfoliação dos dentes decíduos remanescentes. Concordando com Campos (2015) que diz que a dentadura mista perdura até, aproximadamente, os 12 anos de idade.

Durante o tratamento ortodôntico, para correção de problemas oclusais diagnosticados no paciente, percebeu-se que o canino inferior direito (43), apesar de ter espaço suficiente no arco dentário, permaneceu incluso. Por esse motivo se fez necessário o seu tracionamento.

De acordo com Bellão (2017), Liu (2015) e Bishara (1992), a inclusão de caninos pode estar relacionada a diversas causas, dentre elas: fatores genéticos, ambientais, mecânicos ou fatores idiopáticos sem causa aparente. Contudo não se pode afirmar ao certo, o que determinou a inclusão do dente 43, neste relato de caso. O que se sabe, é que, com a rizogênese completa, o mesmo perdeu a força irruptiva.

Apesar de Escoda & Laytés (2004), afirmarem que a prevalência de canino incluso seja maior na maxila e em pacientes do sexo feminino, temos aqui este relato clínico de canino inferior incluso em paciente do sexo masculino. Concordando com Graziani at al. (1995) que diz que a inclusão de canino inferior é a mais frequente, ficando atrás, apenas, da inclusão de terceiros molares.

Revisando trabalhos sobre tracionamento de dentes inclusos podemos ver abordagens traumáticas, como por exemplo, Jardim et al. (2011) e Consolaro et al. (2010), que citam em seus trabalhos tipos de tracionamento cirúrgico bastante invasivos. Contudo, o caso clínico relatado neste trabalho, apresentou uma abordagem menos traumática, pois foi necessário apenas um procedimento cirúrgico simples, que consistiu em Ulectomia e tracionamento do dente por meio de acessório e fio ortodôntico, concordando com Nogueira et al. (1997) e Amaro (2019) que também optaram por técnica similar.

Em alguns casos, o dente incluso pode estar impactado e fora da sua posição natural, e nesses casos, há quem sugira uma abordagem mais radical, como Frezzatti (2020) que aponta como conduta clínica, a exodontia do canino impactado e mesialização dos dentes posteriores. Ou a extração do canino impactado e manutenção do espaço para posterior reabilitação com implante e coroa.

Porém, não era este o tratamento indicado para o dente incluso em questão, pois este encontrava-se em posição favorável para o tracionamento ortodôntico, estando de acordo com Branco (2011) e Cruvinel et al. (2017), que assim como Britto et al. (2003) levam em consideração a grande importância do canino na oclusão e a necessidade de um minucioso planejamento de tratamento nesses casos. Os autores afirmam que nos casos em que pacientes apresentem o canino incluso em posição que possibilite a sua tração ortodôntica, esta conduta deverá ser realizada.

Cruvinel et al. (2017) ainda salienta que apenas em casos de anquilose, reabsorção externa, impactação em posição desfavorável, risco de reabsorção de dentes vizinhos, raiz com grande dilaceração, ou presença de alteração patológica, justifica-se a exodontia do dente incluso. Porém, nos casos de raiz com grande dilaceração, Martins (2010), ainda defende a apicotomia associada ao tracionamento do dente incluso.

Vale ressaltar que o paciente relatado neste caso era jovem, pois Branco (2011), concordando com Maahs et al. (2004), afirma que a idade cronológica é um dos fatores importantes no momento de fazer o planejamento, e que a qualidade dos tecidos, a atividade celular, e as possibilidades fisiológicas de erupção se apresentam mais favoráveis quanto mais jovem for o paciente. Porém, Branco (2011) reitera que, ainda assim, somente a idade não será o fator determinante para eleição do tratamento.

Outros mecanismos também podem ser utilizados no tracionamento de caninos inclusos, como Cruvinel et al. (2017), que citou o uso de cantilever, resultando em um bom controle de movimento através do seu sistema de molas e dobras para a ativação de força. Porém, esta manobra não foi necessária no caso do paciente relatado, pois, apenas ao amarrar o botão ao arco intraoral inferior, o dente 43 já mostrou ótima resposta ao tracionamento.

Jardim et al. (2011) e Martins (2010), citam artifícios, como: uso de fio de aço laçando a coroa dental, perfuração do elemento dentário, e pinos de dentina, para tracionamento do dente incluso. Contudo, segundo os autores, estes artifícios devem ter seu uso limitado e somente em determinadas circunstâncias, pois podem causar irreversíveis danos ao dente, por isso nenhum deles foi utilizado no tracionamento do dente 43.

Segundo Bellão (2017) existem trabalhos na literatura que sugerem aparelho removível para o tratamento de tracionamento, mas o emprego de uma força intermitente e a dependência na cooperação do paciente se tornam uma grande desvantagem desse artifício. Para o paciente deste caso, essa técnica, era a menos indicada, pois o responsável pelo jovem já havia relatado falta de interesse e comprometimento do paciente em usar aparelho removível.

O acessório ortodôntico eleito, para auxiliar no tracionamento deste caso, foi o botão de metal colado à face vestibular do dente incluso, concordando com o trabalho de Amaro (2019), que obteve o resultado desejado com o auxílio desta técnica.

Neste caso, o uso de mola de secção aberta se mostrou muito eficaz para obtenção de espaço, associado simultaneamente, ao tracionamento dental feito pelo acessório e fio ortodôntico, sendo assim, o suficiente para adquirir o resultado planejado e trazendo o dente incluso para o arco dentário, para o seu posterior alinhamento e nivelamento.

CONCLUSÃO

Podemos concluir através deste trabalho que, para o sucesso do tratamento de caninos inclusos é necessário um bom estudo e planejamento de cada caso, pois diversos fatores, bem como, idade do paciente, fatores etiológicos, localização e posição do dente, dentre outros fatores, irão determinar qual será a melhor conduta clínica.

Quando o dente se encontra em posição favorável, a exposição cirúrgica da coroa dental seguida de tracionamento, com uso de acessório ortodôntico, se mostra eficiente no tratamento. A Ulectomia é uma boa indicação nos casos em que o dente incluso está impactado apenas por tecido gengival, pois se trata de uma técnica de fácil execução e sem grandes traumas ao paciente.

Foi eficiente a escolha do botão metálico, fixado à coroa com resina fotopolimerizável, pois esta opção de tratamento trouxe o resultado desejado sem causar danos ao dente, além de seu baixo custo.

ANEXO A – Traçado cefalométrico inicial.

Desenho de uma pessoa

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

ANEXO B – Análise cefalométrica inicial.

Análise cefalométrica – Padrão USP
FatoresValores obtidosNormaRelação das bases ósseas
NPogPoOr86°87,8° (82 a95°)Retrusão mandibular (dentro da variação de normalidade)
NAAPog0° (2,5)Perfil ósseo côncavo, relação de Classe III (padrão brasileiro).
SNA86°82°Maxila protruída em relação à base do crânio
SNB85°80°Mandíbula protruída em relação à base do crânio
ANB01°Má relação entre os maxilares (Classe III esquelética)
SND83°76° a 77°Protusão mandibular
FatoresValores obtidosNormaTendência de crescimento
SNSGn64°67°Tendência de crescimento horizontal
SNOcl01°14,5°Tendência de crescimento horizontal
SNGoGn27°32°Tendência de crescimento horizontal
FMA25°25°Equilíbrio dos vetores de crescimento
FatoresValores obtidosNormaRelação dentária
1.NA29°22°Incisivos superiores vestibularizados
1-NA5mm4mmIncisivos superiores protruídos
1.NB16°25°Incisivos inferiores lingualizados
1-NB2mm4mmIncisivos inferiores retruídos
IMPA81°87° a 90°Incisivos inferiores lingualizados
1.1135°131°(+=10°)Relação de incisivos dentro da normalidade
FatoresValores obtidosNormaPerfil mole
HNB9° a 12°Perfil mole côncavo
H-Nariz6mm9 a 11mmPerfil mole convexo

Diagnóstico:

NAAPog: Perfil ósseo côncavo, relação de Cl III (padrão brasileiro)

SNA: Protrusão Maxilar

SNB: Protrusão Mandibular ANB: Classe III esquelética

1.NA : Incisivos Superiores vestibularizados

1.NB: Incisivos Inferiores Lingualizados

ANEXO C – Traçado cefalométrico final.

Diagrama

Descrição gerada automaticamente

ANEXO D – Análise cefalométrica final.

Análise cefalométrica – Padrão USP
FatoresValores obtidosNormaRelação das bases ósseas
NPogPoOr90°87,8° (82 a95°)Protrusão mandibular (dentro da variação de normalidade)
NAAPog2,5°0° (2,5)Perfil ósseo reto, relação de Classe I (padrão brasileiro).
SNA87°82°Maxila protruída em relação à base do crânio
SNB86°80°Mandíbula protruída em relação à base do crânio
SND84°76° a 77°Protusão mandibular
ANBMá relação entre os maxilares (Classe III esquelética)
FatoresValores obtidosNormaTendência de crescimento
SNSGn64°62°Tendência de crescimento horizontal
SNOcl01°Tendência de crescimento horizontal
SNGoGn27°27°Tendência de crescimento horizontal
FMA25°28°Equilíbrio dos vetores de crescimento
FatoresValores obtidosNormaRelação dentária
1.NA37°22°Incisivos superiores vestibularizados
1-NA7mm4mmIncisivos superiores protruídos
1.NB27°25°Incisivos inferiores vestibularizados
1-NB4mm4mmIncisivos inferiores bem posicionados
IMPA88°87° a 90°Incisivos inferiores bem posicionados
1.1119°131°(+-10°)Relação de incisivos vestibularizados
FatoresValores obtidosNormaPerfil mole
HNB9° a 12°Perfil mole reto
H-Nariz5mm9 a 11mmPerfil mole convexo

Diagnóstico:

NAAPog: Perfil ósseo reto, relação de classe I (padrão brasileiro).

SNA: Protrusão Maxilar.

SNB: Protrusão Mandibular.

ANB: Classe III esquelética.

1.NA : Incisivos Superiores vestibularizados.

1.NB: Incisivos Inferiores vestibularizados.

REFERÊNCIAS

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1Especialista em Ortodontia
2Doutora em Ortodontia
3Especialista em Ortodontia
4Mestre em Ortodontia
5Mestre em Ortodontia
6Especialista em Ortodontia