ANÁLISE DA PRESENÇA DE VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA EM INDIVÍDUOS ASSINTOMÁTICOS NA FAIXA ETÁRIA DE 20 À 40 ANOS

Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 89, Nov/Dez de 2012. http://www.novafisio.com.br

Análise da presença de vertigem posicional paroxística benigna em indivíduos assintomáticos na faixa etária de 20 à 40 anos 
ANALYSIS OF THE PRESENCE OF BENIGN PAROXYSMAL POSITIONAL VERTIGO IN ASYMPTOMATIC INDIVIDUALS FROM 20 TO 40 YEARS OLD AGE GROUP

Bianca Viecili Keller Dutra¹; André Luiz Trindade dos Santos²

¹ Graduanda do Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, Campus Cabo Frio: bianca@vieci.li
² Professor de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, Campus Cabo Frio: andrefisio@gmail.com
Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 89, Nov/Dez de 2012. http://www.novafisio.com.br

Resumo

A presença de tontura, vertigem e náuseas têm sido fatores que geram desconforto e insegurança na vida de cada indivíduo. Nem sempre estão associados a uma determinada patologia, muitas vezes, pode ser somente um mal estar pela falta de condicionamento físico do indivíduo. A carência de equilíbrio é um fator que desagrada grandemente o indivíduo, e muitas vezes, impossibilita a realização de certas atividades do dia-dia. A vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) nem sempre é conhecida como a patologia principal em pacientes que tem vertigem, muitas vezes, pode ser confundida com outras patologias e características. Pretende-se analisar a presença de VPPB em pacientes assintomáticos, utilizando-se testes e manobras indicadas para a patologia e observar, através dos resultados, o percentual de indivíduos que confirmam a hipótese. Para que haja um controle de quantidade mais eficiente, serão avaliados 30 indivíduos, escolhidos aleatoriamente em determinado estabelecimento, com idade de 20 a 40 anos. Os mesmos responderão um questionário autorizado (Dizzines Handicap Inventory – versão brasileira), com posterior selecionamento dos testes com resultado negativo. Os indivíduos considerados assintomáticos passarão por testes específicos (Dix-Halpike e Mcmorr) para o diagnóstico da VPPB. Concluiu-se que indivíduos assintomáticos podem sofrer de VPPB.

Palavras-chave: Vertigem, VPPB, assintomáticos, testes.

Abstract

The presence of dizziness, vertigo and nausea have been constant factors that causes discomfort and insecurity in the life of each individual, not always being assossiated to a determined patology, it can be, in some times, a queasiness for the lack of physical conditioning of the individual.. The lack of balance is a factor that greatly displeasant the individual, and very often hinders the doing of day-by-day activities. The Benign Paroxysmal Vertigo Position (BPVP) is not always known as the main patology in patients who suffer form vertigo, can many times get confused with other patologies and characteristics. The intention is to analyse the presence of BPVP in asymptomatic patients, making use of tests and ploys indicated to the patology and observe, through the results, the percentage of individuals that confirm the hypothesis. For it to have a more efficient quantity control, will be evaluated 30 individuals, randomly chosen in determined stablishment, aged between 20 and 40 years. The same ones will answer an authorized questionnaire (Dizziness Handicap Inventory – Brazilian Version), with afterthought selecting of negative result tests. The individuals who are considered to be asymptomatics will pass through specific tests (Dix-Halpike and McMorr) for the diagnosis of BPVP. It is concluded asymptomatic individuals may suffer from BPPV

Key-words: Vertigo, BPVP, asymptomatics, tests

 

Introdução

A capacidade em manter-se com a postura em equilíbrio é fundamental para a vida do indivíduo, sua diminuição traz um grande desconforto e insegurança ao paciente, dificultando sua locomoção e orientação (BITTAR et al., 2007).
De acordo com Resende et al. (2003) “a vertigem posicional paroxística benigna é um distúrbio vestibular no qual os pacientes relatam breves momentos de vertigem e/ou instabilidade postural, ocasionados por uma mudança brusca na posição cefálica ou corporal”.
Halpike e Dix definiram a VPPB como sendo uma vertigem ocasionada por uma extensão rápida da cabeça ou uma inclinação lateral em direção ao labirinto afetado (KOHLER et al., 2006).
Existem três sistemas que atuam no equilíbrio postural, sendo eles, o sistema visual, o sistema vestibular e o sistema proprioceptivo, esses são supervisionados pelo cerebelo. Muitos pacientes sofrem de náusea, tontura e vertigem, mas nem sempre está associado somente ao sistema vestibular, podendo não ser diagnosticado uma VPPB. Já outros pacientes não têm os sintomas com frequência, porém, apresentam a presença de VPPB, que é diagnosticada ao realizar os testes específicos.
O sistema vestibular atua na estabilização da imagem na retina e na manutenção do equilíbrio, fornecendo assim, informações ao sistema nervoso central, que gera a orientação espacial e a percepção do movimento (KANASHIRO, 2009).
Os sistemas sensoriais (somatossensorial, visual e vestibular) integram o sistema de controle motor para orientar e alinhar a posição entre os segmentos corpóreos e a sua localização em relação ao meio externo, envolvendo assim, a ativação da propriocepção. O sistema nervoso atua em soluções sensório-motoras, gerando o controle da postura e inclui as sinergias musculares, padrões de movimentos articulares, torques e forças de contato (CARVALHO e ALMEIDA, 2009).
Muitas vezes há confusão em diferenciar tontura de vertigem, Kanashiro et al. (2005) esclarecem que “tontura é considerada como mal-estar, escurecimento visual, fraqueza, sintomas muitas vezes vagos sem ter a sensação de rotação ou desequilíbrio e tem causa não neurológica, como exemplo: hipotensão postural, ataque vaso vagal, arritmia cardíaca, hipoglicemia e outras causas”.
Kanashiro et al. (2005) também relatam que há dois tipos de vertigens. A vertigem rotatória – onde se tem a sensação de que tudo roda ao redor de si mesmo ou que se está girando (frequentemente associado a náuseas, vômitos e desequilíbrio) e a vertigem oscilatória que se caracteriza pela sensação de balanços ou de perda de equilíbrio (raramente associada à náuseas ou vômitos), podendo ter origem em distúrbios vestibulares ou não vestibulares.
O diagnóstico da VPPB configura-se a partir da presença de nistagmo em determinado teste realizado com o paciente.Podendo o mesmo ser horizontal combinado e torsional, de causa periférica(inibido pela fixação do olhar), ou vertical, horizontal ou torsional, (não inibido pela fixação do olhar),de causa central (MACEDO, 2010).
Segundo Ganança et al. (2005) “a VPPB é provocada por debris de estatocônios oriundos da mácula utricular, que se deslocam para um ou mais ductos semicirculares, estimulando erroneamente a crista ampular\”.
A “reabilitação vestibular tem como objetivo promover a estabilização visual e aumentar a interação vestíbulo-visual durante a movimentação da cabeça; proporcionar uma melhor estabilidade estática e dinâmica nas situações de conflito sensorial e diminuir a sensibilidade individual durante a movimentação cefálica” (LINS e ANDRÉ, 2008).
Portanto torna-se necessário analisar a presença da VPPB em indivíduos assintomáticos na faixa etária de 20 a 40 anos, esclarecendo os testes específicos para o diagnóstico da VPPB; descrevendo os sinais e sintomas da mesma e verificar a quantidade de indivíduos em um determinado local que sofrem de VPPB, mas que ainda desconhecem a doença.

Metodologia

O presente estudo foi realizado com uma população de 30 (trinta) pessoas, com faixa etária de 20/40 anos de idade, na clínica Reabilitar de Fisioterapia, na cidade de Búzios, de ambos os sexos, onde houve um questionário específico para o diagnóstico – Dizzines Handicap Inventory (versão brasileira) (CASTRO et al., 2007) que consta de 25 questões, das quais sete avaliam os aspectos físicos, nove avaliam os aspectos emocionais, e nove os funcionais.
Para a exclusão ou inclusão do indivíduo no estudo, o questionário teve as seguintes pontuações: 4 (quatro) pontos para as respostas “sim”, 2 (dois) pontos para as respostas “as vezes” e 0 (zero) pontos para as respostas “não”, onde o máximo soma-se 100 (cem) pontos, e o mínimo o (zero) pontos; para este estudo, foi escolhido como paciente assintomático os indivíduos que somaram até 40 (quarenta) pontos.
Após o preenchimento deste questionário, foram realizadas manobras que indicam a presença de nistagmo ou não, que se caracteriza pelo movimento rítmico e oscilatório dos olhos, se positivo, acusará a presença de VPPB. As manobras foram realizadas logo após o preenchimento do questionário.
Os testes realizados neste estudo foram os seguintes: Dix-Halpike e McMorr, estes testes indicam a presença de nistagmo.
O teste de Dix-Halpike é o teste que indica a localização dos cristais deslocados, no canal semicircular anterior ou posterior através do nistagmo, que pode bater para cima ou para baixo respectivamente; onde o paciente é colocado na maca em posição sentada, o terapeuta realiza uma extensão de pescoço, seguido de uma rotação da cabeça para o lado a ser testado; pede ao paciente que fixe o olhar no terapeuta, deita-se o paciente na maca, de forma que sua cabeça fique para fora, nesse instante o nistagmo aparece se há a presença de VPPB.
O teste de McMorr que indica se há deslocamento dos cristais no canal semicircular horizontal, onde o nistagmo pode bater para o teto, ou para o chão, o paciente é colocado na maca em decúbito dorsal, o terapeuta coloque seu dedo indicador a frente dos olhos do paciente, como um ponto fixo, e com a outra mão realiza uma rotação lateral da cabeça, movendo o indicador juntamente, pede-se ao paciente que fixe o olhar no dedo do terapeuta, nesse instante o nistagmo aparece quando há VPPB.
A presença de VPPB pode ser tratada através de manobras especificas para cada tipo de nistagmo que for encontrado, sendo elas Manobra de Epley, Manobra de Epley invertido, Manobra de Semont, Manobra de Semont invertido, Manobra de Barbecue maneuver, Manobra de Brandt-Daroff e Manobra de Lempert.

Resultados

Dos 30 indivíduos que responderam o questionário, 19 deles (63%) foram considerados assintomáticos (GRÁFICO 1), pois obtiveram o somatório menor que 40 pontos.

 

 

\"\"
 

 

Os testes de Dix-Halpike e McMorr foram aplicados neste grupo, com posterior diagnóstico da VPPB em 2 indivíduos. Evidenciando, assim, um percentual de aproximadamente 11% dos pacientes com VPPB assintomáticos (GRÁFICO 2).

 

 

\"\"
 

Discussão e considerações finais

Como demonstrado anteriormente, a VPPB é uma patologia acompanhada de sinais e sintomas, dentre eles tontura, vertigem e náuseas.O presente estudo confirmou as pesquisas já realizadas, pois o percentual de indivíduos com VPPB sintomáticos foi mínimo (11%). Observando assim, que indivíduos assintomáticos raramente sofrem da patologia.
O equilíbrio postural é essencial para a vida do indivíduo, sua diminuição traz um grande desconforto e insegurança, dificultando na locomoção e orientação do indivíduo. A VPPB é um distúrbio onde os pacientes relatam momentos de vertigem e/ou instabilidade postural (desequilíbrio). Nem sempre é a patologia principal de quem sofre de vertigens, tonturas e náuseas, mas pode não ser acompanhada por estes sinais e sintomas.
Foi analisada nesta pesquisa, a presença de VPPB em indivíduos assintomáticos, de ambos os sexos, na faixa etária de 20 a 40 anos de idade. Utilizando-se de um questionário que indicou 19 indivíduos como assintomáticos, seguido de testes específicos (Dix-Halpike e McMorr) nestes indivíduos, para a confirmação ou não da hipótese.
Ao término da pesquisa foi constatado que indivíduos assintomáticos não têm predominância à VPPB. Mesmo com um percentual presente demonstrando que 11% dos indivíduos assintomáticos sofrem de VPPB, verificou-se que a patologia indicada é na sua maioria acompanhada de sinais e sintomas. Faz-se necessário enfatizar que esta pesquisa não teve como objetivo esgotar os estudos acerca do tema, e sim suscitar novas abordagens e debates sobre o mesmo.

Referências bibliográficas

BITTAR, R. S. M.; PEDALINI, E. B.; RAMALHO, J. O.; YOSHIMURA, R.. Análise crítica dos resultados da reabilitação vestibular em relação à etiologia da tontura. Revista Brasileira de otorrinolaringologia, v. 73, n. 6, p. 760-764, nov./dez. 2007.

CARVALHO, R. L.; ALMEIDA, G. L.. Aspectos sensoriais e cognitivos do controle postural. Revista de Neurociência, v. 17, n. 2, p. 156-160, 2009.

CASTRO, A. S. O. de; GAZZOLA, J. M.; NATOUR, J.; GANANÇA, F. F.. Versão brasileira do Dizzines Handicap Inventory. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri (SP), v. 19, n. 1, pag. 97-104, jan-abr. 2007.

GANANÇA, F. F.; SIMAS, R.; GANANÇA, M. M.; KORN, G. P., DORIGUETO, R. S.. É importante restringir a movimentação cefálica após a manobra de Epley? Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 71, n. 6, p. 764-768, nov./dez. 2005.

KANASHIRO, A. M. K..Avaliação da função vestibular através da vertical visual subjetiva em pacientes com doença de Parkinson. Tese, São Paulo, p. 1-109, 2009.

KANASHIRO, A. M. K.; PEREIRA, C. B.; MELO, A. C. de P.; SCAFF, M.. Diagnóstico e tratamento das principais síndromes vestibulares. Arq. Neuropsiquiatria, v. 63, n. 1, p. 140-144, 2005.

KOHLER, M. C.; AZEVEDO, V. de F. de O. de; SOARES, A. V.. A influência da reabilitação vestibular em pacientes com vertigem posicional paroxística benigna. Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 19, n. 2, p. 37-47, abr./jun. 2006.

LINS, M. de T.; ANDRÉ, A. P. do R.. Encaminhamento para reabilitação vestibular: Uma investigação com diferentes especialistas médicos. Arq. Int. Otorrinolaringologista, v. 12, n. 2, p 194-200, 2008

MACEDO, A.. Abordagem da síndrome vertiginoso. Acta. Med. Port., v. 23, n. 1, p. 95-100, 2010.

RESENDE, C. R.; TAGUCHI, C. K.; ALMEIDA, J. G. de, FUJITA, R. do R.. Reabilitação vestibular em pacientes idosos portadores de vertigem posicional paroxística benigna. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 69, n. 4, p. 535-540, jul./ago. 2003.