A IMPORTÂNCIA DA FISIOTERAPIA NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA ORTOGNÁTICA

THE IMPORTANCE OF PHYSICAL THERAPY IN THE POSTOPERATIVE PERIOD OF ORTHOGNATHIC SURGERY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8114878


Matheus Mariano Holanda;
Francisco Valmor Macedo Cunha.


RESUMO

A cirurgia ortognática é definida como um procedimento cirúrgico que visa reestabelecer o padrão facial normal em paciente com discrepância esquelética maxilomandibular. Foram 20 artigos encontrados sendo selecionados 7 artigos através dos critérios de inclusão: artigos originais, publicados em lingua inglesa, portuguesa e espanhola, com ano de publicação entre 2013 e 2023. Para critérios de exclusão foram impostos: artigos incompletos, artigos duplicados, em idiomas diferentes dos citados nos critérios de inclusão, com ano de publicação anterior à 2013. Os atendimentos foram realizados três meses depois do procedimento, duas vezes por semana. Ficou comprovada que a largura mastigatória aumentou, além da força de oclusão. A partir dos dados relatados nesta revisão, permite concluir que, a fisioterapia possui papel fundamental na melhora de pacientes no pos-operatório de cirurgia ortognática. Palavras-chave: “Cirurgia ortognática, “Fisioterapia”, “Pós-operatório”.

ABSTRACT

Orthognathic surgery is defined As a surgical procedure that aims to restore the normal facial pattern in a patient with maxillomandibular skeletal discrepancy. There were 20 articles found, and 7 articles were selected through the inclusion criteria: original articles, published in English, Portuguese and Spanish, with publication year between 2013 and 2023. For exclusion criteria were imposed: incomplete articles, duplicate articles, in languages different from those mentioned in the inclusion criteria, with a year of publication prior to 2013. The consultations were performed three months after the procedure, twice a week. It was proven that the masticatory width increased, in addition to the force of occlusion. Based on the data reported in this review, it is possible to conclude that physiotherapy plays a fundamental role in the improvement of patients in the postoperative period of orthognathic surgery.

Keywords: “Orthognathic surgery, “Physiotherapy”, “Postoperative”.

1 INTRODUÇÃO

Hsu, et al. (2021) definem que deformidades dentofaciais resultam de crescimento deficiente ou exagerado dos ossos da maxila e/ou mandíbula. Segundo Reyneke & Ferretti (2017) os distúrbios temporomandibulares resultam de um deslocamento nos músculos mastigatórios. Quando a deformidade não consegue ser tratada apenas com camuflagem ortodôntica, faz-se necessário a cirurgia ortognática. Uma das causas mais comuns, para que este tipo de procedimento aconteça são os distúrbios temporomandibulares.

A relação maxilo-mandibular corrigida pela cirurgia ortognática favorecerá a função do chamado, Sistema Estomatognata, composto das áreas da mastigação, fonação e respiração, além do favorecimento da estética facial. A cirurgia ortognática é definida por Islã, et al. (2017) como um procedimento cirúrgico que visa reestabelecer o padrão facial normal em paciente com discrepância esquelética maxilomandibular.

O ato cirúrgico pode produzir na mandíbula, maxila e até na dentição traumas que influenciam diretamente no movimento das estruturas lesadas. Yang, et al. (2020) apud Aragão et al. (1987) quando cita que muitas complicações clínicas são observadas após a cirurgia ortognática, dentre elas estão: atrofia muscular, diminuição da força , diminuição da extensibilidade muscular, diminuição da massa muscular. Com o objetivo de trazer melhora a esses pacientes, a fisioterapia torna-se o tratamento mais indicado.

Ko, et al. (2015) explica que a mesma melhora a vascularização muscular e consequente aumento da massa e força muscular. Os autores citam ainda que o exercício terapêutico é eficaz também para melhorar a função mastigatória visto que a força da mordida pode ser aumentada através de treinamento e/ou exercícios repetitivos.

Para Agbaje, et al. (2018) a atuação da fisioterapia se faz necessária tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório visto que os pacientes que realizam tal procedimento sentirão desconforto tanto na função muscular quanto na respiratória. A função do fisioterapeuta no préoperatório se dá através de explicação do que acontecerá pós cirurgia. Por esse motivo, o objetivo deste estudo é de analisar os benefícios trazidos pela fisioterapia no pós-operatório de cirurgia ortognática.

2 METODOLOGIA

Matos (2015) explica que revisão de literatura trata-se de um estudo que busca, analisa e descreve um corpo de conhecimento em busca de respostas a uma pergunta científica. O presente estudo trata-se de uma revisão de literautra e tem como pergunta norteadora: “ A fisioterapia atua de maneira benéfica no pós-operatório de cirurgia ortognática?”

Para a construção deste estudo foi traçado um cronograma que culminou na escola do tema, levantamento bibliográfico, elaboração do pré-projeto, coleta de dados e elaboração do artigo. Para isso, a busca foi realizada na seguintes bases de dados: Lilacs, Pubmed, Portal de Periódicos CAPES, entre os meses de abril a junho do ano de 2023. As seguintes paalvras=chaves foram utilizadas para a busca: “Cirurgia ortognática”; “Fisioterapia bucomaxilofacial”; “Pós-operatório”. A busca nas bases de dados: Scielo, Base PEDro também foi realizada, através da palavras-chaves acima citadas porém não foi encontrado nenhum artigo.

Foram 20 artigos encontrados sendo selecionados 7 artigos através dos critérios de inclusão: artigos originais, publicados em lingua inglesa, portuguesa e espanhola, com ano de publicação entre 2013 e 2023. Para critérios de exclusão foram impostos: artigos incompletos, artigos duplicados, em idiomas diferentes dos citados nos critérios de inclusão, com ano de publicação anterior à 2013. Na figura 1, está disposto fluxograma referente a seleção dos artigos.

Figura 1- Fluxograma para seleção de artigos

Fonte: Autores

Critérios de avaliação de qualidade PEDro

1. Os critérios de elegibilidade foram especificados
2. Os sujeitos foram aleatoriamente distribuídos por grupos
3. A alocação dos sujeitos foi secreta
4. Inicialmente, os grupos eram semelhantes no que diz respeito aos indicadores de prognóstico mais importantes
5. Todos os sujeitos participaram de forma cega no estudo
6. Todos os terapeutas que administraram a terapia fizeram-no de forma cega
7. Todos os avaliadores que mediram pelo menos um resultado-chave, fizeram-no de forma cega
8. Mensurações de pelo menos um resultado-chave foram obtidas em mais de 85% dos sujeitos inicialmente distribuídos pelos grupos
9. Todos os sujeitos a partir dos quais se apresentaram mensurações de resultados receberam o tratamento ou a condição de controle conforme a alocação ou, quando não foi esse o caso, fez-se a análise dos dados para pelo menos um dos resultados-chave por “intenção de tratamento”
10. Os resultados das comparações estatísticas intergrupos foram descritos para pelo menos um resultado-chave
11. O estudo apresenta tanto medidas de precisão como medidas de variabilidade para pelo menos um resultado- chave

Após leitura minunciosa, sete artigos foram incluídos, de acordo com os critérios de elegibilidade propostos. A escala PEDro (Quadro 1) também é usada para avalia-los quanto a qualidade metodológica.

Quadro 1. Escala PEDro (2022)

3 RESULTADOS

A escala PEDro é composta por um checklist de 11 critérios, dos quais apenas 10 critérios são pontuados (Tabela 1).

Tabela 1 – Pontuação na escala PEDro para os estudos incluídos na Revisão Integrativa de Literatura

Estudo1234567891011
YANG, J. H.; (2020)SSSSSSSNSSN
KO, E. W.; et al. (2015)SSSSSSSSSSN
HONG, S.O.; et al. (2017)SSNNNNNSSSS
NARAN, et al. (2018)SSSSSNNSSSS
PRADO, et al. (2017)SSSSSSNSNSS
CACHO, et al. (2022)SSSSSSSNSSS
TENG, et al. (2014)SNNSNNNSSSS

(1) = elegibilidade; (2) = Alocação randomizada; (3) = Atribuição mascarada; (4) = Similaridade no início do tratamento; (5) = assuntos cegos; (6) = terapeutas cegos; (7) = avaliadores cegos; (8) = acompanhamento apropriado; (9) = análise por intuito de tratar; (10) = correlações intergrupos; (11) = uso de medidas de precisão e variabilidade. (S) = sim; (N) = não

Quadro 2. Sumarização dos artigos incluídos na Revisão Integrada de Literatura

AUTOR | ANODESIGN DE ESTUDOMÉTODOS DE AVALIAÇÃORESULTADOPONTUAÇÃO ESCALA PEDro
YANG, J. H.;et al. (2020)Avaliar os efeitos do exercitador mastigatório na recuperação funcional dos músculos mastigatórios após cirurgia ortognática.A amostra contou com 22 pacientes, divididos em 2 grupos diferentes. Foram realizados atendimentos fisioterapêuticos três semanas após a cirurgia, por 3 semanas.Em ambos os grupos ocorreu aumento da abertura de boca conforme iam acontecendo os atendimentos fisioterapêuticos.9
KO, E. W.; et al. (2015)Avaliar o efeito da reabilitação física precoce comparando as diferenças da atividade eletromiográfica de superfície nos músculos masseter e temporal anterior após a correção cirúrgica da má oclusão.O estudo incluiu 63 pacientes divididos em dois grupos. No grupo experimental os 31 pacientes alocados neste grupo foram submetidos a fisioterapia, enquanto que os 32 pacientes do grupo controle não.A amplitude dos músculos mastigatórios antes da cirurgia foram de 72,6 – 121,3% e de 37,5 – 64,6% para grupo experimental e controle, respectivamente para 135,1% – 233,4% para o grupo experimental e 89,6% – 122,5% para o grupo controle.10
HONG, S.O.; et al. (2017)Investigar o efeito da fisioterapia para melhora do sorriso nas propriedades relacionadas à estética do sorriso após a cirurgia ortognática.A amostra consiste de 44 pacientes. Os atendimentos foram realizados 1 mês após a cirurgia tendo duração de 3 meses.Quando comparado com o grupo que não realizou fisioterapia, o grupo experimental mostrou melhora da altura do sorriso e curvatura do lábio superior.5
NARAN, et al. (2018)Investigar os efeitos de um exercício de mastigação nos padrões de mastigação e demais funções orais.A amostra contou com 19 pacientes. No grupo experimental estavam 10 pacientes que realizaram fisioterapia 3 meses após a cirurgia, duas vezes na semana. Durante 3 meses.A largura mastigatória aumentou significativamente após a realização do exercício. Para função oral, observou-se aumento significativo da força oclusal, sem diferença significativa no grupo de controle. Os exercícios de mastigação imediatamente após o SSRO melhoram os padrões mastigatórios.8
PRADO, et al. (2017)Investigar os efeitos da terapia miofuncional orofacial (TMO) na função mastigatória de indivíduos com deformidade dentofacial submetidos à cirurgia ortognática (COG).48 pacientes foram avaliados onde 14 foram submetidos ao tratamento com terapia manual orofacial, 10 sem este tratamento e 24 submetidos ao grupo controle com oclusão normal.O grupo tratado com terapia manual apresentou escores mais elevados em relação aos outros grupos.8
CACHO, et al. (2022)Examinar a utilidade de aplicações semanais de estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) para esse fim, com base na evidência de sua eficácia em outros tipos de pacientes com alterações musculares.A amostra final do estudo foi composta por 47 pacientes, divididos em 2 grupos: 23 pacientes que receberam aplicação de TENS e 24 pacientes que receberam o sham-TENS.Não houve diferença significativa entre os pacientes que receberam aplicação de TENS e sham-TENS.8
TENG, et al. (2014)Comparar a amplitude de movimento mandibular em pacientes Classe III com e sem fisioterapia precoce após cirurgia ortognática (OGS).A amostra contou com 63 pacientes, o grupo experimental foi composto por 31 pacientes que receberam reabilitação física sistemática precoce. O grupo controle foi composto por 32 pacientes que não tiveram reabilitação física.Os pacientes do grupo experimental apresentaram recuperação mais favorável do que os do grupo controle, de T1 para T2 e T1 para T3. No entanto, após o término da fisioterapia, nenhuma diferença significativa na extensão da recuperação foi observada entre os grupos até 6 meses após a OGS.9

4 DISCUSSÃO

Yang, et al. (2020) realizaram um estudo comparativo envolvendo dois grupos . O primeiro era formado por 12 pacientes, e fizeram uso do exercitador mastigador (CE). O segundo grupo continha 10 pacientes e estavam no grupo controle. Em ambos os grupos, a força da mordida diminuiu logo após a cirurgia. Após 3 semanas, no grupo 1, houve uma recuperação estatisticamente significativa (p=0,001). O uso do exercitador mastigador permitiu aos pacientes que realizassem o exercício do musculo mastigatório. No entanto, os autores evidenciaram que não houve melhora significativa no padrão mastigatório.

O estudo desenvolvido por KO, et al. (2015) continha 63 pacientes, também divididos em dois grupos: grupo experimental (31 pacientes); grupo controle (32 pacientes). Observando o tônus muscular em repouso durante o teste de relaxamento dos músculos temporal anterior e masseter, os valores dos grupos experimental e controle mantiveram-se estáveis. Após a eletromiografia de superfície, constataram que a terapia precoce é util na melhora da atividade mastigatória, conforme mostrado no grupo experimental.

Hong, et al. (2017) investigaram o efeito da fisioterapia na melhora do sorriso pós cirurgia ortognática. Após 1 mês da realização da cirurgia, os pacientes foram submetidos ao treinamento do sorriso por 5 minutos, durante 3 meses. Durante o estágio T1(1 mês após a cirurgia), não foi observada nenhuma melhora. No estágio T2, após 4 meses, cinco variáveis foram evidenciadas: altura do sorriso, curvatura do lábio superior(aumento), arco do sorriso(aumento), dente maxilar posterior mais visivel e proporção aumentada do corredor bucal.

Naran, et al. (2018) realizaram atendimento com 10 pacientes pós cirurgia ortognática. Os atendimentos foram realizados três meses depois do procedimento, duas vezes por semana. Ficou comprovada que a largura mastigatória aumentou, além da força de oclusão. O estudo de Prado, et al. (2018) também investigou a função mastigatória pós cirurgia e os beneficios trazidos pela fisioterapia e confirma que a mesma trouxe resultados positivos para função mastigatória, resultando em uma mastigação mais rapida.

Cacho, et al. (2022) examinou a utilidade da estimulação transcutânea. Os que receberam TENS aplicada a 220Hz, aplicada na intensidade máxima suportada por cada paciente. Melhorias na abertura da mandíbula e inflamação foram significativamente maiores no grupo TENS do que no grupo sham-TENS, atribuíveis ao relaxamento muscular alcançado com o procedimento.

A análise feita por Teng, et al. (2015) objetivou comparar a amplitude de movimento mandibular em pacientes Classe III com e sem fisioterapia precoce após cirurgia ortognática (OGS).Os pacientes do grupo experimental apresentaram recuperação mais favorável do que os do grupo controle, de T1 para T2 e T1 para T3. No entanto, após o término da fisioterapia, nenhuma diferença significativa na extensão da recuperação foi observada entre os grupos até 6 meses após a OGS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados relatados nesta revisão, permite concluir que, a fisioterapia possui papel fundamental na melhora de pacientes no pos-operatório de cirurgia ortognática. Prova disso, são os dados comprovados do aumento da abertura bucal, força da mordida, melhora da função mastigatória, arco do sorriso aumentado.

REFERÊNCIAS

AGBAJE J, et al. Pain Complaints in Patients Undergoing Orthognathic Surgery. Pain Research and Management, 2018; 2018(15):4235025.

CACHO, A., Tordera C, Colmenero C. Uso da Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) para a Recuperação da Função Oral após Cirurgia Ortognática. J Clin Med. 7 de junho de 2022;11(12):3268. doi: 10.3390/jcm11123268.

HONG SO, et al. Physical Therapy for Smile Improvement After Orthognathic Surgery. The Journal of Craniofacial Surgery, 2017; 28: 422- 426.

HSU LF, et al. Differences of condylar changes after orthognathic surgery among Class II and Class III patients. Journal of the Formosan Medical Association, 2021; In press.

KO EWC, et al. The effect of early physiotherapy on the recovery of mandi bular function after orthognathic surgery for class III correction. Part II: Electromyographic activity of masticatory muscles. Journal of Cranio- Maxillo -Facial Surgery, 2015; 43:138-143.

NARAN S, et al. Current Concepts in Orthognathic Surgery. Plastic and Reconstructive Surgery, 2018; 141: 925e.

Prado DGDA, Felix GB, Migliorucci RR, Bueno MDRS, Rosa RR, Polizel M., Teixeira IF, Gavião MBD Efeitos da terapia miofuncional orofacial na função mastigatória de indivíduos submetidos à cirurgia ortognática: um estudo randomizado. J. Appl. Ciência Oral. 2018; 26 :20170164. doi: 10.1590/1678-7757-2017-0164.

REYNEKE, J. P., FERRETTI, C. Um sistema para o processo de tomada de decisão sobre o tratamento de fraturas côndilo-mandibular abertas ou fechadas.

TENG TTY, et al. The Effect of early physiotherapy on the recovery of mandibular function after orthognathic surgery for Class III correction: Part I – Jaw – motion analysis. Journal of Cranio – Maxillo – Facial Surgery, 2015; 43:131 – 137.

YANG HJ, et al. Effects of Chewing Exerciser on the Recovery of Masticatory Function Recovery after Orthognathic Surgery: A Single -Center Randomized Clinical Trial, a Preliminary Study. Medicina, 2020; 56(9):483.


Matheus Mariano Holanda

Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário

Uninovafapi Instituição: Centro Universitário Uninovafapi

Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina – PI, CEP:

64073-505 E-mail:fisiomatheusholanda@gmail.com

Francisco Valmor Macedo Cunha

Doutor em Biotecnologia pela Universidade Federal do Piauí

(UFPI) Instituição: Centro Universitário Uninovafapi

Endereço: Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina – PI, CEP: 64073-505 E-mail: francisco.cunha@uninovafapi.edu.br