REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8111565
Lize Souza De Oliveira Falcão
RESUMO- O aumento da obesidade tem grandes implicações para os sistemas de saúde, e essas consequências não se limitam apenas aos custos econômicos. Fez-se uma ampla revisão bibliográfica sobre a relação entre a obesidade, microbiota intestinal e os tratamentos que se apresentam diante desse ramo de estudo das ciências da saúde. Em que pese à relação entre a microbiota intestinal e a obesidade esteja cada vez mais em voga como um possível caminho para a revolução nos tratamentos para esta doença, faz-se necessário, no momento, revisar o que a ciência sabe sobre o assuntoe o estudo aprofundado da microbiota intestinal. Desta maneira pode-se entender melhor a relação entre disbiose e obesidade, visando encontrar melhores métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento com alimentos funcionais como probióticos e prebióticos, os quais têm alcançado resultados satisfatórios quanto ao reequilíbrio fisiológico intestinal.
PALAVRAS-CHAVE: Obesidade. Microbiota. Saúde.
1.INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença crônica, endêmica no Brasil e no mundo, de origem multifatorial: seu surgimento envolve múltiplas causas que podem ser individuais, coletivas, sociais, econômicas, culturais e ambientais. Isso significa que o status de obesidade não está relacionado apenas a atitudes e comportamentos individuais e sim também à microbiota intestinal.
A microbiota intestinal (MI) é muito importante na saúde do indivíduo, estando diretamente relacionada ao seu sistema imunológico e, principalmente, quando em desequilíbrio, ao aparecimento de doenças como a obesidade.
A obesidade está associada à redução da proporção das bactérias Bacteroidetes e com aumento proporcional das Firmicutes. Existem algumas pesquisas relacionadas à composição bacteriana, demonstradas pela manipulação dessas bactérias e que poderiam ser utilizadas para o tratamento da obesidade (COSTA & PEREIRA, 2021).
A microbiota intestinal exerce diversas funções no organismo humano, sendo observada uma importante relação com a obesidade, desencadeada a partir da disbiose desse ecossistema, ocasionado principalmente pelo aumento de bactérias maléficas e diminuição das benéficas no hospedeiro. As atuais abordagens terapêuticas para o restabelecimento do equilíbrio são os probióticos, os prebióticos e o transplante de microbiota fecal (TMF) (PANTOJA et al., 2019).
Como objetivo dessa pesquisa, temos os probióticos, que têm ação na mucosa intestinal e sua microbiota, onde as bactérias benéficas ocupam os receptores da mucosa, formando um tipo de barreira física às bactérias patogênicas. Mas, além da ingestão dos produtos e alimentos probióticos, deve-se atentar para o consumo de prebióticos e fibras alimentares, já que a fermentação desses componentes no intestino grosso estimula o crescimento das bactérias benéficas em detrimento daquelas potencialmente patogênicas (ARAUJO et al., 2020). Em estudos realizados com o Transplante de Microbiota Fetal (TMF) de pacientes magros para pacientes obesos observou-se uma redução do peso corporal dos últimos em seis semanas. Em outra pesquisa, um paciente com infecção intestinal realizou o TMF de um doador com sobrepeso e desenvolveu a obesidade. Esses dados favorecem a utilização desse método para o tratamento da obesidade (ECKER et al., 2019).
Tratando-se de uma doença endêmica e tendo múltiplas causas e efeitos maléficos para a sociedade, faz-se de grande importância um estudo aprimorado sobre possíveis tratamentos.
Trata-se de um estudo de caráter exploratório, realizado a partir de uma revisão bibliográfica a respeito da temática que envolve a relação entre a microbiota intestinal e a obesidade, identificando os fatores que correlacionam a disbiose com o desenvolvimento da obesidade e os possíveis tratamentos para esse quadro clínico. A presente revisão literária reúne artigos científicos, revistas, livros e monografias, utilizando as seguintes bases de dados: Google Acadêmico, Scielo e Lume escritos no idioma português.
Este artigo é dividido em três capítulos. O primeiro fala sobre as causas e efeitos da obesidade. O segundo fala sobre a microbiota intestinal e sua relação com a obesidade. Já o terceiro fala sobre os tipos de tratamentos para que advém do estudo entre a microbiota e a obesidade.
2.OBESIDADE
Sendo uma doença crônica e endêmica no Brasil e no mundo, de origem multifatorial, a obesidade envolve múltiplas causas que podem ser individuais, coletivas, sociais, econômicas, culturais e ambientais. Sobre isso, Brandão (2018) diz o seguinte:
A obesidade é uma manifestação clínica que tem aumentado na atualidade, tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento e em transição. Este número crescente gera uma grande preocupação para as questões de saúde, já que esta acarreta o desenvolvimento de outras enfermidades. (BRANDÃO, 2018)
A obesidade advém de múltiplos fatores. Conforme Brandão (2018):
Essa patologia pode ser reflexo da dificuldade que os homens ainda enfrentam de se alimentar para se sentirem melhor e mais saudáveis. Contudo, em se tratando de uma doença multifatorial, além dos fatores nutricionais, os aspectos genéticos, metabólicos, psicossociais, culturais, entre outros, atuam na origem e manutenção da obesidade (CUPPARI, 2005). E está associada à redução da longevidade e ao surgimento de doenças crônicas, estando, portanto, associada ao aumento da mortalidade e redução da expectativa de vida (DOMINGUES; LEMOS, 2010; GALISA; ESPERANÇA; SÁ, 2008). (apud Brandão, 2018).
No âmbito da saúde publica, a obesidade vem sendo alvo de políticas publica, com a criação de programas específicos para o seu entendimento. Conforme Brandão (2018):
O diagnóstico da obesidade na realidade clínica e epidemiológica envolve o cálculo de índice de massa corpórea (IMC), que é um método de baixo custo e consiste em uma avaliação plausível da adiposidade corporal. Como resultados, têm-se adultos com IMC superior a 30 kg/m², classificados como obesos […]. Outras medidas como a circunferência da cintura, além de avaliarem a obesidade, relacionam ao risco aumentado para o desenvolvimento de complicações, como doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos, como diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial e síndrome metabólica. Medidas de circunferência de cintura > 102 cm nos homens e > 88 cm nas mulheres indicam risco muito aumentado para o desenvolvimento de doença metabólica e as medidas > 94 cm nos homens e > 80 cm nas mulheres revelam risco aumentado (MANN; TRUSWELL, 2011, apud BRANDÃO, 2018).
3.MICROBIOTA INTESTINAL
A microbiota intestinal (MI) é muito importante na saúde do indivíduo, estando diretamente relacionada ao seu sistema imunológico e, principalmente, quando em desequilíbrio, ao aparecimento de doenças. Sobre isso Pereira, Silva e Vieira (2019) dizem que:
[…] evidências estão disponíveis, destacando a influência que a desregulação na microbiota intestinal no surgimento das principais doenças metabólicas, como obesidade, que afetam os principais caminhos, como a homeostase energética e a inflamação. Mudanças no estilo de vida que envolve aumento do consumo de alimentos e exercícios reduzidos, além da desregulação na microbiota intestinal, contribuem mais para o surgimento dessas doenças. Como resultado, uma melhor compreensão e utilização de várias bactérias prebióticas e probióticas podem revelar-se benéficas no tratamento dessas doenças metabólicas. (PEREIRA et al, 2019)
Nosso organismo é composto por trilhões de bactérias. Conforme Pereira at al (2019):
A composição da diversidade bacteriana parece mudar entre magra e obesa, porém, alguns estudos recentes com camundongos encontraram resultados controversos (QIN; METAHIT CONSORTIUM; LI 2010), sabe-se que, um transplante de microbiota em camundongos livres de germes, desencadeou obesidade aumentando sua colheita de energia e absorção calórica (TURNBAUGH ET AL, 2006). A microbiota intestinal contribui para o metabolismo energético através da produção de (AGCC) – como o acetato, o butirato e o propionato – produtos residuais produzidos pelas bactérias por fermentação colônica, para equilibrar o estado redox no intestino, através da ingestão de fibras solúveis na dieta (OTHMAN ET AL, 2016). (apud PEREIRA at al, 2019).
4.TRATAMENTO
A obesidade está associada à redução da proporção das bactérias Bacteroidetes e com aumento proporcional das Firmicutes. Existem algumas pesquisas relacionadas à composição bacteriana, demonstradas pela manipulação dessas bactérias e que poderiam ser utilizadas para o tratamento da obesidade (COSTA & PEREIRA, 2021).
Exercendo diversas funções no organismo, a microbiota intestinal tem importante relação com a obesidade, quando ocasionada a disbiose desse ecossistema pelo aumento de bactérias maléficas e diminuição das benéficas no organismo. As atuais abordagens terapêuticas para o restabelecimento do equilíbrio são os probióticos, os prebióticos e o transplante de microbiota fecal (TMF) (PANTOJA et al., 2019).
Não existe apenas um tratamento isolado para a obesidade. Conforme Brandão (2018):
Um dado muito interessante trazido em um estudo realizado por Moraes; Almeida; Souza (2013), sobre a análise comportamental de pacientes obesos, constatou que além das implicações na saúde física, a obesidade também está fortemente associada a desequilíbrios psicoemocionais como ansiedade, baixa motivação, depressão, dificuldades no convívio social, onde o sofrimento físico promove dificuldades nos cuidados consigo mesmo. Tosetto & Simeão Júnior (2008) indicam que quanto maior o nível de obesidade, maiores são os níveis de sintomas psíquicos e sugere que a prática de exercícios físicos aliados à reeducação alimentar e psicoterapia são importantes instrumentos para a obtenção de sucesso no tratamento da obesidade. O tratamento dietético dessa patologia também pode ser bastante complexo. Dietas com baixas calorias, quantidade reduzida de sódio, açúcar, gorduras trans e saturadas são normalmente adotadas para controle tanto da obesidade como das suas patologias associadas. De acordo com Nonino-Borges; Borges e Santos (2007), a dietoterapia é fundamental no controle de peso. Dietas com composição adequadas de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e fibras, são bastante efetivas no tratamento a médio e longo prazo, além de melhorar a função do organismo e contribuir para a melhoria da saúde do indivíduo. O fracionamento da dieta parece contribuir em muitos casos, para a melhor adesão da mesma. Medidas comportamentais como mastigar bem os alimentos, comer devagar e evitar associar a ingestão alimentar com emoções e sentimentos também fazem parte do tratamento dietético desta patologia. (apud Brandão, 2018).
Sobre um dos tratamentos mais radicais envolvendo o uso da microbiota intestinal, temos o Transplante de Microbiota Fecal. Conforme ECKER (2019):
O TF é um meio alternativo de modulação da microbiota intestinal, consistindo na transferência de propriedades funcionais da microbiota de um indivíduo doador para um receptor. Este procedimento é utilizado com a finalidade de tratar ou curar a doença, corrigindo a disbiose presente através do repovoamento da microbiota intestinal (DAVIDO et al., 2017; SOMMER et al., 2017). A sua aplicação começou a ganhar atenção dos pesquisadores, quando em 1958 foi descrito a primeira infusão de fezes, com a finalidade de tratamento de colite pseudomembranosa, através de enemas contendo fezes de doadores (EISEMAN et al., 1958; SOMMER et al., 2017). A transferência do material fecal é considerada um procedimento mais radical para restaurar o microbioma intestinal quando comparado a intervenções dietéticas, prébióticos, probióticos. Entretanto, é considerado mais completo devido à grande quantidade de microrganismos, podendo fornecer uma estratégia terapêutica promissora para prevenir diversas patologias.
5.CONCLUSÃO
Vimos, portanto com essa pesquisa bibliográfica identificar o desempenho da microbiota intestinal e suas funções essenciais no organismo do hospedeiro no tratamento e prevenção da obesidade, no qual acredita-se que sua modulação é uma ferramenta potencial no enfrentamento dessa comorbidade, pois favorece a perda de peso corporal e melhora os marcadores inflamatórios, contribuindo para o tratamento e controle dessa patologia. O tratamento da obesidade envolve a mudança dos padrões alimentares. É importante comer vegetais, frutas, alimentos ricos em fibras e uma composição adequada de carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais. Também é essencial evitar alimentos ricos em sódio, açúcar, gorduras saturadas e trans. Fazer atividade física regularmente.
Sendo assim, se faz necessário que a saúde pública adote medidas educativas para a sociedade, tendo em vista a profilaxia desta doença como prioridade absoluta, alertando a população quanto à gravidade da obesidade, e o quanto suas consequências podem interferir na saúde física e mental fazendo uma análise e associando doenças crônicas não transmissíveis (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doenças coronarianas) com a obesidade e identificando estratégias para prevenir e/ou controlar a esta doença.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, L.; PESSOA, L.; MAIA, L. C. P. Microbiota intestinal e sua importância para imunidade. Setor de Alimentação e Nutrição/ Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis/ UNIRIO. Boletim nº 05. Maio/2020.
BRANDÃO, I. S. A obesidade, suas causas e consequências para a saúde. 2018. 17f. Pós-graduação (Especialista em Saúde da Família) – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB. 2018. São Francisco do Conde
COSTA, K. F.; PEREIRA, S. E. Modulação da microbiota intestinal na obesidade: o estado da arte. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Nutrição) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia. 2021.
ECKER, A. B. S.; DALCIN, C. A. M.; AGUERA, R. G. O transplante fecal e sua possível aplicação no tratamento da obesidade: uma revisão de literatura. Revista Uningá, Maringá, v.56, n.4, p.1-11, 2019.
PANTOJA, C. L.; COSTA, A. C. C.; COSTA, P. L. S.; ANDRADE, M. A. H.; SILVA, V. V.; BRITO, A. P. S. O.; GARCIA, H. C. R. Diagnóstico e tratamento da disbiose:
Revisão Sistemática. Revista Eletrônica Acervo Saúde, Belém-Pará, v.32, p.1-7, 2019.
PEREIRA, J. R.; SILVA, E. S.; VIEIRA, J. N. Microbiota Intestinal E Obesidade: Revisão De Literatura. In.: I Congresso internacional de meio ambiente e sociedade. 5., 2019. Paraíba. Anais. Paraíba: CONIMAS, 2019.