SÍNDROME DE BURNOUT EM ESTUDANTES DE MEDICINA, FATORES DE RISCO E SUAS PRINCIPAIS AÇÕES DE PREVENÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA 

MEDICINE STUDENTS BURNOUT SYNDROME, ITS RISK FACTORS AND MAIN PREVENTION ACTIONS: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8104808


Carlos Eduardo Muniz Pilenghy1
Vitor Correa Aguiar2
Gilmar dos S. Nascimento3


Resumo

A Síndrome de Burnout compreende três aspectos principais: desgaste emocional, despersonalização e ineficácia laboral. A alta prevalência desta síndrome, apresentada principalmente por estudantes de medicina, em um ambiente universitário, tem implicações tanto na saúde pública quanto na educação. À medida que as vagas de emprego médico aumentam no país, há necessidade de gerar mais conhecimento sobre os padrões de compreensão da síndrome, seus fatores de risco e as principais ações para prevenir essas condições. Objetivos: O estudo teve por objetivo realizar uma revisão sistemática da literatura para conceituar e compreender os fatores de risco e prevenção relacionados à síndrome de Burnout em estudantes de medicina. Metodologia: Este estudo é constituído por meio de uma revisão sistemática de literatura, de forma coerente, combinando dados semelhantes, mas também considerando outros achados desde que, eles atendam a pergunta definida na pesquisa e por conseguinte, os objetivos aqui propostos.Os dados foram coletados nos bancos de dados on-line: LILACS disponível na Biblioteca Virtual em Saúde-BVS, SciELO e PubMed, por meios dos descritores: “acadêmicos de medicina AND síndrome de burnout”; “acadêmicos de medicina AND saúde mental”; “acadêmicos de medicina AND prevenção da síndrome de burnout”. Considerações finais: Frente às implicações da Síndrome de Burnout para os estudantes de medicina, expostas neste artigo, tais como: alta prevalência desse quadro nessa população, devido à má qualidade de vida por conta do sofrimento físico e mental, que pode levar até mesmo ao suicídio; possibilidades de desistência da graduação entre outros prejuízos a esses acadêmicos, considera-se necessário a elaboração de mais estudos voltados a apresentar os principais fatores de risco para o desenvolvimento da SB em futuros médicos, assim como as principais formas de prevenção dessa síndrome, os expondo aos acadêmicos de medicina, como forma de conscientizar e amparar este público em foco. Diante da SB caracterizada por esgotamento emocional, despersonalização e baixa eficácia profissional, torna-se imprescindível a identificação dos sintomas o quanto antes para um diagnóstico precoce, inclusive no contexto do meio social do estudante de medicina. Ações voltadas à reestruturação do currículo médico para incentivar a humanização dos estudantes são, portanto, necessárias no campo da saúde coletiva, havendo também a necessidade do incentivo à participação em atividades extracurriculares, além do acompanhamento multidisciplinar desses acadêmicos promovido tanto pelas instituições de ensino quanto por órgãos públicos para a uma prevenção mais efetiva desta síndrome.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout; Fatores de Risco; Prevenção; Estudantes de Medicina.

Abstract

The Burnout Syndrome comprises three main aspects: emotional exhaustion, depersonalization, and reduced personal accomplishment. The high prevalence of this syndrome, particularly among medical students in a university setting, has implications for both public health and education. As the number of medical job opportunities increases in the country, there is a need to generate more knowledge about the understanding of the syndrome, its risk factors, and key actions to prevent these conditions. Objectives: The aim of this study was to conduct a systematic literature review to conceptualize and understand the risk factors and prevention related to Burnout Syndrome in medical students. Methodology: This study consists of a systematic literature review, carried out in a coherent manner, combining similar data but also considering other findings as long as they address the defined research question and, consequently, the proposed objectives. The data were collected from online databases: LILACS available in the Virtual Health Library (BVS), SciELO, and PubMed, using the following descriptors: “medical students AND burnout syndrome”; “medical students AND mental health”; “medical students AND prevention of burnout syndrome.” Final considerations: In view of the implications of Burnout Syndrome for medical students, as exposed in this article, such as the high prevalence of this condition in this population due to poor quality of life resulting from physical and mental suffering, which can even lead to suicide; possibilities of dropping out of medical school among other damages to these students, it is considered necessary to develop further studies focused on presenting the main risk factors for the development of Burnout Syndrome in future doctors, as well as the main forms of prevention for this syndrome, exposing them to medical students as a way to raise awareness and support this specific audience. Given that Burnout Syndrome is characterized by emotional exhaustion, depersonalization, and reduced professional efficacy, it becomes essential to identify the symptoms as early as possible for an early diagnosis, including within the social context of medical students. Actions aimed at restructuring the medical curriculum to promote the humanization of students are therefore necessary in the field of public health. There is also a need to encourage participation in extracurricular activities and provide multidisciplinary support for these students, both by educational institutions and public organizations, in order to achieve more effective prevention of this syndrome.

Keywords: Burnout Syndrome; Risk Factors; Prevention; Medical Students.

INTRODUÇÃO

O presente artigo busca compreender a produção literária de conhecimento sobre os fenômenos da doença em estudantes de medicina com síndrome de Burnout. Frente às implicações da Síndrome de Burnout para os estudantes de medicina, tais como: alta prevalência desse quadro nessa população, devido à má qualidade de vida por conta do sofrimento físico e mental, que pode levar até mesmo ao suicídio; possibilidades de desistência da graduação entre outros prejuízos a esses acadêmicos. Considera-se necessário a elaboração de estudos voltados a apresentar os principais fatores de risco para o desenvolvimento da SB em futuros médicos, como ainda as principais formas de prevenção dessa síndrome.

A análise realizada por Carneiro e colaboradores (2020) sobre a temática aqui discutida, destaca que o termo “Burnout” foi usado primeiramente por Freudenberger, psicólogo americano, na década de 70, que constatou um estado de exaustão (na maioria das vezes emocional e mental) diferente da depressão, observada entre trabalhadores voluntários. Ele chamou o fenômeno de “síndrome da força físico-mental”, desenvolvido em profissionais de assistência que passam muitas horas de trabalho com outras pessoas, e o utilizou para descrever as consequências do estresse severo e do alto padrão de exigência experimentados pelas pessoas envolvidas em profissões, como médicos e enfermeiros, que ajudam os outros em detrimento de si próprios.

Além disso, no meio acadêmico, mais especificamente em alunos da graduação de medicina, é grande a pressão para mostrar-se como bons profissionais para a sociedade, amigos e familiares. Justamente por isso, o meio intenso de produtividade, muitas vezes torna esses estudantes vítimas de Burnout (LIMA LP, et al., 2021).

Assim sendo, a Burnout em graduandos de medicina se tornou um problema no Brasil, pois ocorre de modo amplo em universidades de vários estados de diversas regiões brasileiras. Essa circunstância poderá vir a ser uma séria questão de saúde pública, visto que esses estudantes se tornarão médicos. Logo, se esses discentes não perceberem ou buscarem tratamento para essa condição, poderão comprometer sua segurança profissional e a segurança do paciente (NASSAR; CARVALHO, 2021).   

De tal modo, os autores afirmam que durante a referida formação essa síndrome poderá atrapalhar a desenvoltura acadêmica e a qualidade de vida do aluno e ainda representar um prognosticador de ideação suicida e desistência do curso. Ademais, observaram que acadêmicos de medicina em sofrimento pela Burnout poderão se tornar menos empáticos em função da enorme deterioração emocional e, sobretudo, incredulidade profissional no decorrer do curso. Tal situação poderá resultar na diminuição do comprometimento em relação aos pacientes (DEGGERONE et al., 2021).

Portanto, o presente estudo será guiado pela pergunta: Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout em acadêmicos de medicina e as ações fundamentais de prevenção dessa síndrome? 

METODOLOGIA

Este estudo foi constituído por meio de uma revisão sistemática de literatura, de forma coerente, combinando dados semelhantes, mas também considerando outros achados desde que, eles atendam a pergunta definida na pesquisa e por conseguinte, os objetivos aqui propostos. Ademais, serão observadas possíveis lacunas nos artigos selecionados, as quais serão apontadas (GALVÃO; PEREIRA, 2014).

MATERIAIS E MÉTODOS PARA COLETA DE DADOS

Seguindo as explicações de Galvão e Pereira (2014), sobre a construção de uma revisão sistemática de literatura, elaborou-se a pergunta de pesquisa que guiou a elaboração dos objetivos. Sendo assim, as futuras etapas elaboradas foram: a busca da literatura nas bases de dados científicas, a triagem dos artigos, a extração dos achados, a averiguação da qualidade do método aplicado nos estudos, o resumo dos dados, a observação e criticidade quanto às evidências encontradas, a escrita e publicação dos resultados, entre outras atividades que forem consideradas necessárias, a fim de construir um estudo que possa contribuir  por meio de conhecimentos para a medicina e  outras ciências, como também para o entendimento dos futuros médicos  e a população como um todo, acerca  dos  fatores de risco para a Síndrome de Burnout e ainda as principais ações preventivas dessa Síndrome.

Os dados foram coletados nos bancos de dados on-line: LILACS disponível na Biblioteca Virtual em Saúde-BVS, SciELO e PubMed, por meios dos descritores: “acadêmicos de medicina AND síndrome de burnout”; “acadêmicos de medicina AND saúde mental”; “acadêmicos de medicina AND prevenção da síndrome de burnout”. 

Foram selecionados para esta revisão, artigos que atenderam a pergunta guia e os objetivos aqui propostos, publicados entre os anos de 2016 e 2022, disponibilizados integralmente e de forma gratuita, nas línguas portuguesa e inglesa.  Foram excluídos os artigos oriundos de revisões de literatura, artigos repetidos, assim como aqueles que não atendam a temática deste estudo, além de textos referentes a teses de doutorado. 

DISCUSSÃO E RESULTADOS

A Síndrome de Burnout é a resposta ao estresse crônico e envolve alterações comportamentais importantes, tendo como agravantes variáveis sociodemográficas, profissionais, de lazer e de hábitos de vida. Diante da gravidade das consequências desta síndrome, percebe-se a necessidade de atenção à situação de saúde dos estudantes do curso de Medicina (SOUZA MNA, et al., 2020).

A SB foi reconhecida como fenômeno ocupacional e incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), aprovada pela 72ª Assembleia Mundial da Organização Mundial de Saúde. Essa doença compreende três aspectos básicos: 1. exaustão emocional; 2. aumento do distanciamento mental do próprio trabalho ou sentimentos de negativismo e cinismo relacionados ao próprio trabalho; e 3. redução da eficácia profissional. Além disso, essa síndrome está relacionada ao estresse ocupacional crônico, presente na vida estudantil. Os principais sintomas apresentados são físicos (fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dificuldade em relaxar, imunodeficiência, cefaleia), psíquicos (dificuldade de concentração, ansiedade, depressão) e comportamentais (desinteresse, tendência ao isolamento e negligência) (RODRIGUES CS, et al., 2020).

Quanto a fisiopatologia da síndrome, o Sistema Nervoso Simpático (SNS) é responsável, quando estimulado em situações de estresse, a liberar substâncias como adrenalina e noradrenalina de forma imediata, ocasionando aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial e sudorese. Já a estimulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal ocorre a partir da ativação crônica do SNS e dessa forma está relacionado à depressão imunológica desses pacientes pela liberação crônica de corticosteróides. Os estudos apontam que em decorrência da estimulação constante do SNS, os indivíduos apresentam desregulação hormonal e do sistema endócrino como um todo, evidenciado pelos níveis elevados de cortisol e distúrbio no sistema de controle hipotálamo-hipófise-adrenal, podendo, pela cronicidade, serem irreversíveis (RADAELLI PB, et al., 2021).

A análise realizada por Carneiro e colaboradores (2020) sobre a temática aqui discutida, demonstrou que a síndrome de Burnout afeta estudantes de medicina em todo o mundo, e as causas relacionadas a essa patologia vão além da auto exigência, uma vez que são originadas também das cobranças do âmbito acadêmico. O qual pode impactar a saúde mental dos universitários, provocando aflições individuais e ainda o desenvolvimento de distúrbios psicológicos e manifestações somáticas, além de dificuldades para agir de forma coletiva. Assim, os discentes afetados pela Burnout poderão apresentar comportamentos pouco empáticos, e isso reflete em menor profissionalismo. Tais situações ocorrem porque existe a correlação clara de fatores como:  cobrança pessoal, estresse recorrente, depressão e sequela profissional negativa, com a síndrome de Burnout.

Entre os fatores de risco para seu desenvolvimento tanto em médicos como em futuros profissionais dessa área, encontra-se o fato desses grupos trabalharem intimamente com diferentes indivíduos, geralmente em situações de vulnerabilidade, com os quais poderão desenvolver relações envolvendo afeto e emoção (LIMA et al., 2021).

Outros fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome de Burnout, foram apontados por Carro e Nunes (2020) ao afirmarem que a formação médica é iniciada antes do ingresso no curso de Medicina, pois para conquistar uma vaga universitária nesta área, o estudante enfrenta um processo intenso e desgastante, envolvendo sacrifícios maiores que aqueles enfrentados por candidatos que pretendem cursar outra graduação. Já nessa fase são iniciadas rotinas intensas de estudo, que requer renúncias de momentos ao lado de amigos e familiares. Após ingressar na faculdade, o acadêmico passa a vivenciar contradições constantes durante os anos de formação médica, devido à perspectiva, a angústia, o receio e a pouca confiança próprias de qualquer indivíduo no começo de seu processo de aprendizagem. Estes e outros obstáculos no cotidiano acadêmico, poderão culminar na manifestação da síndrome de Burnout de determinados alunos durante o curso. Todavia, a manifestação dessa síndrome não ocorre exclusivamente devido ao curso de medicina, mas sim em função do histórico inerente a todo o processo para conseguir adentrá-lo.

Nessa direção, Medeiros e colaboradores (2018) apontam que para caracterizar a síndrome de Burnout em estudantes de medicina é necessário observar a presença de três dimensões que possuem relação, mas são independentes, sendo elas:  a Exaustão emocional, constituída por cansaço, falta de entusiasmo e pelo sentimento de esgotamento frente às exigências do estudo; A descrença, constituída por meio de atitudes envolvendo cinismo e distanciamento tanto em relação à atividade de estudo como no modo de tratamento em relação aos pacientes e os colegas; E a ineficácia profissional, que se caracteriza pela autoavaliação de forma negativa, ocasionado o sentimento de menos valia e a sensação de incapacidade, afetando assim o desenvolvimento acadêmico.

Esses autores apontam ainda os fatores de risco da síndrome de Burnout em acadêmicos de medicina, condizentes aos desafios enfrentados por eles, em função da alta exigência dessa graduação junto a outros fatores estressantes que poderão contribuir para o desenvolvimento da referida Síndrome, que poderá comprometer o desempenho cognitivo desses estudantes, assim como a prática deles. Portanto, os altos índices de Burnout nesses grupos é um fato inquietante, visto que um dos princípios do curso médico é a socialização da saúde. Todavia, o distanciamento emocional decorrente dessa síndrome poderá impactar negativamente a relação entre acadêmico e paciente. Assim, grande parte dos estudantes da ciência médica afirmam possuírem qualidade de vida ruim, tanto física como mental (Medeiros et al., 2018).

Nesse seguimento, em pesquisa realizada por Deggerone e colaboradores (2021), os autores concluíram que aproximadamente 50% dos estudantes de medicina podem desenvolver sintomas de Burnout em algum momento de sua formação. Isso porque, geralmente o ingresso no curso de medicina demanda “a transformação precoce de adolescentes em profissionais, o que muitas vezes exige que eles adquiram maturidade para as escolhas individuais no que diz respeito ao desempenho profissional e ao relacionamento com futuros colegas e pacientes” (op. cit. p.78).

Nesse sentido, o estudo realizado por Leme e colaboradores (2016), em uma faculdade no interior do Estado de Rondônia, localizado na região Norte, com acadêmicos de medicina demonstrou a prevalência da Síndrome de Burnout em 9,1% do grupo pesquisado. Dessa forma, os autores alertam sobre a importância de melhor observação dessa condição, a fim de propor ações voltadas ao controle e tratamento logo após o diagnóstico da SB, para que esse círculo vicioso seja rompido, objetivando evitar danos financeiros, emocionais e psicológicos aos futuros médicos.

No estudo realizado por Aguiar e colaboradores (2018, p.273),   cujos participantes foram acadêmicos matriculados entre o  primeiro e o  oitavo  período no curso de medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e apresentavam indicadores de exaustão emocional, os autores concluíram que havia “associação positiva entre a presença da Síndrome de Burnout em estudantes que estão mais avançados no curso, que cursam mais disciplinas, que não possuem experiência prévia na área de saúde, que não estão satisfeitos com o curso”, manifestando assim, o desejo de abandonar a graduação médica.  

Em um estudo que teve como objetivos identificar a prevalência da SB, os fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome e os sintomas associados a ela em estudantes de Medicina de uma faculdade pública do Distrito Federal (DF), as prevalências de alto risco e de diagnóstico de SB encontradas entre os estudantes de Medicina foram 26,44% e 3,95%, respectivamente (RODRIGUES CS, et al., 2020).

Nos Estados Unidos, um estudo realizado com 399 estudantes de medicina do 1º ao 8º semestre mostrou uma incidência de 12% de SB. Destes, houve predomínio de mulheres e estudantes do 5º semestre de graduação. O 5º semestre também apresentou as maiores porcentagens de exaustão emocional e ansiedade. Esses índices elevados não parecem estar relacionados à quantidade de matérias agregadas, e sim pelo aumento da preocupação com o futuro e competência profissional. Além disso, é por volta deste período que os estudantes iniciam maior contato com os pacientes, gerando ansiedade, medo de cometer erros, como erro no diagnóstico e quebra de expectativas criadas previamente (BARBOSA ML, et al., 2018).

A exaustão emocional também foi o principal fator associado à Síndrome de Burnout em alunos de Medicina de um estado localizado na região Sudeste.  Níveis elevados de exaustão emocional, levam os indivíduos a se sentirem cada vez mais fadigados tanto fisicamente como mentalmente, ocasionando agravos psicológicos e queda de desempenho e rendimento acadêmico. O aspecto que se manifestou em segundo lugar nesse grupo, foi a despersonalização, que possui características de proteção como:  distanciamento humano, insensibilidade emocional e sentimentos contrários em relação a tudo o que abrange o ambiente laboral. Portanto, “à medida em que o estudante se sente exausto e descrente com o estudo inicia o processo de diminuição da eficácia e da realização pessoal, exacerbando uma auto avaliação de baixa confiança e sensação de fracasso” (NÁGIME et al., 2020, p. 6031).

Quanto aos períodos de formação em medicina mais propícios para o desenvolvimento da síndrome de Burnout, o estudo de Sousa e colaboradores (2022), demonstra que o fato do futuro médico estudar uma ciência que demanda enorme dedicação, sacrifício e obstinação física e mental, favorece o desenvolvimento da SB, que se agrava nos períodos avaliados como os mais complexos e/ou com maior grade curricular e contato com pacientes. Tais períodos correspondem ao terceiro e quarto anos do curso de medicina.

Outro fator preocupante sobre essa temática foi apontado por Carro e Nunes (2020), ao afirmarem que em casos da não atenção e cuidados, junto aos preconceitos envolvendo a depressão, a ansiedade e à síndrome de Burnout, desenvolvidas ou agravadas durante a graduação em medicina, constitui riscos ao estudante que poderá chegar a extremos lamentáveis como a ideação suicida. Dessa forma, os autores afirmam a possibilidade   da relação entre síndrome de Burnout e suicídio.

No que concerne ao gênero, Camargo e colaboradores(2020) afirmam que mulheres estudantes de medicina apresentam maiores preditivos para Síndrome de Burnout, devido ao estresse exacerbado que as acometem durante o período da graduação e que se torna ainda mais elevado nos casos das acadêmicas casadas que desempenham algum atividade trabalhista.

As principais formas de prevenir a Síndrome de Burnout são: defina pequenos objetivos na vida profissional e pessoal; Participe de atividades de lazer com amigos e familiares; Faça atividades que “fujam” à rotina diária, como passear, comer em restaurante ou ir ao cinema; Evite o contato com pessoas “negativas”, especialmente aquelas que reclamam do trabalho ou dos outros; Converse com alguém de confiança sobre o que se está sentindo; Faça atividades físicas regulares. Pode ser academia, caminhada, corrida, bicicleta, remo, natação etc; Evite consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas, porque só vai piorar a confusão mental; Não se automedique nem tome remédios sem prescrição médica. Outra conduta muito recomendada para prevenir a Síndrome de Burnout é descansar adequadamente, com boa noite de sono (pelo menos 8h diárias). É fundamental manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas (BRASIL, 2022)

Segundo o modelo de resiliência de Dunn, o Burnout surge do esgotamento do reservatório de resiliência do estudante. São descritas como estratégias para aumentar a resiliência, as seguintes: tutoria; estimulação intelectual; aumento da autoestima e reconhecimento das competências; apoio psicossocial; aumento do controle e atividades de promoção de saúde. (GONÇALVES, 2016)

CONCLUSÃO

Frente às implicações da Síndrome de Burnout para os estudantes de medicina, expostas neste artigo, tais como: alta prevalência desse quadro nessa população, devido à má qualidade de vida por conta do sofrimento físico e mental, que pode levar até mesmo ao suicídio; possibilidades de desistência da graduação entre outros prejuízos a esses acadêmicos, considera-se necessário a elaboração de mais estudos voltados a apresentar os principais fatores de risco para o desenvolvimento da SB em futuros médicos, assim como as principais formas de prevenção dessa síndrome, os expondo aos acadêmicos de medicina, como forma de conscientizar e amparar este público em foco.

Diante da SB caracterizada por esgotamento emocional, despersonalização e baixa eficácia profissional, torna-se imprescindível a identificação dos sintomas o quanto antes para um diagnóstico precoce, inclusive no contexto do meio social do estudante de medicina. Ações voltadas à reestruturação do currículo médico para incentivar a humanização dos estudantes são, portanto, necessárias no campo da saúde coletiva, havendo também a necessidade do incentivo à participação em atividades extracurriculares, além do acompanhamento multidisciplinar desses acadêmicos promovido tanto pelas instituições de ensino quanto por órgãos públicos para a uma prevenção mais efetiva desta síndrome.

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1Acadêmico de Medicina Faculdade Metropolitana
2Acadêmico de Medicina Faculdade Metropolitana
3Docente Dr. Faculdade Metropolitana.