PAPEL DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DE SAÚDE AOS PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS DOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8131919


Karleane Maria Rodrigues da Silva1
Vanessa de Alcântara Nascimento Araújo1
Ivan do Nascimento da Silva2,3
José André Bernardino2,5
Elvys Blayne Sales de Souza1
Milton Vieira Costa2,5
Albérico José Saldanha-Filho2
Maria Lúcia Lima Soares2,4
Érika Rosângela Alves Prado2
José Claudio da Silva2,5,6


RESUMO 

A educação alimentar nutricional é vital para promover o bem-estar físico e mental em centros de atenção psicossocial. Fornecer tal educação pode melhorar a saúde física, a saúde mental e a interação social. Existem vários métodos de fornecer educação alimentar nutricional, incluindo aulas de culinária, workshops e orientação sobre planejamento de refeições. Embora existam desafios na implementação dessa educação, existem soluções que podem ser empregadas para superar essas barreiras. É fundamental priorizar a educação alimentar nutricional nos Centros de Atenção Psicossocial para apoiar a saúde geral e o bem-estar dos indivíduos nesses ambientes. O presente estudo tem como objetivo geral ressaltar a importância da atuação do profissional em nutrição nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) para promover a saúde em quem sofre transtornos mentais, relatar o direito à saúde e a importância do Sistema Único de Saúde, além dos desafios e a importância da Educação Alimentar Nutricional e informar as experiências e atuações do nutricionista no CAPS na promoção da EAN. Para isso, realizou-se uma revisão integrativa no intuito de comparar objetivos e resultados de outros estudos que abordaram a avaliação do papel nutricional em diferentes cidades e CAPS do Brasil, a inclusão de estudos se deu por escolher artigos entre os anos de 2018 a 2023, a fim de debater e verificar com estudos atuais como está o SUS e a sua abrangência na Educação Alimentar e Nutricional (EAN) nos CAPS. Por fim, notou-se que a implementação da educação alimentar nutricional em centros de atendimento psicossocial é um desafio por conta de financiamentos e recursos limitados. 

Palavras-chave: Educação alimentar. Saúde mental. CAPS. Nutricional. 

ABSTRACT 

Nutritional food education is vital to promote physical and mental well-being in psychosocial care centers. Providing such an education can improve physical health, mental health and social interaction. There are several methods of providing food and nutrition education, including cooking classes, workshops and meal planning guidance. While there are challenges in implementing this education, there are solutions that can be employed to overcome these barriers. It is essential to prioritize nutritional food education in Psychosocial Care Centers to support the general health and well-being of individuals in these environments. The present study has the general objective of highlighting the importance of professional nutrition in the Psychosocial Care Centers (CAPS) to promote the health of those who suffer from mental disorders, report on the right to health and the importance of the SUS, in addition to the challenges and importance of Nutritional Food Education and to inform the experiences and actions of the nutritionist in the CAPS in the promotion of EAN. For this, an integrative review was carried out in order to compare objectives and results of other studies that addressed the evaluation of the nutritional role in different cities and CAPS in Brazil, the inclusion of studies was due to choosing articles between the years 2018 to 2023, in order to discuss and verify with current studies how the SUS is and its scope in the EAN in the CAPS. Finally, it was noted that the implementation of nutritional food education in psychosocial care centers is a challenge due to limited funding and resources.

Keywords: Food education. Mental health. CAPS. Nutritional.

1. INTRODUÇÃO 

A saúde nos moldes atuais, se deu por conta da constituição de 1988, que a definiu como uma de suas prioridades, seu acesso por todos. Desde então, o Estado tem o dever de promover a saúde a todos que estiverem em território brasileiro, por meio do Sistema Único de Saúde, que se difunde por todos os estados e cidades do Brasil, proporcionando diversos atendimentos de emergência, tratamentos, consultas rotineiras entre outros acessos (BATISTA; PEDUZZI, 2018).

O Pacto Pela Vida é o compromisso entre os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) em torno de prioridades que apresentam impacto sobre a situação de saúde da população brasileira. A definição de prioridades deve ser estabelecida por meio de metas nacionais, estaduais, regionais ou municipais. Prioridades estaduais ou regionais podem ser agregadas às prioridades nacionais, conforme pactuação local (BRASIL, 2004).

Ao desenvolver programas abrangentes, colaborar com as partes interessadas e enfrentar os desafios, os nutricionistas podem garantir que todos os indivíduos tenham acesso ao conhecimento e às habilidades de que precisam para fazer escolhas informadas sobre suas dietas com foco na Educação Alimentar Nutricional (EAN), para assim atingir todo o seu potencial e levar uma vida mais saudável (PEDRAZA, 2022). 

Nesse sentido, a promoção do bem-estar físico e mental em pessoas que frequentam Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) desempenha um papel crucial, e a educação alimentar nutricional desempenha um papel fundamental nesse contexto. Esses centros fornecem apoio e cuidados a indivíduos com problemas de saúde mental, transtornos por abuso de substâncias e outras condições relacionadas. É de extrema importância ressaltar a relevância de uma alimentação adequada e de hábitos alimentares saudáveis, especialmente dentro desse ambiente (PEDRAZA, 2022).

Dessa maneira, o presente estudo tem como objetivo geral ressaltar a importância da atuação do profissional em nutrição nos CAPS para promover a saúde em quem sofre de transtornos mentais, e como objetivos específicos: relatar o direito à saúde e a importância do SUS, além dos desafios e a importância da EAN e por fim, informar as experiências e atuações do nutricionista no CAPS na promoção da EAN. 

Para isso, realizou-se uma revisão integrativa que teve como intuito comparar objetivos e resultados de outros estudos que abordaram a avaliação do papel nutricional em diferentes cidades e CAPS do Brasil, a inclusão de estudos se deu por escolher artigos entre os anos de 2018 a 2023, a fim de debater e verificar com estudos atuais como está o SUS e a sua abrangência na EAN nos CAPS. 

2. DESENVOLVIMENTO 

2.1 O DIREITO À SAÚDE E A IMPORTÂNCIA DO SUS 

O direito à saúde está esculpido na Constituição da República Federativa do Brasil em seu Art. 196 a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Todavia, antes dessa garantia constitucional, existiram outros aspectos e previsões legais que a antecederam que é necessário entender (SILVA et al., 2022).

É importante destacar que o direito à saúde, devido às suas características e importância, pode ser interpretado tanto como um direito individual e uniforme, quanto como um direito difuso, dependendo da relevância que se apresenta. Por exemplo, uma ação individual pode ter o potencial de beneficiar milhares de pessoas no futuro. Desse modo, diversos doutrinadores já o diferenciam como um direito difuso, como é o caso de Silva (2011, p. 62) que aponta que “a saúde se enquadra no âmbito dos direitos difusos, por visualizá-lo como transindividual de natureza indivisível”. Contudo, é importante analisar os limites do conceito de saúde e o percurso percorrido até sua consagração legal quando se trata do direito à saúde (LIRA et al., 2022). 

A concepção imediatista de direito dos homens gera um consenso geral terrivelmente complicado, induzindo a crer que tenham um valor absoluto. O tema da saúde está relacionado diretamente com a dignidade da pessoa humana e o direito à igualdade, que pressupõem o Estado-garantidor. No Brasil, atualmente a ideia que se tem é a de que “a saúde não é compreendida como mercadoria, e sim, como expressão do direito de cidadania” (PEDRAZA, 2022, p. 58). 

Contudo, esse instituto não surgiu já caracterizado como um direito social, intrínseco ao ser humano enquanto cidadão. Conforme já estudado no art. 196 da Constituição, a saúde é direito de todos e dever do Estado e a partir da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), foi inserida uma ideia de assistência integrada para promover de forma contínua as políticas públicas em saúde no Brasil. Essa assistência abrange tanto o ser individual quanto o coletivo e tem a responsabilidade imputada de forma solidária para os três entes federativos (PEDRAZA, 2022). 

É possível ainda realizar essa interpretação através do art. 196 já citado e dos dispositivos seguintes presentes na Constituição Federal:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: II – Cuidar da saúde e da assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: § 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (BRASIL, 2004).

Os estados, regiões e municípios devem pactuar as ações necessárias para o alcance das metas e dos objetivos propostos. São seis as prioridades pactuadas:

a) Saúde do Idoso; b) Controle do câncer do colo do útero e da mama; c) Redução da mortalidade infantil e materna; d) Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; e) Promoção da Saúde; f) Fortalecimento da Atenção Básica (BRASIL, 2004).

2.2 EAN no ambiente do CAPS: Importância e desafios 

A EAN é considerada uma parte essencial de um modo de vida saudável, particularmente quando se trata de um ambiente de cuidados de atenção psicossocial. Os padrões alimentares prejudiciais têm um efeito notável no rendimento do indivíduo, resultando em redução da capacidade de concentração, foco e memória. A educação nutricional alimentar tem um papel essencial ao incentivar a adoção de hábitos alimentares saudáveis e facilitar o processo de reeducação e conscientização alimentar. Através da educação, as pessoas têm a oportunidade de compreender a importância de uma dieta equilibrada, os inúmeros benefícios de uma alimentação saudável e como tomar decisões informadas em relação aos alimentos que consomem (SILVA et al., 2022).

A implementação de educação alimentar nutricional em ambientes de CAPS requer uma abordagem abrangente. Um programa bem elaborado deve incluir educação nutricional, opções de alimentação saudável nos refeitórios escolares e oportunidades para atividade física. A colaboração entre administradores escolares, professores e pais também é essencial para garantir que os alunos recebam mensagens consistentes sobre hábitos alimentares saudáveis. Atividades de aprendizagem interativas e práticas, como aulas de culinária e jardinagem, podem envolver os alunos e tornar o aprendizado sobre nutrição divertido e memorável (DA COSTA, 2019). 

Apesar dos benefícios da educação alimentar nutricional, implementá-la em ambientes CAPS pode ser um desafio. Recursos limitados e financiamento para programas de educação alimentar nutricional podem ser uma barreira significativa. Abordar a diversidade cultural e alimentar também é essencial para garantir que todos os alunos possam se beneficiar da educação alimentar nutricional. As soluções para esses desafios incluem buscar financiamento externo, envolver alunos e pais no desempenho do planejamento e adaptar a educação alimentar nutricional para atender às necessidades de diversas populações estudantis (DA COSTA, 2019). 

2.3 Atividades nutricionais oferecidas nos CAPS

A nutrição é um aspecto crucial da saúde e bem-estar geral, e é especialmente importante para os indivíduos que recebem cuidados psicossociais. Os CAPS oferecem uma gama de serviços para apoiar indivíduos com problemas de saúde mental, e um dos componentes principais desse atendimento são as atividades nutricionais. Os centros de atenção psicossocial oferecem uma variedade de atividades nutricionais para apoiar a saúde e o bem-estar de seus clientes (MACHADO et al., 2021). 

A seguir estão alguns dos tipos mais comuns de atividades nutricionais oferecidas:

Quadro 1 – Tipos de atividades nutricionais e suas descrições

Tipos de atividades nutricionaisDescrições
Fornecimento de refeições e lanches saudáveisMuitos centros de atenção psicossocial oferecem refeições e lanches saudáveis ​​para seus clientes;
Realização de sessões de educação nutricionalAs sessões de educação nutricional são outro tipo de atividade nutricional comum oferecida nos centros de atenção psicossocial;
Organização de aulas e demonstrações de culináriaAs aulas e demonstrações de culinária são uma forma divertida e interativa de ensinar aos clientes hábitos alimentares saudáveis;
Melhorar os resultados da saúde física, como controle de peso e prevenção de doençasUma boa nutrição é essencial para manter um peso saudável e prevenir doenças crônicas;
Melhorar os resultados da saúde mental, promovendo um humor positivo e reduzindo o estresseA nutrição também desempenha um papel crítico nos resultados da saúde mental.

Fonte: Elaborado pela autora com dados de Machado, 2021.

 Com o fornecimento de refeições e lanches saudáveis, já que muitos centros de atenção psicossocial oferecem refeições e lanches saudáveis ​​para seus clientes. Essas refeições geralmente são projetadas para atender às necessidades nutricionais específicas de indivíduos com problemas de saúde mental, como aqueles com depressão ou ansiedade. Para a realização de sessões de educação nutricional, as sessões de educação nutricional são outro tipo de atividade nutricional comum oferecida nos centros de atenção psicossocial (LISBÔA et al., 2020).

 Essas sessões podem abordar tópicos como hábitos alimentares saudáveis, planejamento de refeições e os benefícios de nutrientes específicos. Com organização de aulas e demonstrações de culinária, promovendo as aulas e demonstrações de culinária são formas lúdicas e interativas de ensinar aos clientes hábitos alimentares saudáveis. Essas aulas podem se concentrar em culinárias ou técnicas culinárias específicas e podem ajudar os clientes a desenvolver habilidades práticas para preparar refeições saudáveis ​​em casa (LISBÔA et al., 2020).

As atividades nutricionais oferecidas nos centros de atenção psicossocial oferecem uma série de benefícios aos clientes. A seguir estão alguns dos benefícios mais significativos: Melhorar os resultados da saúde física, como controle de peso e prevenção de doenças: Uma boa nutrição é essencial para manter um peso saudável e prevenir doenças crônicas, como diabetes e doenças cardíacas (PINHEIRO; CARDOSO, 2019).

 Ao fornecer refeições e lanches saudáveis ​​e educar os clientes sobre hábitos alimentares saudáveis, os centros de atendimento psicossocial podem ajudar a melhorar os resultados de saúde física de seus pacientes. Melhorar os resultados da saúde mental, promovendo um humor positivo e reduzindo o estresse, já que a nutrição também desempenha um papel crítico nos resultados da saúde mental. Comer uma dieta saudável pode ajudar a promover um humor positivo e reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão (PINHEIRO; CARDOSO, 2019). 

Ao fornecer refeições e lanches nutritivos e educar os clientes sobre hábitos alimentares saudáveis, os centros de atendimento psicossocial podem ajudar a apoiar resultados positivos de saúde mental. Criando um senso de comunidade e suporte social em torno de hábitos alimentares saudáveis. As atividades nutricionais oferecidas nos centros de atenção psicossocial podem ajudar a criar um senso de comunidade e suporte social em torno de hábitos alimentares saudáveis (MOTA; COSTA, 2017). 

Ao participar de aulas e demonstrações de culinária ou compartilhar refeições com outros clientes, os indivíduos podem construir relacionamentos e se sentir apoiados em seus esforços para manter uma dieta saudável. Dessa forma, as atividades nutricionais são um componente essencial do atendimento psicossocial, proporcionando uma série de benefícios para os clientes. Ao fornecer refeições e lanches saudáveis, realizar sessões de educação nutricional e organizar aulas e demonstrações de culinária, os centros de atendimento psicossocial podem ajudar a melhorar os resultados de saúde física e mental e criar um senso de comunidade e apoio social em torno de hábitos alimentares saudáveis (MOTA; COSTA, 2017). 

3. MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa com abordagem qualitativa de natureza exploratória, que consiste em um método de pesquisa da prática baseada em evidências, pois sintetiza as pesquisas disponíveis sobre determinado tema, fundamentando-se em conhecimento científico (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

De acordo com Ercole, Melo e Alcoforado (2014, p. 9),

A revisão integrativa de literatura é um método que tem como finalidade sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. É denominada integrativa porque fornece informações mais amplas sobre um assunto/problema, constituindo, assim, um corpo de conhecimento. Deste modo, o revisor/pesquisador pode elaborar uma revisão integrativa com diferentes finalidades, podendo ser direcionada para a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos incluídos de um tópico particular

Desse modo, a pesquisa foi realizada em três bases de dados sendo estas: Scielo, Periódicos CAPES e PUBMED. Foram empregados os seguintes descritores, em língua portuguesa: SUS, CAPS e atuação do nutricionista na promoção da Educação Alimentar Nutricional.  

Após a análise dos materiais bibliográficos, foram selecionados apenas os artigos de maior relevância para o objetivo proposto, que atendem aos critérios de inclusão: Entre os anos de 2018 e 2023, os estudos contendo a temática estabelecida, em língua portuguesa e inglesa, artigos originais em diferentes cidades que adotaram em sua gestão de programas para a melhoria de qualidade da saúde mental com o pacto pela vida no SUS.  

Aos critérios de exclusão, foram excluídos artigos indisponíveis na base de dados, artigos de revisão e estudos que não trabalham com o SUS e o pacto pela vida, ou seja, abordando outros tipos de ferramentas para a melhora na saúde coletiva, estudos repetidos, artigos que não se adequam à temática estabelecida e artigos pagos. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca e análise nas bases de dados selecionadas, resultaram na escolha de cinco artigos, estes passaram por uma análise quanto ao tipo de estudo, objetivo, população investigada, sendo todos os estudos voltados para a atuação do nutricionista para a implementação do EAN no CAPS no Quadro 2. 

Quadro 2 – Estudos selecionados por meio da revisão integrativa 

TÍTULO DO ARTIGOAUTOR(ES)TIPO DE ESTUDOPRINCIPAIS RESULTADOS
Atuação de discentes e profissionais de nutrição na promoção de alimentação saudável em um Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e drogasCampos et al. (2021)Relato de experiênciaObservou-se que as atividades de Educação Alimentar e Nutricional desenvolvidas pela equipe de Nutrição no CAPS AD, foram de grande importância para a promoção da alimentação saudável junto aos usuários do serviço, contribuindo para o tratamento terapêutico.
Perfil nutricional de pacientes atendidos pelo serviço de nutrição no Centro de Atenção Psicossocial (CAPSI) do município de Cuité PBRoque (2021)Estudo transversalRelatou a necessidade da busca por estratégias para que os indivíduos continuem a buscar mais os serviços de saúde, principalmente os homens, onde neste caso, os ambulatórios de nutrição, como também para consolidar a adesão dos pacientes com o atendimento nutricional.
Os sentidos da cozinha de Centros de Atenção Psicossocial e a inserção do nutricionista no cuidado em saúde mentalAlmeida et al. (2021) Ensaio analíticoO ensaio não buscou respostas ou afirmações verdadeiras, mas fez emergir a percepção de um problema que possibilita refletir sobre a prática dos nutricionistas nos CAPS
Ações De educação nutricional no âmbito da saúde mental em um Centro De Atenção Psicossocial (CAPS) da Fronteira Oeste – Rio Grande Do SulSauceda et al. (2017)Pesquisa em campoPerceber o impacto positivo das atividades do grupo devido aos relatos dos participantes em relação às suas mudanças de hábitos alimentares, como o aumento no consumo de água, frutas e saladas, diminuição do consumo de alimentos industrializados e lanches não saudáveis, além disso, a inserção na alimentação de alimentos antes não consumidos como alguns tipos de verduras e sucos naturais.
Usuários do CAPS II: nutrição e qualidade de vidaKrepsky et al. (2018)Estudo transversalOs usuários do CAPS II revelaram uma prevalência importante de excesso de peso, obesidade central, baixa qualidade de vida e uma autopercepção ruim da sua saúde. Compreender essas questões, torna-se extremamente relevante para se pensar em políticas locais de atendimento e organização dos CAPS.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2023)

Campos et al. (2021), relataram em seus estudos que as atividades foram desenvolvidas por acadêmicos e profissionais de Nutrição integrantes do Programa de Educação para o Trabalho em Saúde (PET-Saúde/GraduaSUS), os quais contribuíram na produção das atividades educativas em conjunto com a equipe do CAPS AD em Belém – PA, acompanhando por 12 meses 36 atividades de nutrição, com 242 participantes. Inicialmente, as atividades foram planejadas de acordo com a demanda de datas especiais relativas ao calendário da saúde, festividades culturais ou por necessidade do serviço, desenvolvendo-se, assim, o calendário com a programação de práticas a serem realizadas com intuito de promover educação em saúde e alimentação saudável. 

Com o uso de cartazes ilustrativos, as datas e ações foram divulgadas no CAPS AD para o conhecimento dos usuários do serviço. Uma das principais atividades realizadas na unidade foi o cultivo da horta, o qual ocorreu de forma integrada às demais atividades de promoção da alimentação saudável. As Oficinas Culinárias abordaram diversos temas relacionados à saúde, regionalidade, cultura e promoção da alimentação saudável e complementam as demais atividades planejadas. As atividades tiveram grande adesão e participação dos usuários. Por fim, observou que as atividades de Educação Alimentar e Nutricional desenvolvidas pela equipe de Nutrição no CAPS AD foram de grande importância para a promoção da alimentação saudável junto aos usuários do serviço, contribuindo para o tratamento terapêutico (CAMPOS et al., 2021).

Já Roque (2021) com o objetivo de analisar o perfil nutricional dos pacientes atendidos pelo serviço de Nutrição no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I) do município de Cuité – PB, coletou os dados de 81 prontuários após aplicados os critérios de exclusão, com registros datados de 2016 a 2019 e abrangendo pacientes de ambos sexos, com 18 anos ou mais. Realizou-se a análise socioeconômica (renda média, número de pessoas que vivem no domicílio, estado civil e profissão) e das medidas antropométricas (IMC, CC, CQ e RCQ), executando a tabulação dos dados e a análise estatística com auxílio do Windows Microsoft Excel 2010 e do software PSPP.

 O resultado do estudo demonstrou que:

Todas as variáveis analisadas entre os grupos (feminino e masculino), houve uma diferença estatística significativa (p<0,05) apenas quanto a idade. A população analisada no estudo (n = 81) tem como sua maioria pacientes do sexo feminino (75,31%), sendo esta compreendida em sua maior parte por adultos. Apesar de não haver diferença estatística entre os grupos feminino e masculino, podemos observar que o IMC médio de ambos são próximos e compreendem um estado nutricional de sobrepeso, no qual sobre os riscos cardiovasculares e para doenças metabólicas, encontrou-se um risco cardiovascular muito alto quanto a CC e um risco alto para doenças metabólicas quanto a RCQ no público feminino; no público masculino não foi constatado risco quanto a CC, e segundo a RCQ, o mesmo apresenta risco baixo para doenças metabólicas (ROQUE, 2021, p. 36).

Dessa maneira, as DCNTs, entre a população adulta, 49,35% dos pacientes não possuíam nenhuma DCNT, 29,87% possuíam obesidade, 19,48% hipertensão sistêmica arterial e 12,99% diabetes mellitus tipo 2. Conforme o percentual de retornos, podemos notar que 44,44% dos pacientes retornaram (83,33% mulheres e 16,67% homens) e 55,56% não retornaram, no qual das mulheres que realizaram o retorno, 53,33% tinham DCNT e dos homens 66,67% (ROQUE, 2021).

Assim, mediante ao exposto, é perceptível a necessidade da busca por métodos para que os indivíduos continuem a buscar mais os serviços de saúde, principalmente os homens, onde neste caso, os ambulatórios de nutrição, como também para consolidar a adesão dos pacientes com o atendimento nutricional a fim de um cuidado em saúde mais efetivo, com a ampliação de mais estratégias para prevenção de doenças, como também para reverter o estado nutricional e tratar nesse quesito, as DCNTs já apresentadas por essa população (ROQUE, 2021). 

Dentro desse contexto, Almeida et al. (2021) escolheram utilizar o formato de um ensaio analítico, baseado nos pressupostos teóricos da clínica ampliada, que concebe o cuidado como uma troca de experiências entre indivíduos e uma responsabilidade mútua, e considera o campo alimentar-nutricional como um problema complexo. O estudo examinou o significado da cozinha em três CAPS no Rio de Janeiro, bem como a formação e a atuação dos nutricionistas nessas instituições. Os autores analisaram ainda, a cozinha como um espaço social e discutiram como a abordagem do nutricionista no cuidado em saúde mental ainda segue um modelo biomédico, resultando em uma prática descontextualizada.

Os autores supracitados, constataram ainda que o ensaio não teve como objetivo buscar respostas ou declarações absolutas, mas sim trouxe à tona a percepção de um problema que permite refletir sobre a prática dos nutricionistas nos CAPS, contribuindo para fortalecer as propostas da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Além disso, os mesmos relatam que o papel ativo do nutricionista nos CAPS é frequentemente evidenciado nos espaços de saúde mental, nos quais a comida, por ser uma necessidade vital, muitas vezes é utilizada para manipular grupos conforme os interesses de outros grupos que têm controle sobre o suprimento alimentar. “Muitas vezes, no campo da saúde mental, isso vai de encontro à valorização das escolhas individuais, visto que as instituições oferecem cardápios pré definidos, com horários preestabelecidos, reforçando um modelo engessado de cotidiano” (ALMEIDA et al., 2021, p. 25). 

Sauceda et al. (2017) também realizaram um estudo em um CAPS II, localizado na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, no período de junho a agosto de 2017. Os participantes demonstraram maior interesse nas atividades que envolviam jogos de perguntas e respostas e com desenhos e pinturas, e todas as produções foram registradas em fotografias que foram expostas no CAPS. Durante as atividades, os usuários interagiam entre si e com os profissionais e eram estimulados a compartilhar suas próprias experiências. O grupo possibilitou exploração de temas além da alimentação e nutrição, mostrando a relevância do trabalho multiprofissional para o cumprimento da integralidade na saúde, principalmente para essa população que possui carências psicológicas, físicas e sociais (SAUCEDA et al., 2017).

Foi possível perceber o impacto positivo das atividades do grupo devido aos relatos dos participantes em relação às suas mudanças de hábitos alimentares, como o aumento no consumo de água, frutas e saladas e diminuição na ingestão de alimentos industrializados e lanches não saudáveis, além disso, a inserção na alimentação de alimentos antes não consumidos como determinados tipos de verduras e sucos naturais (SAUCEDA et al., 2017).

Krepsky, Rocha e Dos Santos (2018) avaliaram o estado nutricional, o perfil clínico e a qualidade de vida (QV) de usuários do Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS II) em Vitória da Conquista, BA, com 120 usuários do CAPS II com o auxílio de formulários contendo perguntas fechadas sobre dados sociodemográficos, qualidade de vida (QV) e autopercepção da saúde, assim como perguntas abertas sobre morbidade referida.  

Para avaliação da QV foi usado o instrumento SF-12. A morbidade referida foi categorizada segundo a CID-10Os usuários apresentavam idade média de 39,8 ± 12,48 anos, 64,5% eram mulheres, 55,8% eram solteiros e 71,7% não estavam aposentados. Em relação à QV, o componente mental sumarizado teve um resultado inferior quando comparado ao componente físico sumarizado. A autopercepção de saúde ruim alcançou 70,0% dos entrevistados; os transtornos mais prevalentes foram o transtorno de humor e esquizofrenia; 57,1% dos usuários apresentaram sobrepeso e obesidade e 65,5% dos participantes tiveram alteração da relação circunferência-estatura (KREPSKY; ROCHA; DOS SANTOS, 2018). 

Dessa maneira, notou-se que “os usuários do CAPS II revelaram uma prevalência importante de excesso de peso, obesidade central, baixa qualidade de vida e uma autopercepção ruim da sua saúde” (KREPSKY; ROCHA; DOS SANTOS, 2018, p. 51). Pois, compreender essas questões torna-se extremamente relevante para pensarmos em políticas locais de atendimento e organização dos CAPS, com uma maior interlocução com os serviços de atenção primária dos municípios, promovendo uma atenção integral e promotora de saúde. 

Diante dos estudos coletados, verificou-se que a educação alimentar nutricional pode melhorar a saúde mental e o funcionamento cognitivo. Estudos têm mostrado que uma dieta saudável pode reduzir os sintomas de depressão, ansiedade e outras doenças mentais. Também pode melhorar as habilidades cognitivas, como memória e concentração. A educação alimentar nutricional pode promover a interação social e a construção da comunidade. Aulas de culinária e refeições compartilhadas podem oferecer oportunidades para que os indivíduos se conectem uns com os outros e melhorem suas habilidades sociais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A oferta de EAN em centros de atenção psicossocial é essencial para várias razões, podendo melhorar a saúde física e o bem-estar, garantindo que os indivíduos consumam uma dieta balanceada que atenda às suas necessidades nutricionais. Isso pode ajudar a prevenir doenças crônicas, como diabetes, doenças cardíacas e obesidade, que são prevalentes nessa população. 

Notou-se que existem diversos métodos de fornecer educação alimentar nutricional em centros de atenção psicossocial. Aulas e demonstrações de culinária podem ser uma maneira eficaz de ensinar as pessoas a preparar refeições e lanches saudáveis. Oficinas e seminários de nutrição podem fornecer informações sobre os benefícios de uma dieta balanceada e como fazer escolhas alimentares saudáveis. O planejamento de refeições e a orientação sobre compras de supermercado também podem ser úteis para garantir que os indivíduos tenham acesso a opções de alimentos saudáveis. Esses métodos podem ser adaptados às necessidades e preferências específicas dos indivíduos no centro de atendimento.

Dessa forma, a implementação da EAN em centros de atendimento psicossocial pode ser um desafio devido ao financiamento e recursos limitados. Também pode ser difícil fornecer aos funcionários o treinamento e a educação necessários para fornecer uma educação alimentar nutricional eficaz. Além disso, a acessibilidade e disponibilidade de opções de alimentos saudáveis ​​podem ser uma barreira em algumas áreas. 

No entanto, existem soluções para esses desafios. A colaboração com organizações comunitárias e empresas locais pode fornecer recursos e suporte adicionais. Fornecer treinamento e educação contínuos para a equipe, pode garantir que eles estejam preparados para fornecer educação alimentar nutricional eficaz. Por fim, defender políticas que promovam opções de alimentação saudável e acessibilidade, pode ajudar a abordar a questão da disponibilidade limitada.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Saúde Mental no SUS: Os centros de Atenção Psicossocial. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004, p. 9. Disponível em:http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf. Acesso em: 25 de agosto de 2021.

CAMPOS, M. G. S.; SANTO, T. D. O. C. G.; MENDONÇA, X. M. F. D.; DE SÁ, N. N. B.; DA SILVA, G. M.; SOUSA, L. B. V.; MARTINS, J. Atuação de discentes e profissionais de nutrição na promoção de alimentação saudável em um Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e drogas. IJHE-Interdisciplinary Journal of Health Education, v. 6, n. 1, 2021. 

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1Discente no Centro Universitário CESMAC, Maceió, AL.
2Docente no Centro Universitário CESMAC, Maceió, AL. 
3Docente no Centro Universitário Tiradentes, Maceió, AL.
4Docente na Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Maceió, AL. 
5Docente na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), Maceió, AL.
6Docente no Programa de Pós-Graduação em Saúde da Família da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (PPGSF/RENASF/FIOCRUZ) nucleadora UNCISAL, Maceió, AL.