AVALIAÇÃO DO GRAU DE ANSIEDADE EM ESTUDANTES DE MEDICINA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

ASSESSMENT OF THE DEGREE OF ANXIETY IN MEDICAL STUDENTS: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8060714


Felipe Alves Gomes1
Iran Higino Costa dos Santos Júnior2
Vitor Augusto Pereira Geromel3
Víthor Mella Soares Pessôa4
Tatiana Rocha dos Santos5


RESUMO

Esta revisão sistemática visou compreender o grau de ansiedade em estudantes de medicina em diferentes contextos, avaliando e mensurando a prevalência deste transtorno por meio da análise de estudos pertinentes ao tema. Utilizou-se a base de dados PubMed para a seleção de artigos, empregando termos-chave relativos à ansiedade e estudantes de medicina. Dos artigos apreciados, cinco são particularmente relevantes para a temática em estudo, abrangendo os estudantes de medicina no Brasil, Paquistão, Oriente Médio, China e Alemanha. As análises mostram que a ansiedade é uma condição comum entre os discentes, sendo intensificada por fatores como estudo em tempo integral, pressão acadêmica, temor de falhas, reflexões quanto à trajetória profissional e estresse originado das atividades clínicas. Este estudo, entretanto, se limita pela exclusão de fontes bibliográficas mais amplas, tais como livros, periódicos e teses, apesar de reconhecer a importância da ansiedade no ambiente acadêmico e clínico dos estudantes de medicina. Portanto, sugere-se a necessidade de estratégias de intervenção direcionadas ao bem-estar emocional dos estudantes, a fim de fomentar uma formação médica mais saudável.

Palavras-chave: Ansiedade; Avaliação; Estudantes de medicina; Sobrecarga acadêmica.

ABSTRACT

This systematic review aimed to understand the degree of anxiety in medical students in various contexts, by evaluating and measuring the prevalence of this disorder through the analysis of pertinent studies. The PubMed database was used for the selection of articles, employing key terms related to anxiety and medical students. Of the articles reviewed, five are particularly relevant to the topic, covering medical students in Brazil, Pakistan, the Middle East, China, and Germany. The analyses indicate that anxiety is a common condition among students, being intensified by factors such as full-time study, academic pressure, fear of failure, reflections on career trajectory, and stress stemming from clinical activities. This study, however, is limited by the exclusion of broader bibliographic sources, such as books, journals, and theses, despite recognizing the importance of anxiety in the academic and clinical environment of medical students. Therefore, it is suggested the need for intervention strategies aimed at the emotional well-being of students, in order to foster a healthier medical education.

Keywords: Anxiety; Assessment; Medical students; Academic overload.

INTRODUÇÃO

A ansiedade é uma resposta emocional padrão a situações que representam desafios ou ameaças. Quando exacerbada e desproporcional ao estímulo, torna-se patológica, interferindo na qualidade de vida do indivíduo (SERRA; DINATO; CASEIRO, 2015). Não tratado e pode levar a outros transtornos ansiosos, como a depressão, com alta incidência global, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

O Brasil, apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos países mais ansiosos do mundo, evidencia a ansiedade como uma questão de saúde pública emergente. Particularmente, o ambiente acadêmico, notadamente no curso de medicina, apresenta um nível de estresse peculiarmente elevado, intensificando a prevalência de ansiedade e potencialmente afetando o desempenho e o bem-estar psicológico dos futuros médicos (LEAL et al., 2010).

De acordo com Vasconcelos et al. (2014), 15% a 25% dos universitários enfrentam algum transtorno psiquiátrico durante a formação, com destaque para a depressão e ansiedade. A população acadêmica de medicina apresenta maior incidência desses transtornos, agravados pela intensidade da adesão e fatores associados, como a rotina integral de estudos, carga horária, interação com professores e pacientes, e preocupações com o futuro (SANTOS et al., 2017).

Estudos demonstraram que os desafios enfrentados por esses estudantes receberam alto grau de estresse, representando riscos à saúde mental dessa população (Leão, Gomes, Ferreira, & Cavalcanti, 2018). Entre as causas da ansiedade, destacam-se o processo de adaptação ao contexto de estudo, ritmo de aprendizagem, distância de familiares e responsabilidades correlatas (Fernani et al., 2017).

Dada a prevalência da ansiedade entre os estudantes da área da saúde e fortalecimento de estudos comparativos realizados em contextos diversos, esta revisão sistemática proposta-se a:

Geral:

– Conhecer os níveis de ansiedade apresentados em diferentes grupos de estudantes de medicina no Brasil, Paquistão, Oriente Médio, China e Alemanha.

Específicos:

– Elencar as causas apontadas como recorrentes e responsáveis pelos níveis de ansiedade verificados nos diferentes estudos analisados;

– Identificar as medidas de enfrentamento sugeridas.

MÉTODO

A presente pesquisa consiste em uma revisão sistemática da literatura, um estudo secundário que aplica uma metodologia rigorosa para identificar, avaliar e interpretar as evidências disponíveis acerca de um tópico específico (Camilo & Garrido, 2019). Trata-se de um estudo retrospectivo, pois é cuidado após a publicação de uma série de trabalhos sobre o tema, utilizando procedimentos explícitos e sistemáticos para a pesquisa, avaliação crítica e síntese das informações selecionadas.

A coleta de dados foi realizada em bases de dados eletrônicos, especificamente na PubMed, utilizando palavras-chave pertinentes à ansiedade, avaliação e estudantes de medicina. Os estudos incluídos na revisão foram selecionados com base em critérios pré-definidos, tais como a utilização de instrumentos de avaliação, foco na população de estudantes de medicina e presença de ansiedade. O período estabeleceu para a busca na base de dados compreendia estudos publicados entre 2019 e 2023.

A busca inicial restringiu 98 artigos, que, após a associação dos termos, foram reduzidos a 28. Desses, foram selecionados os 11 que apresentavam maior controle ao tema proposto, elaborado em uma amostra final de cinco artigos. Uma análise detalhada desses trabalhos buscou responder à pergunta de pesquisa: Quais os níveis e a prevalência de ansiedade entre estudantes de medicina no Brasil, Paquistão, Oriente Médio, China e Alemanha e quais as causas mais frequentemente associadas a este fenômeno?

Resultados

Figura 01 – Apresenta o fluxo de seleção das publicações

Fonte: Próprio autor

Quadro 01 – Resumo das principais informações obtidas nos artigos selecionados

Quadro 01 – Resumo das principais informações obtidas nos artigos selecionados

AUTOR(ES)/ANOMETODOLOGIAOBJETIVOSRESULTADOS 
Perotta B, Arantes-Costa FM, Enns SC, Figueiro-Filho EA, Paro H, Santos IS,Lorenzi-Filho G, Martins MA, Tempski PZ. Sleepiness, sleep deprivation, qualityof life, mental symptoms and perception of academic environment in medicalstudents. BMC Med Educ. 2021 Feb 17;21(1):111. doi: 10.1186/s12909-021-02544-8.PMID: 33596885; PMCID: PMC7890911.Estudo multicêntrico com 22 escolas médicas brasileiras.avaliar a relação entre privação de sono e qualidade de vida, percepção do ambiente acadêmico e sintomas de depressão e ansiedade.Estudantes de medicina com mais privação de sono apresentaram maiores probabilidades de apresentar sintomas de ansiedade e depressão e menores chances de boa qualidade de vida.
Zafar R, Raheel M, Mujtaba MA, Mahmood R, Nawaz MU, Kumar B. Prevalence ofanxiety and depression in medical students of a public sector medical college inIslamabad and coping mechanisms adopted. J Pak Med Assoc. 2022Mar;72(3):540-543. doi: 10.47391/JPMA.2107. PMID: 35320240.Estudo transversal baseado em um questionário foi realizado em uma população de 500 estudantes de medicina da Faculdade Federal de Medicina e Odontologia, Islamabad, Paquistão.Conhecer a frequência de ansiedade e depressão em estudantes de medicina e vários mecanismos de enfrentamento adotados por eles para lidar com ansiedade e depressão.O estudo observou que a prevalência de ansiedade e depressão entre estudantes de medicina foi de 57,57% dos alunos observados.
Batais MA, Temsah MH, AlGhofili H, AlRuwayshid N, Alsohime F, Almigbal TH,Al-Rabiaah A, Al-Eyadhy AA, Mujammami MH, Halwani R, Jamal AA, Somily AM. Thecoronavirus disease of 2019 pandemic-associated stress among medical students inmiddle east respiratory syndrome-CoV endemic area: An observational study.Medicine (Baltimore). 2021 Jan 22;100(3):e23690. doi:10.1097/MD.0000000000023690. PMID: 33545936; PMCID: PMC7837988.Estudo transversal com estudantes de medicina no Oriente Médio.avaliar o nível de estresse e fatores de risco entre estudantes de medicina e internos durante a pandemia de COVID-19 no cenário da área endêmica da síndrome respiratória do Oriente Médio.Dois terços (62,4%) dos alunos apresentaram ansiedade leve, (23,9%) ansiedade moderada (6,8% ) apresentou nível de ansiedade clinicamente alto e outro (6,8%) apresentou nível de ansiedade clinicamente muito alto.
Wang J, Yang C, Wang J, Sui X, Sun W, Wang Y. Factors affecting psychologicalhealth and career choice among medical students in eastern and western region ofChina after COVID-19 pandemic. Front Public Health. 2023 Mar 8;11:1081360. doi:10.3389/fpubh.2023.1081360. PMID: 36969619; PMCID: PMC10030719.Estudo observacional transversal em Universidades chinesas.Descobrir contramedidas superiores que melhoram a saúde psicológica e melhoram a qualidade do emprego para estudantes de medicina na China na era pós-epidêmica.A ansiedade entre os alunos das universidades ocidentais da China foi maior do que nas universidades do leste da China (30,4% vs. 22,0%), mas não houve diferenças nas ocorrências de estresse (11,4% vs. 13,4%), depressão (28,7% vs. 24,5%).
Guse J, Weegen AS, Heinen I, Bergelt C. Mental burden and perception of thestudy situation among undergraduate students during the COVID-19 pandemic: across-sectional study and comparison of dental and medical students. BMJ Open.2021 Dec 1;11(12):e054728. doi: 10.1136/bmjopen-2021-054728. PMID: 34853110;PMCID: PMC8637311.Estudo observacional, transversal em uma grande escola de medicina na Alemanha.Investigar os níveis de angústia, depressão, ansiedade, estresse e percepção de sua situação atual de estudo durante a pandemia de COVID-19 entre estudantes de graduação em odontologia e medicina.Uma proporção considerável de alunos (t1: maio de 2020: 84,1%; t2: julho de 2020: 77,3%) relatou níveis de angústia acima do limite. Em julho de 2020, os estudantes de odontologia relataram pontuações de sofrimento mais altas do que os estudantes de medicina. 
Fonte: Organizado pelo próprio autor com base nos artigos analisados

Discussão

O estudo da ansiedade em estudantes de medicina é um tema bastante recorrente e tem recebido atenção significativa na literatura acadêmica. Esse interesse e busca por informações sobre os fatores que rodeiam o tema em questão tem sido marcante não apenas entre pesquisadores brasileiros, mas também entre estudiosos de diversos países pelo mundo. Devido à natureza desafiadora e exigente do curso de medicina, muitos pesquisadores têm se interessado em investigar os níveis de ansiedade, os fatores relacionados e os impactos na saúde mental dos estudantes.

Esses estudos geralmente avaliam a prevalência da ansiedade entre estudantes de medicina, os fatores que contribuem para sua manifestação, como sobrecarga acadêmica, competição, pressão social e autoexigência, e também os efeitos negativos na saúde mental e bem-estar dos estudantes. Além de avaliar a prevalência, algumas pesquisas também têm objetivado identificar estratégias de enfrentamento e intervenções eficazes para reduzir a ansiedade e promover o bem-estar dos estudantes de medicina.

Um dado que justifica o interesse de investigação do assunto pode ser observado, por exemplo, no resultado que uma revisão sistemática de 2016, que analisou 77 estudos com um total de 62.728 estudantes de medicina incluídos, realizada pela National University of Singapore apontou que a prevalência global é de 28% de depressão em estudantes de medicina. (Puthran et al., 2016). Muitos outros estudos voltados para o tema tem apresentado resultados semelhantes, ou apresentam variações conforme os instrumentos e escalas adotados. Porém, a prevalência da ansiedade no universo acadêmico da medicina em todo o mundo é uma variavel reiterada por todos.

Quanto as causas mais comuns entre os estudos analisados poderíamos citar as que se apresentam como recorrentes entre as pesquisas voltadas para avaliar os níveis de ansiedade e suas causas relacionadas. Entre elas estão:

1. Pressões da rotina acadêmica: Os estudantes de medicina enfrentam uma carga de trabalho intensa, com uma quantidade significativa de informações para aprender e uma pressão constante para obter sucesso acadêmico. Além disso, a responsabilidade de cuidar da saúde e bem-estar de outras pessoas no futuro pode se tornar um elemento gerador de ansiedade adicional sobre a saude dos futuros profissionais.

2. Constante exposição a situações estressantes: É comum que durante a formação médica, os estudantes vivenciem situações estressantes, como a necessidade de tomar decisões rápidas e importantes em situações de emergência, lidar com patologias e, muitas vezes, o sofrimento dos pacientes. Situações dessa natureza podem aumentar os níveis de ansiedade.

3. Desequilíbrio entre vida acadêmica e pessoal: Considererando o extenso currículo dos cursos de medicina, a falta de tempo para atividades de lazer, hobbies e relacionamentos pessoais pode também levar ao estresse e ansiedade. A necessidade de dedicação intensa ao estudo e à carreira médica pode levar a um desequilíbrio que acabe por afetar a saúde mental desses estudantes.

Um elemento que foi considerado como uma das causas da ansiedade em níveis mais acentuados entre estudantes de medicina no primeiro estudo sintetizado no quadro resumo dos artigos analisados foi a qualidade do sono. Estudantes de medicina que relataram mais privação de sono apresentaram probabilidades significativamente maiores de apresentar sintomas de ansiedade e depressão e menores chances de boa qualidade de vida ou percepção do ambiente educacional. Privação de sono e sonolência diurna estão associadas a pior percepção de qualidade de vida e ambiente educacional e sintomas de depressão e ansiedade em estudantes de medicina.( PERROTTA., 2021).

Essa informação é o resultados de um estudo multicêntrico com 22 escolas médicas brasileiras, que buscou avaliar a relação entre privação de sono e qualidade de vida, percepção do ambiente acadêmico e sintomas de depressão e ansiedade. O estudo defende que mudanças curriculares que incluam redistribuição de atividades acadêmicas, orientação individual para atividade de tutoria, programas de promoção da saúde e horas protegidas para estudo e lazer são estratégias válidas para auxiliar o aluno na gestão de seu tempo, o que indiretamente pode melhorar seu aprendizado. Iss permitirá que possam dormir melhor e diminuir a sonolência diurna, melhorando a qualidade de vida do estudante de medicina. .( PERROTTA Et al., 2021).

O segundo estudo buscou investigar a frequência de ansiedade e depressão em estudantes de medicina e os vários mecanismos de enfrentamento adotados por eles para lidar com ansiedade e depressão.Esse estudo transversal foi realizado em uma população de 500 estudantes de medicina da Faculdade Federal de Medicina e Odontologia, em Islamabad, Paquistão. Além de avaliar o nível de ansiedade entre os estudantes no contexto citado, o estudo buscou verificar que mecanismos foram disponibilizados por esses estudantes como estratégia de enfrentamento do problema. 

O estudo revelou que 57,57% dos estudantes de medicina da FMDC sofriam de ansiedade e depressão. A religião e a autoculpa foram os mecanismos de enfrentamento mais usados ​​por esses alunos. A alta incidência de mecanismos de enfrentamento negativos, como autoculpabilização, autodistração e desabafo, justifica a necessidade de educar e orientar adequadamente os estudantes de medicina sobre o uso de mecanismos de enfrentamento positivos para lidar com a ansiedade e a depressão. (ZAFAR Et al., 2022).

O estudo seguinte avaliou o nível de estresse e fatores de risco entre estudantes de medicina e internos durante a pandemia de COVID-19 no cenário da área endêmica da síndrome respiratória do Oriente Médio. Este estudo considerou, além dos fatores comuns à rotina dos estudantes de medicina, o contexto da pandemia de COVID-19. De acordo com a pesquisa, Dois terços (62,4%) dos alunos apresentaram ansiedade leve, (23,9%) ansiedade moderada (6,8% ) apresentou nível de ansiedade clinicamente alto e outros (6,8%) apresentou nível de ansiedade clinicamente muito alto.

Como é possivel observar, a  maioria dos alunos relatou níveis leves a moderados de ansiedade e foi associada ao aprimoramento de suas medidas de precaução universal. A disponibilidade de desinfetantes para as mãos à base de álcool e o estudo fora do campus foram grandes alívios. A importância de recursos pandêmicos confiáveis ​​na educação dos alunos durante as pandemias é enfatizada. Além disso, este estudo indica a importância dos serviços de apoio aos alunos para abordar a saúde mental e o bem-estar dos alunos na era das pandemias.( BATAIS Et al., 2021).

O quarto estudo analisado foi realizado em universidades chinesas e buscou identificar contramedidas superiores que melhoram a saúde psicológica e melhoram a qualidade do emprego para estudantes de medicina na China na era pós-epidêmica. O referido estudo aponta que ansiedade entre os alunos das universidades ocidentais da China foi maior do que nas universidades do leste da China (30,4% vs. 22,0%), mas não houve diferenças nas ocorrências de estresse (11,4% vs. 13,4%), depressão (28,7% vs. 24,5%). 

O estudo conclui que o COVID-19 pode levar estudantes de medicina com problemas psicológicos a ter uma atitude negativa em relação ao futuro emprego. De forma encorajadora, várias atividades, a saber, consideração proativa do emprego, participação em palestras de treinamento de planejamento de carreira e ajuste oportuno do planejamento de carreira, foram benéficas para a identidade profissional dos estudantes de medicina.( WANG Et al., 2023).

O quinto estudo analisado foi realizado em uma grande escola de medicina na Alemanha. O objetivo foi Investigar os níveis de angústia, depressão, ansiedade, estresse e percepção de sua situação atual de estudo, também desenvolvido durante a pandemia de COVID-19, entre estudantes de graduação em odontologia, turma 1 (t1), e medicina, turma 2 (t2). 132 alunos participantes do primeiro ano (44 odontológicos, 88 médicos) da primeira pesquisa e 150 alunos (50 odontológicos, 100 médicos) da segunda foram incluídos nas análises realizadas em maio e julho de 2020. 

Os resultados apontaram que uma proporção considerável de alunos (t1: maio de 2020: 84,1%; t2: julho de 2020: 77,3%) relatou níveis de angústia e estresse acima do limite. Mais estudantes de odontologia do que de medicina relataram níveis leves, moderados e graves de sintomas de ansiedade e depressão. 

A maioria afirmou que sua saúde mental e motivação para estudar não mudaram durante a pandemia. O estudo tambem mostrou que ser um estudante de odontologia foi significativamente associado a uma maior probabilidade de preocupações sérias em relação à situação do estudo durante o COVID-19. Para os estudantes de medicina, a maior angústia foi significativamente associada a uma maior probabilidade de experimentar preocupações sérias relacionadas à profissão. (GUSI Et al., 2021).

A partir da revisão apresentada, é possível afirmar que a ansiedade está frequentemente presente na vida dos acadêmicos de medicina em todos os contextos que se possa avaliar no planeta. Além disso, a ansiedade geralmente está acompanhada de outras patologias relacionadas a saúde mental, entre os quais pode-se relacionar quadros depressivos como: Burnout, estresse, depressão, e outros. Os fatores de risco como os elencados na análise também são elementos desencadeadores dos transtornos de ansiedade. 

As informações provisoriamente elencadas nessa análise apontam para a necessidade de aprimoramento das condições de atendimento à saúde mental dos estudantes de medicina como um exigência comprovada pelos índices constantes nas bibliografias analisadas. Outra questão a se considerar é que ações de prevenção e enfrentamentos dos níveis de ansiedade entre os estudantes devem ser estudadas, planejadas e oferecidas a esses profissionais pelas instituições de ensino, uma vez que o cuidado à saúde também deve ser voltado aos que se dedicam a essa tarefa imprescindível de proteger a vida.

Por outro lado, é necessário também que os estudantes de medicina sejam sensíveis ao problema e se disponham a buscar ajuda. Estudos apontam que uma das dificuldades dos cuidados psiquiátricos para o referido público é o fato de que eles geralmente ignoram e não procuram ajuda médica para seus problemas. Os números indicam que apenas entre 8% a 15% deles procuram cuidado psiquiátrico durante a sua formação. A justificativa apresentada apresenta algumas razões como: falta de tempo, estigma associado à utilização de serviços de saúde mental, custos e medo das consequências para os estudos. (VASCONCELOS, 2015).

Esse comportamento é reiterado por Costa (2020), ao abordar que apesar da grande prevalência de sofrimento psíquico e/ou transtornos mentais entre os estudantes, poucos procuram apoio psicológico. Os fatores citados pelo autor apontam a falta de tempo, dificuldades de acesso aos profissionais de saúde mental, estigma em relação à doença mental e alto custo do tratamento como dificuldades citadas pelos estudantes pesquisados.

Considerando que o tratamento precoce e adequado de uma patologia pode significar a superação do problema, é necessário que esse comportamento de ignorar os sinais de ansiedade seja também reconsiderado pelos estudantes da saúde, visto que Segundo Silva (2017) a detecção precoce dos grupos de risco e dos fatores estressantes é essencial para o tratamento e a manutenção da saúde psíquica dos estudantes. Esse cuidado é importante porque a ocorrência de distúrbios de humor e ansiedade ainda na graduação, quando não detectada e adequadamente tratada, pode se perpetuar ou agravar durante a residência médica e na atividade profissional (BARBOSA, 2020).

Conclusão

A presente revisão fornece evidências sólidas de uma realidade incontornável: a ansiedade entre estudantes de medicina é um fenômeno global, que requer atenção de instituições de ensino médico no Brasil e ao redor do mundo. Uma revisão sobre cinco artigos indexados na base de dados PubMed, no período de 2019 a 2023, focando na avaliação da prevalência de ansiedade entre estudantes de medicina.

Os resultados reafirmam a alta incidência de transtornos de ansiedade nesse grupo e a necessidade urgente de ações, não somente para estimular mais pesquisas no tema, mas também para desenvolver e implementar estratégias efetivas para enfrentar esta questão no ambiente acadêmico. Tais estratégias visariam a mitigar o impacto deste problema de saúde que afetaria os futuros profissionais da saúde.

É crucial que a comunidade médica e as instituições educacionais reconheçam estes desafios e se mobilizem para implementar medidas preventivas e terapêuticas, com o objetivo de proteger e melhorar a saúde mental dos estudantes de medicina. O comprometimento em relação a esta causa não é somente uma questão de promover o bem-estar entre os discentes, mas também de garantir a formação de médicos resilientes e capacitados para lidar com as pessoas inerentes à profissão.

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1Graduando em Medicina pela Universidade Federal do Aamazonas – UFAM

2Graduando em Medicina pela Universidade Federal do Aamazonas – UFAM

3Graduando em Medicina pela Universidade Federal do Aamazonas – UFAM

4Graduando em Medicina pela Universidade Federal do Aamazonas – UFAM

5Graduando em Medicina pela Universidade Federal do Aamazonas – UFAM