A AUTOMEDICAÇÃO RELACIONADA AOS MEDICAMENTOS INSENTOS DE PRESCRIÇÃO MÉDICA (MIPS): UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8014647


Karla Meyrele Dos Santos Costa1
Orientador: Prof. Dr. Saulo José Figueiredo Mendes2
Izabel Cristina Portela Bogéa Serra3


RESUMO

INTRODUÇÃO: Os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) são definidos como medicamentos que têm aprovação pela agência sanitária, sendo direcionados a terapêutica de males considerados como menores e que podem ser comercializados sem a necessidade de prescrição médica. Os MIPs são também denominados como de venda livre ou OTC, do inglês (Over, the counter) que a tradução é “sobre o balcão”. Esses medicamentos apresentam segurança e eficácia, porém por serem isentos de prescrição devem ser utilizados com cautela e sua dispensação deve ser acompanhada com a devida orientação de um profissional habilitado, pois esses medicamentos podem provocar danos à saúde quando usados de forma inadequada e indiscriminada.

OBJETIVOS: Analisar a importância da orientação farmacêutica na automedicação de MIPs.

MÉTODOS: Trata-se de uma revisão de literatura, as buscas de estudos foram coletadas nas bases de dados do Google Acadêmico e SCIELO. Para identificar os artigos foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: “MIPS”; “automedicação” “atenção farmacêutica”. Foram contemplados artigos no idioma português e disponíveis na íntegra, datados entre 2020 a 2022.

RESULTADOS: A busca eletrônica nas referidas bases de dados retornou um total de 176 artigos, no qual apenas 10 foram incluídos nesta revisão integrativa. Identificou-se através dos estudos que os MIPs apesar de serem regulados, podem causar impactos à saúde humana, especialmente quando a população desconhece os efeitos adversos envolvendo a terapeuta medicamentosa. Os MIPs mais utilizados no Brasil são os anti-inflamatórios, analgésicos e antitérmicos. É importante destacar ainda que os efeitos adversos relacionados ao uso indiscriminado de MIPS são: intoxicação; piora dos sintomas; dependência; intoxicações; diagnóstico inadequado e hipersensibilidade.

CONCLUSÃO: Identificou-se através desta revisão integrativa que o farmacêutico é um promotor da saúde que auxilia ao usuário na automedicação do seu tratamento de maneira efetiva, garantindo uma terapia correta perante as doenças. Assim o papel do farmacêutico é relevante na automedicação relacionada aos MIPs devido à importância de fornecer orientações s corretas sobre o uso de medicamentos para promover a saúde e o bem-estar do paciente.

Palavras-chaves: MIPs. Automedicação. Atenção Farmacêutica.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Over-the-counter drugs (OTC) are defined as drugs that are approved by the health agency, and are intended for the treatment of minor ailments that can be sold without the need for a medical prescription. MIPs are also called overthe-counter or OTC, from the English (Over, the counter) that the translation is “on the counter”. These drugs are safe and effective, but because they are non-prescription they must be used with caution and their dispensing must be accompanied by the proper guidance of a qualified professional, as these drugs can cause damage to health when used inappropriately and indiscriminately.

OBJECTIVES: To analyze the importance of pharmaceutical guidance in the selfmedication of MIPs.

METHODS: This is a literature review, the searches for studies were collected in the databases: Google Scholar e SCIELO. To identify the articles, the following keywords were used: “MIPS”; “self-medication” “pharmaceutical care”. Articles in Portuguese and available in full, dated between 2020 and 2022, were contemplated.

RESULTS: The electronic search in these databases returned a total of 176 articles, of which only 10 were included in this integrative review. It was identified through the studies that the MIPs, despite being regulated, can cause impacts on human health, especially when the population is unaware of the adverse effects involving the drug therapist. The most used MIPs in Brazil are anti-inflammatories, analgesics and antipyretics. It is also important to highlight that the adverse effects related to the indiscriminate use of MIPS are: intoxication; worsening of symptoms; dependency; intoxications; misdiagnosis and hypersensitivity.

CONCLUSION: It was identified through this integrative review that the pharmacist is a health promoter who assists the user in the self-medication of his treatment in an effective way, guaranteeing a correct therapy in the face of diseases. Thus, the role of the pharmacist is relevant in self-medication related to MIPs due to the importance of providing correct guidance on the use of medications to promote the health and wellbeing of the patient.

Keywords: MIPs. Self-medication. Pharmaceutical attention.

1 INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a automedicação como a seleção e uso de medicamentos para tratar sintomas ou doenças reconhecidas sem o aconselhamento de um médico, incluindo o uso ou reutilização de medicamentos previamente prescritos, compra direta de medicamentos prescritos, e uso imprudente de medicamentos de venda livre, uma situação preocupante em todo o mundo. A automedicação é definida como a ingestão de um medicamento por conta própria ou por iniciativa de uma pessoa não qualificada clinicamente (OMS, 2017).

Essa prática muitas vezes é realizada de forma inadequada, um termo usado quando as pessoas tomam seus medicamentos de forma irresponsável. Isso envolve tomar medicamentos de venda livre ou de prescrição antiga, prescrever para outras doenças e até mesmo compartilhá-los com outras pessoas, o que é um perigo para a própria saúde e a saúde dos outros (MAGALHÃES et al., 2021). Além disso, autodiagnóstico errado, opções de tratamento erradas, vários efeitos colaterais causados por medicação errada, ingestão de vários medicamentos e até mesmo interações com determinados alimentos, sem falar na dosagem e administração errada, trazem risco de dependência (OLIVEIRA, 2021).

Os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) são medicamentos que precisam da autorização sanitária para serem comercializados nos autos serviços nas farmácias e drogarias, são utilizados para tratar os problemas autolimitados e não é obrigatório prescrição médica para serem dispensados, pois apresentam segurança e eficácia quando são utilizados conforme as orientações descritas nas bulas e rótulos (MARINHO; MEIRELES, 2021).

De acordo com a ANVISA (2016), um medicamento deve ter características para ser considerado MIP deve ser: Para o tratamento de patologias não graves que apresentam evolução lenta ou inexistente. Além de ter um menor potencial de toxicidade e interações medicamentosas, podem apresentar reações adversas. Quando o medicamento for de uso profilático, o MIP deve ser usado por curto período de tempo ou pelo tempo descrito na bula, pois não há MIP para uso contínuo. O MIP precisa ser um medicamento com risco potencial mínimo para o paciente e sem dependência química e psiquiátrica (DOMINGUES et al., 2017).

Para medicamentos comercializados como medicamentos de venda livre, a OMS estabeleceu critérios relacionados a benefícios e riscos; eficácia bem caracterizada e incidência de reações adversas; absorção, metabolismo e excreção de medicamentos não devem ser afetados por outros medicamentos comumente usados. Além disso, deve-se avaliar o risco da droga em uma população específica de pacientes; baixo risco de mascaramento de sintomas levando a atraso no diagnóstico e tratamento correto; potencial de abuso e baixa dependência (POSSAGNO, 2015).

Segundo Conselho Federal de Farmácia (2019) os MIPs configuram 31% do mercado farmacêutico. Ainda, os medicamentos mais vendidos dessa categoria são para tratamentos de dor, febre, gripes e resfriados, além de problemas gastrointestinais. Destaca-se também que os estados brasileiros que mais vendem os MIPs são: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia.

Ademais, segundo o Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (IPPMF) que emitiu uma Pesquisa de Automedicação realizada em 2022, identificou-se que 82% da população brasileira se automedicam. Há oito anos, o ICTQ identificou que 76% da população declarava se automedicar sem qualquer reserva. Em 2016, esse índice variou para 72%; em 2018 cresceu para 79%, e em 2020 subiu para 81%. Em 2022, a investigação entrevistou 2.099 pessoas, em 151 municípios (IPPMF, 2022).

Entendendo esta realidade, é de suma importância a articulação entre os profissionais Farmacêuticos, de modo a enfatizar os riscos e cuidados necessários sobre a automedicação, especialmente, em relação aos MIPs, tendo em vista que apesar de serem liberados, é necessário o controle e ações estratégias que ampliem o conhecimento sobre as terapêuticas (CFF, 2019).

Face o exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a automedicação dos MIPs, seus principais riscos e agravos, além de destacar a importância da orientação farmacêutica na redução da automedicação dessa classe de medicamentos. Para tanto, a pesquisa tratou-se de uma revisão integrativa a partir de artigos e dissertações disponibilizados na íntegra na base da Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico, a fim de coletar informações pertinentes à temática.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo desenvolveu-se por meio de uma revisão bibliográfica, de caráter qualitativo e descritivo a fim de conhecer e entender as estruturas e funcionalidade da realidade a ser pesquisada viabilizando assim que os objetivos da pesquisa sejam alcançados. Dessa maneira, ocorreu a análise de literatura específica referente a automedicação no uso de medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs).

Destacando as evidencias cientificas disponíveis entre 2020 e 2022, período necessário para entender aspectos gerais e conceituais referentes. A verificação da base de dados bibliográficos realizou-se através de livros específicos, bem como bases eletrônicas do Google Acadêmico e SCIELO utilizando as palavraschave: “MIPs” “Automedicação”. “Atenção Farmacêutica”.

Foram considerados como critérios de inclusão artigos e trabalhos disponíveis na íntegra no idioma português com busca em bases nacionais, com disponibilidade online e gratuita, e publicados entre 2020 e 2022, considerando as palavras chaves descritas anteriormente. Como critérios de exclusão, foram descartados artigos duplicados e os que não dizem respeito ao tema que abordado.

Para a análise de dados foi necessária uma leitura exploratória de todo o material utilizado e posteriormente uma leitura seletiva, além de analisar os registros de informações obtidos nos artigos selecionados, como por exemplo, os resultados e discussões encontrados, destaca-se que a pesquisa foi submetida a uma leitura analítica a partir de uma análise descritiva.

  1. RESULTADOS

Com este estudo foi possível observar 363 artigos através das palavras-chaves descritas anteriormente, ao aplicar os filtros (data e idioma) 176 artigos foram pré-selecionados e após a leitura minuciosa dos títulos e resumos, 30 artigos foram incluídos para avaliação de elegibilidade, desses foram inclusos apenas 10 artigos (Quadro 1) como objetivo de estudo nesta pesquisa, selecionados pelos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidas como mostra o Fluxograma 1:

Fluxograma 1 – Fluxograma de coleta de dados

ProcedênciaTítulo do TrabalhoAutoresPeriódicoConsiderações relevantes do trabalho
Google AcadêmicoAvaliação do conhecimento de pacientes de uma Unidade de Atenção Primária à saúde acerca de medicamentos isentos de prescriçãoMagalhães, et al.,Brazilian Journal of Health Review, 2021.Com base nas respostas obtidas, observou-se que ainda existe muita desinformação a respeito dos Medicamentos Isentos de Prescrição, tanto em relação à sua definição quanto aos seus riscos
Google AcadêmicoA Importância do Farmacêutico na Automedicação e Ações de Educação em Saúde para Promoção do Uso Racional de MedicamentosOliveira, AKA.Departamento de Farmácia, Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte, Natal, 2021A partir da análise dos resultados pode-se perceber que a procura pela cura da enfermidade, pouco acesso a informação, sistema de saúde precário e de difícil acesso, excesso de propagandas sobre medicamentos são alguns dos fatores que levam ao uso indiscriminado de medicamentos. Enfim, é nítido a importância que o farmacêutico tem no ato da dispensação do medicamento e o quanto educação em saúde pode mudar vidas e prolongar o bem estar do indivíduo de forma continuada diminuindo e prevenindo agravos.
Google AcadêmicoA necessidade da prescrição farmacêutica de MIPs e os problemas automedicaçãoFernandes, EW. Silva, GC. Marquez, CO.Scire Salutis, 2022Identificou-se que a prescrição farmacêutica através dos MIPs é importante para preservação da saúde do utente, e evita os problemas ocasionados pelo uso inadequado de medicações, pois, se utilizados em dose inadequada ou ainda, foram consumidos enquanto outro medicamento estiver no organismo poderá ter o risco interação medicamentosa.
Google AcadêmicoPrevalência da automedicação entre usuários de uma farmácia no interior do ParanáOliveira, GG. Peder, LD.Investigação, Sociedade e Desenvolvimento, [S. l.] , v. 11, n. 14, pág. e348111436291, 2022Conclui-se que, a automedicação foi comum na população estudada devido à facilidade de acesso e inúmeros fatores influenciadores. 37 pessoas (74%). Quanto aos medicamentos mais usados, destacaram-se a dipirona, com 36 pessoas (72%) e o paracetamol, com 32 pessoas (64%). A automedicação foi comum na população estudada devido à facilidade de acesso e inúmeros fatores influenciadores.
Google AcadêmicoOs riscos da automedicação com medicamentos isentos de prescrição (MIPs) no BrasilSantos, STS. Alburquerque, NT. Guedes, JPM.Investigação, Sociedade e Desenvolvimento, [S. l.] , v. 11, n. 7, pág. e42211730493, 2022.Os MIPs usados do modo correto, configuram automedicação responsável. Contudo, esse processo só é permitido quando acompanhado da indicação farmacêutica, onde o profissional seleciona o MIP, para solucionar a queixa do paciente ou encaminhá-lo ao médico se houver necessidade, e prescrição farmacêutica, que visa promoção, proteção e recuperação da saúde.
Google AcadêmicoAtenção farmacêutica na automedicação de MIPSAlcântara, CGS. Andrade, LG.Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, 8(3), 638–645, 2022.Observou-se que o papel do farmacêutico é relevante contra a automedicação relacionada aos MIPs pela importância na orientação correta quanto ao uso de fármacos para promoção da saúde e o bem-estar do paciente com uma farmacoterapia racional.
Google AcadêmicoA importância da atenção farmacêutica na prevenção da automedicaçãoPassos, AR.Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 2022.Os dados revelaram que as classes farmacológicas mais envolvidas na automedicação estão os MIPs (Medicamentos Isentos de Prescrição) que se utilizados sem orientação adequada podem ocasionar riscos à saúde, como, intoxicações, interações medicamentosas, alergias, atraso de diagnóstico, reações adversas, gastos altos com internações hospitalares e até mesmo morbimortalidades.
Google AcadêmicoAs atribuições clínicas do farmacêutico na diminuição dos problemas relacionados aos medicamentos frente a automedicação por medicamentos isentos de prescrição comercializados em drogariasFilho et al.,Brazilian Journal of Science, 1(8), 24-32, 2022Os farmacêuticos têm uma responsabilidade profissional na prestação de serviços de alta qualidade para o paciente, portanto ele deve ter conhecimento atualizado da evidência para medicamentos sem tarja e estar preparado para discutir informações a respeito, contribuindo para as escolhas dos pacientes. A farmácia passou a configurar como um estabelecimento de saúde, aumentou assim o papel do farmacêutico como autoridade sanitária.
Google AcadêmicoCuidados farmacêuticos e o uso de Medicamentos Isento de Prescrição (MIPs)Guimarães, PHD. Pacheco, RP. Morais, YJ.Research, Society and Development, v. 10, n. 12, e485101220405, 2021Demonstram que o uso indiscriminado dos MIPs é elevadíssimo, podendo ocasionar uma séria de agravos a saúde e destacam ainda que é indispensável as informações referentes ao uso correto dos MIPs, dentre os principais riscos ocasionados pelo uso indiscriminado dos MIPs destaca-se a sobrecarga




causada ao fígado, rins e pulmões; infecções de pele e sangramentos estomacais.
Google AcadêmicoMedicamentos isentos de prescrição (MIP): o farmacêutico pode prescrever, mas ele sabe o que são?Mota et al.,Rev. OFIL·ILAPHAR vol.30 no.1 Madrid ene./mar. 2020Os dados encontrados indicam uma lacuna no conhecimento desses farmacêuticos em relação à categorização legal de medicamentos, a qual pode acarretar em implicações legais e em resultados clínicos negativos. Neste sentido, tornase essencial desenvolver estratégias, por meio de aprimoramentos e educação, visando suprir problemas de conhecimentos e condutas profissionais.
Quadro 1: Artigos utilizados nesta revisão integrativa

4 DISCUSSÃO

A partir da literatura elencada para esta revisão integrativa, notou-se que a automedicação ainda é uma realidade pertinente e que pode acarretar em sérios impactos à saúde humana. Desta forma, é imprescindível o amplo conhecimento do profissional farmacêutico acerca dos medicamentos isentos de prescrição (MIPs) (MAGALHÃES et al., 2021; OLIVEIRA, 2021).

Nos estudos realizados por Magalhães et al., (2021) a partir de uma pesquisa realizada em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde de um bairro da cidade de Fortaleza, no qual foram convidados a participar do estudo os pacientes que frequentaram a unidade durante o período de realização da pesquisa, a fim de identificar o nível de conhecimento destes frente ao uso de MIPs, identificou-se que o conhecimento sobre o uso de MIPs é insuficiente, ou seja, os participantes desconheciam à definição e os riscos de medicamentos, sendo os mais utilizados pelos usuários da Unidade a dipirona (22,8%), a associação orfenadrina + dipirona + cafeína (19,3%) e o paracetamol (12,3%).

Segundo Oliveira (2021) a falta de conhecimento sobre os MIPs está imbricada a um conjunto de fatores. A disponibilidade e a facilidade de acesso aos medicamentos de tarja vermelha (sem retenção de receita) é um aspecto relevante, uma vez que a ampliação dos níveis de disponibilidade e acesso potencializam o uso destes medicamentos, corroborando para que o paciente compre a medicação com maior facilidade. Ainda, a autora enfatiza que o sistema de saúde precário contribui de sobremaneira para a procura de MIPs e outros medicamentos. Destaca-se também o papel da mídia divulgando medicamentos sem nenhuma política regulatória e induzindo as pessoas a somente procurarem auxílio médico em caso de não desaparecimento dos sintomas, bem como a repetição de sintomas e a interrupção da dor/queixa à curto prazo.

Partindo dessa mesma perspectiva, Fernandes, Silva e Marquez (2022) os motivos da prática da automedicação foram: uso de medicamentos não prescritos por já ter feito uso do mesmo medicamento (73,6%); uso de medicamentos não prescritos de acordo com a disponibilidade do estabelecimento Farmácia (73,8%); uso de medicamento não prescrito por conhecer alguém que já usou o mesmo medicamento (35,5%); uso de medicamento não prescrito se o consumidor tiver acesso fácil ao mesmo (20,0%); e uso de medicamento não prescrito após leitura das instruções (32,1%) (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Fatores que influenciam a automedicação

Fonte: Fernandes, Silva e Marquez (2022).

Embora os MIPs sejam medicamentos relevantes para a minimização de

um processo sintomatológico relacionado a algum quadro clínico, é de suma importância o conhecimento sobre os riscos da automedicação, especialmente, acerca do uso prolongado, doses erradas e combinações errôneas (FERNANDES; SILVA; MARQUEZ, 2022). Dentre os riscos, destacam-se: piora dos sintomas; dependência; intoxicações; diagnóstico inadequado e hipersensibilidade; problemas hemorrágicos e hapatobiliares; anemia hemolítica e aplasia da medula (OLIVEIRA; PEDER, 2022).

Oliveira e Peder (2022) realizaram um estudo acerca da automedicação

entre pessoas em uma Farmácia no Paraná, os medicamentos isentos de prescrição médica mais utilizados foram os anti-inflamatórios, analgésicos e antitérmicos. Apesar de serem seguros, podem provocar reações adversas dependendo da posologia e o tempo de tratamento, causando riscos à saúde. Já os motivos para a busca por MIPs eram diversos, sendo a dor de cabeça a mais prevalente, seguido por gripes e resfriados. Já em relação aos MIPs mais vendidos estão a Dipirona (72%), o Paracetamol (64%), o Dorflex (56%), Cimegripe (50%) e Nimesulida (38%).

Santos, Alburquerque e Guedes (2022) seguem na mesma perspectiva ao

discorrem os riscos da automedicação de MIPs devem ser amplamente discutidos, especialmente quando tratam-se de grupos vulneráveis ou com outras comorbidades relevantes, Os autores enfatizam que pessoas que possuem doenças crônicas, como por exemplo a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) que utilizam MIPs antiinflamatórios pode contribuir para o aumento da mortalidade cardiovascular.

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) de venda livre relacionam-se com o maior risco de toxicidade gastrointestinal e insuficiência renal em pacientes idosos, estando associados com o surgimento de diversos eventos cardiovasculares e uma série de interações medicamentosas. Os AINES também estão imbricados a inibição da síntese renal de prostaglandinas e retenção de fluídos corporais, quando usado ao mesmo tempo com anti-hipertensivos, como, por exemplo, o uso associado de propranolol com ácido acetilsalicílico, resultando na perda do efeito antihipertensivo. O paracetamol usado juntamente com AINES ou analgésicos eleva o risco de efeitos renais, não devendo a dose indicada ser ultrapassada (SANTOS; ALBUQUERQUE; GUEDES, 2022; ALCÂNTARA; ANDRADE, 2022).

É nesta perspectiva que a Atenção Farmacêutica faz-se necessária. Os profissionais da Farmácia devem atuar ativamente no momento da aquisição dos MIPs, orientando corretamente os consumidores sobre as terapêuticas disponíveis e recomendáveis frente as queixas e demandas, orientando-os sobre a dose indicada, forma de uso, potenciais efeitos adversos e as contraindicações existentes (ALCÂNTARA; ANDRADE, 2022; PASSOS, 2022.).

As ações educativas que contemplem as diversas conjunturas sociais e econômicas dos usuários no âmbito das drogarias, ou seja, é neste cenário que a comunidade local irá buscar orientações e informações sobre os medicamentos. É pertinente destacar que, estes profissionais devem estar aptos em desenvolver um diálogo humanizado e social frente às demandas do paciente. Nesse sentido, a dispensação do medicamento não deve ser feita de forma mecânica e robótica. Esse processo deve ir além do aspecto técnico, tendo em vista, que as ações operativas contemplam todo o sistema de superação de doenças e enfretamentos a patologias diversas. Estas estratégias devem compor as políticas públicas sobre a saúde da comunidade, considerando a importância de discutir sobre a temática de forma objetiva e científica (PASSOS, 2022).

Desta forma, o direito a prescrição farmacêutica é garantido pela Resolução nº 586/2013, sendo dever do profissional da Farmácia realiza-la de modo consciente e responsável. Esta atuação permite que a automedicação seja alterada para uma indicação terapêutica, consequentemente promovendo o uso racional de medicamentos (FILHO et al., 2022).

A equipe farmacêutica dentro do estabelecimento das Farmácias, é dotada de capacidade cientifica e habilidades técnicas-operativas para ensinar e orientar sobre o uso correto de medicamentos, bem como, na importância da farmacoterapia para a obtenção de resultados positivos, além de estabelecer um diálogo e uma relação que permita estes a se sentirem seguros a expor suas dúvidas e medos sobre esta temática (GUIMARES; PACHECO; MORAIS, 2021).

Nesta perspectiva, a atuação dos farmacêuticos, pode garantir a efetivação e a promoção da saúde, na minimização de problemáticas acerca da ministração irregular de fármacos, bem como na possibilidade de ruptura de condutas indiscriminadas à saúde humana (MOTA, 2020).

5 CONCLUSÃO

Através desta revisão integrativa da literatura, identificou-se que os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) devem ser utilizados para problemas de saúde menores e autolimitados, uma vez que apresentam segurança e eficácia comprovada para estas situações. No entanto, verificou-se que ainda que não precisem de prescrições médicas, esses medicamentos podem ocasionar reações adversas, inefetividade terapêutica e interações medicamentosas, se não usado corretamente, trazendo prejuízos relevantes à saúde humana.

Nesta perspectiva, compreendeu-se que o farmacêutico é o profissional

habilitado, assegurado por Lei na promoção do uso seguro e racional dos MIPs, orientando os consumidores sobre posologia, modo de uso, possíveis interações e reações adversas, no sentido de minimizar problemas de saúde relacionados a automedicação. Assim, é de suma importância a atuação do Farmacêutico de modo a assegurar a qualidade de vida dos pacientes e ainda, contribuir com uma educação em saúde acerca das terapeutas medicamentosas.

REFERÊNCIAS

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Acesso em: 16 abr. 2023.


1Acadêmica do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.
2Docente do Curso de Farmácia, Universidade CEUMA.