RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTES DO CURSO DE MEDICINA SOBRE O PRIMEIRO CONTATO DOS ALUNOS COM O ELETROCARDIOGRAMA EM SALA DE AULA, DURANTE A MATÉRIA DE ELETROCARDIOGRAFIA EM PARNAÍBA, PIAUÍ.

EXPERIENCE REPORT OF MEDICAL STUDENTS ON THE STUDENTS’ FIRST CONTACT WITH THE ELECTROCARDIOGRAM IN THE CLASSROOM, DURING THE ELECTROCARDIOGRAPHY SUBJECT IN PARNAÍBA, PIAUÍ.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8017321


Luis Gustavo Caldas de Araújo1
Carlos Daniel Spindola Melo1
Igor de Oliveira Silva1
Vanessa Cristina de Castro Aragão Oliveira2
Marcio Braz Monteiro2


RESUMO 

O presente artigo tem como objetivo relatar o primeiro contato de alunos do curso de medicina com um eletrocardiograma utilizando a disciplina de eletrocardiografia. Mostrando a importância de métodos ativos para a apropriação do conhecimento sobre tal exame. Neste sentido, este relato vem demonstrar a importância do conhecimento morfofuncional do coração para a real compressão da funcionalidade do exame. Além disso, o conhecimento do eletrocardiógrafo para seu manuseio e o treinamento visual para analisar o eletrocardiograma e reconhecer patologias básicas que podem acometer tal sistema.

Palavras-chave: ECG. ECG com 12 derivações. Eletrocardiografia.

ABSTRACT

This article aims to report the first contact of medical students with an electrocardiogram using the discipline of electrocardiography. Showing the importance of active methods for the appropriation of knowledge about this exam. In this sense, this report demonstrates the importance of morphofunctional knowledge of the heart for the real compression of the functionality of the exam. In addition, knowledge of the electrocardiograph for its handling and visual training to analyze the electrocardiogram and recognize basic pathologies that can affect this system.

Keywords: ECG. ECG with 12 leads. Electrocardiography. 

1 INTRODUÇÃO

O eletrocardiograma pode ser caracterizado como uma das mais importantes ferramentas de diagnóstico e estabelecimento de condutas para doenças cardiovasculares. O que o torna um exame de grande relevância quando consideramos a incidência dessas doenças. Isso se faz realidade não só dentro da especialidade de cardiologia, assim como também, no acompanhamento de pacientes na clínica médica ou na medicina da família e em serviços de emergência (MORAES; NUNES, 2019). 

Na prática clínica, o ECG é laudado por um médico, mas isso requer conhecimento técnico, treinamento e tempo para avaliação do exame. Sua correta avaliação é de extrema importância não apenas para cuidados clínicos ao paciente, mas também para estudos epidemiológicos A qualidade do sinal, as medidas de frequência cardíaca, amplitude, morfologia das ondas e duração dos intervalos e complexos associados aos dados clínicos, precisam ser considerados para o diagnóstico final, o que requer tempo e esforço. (Chung, et al., 2018; Marcolino et al., 2017).

Deve-se levar em conta, ainda, que a orientação prática na formação médica pode influenciar diretamente a capacidade de decisões em situações de urgência, bem como a habilidade em procedimentos médicos. O que pode ser relacionado com o fato de que a falta de contato com o eletrocardiograma na prática, e a ausência de aplicação da habilidade adquirida durante a formação do aluno pode causar a perda do conhecimento (BARROS, et al., 2016).

A disciplina de eletrocardiografia é fundamental na formação de profissionais da área da saúde, uma vez que o eletrocardiograma é uma das ferramentas mais utilizadas no diagnóstico de doenças cardiovasculares. No entanto, o ensino do eletrocardiograma pode ser desafiador, visto que envolve o conhecimento de conceitos complexos e a interpretação de traçados eletrocardiográficos (SILVA; ASSUNÇÃO, 2022).

São encontrados na literatura estudos que demonstram deficiências nas habilidades de interpretação do ECG nos estudantes de Medicina em diversos países. No entanto, muitos médicos já em sua vida profissional não têm consciência de suas limitações quando se trata de interpretar este exame. Esta deficiência pode encontrar justificativa na dificuldade do ensino desse conteúdo. Tanto por parte dos professores, que encontram obstáculos nos métodos de ensino, quanto por parte dos alunos, que muitas vezes se desinteressam frente à dificuldade de aprendizagem (MORAES; NUNES, 2019).

Nesse contexto, diversos estudos têm sido realizados com o objetivo de avaliar estratégias de ensino que possam contribuir para uma aprendizagem mais efetiva do eletrocardiograma. Apesar da importância da disciplina de eletrocardiografia na formação de enfermeiros e médicos, ainda existem lacunas no ensino dessa disciplina, e que a utilização de tecnologias educacionais e de metodologias ativas pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa dos alunos (CANNAVAN; AOLI; GOMES,2023).

Além disso, a eficácia da metodologia ativa de aprendizagem na disciplina de eletrocardiografia durante o internato em clínica médica, mostra que a utilização de simulações clínicas e discussões de casos clínicos pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa e para a aquisição de habilidades práticas pelos alunos (SILVA; ASSUNÇÃO, 2022).

Outro estudo relevante na área foi realizado por Pereira et al. (2020), que desenvolveram um sistema tutor inteligente gamificado instrutor de eletrocardiograma. O sistema utiliza a gamificação como estratégia para tornar o processo de aprendizagem mais motivador e envolvente para os alunos, e o sistema tutor inteligente proporciona um feedback personalizado e imediato, favorecendo a aprendizagem autônoma e a identificação de pontos de melhoria pelos alunos.

Diante desse contexto, é importante que as instituições de ensino busquem estratégias que possam contribuir para uma formação mais completa dos alunos na área da eletrocardiografia. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo relatar a experiência da disciplina de eletrocardiografia em uma instituição de ensino superior, descrevendo a metodologia adotada e os resultados alcançados com a utilização de tecnologias educacionais e de metodologias ativas de aprendizagem. Espera-se, com isso, contribuir para a discussão sobre a importância da disciplina de eletrocardiografia na formação de profissionais da área da saúde e para a busca por estratégias de ensino mais efetivas na área.

2 METODOLOGIA

Trate-se de um estudo descritivo de natureza relato de experiência, elaborado a partir da vivência de alunos do curso de medicina ao contato com a matéria de eletrocardiografia, mostrando a evolução no conhecimento e na prática de eletrocardiograma na cidade de Parnaíba Piauí.

Além disso, foram utilizados artigos em inglês e português das plataformas, pubmed, scielo e google acadêmico, sendo selecionados artigos dos anos 2016 até 2023, e utilizando como descritores “eletrocardiograma”, “aprendizado ativo”, “ECG”. 

3 RELATO DE EXPERIÊNCIA

Iniciamos este relato através de palestras que serviram como forma de revisão sobre a anatomia, fisiologia de todo o sistema cardiovascular e somatórios de vetores. Além disso, fomos incentivados a nossa auto-capacitação para a melhor compreensão do que estava sendo ministrado nas palestras. O entendimento do tema abordado em sala de aula é exigido para o aprendizado de eletrocardiografia (LIMA et al.,2020).

Revisado a anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular, percebemos que dando ênfase ao sistema de condução elétrico específico do coração, podemos ter o raciocínio desse impulso elétrico coordenado justificando as características do ECG.

O que foi exposto no parágrafo anterior é descrito da seguinte forma: o nó sinusal inicia um impulso elétrico que se espalha pelos átrios. Pelos feixes internodais posterior, médio e anterior, até o nó atrioventricular. Pelo feixe interatrial anterior ou Bachmann até o átrio esquerdo. Esses eventos levam as contrações dos mesmos. Do nó atrioventricular, o impulso parte pelo feixe atrioventricular comum ou feixe de His e se espalha para impulso às fibras de Purkinje que o espalhará por todo ventrículo direito. O ramo esquerdo do feixe His levará o impulso pela divisão ântero-superior esquerda e póstero inferior esquerda também as fibras de Purkinje que o espalhará por todo ventrículo esquerdo (MORAES; NUNES, 2019).

Em seguida, revisamos as ondas, intervalos e segmentos encontrados em um eletrocardiograma normal, após este entendimento, aprendemos as derivações que devem ser vistas, qual parte do coração essas derivações eram responsáveis por captar sinais. (CANNAVAN; AOKI; GOMES, 2023). Vimos também, como saber que o eletrocardiograma foi feito de forma adequada, contando com identificação do paciente e estandardização adequada. Por fim, tivemos contato com vários exemplares de exames que foram realizados por nosso professor, tais exemplares treinaram nosso olhar sobre o exame.  

Após o aprendizado teórico bem compreendido e o treinamento do olhar, começamos a ter o contato com o eletrocardiógrafo, e aprendemos como manuseá-lo, neste momento aprendemos a colocar as ventosas em suas localizações adequadas, analisar a estandardização e a fazer o exame de forma simples e didática. Com a participação dos alunos fazendo o papel de pacientes e também de médicos em formação para a análise e interpretação do ECG, detalhando ritmo, eixo, morfologia, duração, amplitude das ondas, intervalos e segmentos. Mostrando a importância do método ativo para a aprendizagem dentro da área da saúde (FARIA; AMARAL,2021).

Voltamos novamente para aula teórica, onde aprendemos sobre o triângulo de Einthoven, vimos a divisão das derivações em unipolares e bipolares, e como as derivações bipolares, D1, D2 e D3 formavam este triângulo juntamente com AVF, AVL e AVR que formam a parte intrínseca deste triângulo. Compreender este conhecimento é de suma importância para a aprendizagem de eletrocardiografia (ALVES; CHAVES; MUNIZ,2021). Vimos também o eixo que é formado através deste triângulo. A angulação entre -30o e 90o é considerada normal, e qualquer alteração desta angulação pode significar alguma patologia ou erro no exame. 

Após o aprendizado fisiológico, iniciamos o aprendizado patológico. Iniciamos vendo arritmias, onde vimos a arritmia sinusal, auricular, flutter atrial, batimentos prematuros e as extras sístoles. Além disso, os bloqueios de condução, tanto do nó atrioventricular como os de ramos também. Vimos como detectar as dilatações e hipertrofias de todas as câmaras cardíacas, além de como detectar sobrecargas das câmaras cardíacas e extrassístoles. (MACHADO et al.,2019). O conhecimento sobre essas alterações contribui para os diagnósticos de futuros pacientes que teremos contato. O nosso entendimento sobre tais patologias citadas anteriormente são importantes para o prognóstico do paciente, exemplo disso seria o acompanhamento de um paciente com hipertrofia ventricular esquerda, o mesmo é visto e diagnosticado com essa patologia através do índice de Sokolov-Lyon e tal patologia por ocasionar hiper ação dos cardiomiócitos podem evoluir para um infarto agudo do miocárdio.

O infarto agudo do miocárdio, é uma patologia com grande índice de mortalidade e além de normalmente deixar sequelas nos pacientes acometidos. Essa patologia apresenta alguns fatores que o predispõem, à idade é um deste fatores, além dos níveis elevados de colesterol, o diabetes, o tabagismo, obesidade, patologias cardíacas preexistentes e até fatores hereditários. Os sinais e sintomas mais frequentes do IAM são: dor torácica persistente, de início súbito e forte intensidade, localizada sobre a região esternal com irradiação para o braço esquerdo e mandíbula. Vale estacar que juntos da sintomatologia supracitada, essa enfermidade pode vir acompanhada de sudorese, náusea, vômito, palidez, podendo ocorrer uma síncope (OLIVEIRA; DE MARQUES, 2019).

Para a confirmação desta patologia, é necessário a utilização do eletrocardiograma, essa doença apresenta três fases. Inicia-se com isquemia o que é visto no ECG como um apliculamento da onda T, vale lembrar que é necessário o aparecimento desta alteração em pelo menos duas derivações contiguas, isso ocorre com pouco tempo do inicio da patologia. Em seguida, o coração terá uma lesão que aparecerá como supradesenvolvimento do segmento ST ou infradesenvolvimento de deste mesmo segmento, mais uma vez sendo duas derivações contíguas. E sua última fase, na necrose que aparecerá a onda Q patológica (SIQUEIRA et al.,2021; BARROS et al.,2019). O conhecimento sobre infarto agudo do miocárdio e de outras patologias já citadas anteriormente são importantes para a nossa conduta e manejo com nossos pacientes no futuro.  

4 CONCLUSÃO

Em conclusão, o processo de aprendizado em eletrocardiografia foi abrangente e enriquecedor. Começamos com uma revisão detalhada da anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular, compreendendo o funcionamento do sistema de condução elétrico específico do coração. Isso nos permitiu entender as características do eletrocardiograma (ECG) e como interpretá-lo corretamente. Avançamos para o estudo das ondas, intervalos e segmentos presentes em um ECG normal, além de explorar as derivações e sua relação com as diferentes partes do coração. Através de exemplos práticos e da interação com o eletrocardiógrafo, adquirimos habilidades na realização do exame e na análise dos resultados. O aprendizado teórico aliado à prática nos preparou para identificar ritmos cardíacos, avaliar parâmetros como eixo, morfologia, duração e amplitude das ondas, bem como reconhecer alterações e patologias, permitindo-nos oferecer diagnósticos mais precisos aos futuros pacientes.

Em adição, destacamos a importância do método ativo de aprendizagem dentro da área da saúde. Ao desempenharmos o papel de pacientes e médicos em formação durante as atividades práticas, desenvolvemos habilidades de observação, análise e interpretação do ECG. Essa abordagem prática nos permitiu aprimorar nosso olhar clínico, além de reforçar os conhecimentos teóricos adquiridos. A compreensão do triângulo de Einthoven, bem como a identificação das diferentes arritmias, bloqueios de condução, sobrecargas atriais e ventriculares, extrassístoles, hipertrofias ventriculares, atriais e até infarto agudo do miocárdio, foram fundamentais para o desenvolvimento de habilidades diagnósticas mais precisas. As práticas propiciaram confiança e aprimoramento, e o conhecimento adquirido na disciplina eletrocardiografia nos capacitou para uma futura prática clínica mais eficaz e segura, contribuindo para o cuidado e bem-estar dos nossos futuros pacientes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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¹Discente do curso de Medicina da FAHESP/IESVAP, Parnaíba Piauí Brasil
²Docente do curso de Medicina da FAHESP/IESVAP, Parnaíba Piauí Brasil