TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC) – DO CONCEITO À INTERVENÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8009852


Rafaela de Queiroz Oliveira1; Jonathas Pereira Rabêlo2; Niliane Maria de Brito Alves3; Bruno David Pereira de Melo4; Jucicleide Gomes Acioli5; Adriana de Menezes6; André Luiz de Queiroz Oliveira7; Cilda Feitoza Amaral8; Milena Borges Parente Thomazi9; Gabrielle Nepomuceno da Costa Santana10; Daniele Alves Benedito de Carvalho11; Edivane Silva Brito12; Wagner Charles Soares de Barros13; Edilene Márcia de Sousa14; Luciana Aparecida de Morais Brigido15; Erisnalva Pereira da Silva16; Evandro de Oliveira Brito17.


RESUMO 

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é subdiagnosticado e subtratado. Desta maneira, faz-se necessário esclarecer suas características, tanto no quesito biológico quanto social para efetivo diagnóstico e tratamento. Estudos demonstram que o transtorno obsessivo-compulsivo está relacionado ao funcionamento anormal de estruturas anatômicas do encéfalo, funcionamento anormal de neurocircuitos e neurotransmissores. O TOC é uma enfermidade que acomete indivíduos causando tribulações. Entre estas, estão as alterações psicológicas, que devido às obsessões e/ou às compulsões causam desconfortos mentais. Outras tribulações são as alterações sociais, o transtorno afeta negativamente na vida do indivíduo e de seus familiares mais próximos, existe sobrecarga destes. Além disso, dados apontam que 67,2% dos pacientes com TOC desenvolveram depressão ao longo da vida. Quanto maior a quantidade de informações e detalhamentos sobre o TOC, mais fácil sua identificação, seja ela por parte do profissional de saúde ou até mesmo do próprio afetado. Destarte, pode ser mais rapidamente tratado, evitando o surgimento e agravamento das adversidades geradas, principalmente no âmbito social.

Palavras-chave: Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Neurofisiologia. Fatores Sociológicos.

1. INTRODUÇÃO

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de compulsões e compulsões recorrentes (GONZALES, 1999). O mesmo autor afirma que na vida cotidiana, assemelham-se a rituais e, ao contrário da mania, consomem tempo, causam dor e até danos ao indivíduo. As obsessões são pensamentos, pensamentos, imagens ou impulsos persistentes e repetitivos que criam desconforto/ansiedade em um indivíduo (GONZALES, 1999).

A prevalência pontual estimada do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) em diferentes populações é de aproximadamente 1% e 2% a 2,5% (TORRES; SMAIRA, 2001). Os mesmos autores observaram que normalmente tem um curso precoce, crônico e flutuante, e alta comorbidade com outros transtornos ansiosos e depressivos, além de uma grande diversidade fenomenológica de vários subtipos de apresentação clínica (CORDIOLI, 2014).

De acordo com Agnoleto (2016), existe o TOC, e esses são os mecanismos pelos quais as pessoas com TOC reduzem a ansiedade, o comportamento mental e os comportamentos repetitivos. O TOC é uma patologia complexa que afeta não só o paciente, mas também as relações sociais e familiares, dependendo da gravidade do quadro clínico (AGNOLETO, 2016). Por esta razão, esta pesquisa se dedica a uma abordagem generalista que não se limita à neuroquímica, a fim de examinar cuidadosamente o humanista (GONZALES, 1999).

Com exceção do transtorno obsessivo-compulsivo e/ou transtorno obsessivo-compulsivo que requer pelo menos 60 minutos de tempo, os transtornos mencionados devem ser angustiantes para o paciente ou sua família para fins de diagnóstico (AGNOLETO, 2016). 

Existem possíveis subtipos e comorbidades da doença, sendo uma delas a depressão, que ocorre em mais de 60% dos indivíduos (GONZALES, 1999). Finalmente, o tratamento do TOC é obviamente importante, sendo administrado por meio de terapia de exposição e prevenção de resposta (EPR) e terapia cognitivo-comportamental (TCC), além de medicamentos prescritos de acordo com os sinais e sintomas do paciente (AGNOLETO, 2016).

Justifica-se o artigo pela importância do conhecimento da temática e suas especificidades, a fim de que este conhecimento possa servir de base para tratamentos ou pela simples identificação de pessoas que porventura possuam o transtorno em tela.

O presente trabalho tem como objetivo central, conceituar e caracterizar os diversos tipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), por meio de uma revisão de literatura a ser amparada por autores da área, cuja busca por referenciais será realizada por meio de artigos científicos, bases de dados, livros e sites especializados na temática em questão.

2. CONCEITO

Continua sendo uma doença subdiagnosticada e subtratada, muitas vezes secreta porque muitos portadores escondem seus sintomas o máximo possível, e leva muito tempo para procurar e obter o tratamento adequado. Isso se deve em grande parte à costumeira boa crítica de seus sintomas pelos pacientes, com vergonha, moral baixo e muita angústia, justamente pela irracionalidade e imutáveis ​​percepções de seus pensamentos e ações que são preservadas, além de estar atento de suas próprias limitações (TORRES; SMAIRA, 2001).

Segundo Torres; Lima (2005), a associação do TOC com outros transtornos psiquiátricos também requer investigação epidemiológica cuidadosa. Por exemplo, a comorbidade de depressão e transtornos de ansiedade é regra em amostras clínicas, e pode influenciar significativamente na busca por tratamento. Os mesmos autores afirmam que geralmente aceito que quanto maior o número de comorbidades, maior a interferência. Há maior probabilidade de sintomas, diminuição da qualidade de vida e busca de tratamento nas atividades diárias (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Uma exceção está relacionada ao abuso de substâncias, que reduz as chances de um indivíduo procurar atendimento médico (TORRES; LIMA, 2005).

Estudos de neuroimagem mostraram que o TOC é o resultado de circuitos neurais disfuncionais que se interligam em estruturas próximas aos gânglios da base e localizações corticais (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Outros estudos investigaram a relação entre a serotonina e a falha de comunicação nas sinapses entre os neurônios em indivíduos com a doença (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

Além disso, em uma perspectiva mais abrangente e recente, foram observadas relações entre o TOC e outros circuitos neurais relacionados ao sistema límbico, sugerindo que as emoções podem ou não ser um fator agravante em situações específicas (AGNOLETO, 2016).

Nesse sentido, a crise de ansiedade está diretamente relacionada ao eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (AGNOLETO, 2016). Uma hipótese sugere que o circuito córtico-estriatal-tálamo-cortical esteja funcionando anormalmente devido à falta de intervenção inibitória no núcleo caudado. Isso desencadeia atividade talâmica excessiva que realimenta pensamentos intrusivos e comportamentos repetitivos originados do córtex orbitofrontal (SCHOLL, 2017). Assim, é gerado um nível patológico de ansiedade, que aumenta a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal através da amígdala (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

Evidências sugerem que os comportamentos repetitivos associados ao TOC ocorrem quando a inibição córtico-subcortical ocorre simultaneamente com a hiperexcitabilidade cortical. Nessa perspectiva, vários estudos de neuroimagem observaram hiperatividade do córtex orbitofrontal (COF) durante o repouso e a atividade (SCHOLL, 2017).

A partir dessa observação, o circuito neural córtico-estriado-tálamo-cortical (CETC) surge como um parâmetro plausível para explicar as causas fisiopatológicas do TOC. Considerando sua função de controlar o movimento normal, ou seja, selecionar movimentos desejados e excluir movimentos indesejados, a relação desse circuito neural com distúrbios do movimento está ligada (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Com base nesses achados, é proposto um modelo de estriado orbitofrontal que descreverá circuitos neurais anormais na tentativa de explicar a sintomatologia biológica do TOC (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

Com base no modelo, os pesquisadores constataram que pacientes com lesões localizadas na região orbitofrontal apresentavam mudanças comportamentais marcantes, como déficits emocionais, desinibição e dificuldade de tomada de decisão (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001). Além disso, lesões no circuito talamocorticoestriatal, córtex temporal, córtex parietal, tronco cerebral e cerebelo podem induzir TOC (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

Estudos têm demonstrado que as estruturas anatômicas associadas ao comportamento compulsivo são: gânglios da base; estruturas subcorticais profundas representadas pelo corpo estriado; globo pálido; substância negra e núcleo subtalâmico (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Pensa-se que estas estruturas estão principalmente relacionadas com a execução das ações. No entanto, agora estão relacionados a aspectos comportamentais como coordenação motora, planejamento de sequências, aprendizado por tentativa e erro, orientação cognitiva (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

De uma perspectiva mais fisiológica, os principais neurotransmissores envolvidos são: glutamato, dopamina, serotonina e GABA. Além disso, neurotransmissores e neuropeptídeos, como arginina vasopressina e oxitocina, estão envolvidos nos sistemas de memória e aprendizagem (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

Nos transtornos de ansiedade, há uma interconexão entre o córtex pré-frontal e a amígdala, uma área importante para a integração de respostas emocionais e cognitivas (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

A amígdala desempenha um papel no aprendizado e eliminação do medo; seu papel na extinção funciona ao lado do córtex pré-frontal e do hipocampo. O hipocampo está envolvido nas respostas condicionadas de medo, mas sua ativação pode ser alterada pela habituação, o que deve levar à perda dos reflexos condicionados (VALENTE; BUSSATO FILHO, 2001).

Durante o tratamento, a partir da exposição, o foco da atenção foi direcionado para a situação ameaçadora, o que resultou no córtex pré-frontal exercendo controle sobre a ativação da amígdala (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Portanto, vale a pena notar que, embora existam duas teorias principais que explicam as causas do TOC, nenhuma teoria sozinha pode explicar a fisiopatologia do transtorno (HOUNI, 2001).

2.1 Quadro Clínico

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno caracterizado pela presença de obsessões e/ou comportamentos compulsivos (TORRES; SMAIRA, 2001). Os mesmos autores afirmam que no caso do transtorno obsessivo-compulsivo, são entendidos como pensamentos, pensamentos, imagens ou impulsos repetitivos e persistentes que são percebidos como intrusivos e desagradáveis, vistos como próprios, e causam ansiedade ou desconforto relacionado ao indivíduo (HOUNI, 2001). Quando o fazem, as obsessões criam desconforto. Muitas vezes, os indivíduos tentam ignorá-los, suprimi-los ou neutralizá-los. As tentativas de aliviar isso geralmente ocorrem por meio de compulsão (TORRES; SMAIRA, 2001).

O transtorno obsessivo-compulsivo é um comportamento repetitivo ou comportamento mental para reduzir o desconforto causado pela compulsão, especialmente a ansiedade, ou para evitar certos eventos assustadores associados ao objeto da compulsão (HOUNI, 2001). Embora o TOC e o transtorno obsessivo-compulsivo relacionado sejam mais comuns em pacientes, esse nem sempre é o caso. Alguns pacientes podem apresentar apenas TOC ou TOC, sendo este último menos comum (TORRES; SMAIRA, 2001).

As obsessões mais comuns com o TOC são: sujeira/poluição, corpo, obsessões agressivas, auto aniquilação, fazer algo inconveniente. Muitas pessoas evitam ficar sozinhas porque não confiam em si mesmas (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Outros têm medo de lidar com qualquer coisa considerada perigosa sendo considerado comum evitar objetos como móveis e dinheiro por medo de contaminação (RODRIGUES, 2012).

As principais compulsões são: lavar objetos e mãos, o que pode até levar a dermatites e problemas na coluna quando vigorosos; contagem; simetria; recolhimento e rituais diversos. É claro que há muita heterogeneidade nesta doença porque existem muitas manifestações (SCHOLL, 2017). A conclusão geral é que, em princípio, qualquer comportamento que uma pessoa exiba pode ser compulsivo. 

É importante dizer que, via de regra, o TOC é uma condição crônica, pois na maioria dos casos o TOC e o TOC são múltiplos e os temas e sintomas podem mudar ao longo do tempo (TORRES; SMAIRA, 2001).

Em geral, os sintomas e sinais do TOC são conflito nas relações familiares, disfunção social e ocupacional, perturbação nas atividades da vida diária, isolamento, vergonha, interferência na vida estudantil, dificuldades no trabalho, medo, perfeccionismo, superstição, atividade lenta, incapacidade para decidir, ansiedade, solidão e até pensamentos suicidas (HOUNI, 2001).

A estimulação pode exacerbar a síndrome, tanto em ambientes domésticos e profissionais, quanto no lazer (PEREIRA MARIANO et al., 2020). O TOC é um transtorno subdiagnosticado e subtratado. Na maioria das vezes é segredo, e o diagnóstico e o tratamento podem levar anos, pois os portadores escondem seus sintomas e se atrasam para buscar o tratamento adequado (AGNOLETO, 2016). Esse fato ocorre devido à negação da doença e dos sintomas da pessoa acometida por sua vergonha, desmoralização e angústia diante da irracionalidade de suas próprias ações e pensamentos (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Exceto pelo fato de que você não pode mudá-los e perceber suas limitações (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011). Daí a importância de um bom histórico médico e bons vínculos de tratamento para entender o paciente e facilitar o diagnóstico e a linha de cuidado (TORRES; SMAIRA, 2001).

Para um diagnóstico válido de TOC, TOC e/ou TOC requer pelo menos 60 minutos de tempo gasto e cause desconforto ou angústia ao paciente ou sua família. Ainda não existem exames laboratoriais que realmente comprovem a presença do TOC. Portanto, o diagnóstico de TOC é definitivamente clínico (SCHOLL, 2017).

O transtorno obsessivo-compulsivo geralmente começa no final da adolescência e início da idade adulta e é distribuído igualmente entre os sexos (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Isso ocorre porque as regiões cerebrais do cérebro se desenvolvem em taxas diferentes: por exemplo, o córtex pré-frontal (CPF) é a base para regular o raciocínio, a atenção e o comportamento, e parcialmente “junta” centros de controle perceptivo, emoção e movimento; para desenvolver (SCHOLL, 2017). Assim, em adolescentes com TOC, as manifestações do transtorno já são evidentes, considerando o acometimento de regiões cerebrais associadas à maturação do CPF no final da fase da adolescência (TORRES; SMAIRA, 2001).

Para o tratamento do TOC, além da medicação adequada, são utilizados métodos eficazes como terapia de exposição e prevenção de resposta (EPR) e terapia cognitivo-comportamental (TCC) (CORDIOLI, 2014). Embora a verdadeira causa do TOC não tenha sido determinada, evidências sugerem que vários aspectos biológicos que envolvem a função cerebral e fatores psicológicos contribuem para o aparecimento dos sintomas característicos do TOC (PEREIRA MARIANO et al., 2020). No entanto, quando se trata de genética, mesmo após muitos estudos e dados disponíveis, não é permitido apontar os genes responsáveis ​​pela causa do TOC, e muitos estudos ainda carecem serem estudados com mais detalhes (RODRIGUES, 2012).

2.2 Tipos de TOC

O transtorno obsessivo-compulsivo apresenta possíveis subtipos dependendo da evolução da doença, sintomas associados e, possivelmente, bases fisiopatológicas específicas (AGNOLETO, 2016). Portanto, a caracterização do fenótipo clínico torna-se fundamental para orientar o diagnóstico que proporcione uma melhor resposta ao paciente. O TOC pediátrico é caracterizado por manifestações precoces de distúrbios neuropsiquiátricos relacionados (RODRIGUES, 2012).

Apresenta-se aguda e grave na infância e está frequentemente associada a infecção estreptocócica (PANDAS) e síndromes neuropsiquiátricas pediátricas de início agudo (AGNOLETO, 2016). Este subtipo de toque começa entre as idades de 8 e 12 anos, é altamente prevalente em homens e, às vezes, apresenta comportamento obsessivo-compulsivo sem TOC (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Além disso, manifestações precoces da doença sugerem maior agregação familiar entre parentes de indivíduos com a doença (AGNOLETO, 2016).

O transtorno obsessivo-compulsivo associado à febre reumática é um subtipo com manifestações sistêmicas como cardite e artrite (HOUNI, 2001). O mesmo autor cita estudos mostrando que quando a febre reumática está associada à coreia de Sydenham, esse subtipo é mais pronunciado em pessoas com febre reumática. 

O transtorno obsessivo-compulsivo está associado a tiques em condições tardias do desenvolvimento, predominante em mulheres (HOUNI, 2001). Esses casos têm uma melhor resposta ao tratamento. Estudos têm demonstrado que o TOC e a síndrome de Tourette, uma desordem neurológica caracterizada por tiques motores e vocais, têm uma relação genética e fisiopatológica (PEREIRA MARIANO et al., 2020). A disfunção dos gânglios da base e dos circuitos corticoestriatais pode ser comum em ambas as condições de TOC (HOUNI, 2001).

O TOC com comprometimento crítico é um subtipo no qual os pacientes têm pensamentos delirantes e supervalorizados, mesmo quando mantêm críticas reservadas. Esses foram os pacientes com pior resposta ao tratamento no subtipo TOC (CORDIOLI, 2014).

2.3 Evolução do quadro clínico

Embora a causa seja quase sempre desconhecida, os psiquiatras são capazes de fazer um diagnóstico, incentivar o tratamento preventivo e promover opções de tratamento específicas para cada caso e paciente (TORRES; SMAIRA, 2001). 

O início dos sintomas pode ser súbito ou sutil, com ou sem gatilhos e, além disso, os sintomas podem mudar (SCHOLL, 2017). É necessário um escrutínio rigoroso para afirmar a presença da doença. Nos casos em que os dados permanecem em dúvida, o exame extensivo da doença é imperativo, pois haverá repercussões para os pacientes se não for diagnosticado corretamente (SCHOLL, 2017). Na maioria dos casos, os pacientes têm vergonha de suas ações e suas habilidades críticas dificultam o diagnóstico até que estejam sozinhos. Ademais, crianças são, em sua maioria, mais discretas sobre os sintomas que adultos (TORRES; SMAIRA, 2001). 

No TOC, há uma integração entre ação e pensamento. Isso borra a linha entre o real e o psicológico. Como resultado, os pacientes acreditam que ter pensamentos negativos desencadeia seus eventos (SCHOLL, 2017). Como resultado, as pessoas com TOC desencadeiam a supressão de emoções negativas para evitar infortúnios e desastres em sua compreensão (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011). No entanto, esse comportamento pode aumentar os níveis de ansiedade (TORRES; SMAIRA, 2001).

3. COMORBIDADES

De acordo com Castro (2018), o termo comorbidade pode ser definido como a co-ocorrência de dois ou mais transtornos psiquiátricos com outros transtornos gerais. A mesma autora reforça o conceito de que o transtorno obsessivo-compulsivo raramente ocorre sem alguma condição médica associada. No entanto, não há como determinar se a presença de comorbidades reflete diagnósticos diferentes ou a presença de sintomas sobrepostos já existentes no paciente (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011).

Estudos mostraram que adultos com TOC têm uma prevalência de transtorno bipolar ao longo da vida de 7,75% (TORRESAN, 2008). O grupo TOC e transtorno bipolar também geralmente tendem a ter transtornos de ansiedade, transtorno dismórfico corporal, transtorno por uso de álcool, transtornos alimentares e transtornos de controle de impulsos (CASTRO, 2018). A mesma autora afirma que esse grupo requer tratamento cuidadoso, pois apresenta características clínicas mais graves, incluindo risco de suicídio.

Petribu (2001) afirma que a depressão é a comorbidade mais comum no transtorno obsessivo-compulsivo. O estudo mostrou que 67,2% dos pacientes com TOC sofrem de depressão durante a vida e 44% já estavam deprimidos no momento do estudo (PETRIBU, 2001). Além de aumentar a prevalência de sintomas de ansiedade, pacientes com TOC e depressão também apresentam risco aumentado de comprometimento cognitivo e suicídio (JUNIOR; CORDÁS, 2002). Outro dado relevante sobre pessoas com TOC está relacionado à alta taxa de suicídio entre as pessoas com TOC (PETRIBU, 2001). 

Um estudo com 582 pacientes brasileiros mostrou que 57% achavam que a vida não valia a pena ser vivida; 43% queriam morrer; 36% tinham pensamentos suicidas; 20% até planejavam cometer suicídio e 11% já tentaram suicídio em algum momento da vida (TORRESAN, 2008). Além disso, existe uma relação entre transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares e fobias (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011).

Outra comorbidade associada é a anorexia nervosa sendo observada em 10% a 17% dos indivíduos com TOC, e fobia social em 11% a 18% dos casos e fobia específica em 22% a 27% dos pacientes diagnosticados com TOC (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011). Transtornos alimentares, bulimia nervosa e anorexia nervosa também podem ser observados em pacientes com características clínicas mais graves e outros tipos de comorbidades (PETRIBU, 2001).

4. ASPECTOS CULTURAIS ASSOCIADOS AO TOC

Os aspectos sociais, culturais e familiares dos indivíduos envolvidos sofrem mudanças dramáticas em diversos processos patológicos (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Os mesmos autores afirmam que muitas vezes, a adaptação e a compreensão dos pares são as principais características que precisam ser estudadas nesses pacientes. No transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), as pessoas com o transtorno experimentam algumas mudanças em suas vidas diárias (DEL-PORTO, 2001). O mesmo autor reforça a ideia de que em muitos casos, os ambientes escolar e de trabalho não estão disponíveis devido à natureza do problema. No âmbito familiar, as pessoas com TOC têm muitos parentes próximos. Isso se deve a vários fatores (DEL-PORTO, 2001).

A sensação de estar preso nessa situação pode gerar ansiedade e depressão para os cuidadores, pois seus projetos pessoais muitas vezes ficam para trás (JUNIOR; CORDÁS, 2002). Os mesmos autores reforçam que além disso, os pais têm, principalmente, grandes preocupações com o futuro de seus filhos com esse transtorno, pois os percebem como dependentes de ajuda e atenção constantes. 

A preocupação com o preconceito e o estigma contra os próprios filhos também é uma realidade (JUNIOR; CORDÁS, 2002). Todas essas condições exigem mudanças no comportamento dos familiares para acomodar os sintomas desses pacientes (SCHOLL, 2017). No século XXI, a competitividade e a busca pela lucratividade são constantes. Diante dessa situação, as pessoas com TOC enfrentam alto desemprego (DEL-PORTO, 2001).

O caráter obsessivo-compulsivo dessa insanidade torna difícil manter a concentração, a alfabetização e, portanto, o pior desempenho no trabalho em muitas situações (JUNIOR; CORDÁS, 2002) Em outros casos, essas pessoas têm ficado em casa para evitar estímulos que lhes causem angústia (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011). Nesse caso, os salários médios e as oportunidades de emprego são menores. Como resultado, os pacientes com esse transtorno apresentam grande dependência financeira e insatisfação pessoal com a família. Segundo a Organização Mundial da Saúde, citado por Junior; Cordás, (2002) o transtorno obsessivo-compulsivo é a décima principal causa de incapacidade global. Em muitos transtornos psiquiátricos, a compreensão da realidade fica comprometida, de modo que o sujeito acometido não compreende as dimensões de seu problema (DEL-PORTO, 2001).

No TOC, o pensamento crítico é mantido, o que leva a uma sensação de “descontrole” e insatisfação pessoal (JUNIOR; CORDÁS, 2002). Os mesmos autores afirmam que devido a este e outros fatores, muitos aspectos negativos são evidentes. Em comparação com a população geral, as pessoas com esse tipo de desajuste psicológico apresentam menores taxas de casamento ou união matrimonial (WIELENSKA, 2001). Com habilidades de vida diária prejudicadas, realizar tarefas simples pode ser um grande desafio. Combinados, esses fatores pioram a constituição do indivíduo, como pessoa, e levam à baixa autoestima (SOARES NETO; TELES; ROSA, 2011).

5. INTERVENÇÃO

Para aliviar os sintomas do TOC, a terapia se mostra uma boa opção. Questionar e lidar com pensamentos obsessivos, com a ajuda de um profissional, é uma forma de evitar essa mudança comportamental e psicológica (DEL-PORTO, 2001). O mesmo autor afirma que construir um vínculo de confiança e respeito entre paciente e terapeuta é fundamental. Ele é responsável pela análise de todos os fatores ambientais e sociais que afetam o paciente (SCHOLL, 2017). Um dos procedimentos básicos é a exposição a estímulos de ansiedade. Começa com o enfrentamento de algo tolerável e progride para um nível mais intenso de sintomas obsessivo-compulsivos. Dessa forma, a pessoa com TOC se acostuma mentalmente com o que a fez fugir e, aos poucos, a dor vai embora (DEL-PORTO, 2001).

Além disso, o debate de ideias e o uso do raciocínio lógico também configuram o método de “driblar” a doença (JUNIOR; CORDÁS, 2002). Ao analisar os riscos e perigos reais que os pacientes temem, o objetivo é criar um cenário contrastante que dê aos pacientes uma imagem clara das distorções da realidade que existem em sua inteligência (AGNOLETO, 2016). O mesmo autor afirma que desta forma, a deterioração do humor e as obsessões são reduzidas. 

No condicionamento clássico, se um estímulo neutro (cor, número, limpeza) é repetidamente associado a um estímulo incondicionado (medo, ansiedade, estímulo), ele adquire as mesmas propriedades do estímulo incondicionado (SCHOLL, 2017). Devido a esse fato, os indivíduos aprendem novas respostas destinadas a reduzir a ansiedade, como evitação e realização de rituais (WIELENSKA, 2001). Essa situação é chamada de condicionamento operante. No contexto do transtorno obsessivo-compulsivo, o condicionamento clássico não é evidente, enquanto o condicionamento operante é bastante razoável (DEL-PORTO, 2001).

O programa de tratamento citado acima é baseado nessa teoria e é chamado de Prevenção de Exposição e Resposta (EPR) (SCHOLL, 2017). Os modelos cognitivos também propõem explicações para os sintomas obsessivo-compulsivos. De acordo com esse raciocínio, as obsessões surgem de mal-entendidos e ideias distorcidas que permeiam a inteligência de toda a população (CORDIOLI, 2008).

De acordo com Scholl (2017), em pessoas com TOC, esses pensamentos obsessivos são superestimados e mantidos na mente. O TOC, por outro lado, será o resultado dessas pessoas acreditarem que a responsabilidade é delas, se surgirem alguns desses pensamentos que lhes causam ansiedade e medo (PEREIRA MARIANO et al., 2020). Como resultado, rituais e inspeções constantes foram instituídos para prevenir futuros desastres bem como atender as necessidades imediatas (DEL-PORTO, 2001).

De acordo com Wielenska (2001), além disso, as pessoas com o transtorno acreditam que esses comportamentos repetitivos e estereotipados previnem problemas e, assim, mantêm a prática. Com base no exposto, existe outro método de tratamento, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) (CORDIOLI, 2008). Nessa perspectiva, os profissionais buscam compreender as percepções da realidade em relação ao comportamento (PEREIRA MARIANO et al., 2020). A partir daí, o terapeuta trabalhará para substituir esses pensamentos por outros pensamentos, ajudando o paciente a superar o medo e a ansiedade, assim haverá uma reconstrução de crenças obsessivas na certeza de que alguns comportamentos deixarão de ser adotados (CORDIOLI, 2008).

6. CONCLUSÃO

Do ponto de vista fisiopatológico, o TOC é uma patologia que surge da disfunção de alguns circuitos neurais ainda a serem definidos no cérebro. No entanto, existem basicamente três hipóteses que tentam elucidar a fisiopatologia do TOC: circuitos neurais anormais associados aos gânglios da base, circuitos neurais anormais associados ao sistema límbico e neurotransmissores disfuncionais. 

O transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno obsessivo-compulsivo são as características mais comuns que identificam o transtorno. No entanto, testes rigorosos devem ser feitos para confirmar a presença da doença. Nos casos em que os dados permanecem em dúvida, a doença deve ser minuciosamente validada, pois haverá repercussões para o paciente caso não seja diagnosticada corretamente.

Por fim, vale ressaltar que o transtorno tem um impacto social significativo, afetando principalmente a família e os laços pessoais mais próximos do paciente com TOC. Dados epidemiológicos sobre TOC e depressão, suicídio e ansiedade têm maior impacto sobre o transtorno.

REFERÊNCIAS

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1Graduação em Pedagogia – Faculdades Integradas IESGO/GO
2Especialista em Docência do Ensino Superior – Instituto IBRA/MG
3Especialista em Psicologia Hospitalar – Faculdade Santa Casa da Bahia/BA
4Licenciatura Educação Física – Universidade Norte do Paraná/PR
5Mestrado em Ciências da Educação – Universidade Interamericana/PY
6Especialista em Psicopedagogia – Universidade Federal Fluminense/RJ
7Especialista em Orientação Educacional, Gestão e Supervisão Escolar – Instituto de Educação e Tecnologias/DF
8Especialista em Especialização em Orientação e Supervisão Educacional – Faculdade ITOP/TO
9Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica – Faculdade Tecnológica de Palmas/TO
10Especialista em Saúde da Família – Faculdade FAVENI/ES
11Graduanda em Biomedicina – Centro Universitario Leonardo da Vinci/SC
12Auxiliar em Saúde Bucal – Escola Norte Educacional
13Mestrando em Filosofia- Universidade Federal do Tocantins/TO
14Mestranda em Biociências – Universidade Federal de Juiz de Fora/MG
15Mestra em Saúde, Sociedade e Ambiente – Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri/MG
16Doutoranda em Movimento Humano e Reabilitação – Universidade Evangélica de Anápolis/GO
17Doutorando em Engenharia e Tecnologia Ambiental – Universidade Federal do Paraná/PR