REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7997426
Carla Andrade Teixeira;
Livya Samara Diniz Mendes;
Maria Jaqueline Jesus Dos Santos;
Maria Waldenora Leite Dos Santos;
Orientador(a): Ginarajadaça Ferreira dos Santos Oliveira.
RESUMO
Introdução: Sabe-se que a prematuridade é um importante fator de risco para o surgimento de déficits motores, sensoriais, cognitivos e comportamentais. Os estímulos sensoriais do ambiente da Unidade de Terapia Neonatal (UTIN) são agressivos, causando uma sobrecarga sensorial e estresse ao recém-nascido prematuro, interferindo no processamento sensorial e trazendo consequências ao neurodesenvolvimento. Objetivo: Analisar a relação entre as alterações de processamento sensorial e prematuridade. Método: Revisão integrativa com análise qualitativa, onde foram utilizados como fonte de coleta de dados sites especializados como BIREME, PubMed, Elsevier Journal, Biblioteca Nacional em Saúde e Scielo, sendo selecionados artigos entre os anos de 2018 a 2022. Foram utilizados como descritores em ciências da saúde (DecS): “Prematuridade”, “Processamento Sensorial”, “Transtornos de neurodesenvolvimento”. Resultados: Verificou-se nos artigos analisados uma forte correlação entre a prematuridade e as alterações de processamento sensorial, além disso, foi encontrada a influência da idade gestacional, do tempo de internação na UTIN e da exposição a ventilação mecânica e exposição a oxigênio suplementar. Os lactentes nascidos prematuros dos estudos presentes nesse artigo apresentaram alterações em vários domínios sensoriais, especialmente no sistema tátil e proprioceptivo. Conclusão: Ficou evidente nesse estudo a relação entre os distúrbios de processamento sensorial e a prematuridade, isso pode ser justificado pelas os estímulos sensoriais excessivos do ambiente de cuidados intensivos e da imaturidade cerebral.
Palavras-chaves: Prematuridade, Processamento sensorial, Transtornos de neurodesenvolvimento.
ABSTRACT
Introduction: It is known that prematurity is an important risk factor for the onset of motor, sensory, cognitive and behavioral deficits. The sensory stimuli in the Neonatal Care Unit (NICU) environment are aggressive, causing sensory overload and stress to premature newborns, interfering with sensory processing and bringing consequences to neurodevelopment. Objective: Analyze the relationship between sensory processing disorders and prematurity. Method: Integrative review with qualitative analysis, where specialized sites such as BIREME, PubMed, Elsevier Journal, Biblioteca Nacional em Saúde and Scielo were used as a source of data collection. Articles between the years 2018 to 2022 were selected. Were used as descriptors in health science (DecS): “Prematurity”, “Sensory Processing”, “Neurodevelopmental disorders”. Results: A strong correlation was found in the articles analyzed between prematurity and sensory processing disorders, in addition, the influence of gestational age, length of stay in the NICU and exposure to mechanical ventilation and supplemental oxygen was found. The preterm infants in the studies presented in this article showed disturbs in several sensory domains, especially in the tactile and proprioceptive systems. Conclusion: The relationship between sensory processing disorders and prematurity was evident in this study, which can be explained by the excessive of sensory stimulation of the intensive care environment and brain immaturity.
Keywords: Prematurity, Sensory processing, Neurodevelopmental disorders.
INTRODUÇÃO
Todas as respostas motoras, emocionais, comportamentais e de atenção dependem da maneira que o cérebro processa os estímulos originários dos sistemas sensoriais tátil, olfatório, gustativo, visual, proprioceptivo, vestibular e auditivo. Essa capacidade neural de organizar essas informações sensitivas do corpo e do ambiente, respondendo de maneira adequada é chamada de Processamento Sensorial (MACHADO et al., 2017).
Crianças com dificuldade no processamento da informação sensorial e que manifestam respostas comportamentais inadequadas, provavelmente apresentam desordens de processamento sensorial. As causas dessas alterações ainda não estão definidas, contudo há maior incidência e tendência em crianças com histórico de prematuridade, baixo peso ao nascer e complicações durante o nascimento (CABRAL et al., 2016).
A prematuridade é um importante fator de risco para o aparecimento de déficits motores, neurocognitivos e comportamentais. O ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal é repleto de estimulação sensorial excessiva e procedimentos dolorosos que causam sobrecarga sensorial e estresse no recém-nascido prematuro, interferindo no processamento sensorial adequado e trazendo consequências para o desenvolvimento neuropsicomotor (NIUTANEN et al., 2019).
Durante os primeiros anos de vida, a criança começa a identificar e interpretar as informações sensoriais. As mesmas servirão como base da aquisição de habilidades como coordenação motora, regulação da postura, equilíbrio e esquema corporal. Quando há uma desordem no processamento, denominada Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), ocorrem limitações na motricidade fina e grossa, na leitura, na comunicação, no brincar, na participação social, nas atividades de vida diária e ocupação (BUFFONE et al., 2016).
As experiências sensoriais são a base para o aprendizado e grande parte das atividades realizadas ao longo da primeira e segunda infância são essenciais na organização do sistema nervoso para produção de respostas adaptativas. O processamento sensorial adequado propicia um desempenho funcional na escola e em casa, além do desenvolvimento adequado nos fatores cognitivos, nas relações sociais, na função motora e no aspecto emocional (MACHADO et al., 2019).
Sabe-se que o desenvolvimento neuropsicomotor é o resultado de uma estimulação ambiental de qualidade e de fatores biológicos. Por essa razão o objetivo do presente estudo é analisar a relação entre o Transtorno de Processamento Sensorial e a prematuridade.
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO
2.1 Processamento Sensorial: Teoria de Integração Sensorial
O processamento sensorial consiste na maneira que o sistema nervoso central maneja as informações oriundas dos órgãos sensoriais que compõem os estímulos visual, tátil, auditivo, gustativo, proprioceptivo e vestibular. O processo envolve a recepção, modulação, integração, discriminação, a organização de estímulos sensoriais e suas respectivas respostas comportamentais a esses estímulos (MACHADO et al. 2017).
Os sistemas somatossensorial (sistema tátil e proprioceptivo), vestibular e visual são vistos, de maneira geral, como a base para esse processo (NIUTANEN et al., 2019). A ênfase nesses sistemas se dá devido a suas funções de processamento de informações do corpo como receptores proximais, destoando dos sistemas sensoriais distais (audição, visão, gustação e olfação), que são responsáveis pelo processamento das informações do ambiente (MAGALHÃES, 2008).
Juntamente com o processo de organização, há uma constante seleção, inibição ou aumento de informações sensoriais e respostas cerebrais para esses estímulos. Quanto maiores as experiências e atividades significativas, maiores são as informações comparadas, associadas e integradas (NIUTANEN et al., 2019).
O conceito de processamento sensorial tem origem na Teoria de Integração Sensorial desenvolvida por Anna Jean Ayres (1989). Segundo a teoria de Ayres, os comportamentos adaptativos, os movimentos do corpo, o processo de aprendizado e formação de conceitos são influenciados pela a capacidade de organizar e interpretar informações sensoriais. Um processamento sensorial adequado permite a interação com o ambiente e participação em atividades que envolvem habilidades sociais e físicas (MACHADO et al., 2019).
2.2 Transtorno de Processamento Sensorial (TPS)
Aliando seus conhecimentos de neurobiologia e análise de comportamento através de observação, Ayres trouxe a hipótese de que o comprometimento no processamento sensorial podia acarretar em diversos problemas funcionais, denominando esse estado de disfunção de integração sensorial, como Transtorno de Processamento Sensorial (TPS) (MACHADO et al., 2017).
O TPS interfere negativamente no desempenho e participação em atividades da vida diária. As dificuldades são diversas e variam de acordo com a natureza das alterações de processamento (NIUTANEN et al., 2019). Além do prejuízo nas atividades da vida diária, podem ser observadas dificuldades na participação social, controle postural, manuseio de objetos, imaturidade no brincar, prejuízo no contexto escolar, déficit de atenção e aprendizagem (SHIMIZU; MIRANDA, 2012).
Ao longo dos anos, vários estudos baseados em Ayres buscaram classificar os subtipos de manifestações comportamentais, no entanto, o modelo proposto por Miller et al. (2007), é mais amplamente utilizado e classifica os transtornos de processamento sensorial em: transtorno de modulação, transtorno de discriminação e transtorno motor de base sensorial.
O transtorno de modulação sensorial se refere a dificuldade em converter informações sensoriais em comportamentos adequados com a intensidade e natureza da recepção sensorial, seus sintomas podem incluir hipersensibilidade (respostas exacerbadas, rápidas ou mais demoradas do que é esperado), busca sensorial (punção intensa e constante por estímulos sensoriais) e hiporresponsividade (respostas com menor intensidade ou mais lentas do que é esperado) (MACHADO et al., 2017).
O transtorno de discriminação consiste na dificuldade em discriminar as qualidades de estímulos sensoriais, ocasionando em baixa capacidade em detectar as diferenças e semelhanças entre estímulos, além do déficit na diferenciação das qualidades espaciais e temporais do estímulo percebido. Geralmente crianças com esse tipo de transtorno conseguem perceber os estímulos e regular suas respostas, mas discriminam a natureza do estímulo ou sua localização de forma imprecisa (MACHADO et al., 2019).
O transtorno motor de base sensorial, por sua vez, é a dificuldade de estabilização do corpo ou no planejamento e sequenciamento de movimentos coordenados baseados em informações sensoriais (MACHADO et al., 2019). De acordo com a classificação de Miller et al. (2007), existem 2 subtipos de transtorno motor de base sensorial: transtorno postural e dispraxia.
No transtorno postural, a força abdominal (core strength) está diminuída. Dessa maneira, crianças com esse transtorno, apresentam pouco equilíbrio e baixa resistência, além disso, possuem déficit de mobilidade e pouca percepção corporal. Nesse tipo de transtorno, os sistemas sensoriais comumente atingidos são, o tátil e o proprioceptivo. Em relação ao aspecto comportamental é característico movimentos lentos, cautelosos ou desleixados, com uma visível preferência por atividades sedentárias (COLLINS et al., 2012).
A Dispraxia se apresenta como um déficit ou incapacidade em três aspectos necessários para completar uma ação motora: ideação, planejamento e execução. A ideação consiste na capacidade de criar novas ideias, já planejamento se refere a capacidade de planejar as etapas necessárias para por em prática a ideia; a execução é a ação motora propriamente dita, resultante da ideação e do planejamento. Crianças com dispraxia apresentam dificuldade em escalar, movimentos desajeitados, pobre sequenciamento de tarefas, dificuldade em jogar jogos com bola, pobre controle dos músculos orais e dificuldade na escrita e outras atividades motoras finas, como amarrar os cadarços (MILLER et al., 2012).
2.3 Prematuridade e as alterações de Processamento Sensorial
De acordo com a World Health Organization (2012), mais de 1 a cada 10 bebês no mundo, nascidos em 2010 eram prematuros, gerando uma estimativa de 15 milhões de recém-nascidos pré-termos, sendo que 1 milhão veio a óbito devido à prematuridade. No Brasil em 2010, 7,2% dos neonatos nasceram pré-termo, com variação entre 5,6% no Norte e 8,2% no Sudeste (BRASIL, 2014).
As principais causas da prematuridade consistem em fatores maternos como infecções, doenças crônicas da gestante (diabetes e hipertensão), patologias do genital feminino, idade materna (mães muito jovens ou com idade avançada), histórico de pré-eclâmpsia, alterações na placenta, tempo interpartal reduzido, uso de drogas, tabagismo, etilismo, desnutrição materna, ocorrência de parto prematuro anterior e fatores fetais como, gestação múltipla, anormalidades congênitas do bebê e de causa desconhecida (ROUPA; VIVAS, 2013).
Alterações fisiológicas, comportamentais e anatômicas são observadas no RN pré-termo. Podem haver alterações na frequência cardíaca, temperatura (hipertermia ou hipotermia), frequência respiratória, saturação, tônus, reflexos, trofismo, aspecto anatômico, como pequeno perímetro encefálico e tórax frágil, pele avermelhada ou icterícia, além de alterações comportamentais (REZENDE, J., MONTENEGRO, C., 2014).
O desenvolvimento neuropsicomotor é resultante da combinação de fatores biológicos e a qualidade da estimulação do ambiente. A prematuridade é um dos principais fatores de riscos para alterações no desenvolvimento de motor, cognitivo, comportamental e de processamento sensorial, devido a imaturidade do sistema neurológico e experiencias sensoriais desagradáveis que estão presentes no ambiente, especialmente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) (BUFFONE et al., 2016).
Estudos mais atuais mostraram que crianças nascidas prematuras demonstram respostas diferentes a estímulos sensoriais e podem apresentar alterações no processamento sensorial. Essas respostas diferenciadas são supostamente explicadas por dois fatores que aparentemente são interligados – o resultado de complicações médicas aliadas ao nascimento prematuro que pode trazer inúmeras complicações como leucoencefalomalacia periventricular, sepse, displasia broncopulmonar, e de experiências sensoriais durante os primeiros dias de desenvolvimento dentro da UTIN (MACHADO et al., 2017).
Foram observados em alguns estudos, a possível relação entre as alterações de processamento sensorial e problemas regulatórios, que consistem em alta irritabilidade, choro excessivo, dificuldade no autoconsolo, sono irregular e alimentação. Essas crianças, durante seu desenvolvimento podem apresentar dificuldade na organização de ações intencionais relacionadas a comunicação, no brincar, na motricidade grossa e fina, além da limitação das habilidades sociais (BUFONEE et al., 2016).
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de pesquisa
Trata-se de uma revisão integrativa com análise qualitativa e caracteriza-se por ser uma pesquisa que abrange os achados de vários estudos com diferentes metodologias, permitindo os revisores a sintetizar os resultados de forma que não venham julgar a epistemologia dos estudos envolvidos na pesquisa (SOARES et al., 2014).
A revisão integrativa tem o objetivo de fazer uma análise sobre o conhecimento já estruturado em pesquisas em relação a um determinado assunto. Essa técnica permite a síntese de diversos estudos já publicados, proporcionando a criação de novos conhecimentos, baseados em resultados com evidências científicas (KUBO, H., 2017).
3.2 Instrumento de coleta de dados
Os dados bibliográficos foram coletados de forma manual e eletrônica. Sendo os primeiros destes, obtidos a partir de pesquisa em livros de referências disponibilizados em bibliotecas e adquiridos ao longo da pesquisa. Os dados eletrônicos foram colhidos em sites especializados como BIREME, PubMed, Elsevier Journal, Biblioteca Nacional em Saúde e Scielo.
3.3 Período de pesquisa
A pesquisa bibliográfica foi realizada no período entre março de 2022 a abril de 2023.
3.4 Coleta de dados
A busca de dados foi norteada pelos seguintes Descritores em ciências da saúde (DecS): “Prematuridade”, “Processamento Sensorial” e “Transtornos de neurodesenvolvimento”. Como critérios de inclusão foram consideradas estudos que se referem a prematuridade e transtornos de processamento sensorial, em língua portuguesa e inglesa, no período entre os anos de 2018 a 2022, sendo excluídos aqueles que não possuem relevância a temática levantada, e também, com publicação inferior ao ano de 2018.
3.5 Considerações éticas
O presente trabalho não foi submetido ao Comitê de Ética, em razão de não utilizar coleta de dados a partir de seres humanos, conforme determinado na Resolução 466/12. Todavia, haverá o compromisso de citar todos os autores usados na pesquisa, já que se trata de uma revisão sistemática integrativa da literatura, respeitando o estabelecido pela Norma Brasileira Regulamentadora – NBR 6023. Os dados apresentados foram aplicados com propósito científico.
4 RESULTADOS
Foram selecionados para a análise, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, 30 artigos, dos quais 23 foram excluídos, por não cumprirem os critérios estabelecidos.
Com o objetivo de compreender a análise dos estudos selecionados, os artigos incluídos nos resultados foram organizados e apresentados conforme o quadro 1 abaixo, ordenados por ano de publicação, de forma crescente, e constituído por título, autores, tipo de pesquisa e os resultados dos respectivos estudos.
Nº | Título | Autor | Tipo de Pesquisa | Ano | Resultados |
1 | A ocorrência de transtorno de processamento sensorial em crianças dependendo do tipo e do tempo de parto: um estudo piloto | BELTRAME et al. | Estudo piloto | 2018 | Segundo os resultados do estudo há uma tendência maior de alterações sensoriais em bebês prematuros em relação aos bebês a termos, apesar de não haver uma indicação de correlação significativa. A reatividade sensorial anormal é um achado comum em prematuros, pois está associado a fatores como lesões na substância branca e imaturidade cerebral, que causam atraso no neurodesenvolvimento. |
2 | Revisão Sistemática do Processamento Sensorial em crianças pré-termos revela alteração anormal na modulação somatossensorial, no processamento somatossensorial e processamento motor de base sensorial | NIUTANEN et al. | Revisão Sistemática | 2019 | Segundo a revisão, estudos analisados revelaram uma forte evidência do risco elevado em bebês pré-termos de apresentar disfunções na modulação sensorial e no processamento motor de base sensorial. Além disso, a revisão em questão, demonstrou evidência moderada de disfunção no processamento somatossensorial nessa população. |
3 | O processamento sensorial está associado à prematuridade, desenvolvimento motor e cognitivo aos 12 meses de idade? | MACHADO et al. | Estudo transversal | 2019 | De acordo com o estudo, o grupo de crianças nascidas pré-termo apresentou uma diminuição no resultado total do Test of Sensory Functions in Infants, além de redução, nos scores de reatividade à pressão tátil profunda e reatividade a estimulação vestibular. |
4 | Processamento sensorial atípico e sua correlação com problemas comportamentais em crianças nascidas prematuras tardias aos 2 anos | CHEN et al. | Estudo transversal | 2021 | Foi observado que o grupo composto por crianças nascidas prematuras tardias demonstraram índice de prevalência de processamento sensorial atípico similar ao grupo de crianças nascidos a termo. Porém, aqueles que passaram pela unidade de terapia intensiva e permaneceram sob regime de ventilação e oxigênio suplementar por dias após o nascimento estavam correlacionados de forma significativa ao processamento sensorial atípico de crianças pré-termos tardias. |
5 | A relação entre o desenvolvimento motor com o processamento sensorial entre as crianças nascidas prematuras: um estudo de caso controle prospectivo | KARA et al. | Estudo de caso controle prospectivo | 2021 | De acordo com o estudo realizado com cerca de 78 recém-nascidos pré-termos, onde 36 apresentavam atraso de desenvolvimento e 42 (grupo de comparação) tinham desenvolvimento típico, há um risco maior de transtornos de processamento sensorial e problemas motores moderados no desenvolvimento motor no grupo de recém-nascidos pré-termos com atraso no neurodesenvolvimento. Além disso, há uma relação negativa entre processamento sensorial e a performance motora nesse grupo amostra. |
6 | Fatores Preditivos para Transtornos de Processamento Sensorial | GANDARA-GAFO et al. | Estudo transversal | 2021 | Segundo os resultados do estudo, o grupo de recém-nascidos prematuros possuem maior chance de apresentar problemas proprioceptivos se comparado a crianças nascidas a termo. |
7 | Transtornos de Processamento sensorial em bebês prematuros | TODOROVIC, J., LAZARIC, M. | Revisão de literatura | 2021 | Transtornos de processamento sensorial são vistos em 39-50% dos recém-nascidos pré-termo, com sutil evidencia de que aqueles RN prematuros com idade gestacional inferior a 32 semanas têm maior risco de desenvolver transtornos de processamento sensorial. |
5 DISCUSSÃO
Bebês nascidos prematuros apresentam maior risco de atraso no desenvolvimento sensorial, devido a exposição a estímulos sensoriais agressivos, como grandes períodos de intubação, estímulos sonoros em frequências altas, luzes intensas e procedimentos invasivos dolorosos no ambiente da UTIN, que contrasta com o ambiente calmo e seguro da vida intrauterina (KARA et al., 2021).
Segundo Ryckman et al. (2017 apud KARA et al., 2021) em seu estudo foi demonstrado que em uma população de crianças nascidas prematuras (idade gestacional igual ou inferior a 30 semanas) com a faixa etária entre 4-6 anos, 50% desse grupo apresentou transtorno de processamento sensorial.
Na revisão sistemática de NIUNATEN et al. (2019) foram analisados 3 revisões sistemáticas e 24 estudos de 11 países diferentes e foi observado que prematuros possuem problemas de processamento sensorial, sendo a modulação sensorial um deles. Nessa revisão foram identificados em estudos sensibilidade sensorial e baixo registro em participantes pré-termos, contudo a variação estatística entre os estudos revelou que os diferentes métodos de avaliação não são tão eficazes na detecção de distúrbios de processamento sensorial, principalmente em casos de baixo registro de informação sensorial.
Em relação a fatores neonatais, CHEN et al. (2021) relata que foi encontrada uma correlação entre a resposta comportamental relacionada ao processamento sensorial (baixo registro e processamento visual) e o tempo de exposição à ventilação mecânica ou oxigênio suplementar na UTIN de crianças prematuras tardias. Esses achados condizem, com estudos em crianças em idade pré-escolar nascidas prematuras (idade gestacional inferior ou igual a 32 semanas), o que indica que os cuidados nas UTIN após o nascimento podem ser um fator de risco para um processamento sensorial inadequado.
No estudo piloto de BELTRAME et al. (2018), os bebês do grupo risco (pré-maturos) apresentaram alteração sensorial em dois ou mais processamentos, com exceção de um bebê que apresentou alteração somente em um processamento. Dos grupos de 20 bebês que obtiveram alteração nas avaliações sensoriais, 7 deles apresentaram risco para autismo ou outra psicopatologia de acordo com o questionário PREAUT, esse que por sua vez, detecta sinais precoces de risco para autismo.
Assim como outras pesquisas, MACHADO et al. (2019) encontrou resultados que indicaram a associação entre a prematuridade e transtornos de processamento sensorial no primeiro ano de vida, principalmente nos sistemas tátil e vestibular. Os nascidos pré-termos cuja faixa etária estava entre 10 a 12 meses, que foram avaliados pela TSFI, tiveram escores inferiores nos domínios: processamento tátil, motor, práxis, integração visual-tátil e processamento vestibular, quando comparados ao grupo de bebês nascidos a termo.
A literatura disponível até o momento, demonstra a dificuldade de modulação sensorial em prematuros dentro dos domínios sensoriais: tátil, audição, oral, visual e vestibular. Outros fatores podem ser correlacionados a anormalidade de modulação sensorial, como idade gestacional e tempo de internação na UTIN, o que sugere que quanto menor a idade gestacional e maior tempo de internação, maior risco de alterações de processamento sensorial (TODOROVICK, J., LAZIC, M., 2021).
O estudo de GANDARA-GAFO et al. (2021), que levou em conta a prematuridade como um dos fatores de risco para transtornos de processamento sensorial, obteve como achado a associação da prematuridade à problemas proprioceptivos em comparação a crianças nascidas a termo. Outro achado obtido no estudo foi a prevalência de 10.2% de reatividade sensorial em crianças prematuras com ou não Transtorno do Espectro Autista (TEA) associado. Um resultado similar foi achado em uma pesquisa de MAY-BENSSON et al. (2009 apud GANDARA-GAFO et al., 2021) onde 12.4-16% das crianças prematuras apresentaram TPS associado ou não ao TEA.
Há forte correlação entre os desenvolvimentos da coordenação fina e grossa e processamento sensorial entre a faixa etária de 8 a 12 meses de crianças nascidas pré-termo, segundo o estudo de KARA et al. (2021). Além disso o mesmo estudo mostrou que RN prematuros tem maior risco de distúrbios neuro-sensórios do que os bebês a termo.
No seu estudo MACHADO et al. (2019), explica que os resultados sugerem que a prematuridade interfere no processamento sensorial, principalmente no sistema somatossensorial. Além disso alterações no processamento sensorial no controle viso-motor, pioram a performance motora no pré-termo e a termos nos 12 meses de idade.
A incidência nos estudos de crianças nascidas prematuras que apresentam transtornos de processamento sensorial é evidente, dessa maneira os problemas funcionais ao longo da primeira infância dessa população incluem baixo desempenho nas habilidades sociais e participação nas brincadeiras, repostas adaptativas com pouca complexidade, frequência e duração; autoestima prejudicada e déficits motores. Em adição a isso, podem apresentar atraso na linguagem, problemas de equilíbrio e na coordenação grossa e fina (MACHADO et al., 2017).
Para BUFONNE et al. (2016), os lactentes nascidos prematuros apresentam com maior frequência sinais sugestivos de alterações de processamento sensorial, logo os mesmos demonstram ter mais risco de atraso de desenvolvimento cognitivo. Por outro lado, somente a prematuridade, por si só, não consiste como o único fator de risco para o atraso no neurodesenvolvimento, o que dificulta a detecção de alterações no processamento sensorial.
5 CONCLUSÃO
A partir dos estudos apresentados, pode-se concluir que há uma relação entre a prematuridade e as alterações de processamento sensorial no desenvolvimento neuropsicomotor. O ambiente da UTIN expõe os recém-nascidos a estímulos prejudiciais, como procedimentos dolorosos, exposição a ruídos e a luz intensa, esses fatores associados a imaturidade cerebral trazem uma predisposição ao desenvolvimento de transtornos de processamento sensorial, e dessa forma, atrasos no neurodesenvolvimento.
O transtorno de processamento sensorial interfere na participação de atividades de vidas diárias e as dificuldades variam conforme o domínio sensorial afetado. Os prejuízos incluem pouca participação social, pobre habilidade no manuseio de objetos, pouco controle postural, imaturidade emocional, déficit de aprendizagem e de atenção, principalmente no contexto escolar. Além disso, crianças com TPS podem apresentar baixa autoestima e dificuldade no engajamento na participação de atividades.
Poucos estudos relacionaram diretamente de forma clara o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças nascidas prematuras e as alterações de processamento sensorial. Isso se deve a heterogeneidade da população em si e dos critérios de avaliação, o que torna mais desafiador a predição de TPS em recém-nascidos pré-termos. Ficou evidente a escassez de estudos relacionado ao tema, principalmente de origem brasileira, o que sugere a necessidade de mais estudos sobre a prematuridade e os transtornos de processamento sensorial.
REFERÊNCIAS
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