LEVANTAMENTO DOS DISPENSADORES DE MEDICAMENTOS NAS FARMÁCIAS BÁSICAS DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE

UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7975094


Maria Vitória da Silva Moura1


RESUMO:

Durante o ato de dispensação espera-se que sejam fornecidas ao usuário do medicamento todas as informações necessárias ao seu uso correto e racional para minimizar os possíveis problemas farmacoterapêuticos relacionados. As falhas na dispensação significam o rompimento de um dos últimos elos na segurança do uso dos medicamentos. Durante esse processo, o paciente pode estar exposto a diferentes graus de risco de danos à sua saúde. O objetivo da pesquisa foi elucidar um levantamento sobre o perfil dos dispensadores de medicamentos nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde. Essa pesquisa tratou-se de uma revisão de literatura, nos moldes da revisão integrativa. As bases de dados consultadas Foram: PubMed/Medline (National Library of Medicine and National Institutes of Health); LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); BDENF (Base de Dados de Enfermagem); SCOPUS, base de arquivos da SCIENCE, e base de artigos do Google acadêmico. Ao final das leituras 12 artigos foram escolhidos para compor os resultados e discussão. Na dispensação de medicamentos é importante que o profissional farmacêutico atue com um perfil na preocupação de prevenir o máximo de riscos e erros, a fim de assegurar a saúde do paciente e atender exigências regulatórias. Além disso, a preocupação do controle de riscos contribui para o monitoramento dos medicamentos a nível nacional. Conhecendo o sistema de dispensação os riscos são mais facilmente reconhecidos, e planos de ação são mais rapidamente aplicados auxiliando não somente o estabelecimento das Unidades Básicas de Saúde, e trazendo benefícios ao paciente, mas também acrescentando aos estudos dos processos regulatórios da farmacovigilância.

Palavras-chave: Dispensação. Medicamentos. UBS. Farmacêutico.

ABSTRACT:

During the act of dispensing, it is expected that the user of the drug will be provided with all the information necessary for its correct and rational use to minimize possible pharmacotherapeutic related problems. Dispensing failures mean breaking one of the last links in the safety of medication use. During this process, the patient may be exposed to different degrees of risk of damage to their health. The objective of the research was to elucidate a survey on the profile of drug dispensers in the pharmacies of the Basic Health Units. This research was a literature review, along the lines of an integrative review. The databases consulted were: PubMed/Medline (National Library of Medicine and National Institutes of Health); LILACS (Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences); BDENF (Nursing Database); SCOPUS, SCIENCE’s archive base, and Google Scholar’s article base. At the end of the readings, 12 articles were chosen to compose the results and discussion. When dispensing drugs, it is important that the pharmaceutical professional acts with a profile in order to prevent the maximum number of risks and errors, in order to ensure the patient’s health and meet regulatory requirements. In addition, the concern of risk control contributes to the monitoring of medicines at the national level. Knowing the dispensing system, the risks are more easily recognized, and action plans are more quickly applied, helping not only the establishment of Basic Health Units, and bringing benefits to the patient, but also adding to the studies of the regulatory processes of pharmacovigilance.

Keywords: Dispensation. Medicines. UBS. Pharmaceutical.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Política Nacional de Assistência Farmacêutica (PNAF), regulamentada pela Resolução nº 338 de 06 de maio de 2004, define-se a atividade multidisciplinar “Assistência Farmacêutica” (AF) como o conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e visando o acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização (AZEVEDO, 2017).

Durante o ato de dispensação espera-se que sejam fornecidas ao usuário do medicamento todas as informações necessárias ao seu uso correto e racional para minimizar os possíveis problemas farmacoterapêuticos relacionados. Entretanto, de modo geral, a forma como os serviços e processos de trabalho estão estruturados, não permite que os profissionais da farmácia disponham de tempo e recursos suficientes para prestarem um serviço de dispensação que atenda à qualidade esperada (BRASIL, 2013).

Ao se considerar a segurança do paciente, o ato da dispensação é de fundamental importância, principalmente por ser um dos últimos contatos do usuário do Sistema de Saúde com profissionais do mesmo. Em casos de falhas na dispensação o paciente se torna vulnerável, e exposto a diferentes graus de riscos que podem ser reversíveis ou não. Em algumas situações, os erros de dispensação, demonstram uma vulnerabilidade do processo de trabalho (OLIVEIRA, 2017).

O serviço farmacêutico, geralmente em cumprimento a uma prescrição de profissional habilitado, envolve a análise dos aspectos técnicos e legais do receituário, a realização de intervenções, a entrega de medicamentos e de outros produtos para a saúde ao paciente ou ao cuidador, a orientação sobre seu uso adequado e seguro, seus benefícios, sua conservação e descarte, com o objetivo de garantir a segurança do paciente, o acesso e a utilização adequados. Por conta disso, a dispensação deve ser entendida como um serviço farmacêutico que, pode representar a etapa final, mas também pode ser o ponto de partida para o encaminhamento do paciente a outros serviços de saúde (MINISTERIO DA SAUDE, 2015).

Diante desse contexto o objetivo do trabalho foi elucidar um levantamento sobre os dispensadores de medicamentos nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde. Como objetivos específicos: analisar como é realizado o processo de dispensação de medicamentos nas farmácias básicas do Sistema Único de Saúde, identificar a importância dos serviços farmacêuticos nas farmácias básicas das Unidades Básicas de Saúde; e conhecer o perfil dos profissionais dispensadores de medicamentos nas farmácias básicas das Unidades básicas de saúde.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Dispensação de medicamentos

Dispensação de medicamentos é a atividade do profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, como resposta ou não à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado, de acordo com o medicamento em questão. Nesse ato, o farmacêutico deve informar e orientar o paciente sobre o uso adequado do medicamento. São pontos importantes da orientação, entre outros, o alerta no cumprimento da dosagem, a interação com alimentos ou com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições de conservação dos produtos (BRASIL, 2014).

Uma das alternativas mais utilizadas pela população como meio de recuperação de saúde são as farmácias, que têm sido, ao longo dos anos, um serviço de saúde mais acessível, por estarem disponíveis em maior quantidade que as unidades primárias de saúde, clínicas e hospitais. As farmácias ou drogarias tratam-se então, não somente de um estabelecimento de prestação de serviços na venda de medicamentos, mas também um local de informação, educação e promoção em saúde, exigindo melhor e maior comunicação entre profissional e paciente (OSHIRO; CASTRO, 2016).

Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013) a Política Nacional de Medicamentos define uso racional de medicamentos como o conjunto de atividades que compreende a prescrição adequada; a disponibilidade cabível e preços acessíveis; a dispensação em condições apropriadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos estabelecidos e no período de tempo indicado, de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade.

Em relação a dispensação o Conselho Federal de Farmácia publicou a Resolução nº 328, de 22 de julho de 1999 que utiliza o conceito antigo de dispensação, já modificado pela Política Nacional de Medicamentos (PNM), mas não mantido por esta resolução, sendo que a única alteração realizada foi a inclusão do termo “orientação” na definição de dispensação. (ANGONESI, 2018).

Sabe-se que as drogarias são muito mais do que locais de simples dispensação ou comércio de medicamentos e outros produtos de saúde, e as legislações relatam isso. São locais de prestação de serviços de saúde, promoção e educação em saúde de responsabilidade do profissional farmacêutico, dessa forma precisam ter mecanismos que controlem todos os processos de dispensação e contato com o paciente para que não haja comprometimento nas informações e procedimentos relacionados a saúde do usuário (OSHIRO; CASTRO, 2015).

2. O SUS e as farmácias básicas

As farmácias básicas no Sistema Único de Saúde são consideradas componente Básico da Assistência Farmacêutica, contemplam medicamentos e insumos voltados para o atendimento tendo em vista que um dos principais objetivos da atenção básica é a prevenção de agravos e programas de saúde, no nível da Atenção Básica. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal é responsável pela compra da maioria destes medicamentos, cabendo ao Ministério da Saúde a aquisição das insulinas humanas NPH e regular, contraceptivos orais e injetáveis, dispositivo intrauterino (DIU) e diafragma (MARTINS, 2012).

As ações da Assistência Farmacêutica nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) têm por finalidade promover a resolutividade e a integralidade do cuidado em saúde, fundamentando-se na perspectiva das Redes de Atenção, de modo a atender às demandas de saúde da população que se expressam em situações demográ­ficas e epidemiológicas singulares.Com esse intuito foi-se criado na farmácia básica a Política Nacional de Medicamentos (PNM) (AMARAL, 2016).

A Assistência Farmacêutica é parte das atividades do âmbito de ações que desenvolve o Estado para que seja estabelecida a promoção da saúde, bem como a relação da prevenção de doenças, no seu diagnóstico, acompanhamento de tratamento e na eficiente recuperação dos que dela vem necessitar. A acessibilidade aos medicamentos é de extrema relevância para que sejam conseguidos resultados necessários nos atendimentos e acompanhamentos do Sistema Único de Saúde. A Política de Assistência Farmacêutica é estabelecida e tem seu respaldo pelo financiamento de forma assegurada pelo SUS, segundo previsto no §1º do art. 198 da Constituição Federal (BRASIL, 2010).

O direito dos usuários ao acesso aos medicamentos é considerado universal, para que adquira a preservação à saúde e a recuperação eficiente daqueles que possuem alguma doença ou a tem de uma forma prejudicada. Acontece que tal direito deverá ser regulamentado, para que os destinados recursos sejam usados de forma mais racional, possibilitando uma cobertura geral de medicamentos cada vez elevada (SANTOS, 2010).

No cenário atual, apresenta-se uma melhoria na distribuição e aquisição de medicamentos e, principalmente, na acessibilidade à Assistência Farmacêutica, comprovando que os brasileiros têm acesso a 88% dos medicamentos aos quais são prescritos. A Assistência Farmacêutica através da PNM compreende três estratégias: atenção e orientação básica à saúde por intermédio do fornecimento dos essenciais medicamentos, programas de ações para controlar determinadas patologias e medicamentos denominados especializados, que são excepcionais ou possuem elevado custo (FERREIRA FILHO, 2014).

No PNM, estima-se à garantia de acessibilidade do usuário aos essenciais medicamentos correlacionados às relações de práticas assistenciais que tem como finalidade a qualidade de saúde aos indivíduos. Diante desse programa, os fármacos referentes a patologias mais frequentes como diabetes, hipertensão, infecções, doenças respiratórias, asma, pneumonia, tuberculose e alergias, serão ofertados pela rede de Unidades Básicas de Saúde dos Municípios e do Estado. O projeto de financiamento desse determinado programa foi estabelecido por intermédio do surgimento do Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica advinda da Portaria 176/1999 do Ministério da Saúde (TORRES, 2008).

Em relação ao Estado de São Paulo, como exemplo, a estratégia à Assistência Farmacêutica, no que tange aos essenciais medicamentos, é uma positiva realidade e possibilita na contribuição para a melhoria dos meios e condições de saúde pública da população que são atendidas na UBS do Estado (AMARAL, 2014).

O segundo programa, Programa Nacional de Assistência Básica (PNAB) considerado Estratégica de Saúde Pública, é aquele que tem por objetivo o controle das epidemias e insere medicamentos para doenças como exemplo cólera, leishmaniose, Infecções Sexualmente Transmissíveis, dentre outras. A aquisição e o financiamento desses medicamentos através do PNM, são realizados pelo Ministério da Saúde que os faz a distribuição por todas as unidades básicas levando em consideração as necessidades de cada município do território brasileiro. As secretarias municipais de saúde realizam um levantamento da real necessidade de medicamentos e estabelecem a solicitação junto ao Ministério da Saúde. Em parceria com o Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) realizam a devida adequação desses medicamentos que serão separados e distribuídos de acordo com os usuários que os receberão (MARTINS, 2012).

Também no PNM, destaca-se o de Medicamentos Especializados, possíveis às doenças consideradas como individualizadas e que vem exigir um diferenciado tratamento, médio, longo ou, em diversos casos de forma permanente, de elevado custo e direcionado aos pacientes que não apresentam recursos para arcar com esses procedimentos (DI PIETRO, 2010).

2.3 RENAME – Lista nacional

A Rename é elaborada atendendo aos princípios fundamentais do SUS, isto é, a universalidade, a equidade e a integralidade, configurando-se como a relação dos medicamentos disponibilizados por meio de políticas públicas e indicados para os tratamentos das doenças e agravos que acometem a população brasileira. Seus fundamentos estão estabelecidos em atos normativos pactuados entre as três esferas de gestão do SUS. Com isso, a concepção, a sistematização e a harmonização da Rename devem sempre ser realizadas de forma democrática e articulada. A lista deve ser construída a partir de uma avaliação que considere as informações de eficácia, efetividade, segurança, custo, disponibilidade, entre outros aspectos, obtidas a partir das melhores evidências científicas disponíveis (CARVALHO, 2017).

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC) é um órgão colegiado de caráter permanente, que tem como objetivo assessorar o Ministério da Saúde nas atribuições relativas à análise e à elaboração de estudos de avaliação dos pedidos de incorporação, ampliação de uso, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde; e na constituição ou na alteração de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas (PCDTs). Por meio de instrumento legal, a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) foi institucionalizada no Brasil como critério indispensável para a tomada de decisão sobre a incorporação tecnológica no SUS (JUNQUEIRA, 2016).

A atualização do elenco da Rename proposta pela Conitec compreende: i) um processo reativo em que os demandantes são órgãos e instituições, públicas ou privadas, ou pessoas físicas; e ii) um processo ativo conduzido por uma subcomissão da Conitec – a Subcomissão Técnica de Atualização da Rename e do Formulário Terapêutico Nacional. Em ambos os processos, os medicamentos e insumos são incorporados, excluídos ou alterados no SUS, após avaliação da Conitec e decisão do secretário da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde (JUAREZ, 2016).

2.4 Farmacêutico nas farmácias básicas

A atividade profissional dos colaboradores farmacêuticos na atenção básica proporciona atenção aos serviços farmacêuticos que estabelece ser compreendidos como um conjunto composto de ações, realizadas pelo profissional da área da farmácia ou sob sua devida supervisão, prestadas no instante das inúmeras atividades inseridas no ramo da assistência farmacêutica, que tem por finalidade responder às relações de demandas e necessidades da população, fundamentada em sentido técnico-científicos e nas políticas voltadas a promoção da saúde (CFF, 2009). Logo, a responsabilidade na parte técnica do farmacêutico está principalmente amparada em normalizações sanitárias, tais como é apresentada a Lei nº 5991/73 e a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 44, estabelecida pela Agência nacional de vigilância Sanitária (ANVISA), de 17/08/09.

Em relação ao Conselho Federal de Farmácia (CFF), as atividades farmacêuticas na atenção básica podem ser direcionadas ao medicamento (processo de aquisição, momento de recebimento, devido processo de armazenamento, método de estocagem, e sua conservação, garantia no controle da qualidade, dentre outros) e ao usuário (atenção básica farmacêutica, dispensação farmacêutica, devido acompanhamento e cuidado farmacoterapêutico, busca e notificação de adversas reações a medicamentos, promoção de educação em saúde, dentre outros). É relevante ressaltar também, a ampla atividade clínica relacionada ao farmacêutico segundo a Resolução, 585, da ANVISA, de 29/08/13, a de prescrição e há ainda, diversas atividades administrativas e gerenciais (registro e controle das movimentações dos estoques de medicamentos, realização de balanços, capacitações e treinamentos de funcionários, etc) (BRASIL, 2013a).

Geralmente tem sido discutida de forma intensa a real necessidade de planejamento e estruturação dos serviços demandados pelo farmacêutico para que esses não se diminuam à logística estratégica do medicamento, mas tragam uma evolução no sentido de proporcionar mais os aspectos humanísticos e clínicos que envolvem a ciência da farmacoterapia, como é o caso do processo de dispensação de medicamentos, ação de indicação farmacêutica, farmacovigilância e a metodologia de educação em saúde, considerados componentes indispensáveis da prática da função do farmacêutico (BASTOS; CAETANO, 2010).

Como colaborador da saúde qualificado que vem a desempenhar uma atividade de forma regulamentada, o farmacêutico responde não somente pelas suas ações técnicas, bem como por ação de terceiros que estão principalmente sob sua devida fiscalização, possibilitando estar sujeito a responder sobre a suas condutas éticas, criminais e civis. Entretanto, esse profissional torna-se um agente responsável por todo o acompanhamento do comércio de drogas, insumos farmacêuticos, medicamentos e correlatos das drogarias/farmácias, além de ter que monitorar e atestar a garantia de qualidade destes produtos. A partir destes questionamentos, nota-se que este profissional necessita estar conscientizado de seus direitos e deveres para atuar de forma plena no mercado (SILVA, 2002).

Em um cenário atual, ainda existem indivíduos que têm dúvidas em relação quais as principais funções do farmacêutico na sua profissão (drogarias e repartições de saúde pública), contudo desconhecem essas ações, o que em diversos casos a população deixa de garantir uma assistência farmacêutica de qualidade. As responsabilidades desse profissional na área de saúde são consideradas variadas, abrangendo atividades de orientação, o que causa um efeito muito importante para o usuário na aquisição de informações a serem transmitidas ao pacientes (GALATO, 2008).

Vale ressaltar que outra função bastante fundamental a esse colaborador, é o auxílio na capacitação e no treinamento da sua equipe de funcionários, a intercambialidade de fármacos, o seu devido registro dos medicamentos sendo sujeitos um especial controle e, também de forma recente, dos antibióticos e da relevância que o medicamento genérico tem alcançado na eficácia de algumas patologias. Além de que, com essas capacitações, o farmacêutico tem que orientar a sua equipe para verificar o estoque para que não falte produto, para não realizar a venda medicamentos fora do período de validade ou sem o devido registro nos competentes órgãos. Vale fomentar que, o destino de alguns produtos com prazos de validades vencidos deve ser informado no Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS), em decorrência a Resolução 306, da ANVISA, de 07/12/04. Sendo constatado esse vencimento, devem ser acondicionados os produtos em caixas armazenadas e lacradas em local identificado de forma correta e padronizada, até serem alocados à vigilância sanitária local (ALENCAR, 2011).

O artigo 20 instituído pela Resolução da ANVISA n° 44/09 de uma forma em geral, ressalta que “as atribuições e responsabilidades do farmacêutico técnico responsável são aquelas fundamentadas pelos conselhos regional e federal de farmácia, estabelecidas a legislação do padrão sanitário legalizado para os estabelecimentos farmacêuticos e as drogarias”, assim como, estabelece o artigo 21 expondo que a prestação dos seus devidos serviços é determinada também pelos mesmos conselhos (BRASIL, 2009).

2.4.1 Assistência farmacêutica nas farmácias Básicas

A assistência Farmacêutica na atenção básica é considerada uma prática desenvolvida pelo profissional farmacêutico, e que foi surgida, de certo modo, recentemente no processo de Assistência Farmacêutica. A designação Atenção Farmacêutica foi utilizada pela primeira vez por Mikeal (1975) como se tratando: da assistência que um determinado usuário tem necessidade de receber, que traz segurança a um uso racional e seguro de medicamentos (NASCIMENTO, 2004).

O clássico conceito dessa prática, estabelecido por Hepler e Strand (2011), baseia-se no processo de responsabilidade da farmacoterapêutica desenvolvida com a finalidade de melhoria da qualidade de vida desses pacientes, alcançando, assim a propagação da saúde por intermédio da cura de uma patologia; redução ou eliminação dos sintomas do usuário; retardamento ou interrupção do método patológico, ou prevenção de um sintoma ou de uma doença.

Na visão da organização Mundial de Saúde (OMS) o processo de Atenção Farmacêutica é estabelecida também como uma prática profissional na qual o usuário torna-se o principal agente beneficiário das atividades que envolvem o colaborador farmacêutico. A atenção farmacêutica é considerada o compêndio das relações de atitudes, os compromissos, os comportamentos, os valores éticos, as inquietudes, as funções, as responsabilidades, os conhecimentos e as habilidades dos farmacêuticos na promoção da farmacoterapia com a estratégia de obtenção de resultados terapêuticos estabelecidos na qualidade de vida e na saúde do paciente (REIS, 2008).

Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) ressalta que Atenção Farmacêutica seja:

Um modelo de práticas farmacêuticas, desempenhadas no contexto do processo da Assistência Farmacêutica. Compreende, valores éticos, atitudes, estilo de comportamentos, compromissos, relação de habilidades e co-responsabilidades na prevenção, promoção e recuperação da saúde, de pacientes de uma forma integrada à equipe básica de saúde. É a direta interação do farmacêutico com o paciente, objetivando uma farmacoterapia de forma racional e o surgimento de resultados mensuráveis e definidos, estabelecidos para a melhoria da qualidade de vida do ser humano (NASCIMENTO, 2004, p. 56).

Segundo Vidotti e Silva (2006) esse conceito estabelecido pela (OPAS) foi surgido em 2005 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Na região central da Espanha onde se observa que o processo de atenção farmacêutica estava se desenvolvendo de forma intensa. A inserção de ações de Atenção Farmacêutica é muito relevante para elevar a adesão ao tratamento, prevenção de intoxicações, possibilitar a utilização e armazenamento de forma eficaz e segura, prevenção do surgimento de negativos resultados associados à farmacologia (RNMs), melhoria na qualidade na comunicação com o usuário, elaboração de política de educação em saúde e campanhas educativas que são vinculadas às devidas necessidades da sua comunidade.

Em programas educativos que são relacionados à Atenção Farmacêutica, o profissional farmacêutico passa a ter um melhor conhecimento sobre o paciente. Sabe, não somente que fármacos que ele toma e de que forma o faz, mas como também se encontra e sente bem com o devido tratamento e com a sua dificuldade de saúde. Na prática, o profissional farmacêutico, de forma organizada, realiza a avaliação e coleta de informações em relação ao paciente, incluindo o processo de identificação de possíveis RNMs. Identificação do problema, busca da solução, e da sua fórmula e colocando em prática um planejamento para corrigi-lo. Para realizar este programa relacionado a atenção farmacêutica, o colaborador necessita a ampliação de seus conhecimentos e suas habilidades, além daqueles usados na tradicional prática farmacêutica (VIDOTTI; SILVA, 2006).

Através da relação da Atenção Farmacêutica, o farmacêutico pode levar o usuário a incentivar a realização de atividades na promoção do auto-cuidado, a partir da orientação e do aconselhamento relacionados ao fornecimento de um medicamento ou determinados tratamentos que levam os usuários à automedicação para que possa gerar a consciência de que o esse usuário guarda para si a responsabilidade e o controle em relação a sua saúde (VIDOTTI; SILVA, 2006).

A contribuição do processo de Atenção Farmacêutica junto à sociedade, mantendo em vista a utilização racional de fármacos e a melhoria da qualidade de vida desse paciente em decorrência da promoção da saúde, fundamenta a relevância dessa ação ser implantada. Diante disso, o desafio deverá ser enfrentado vindo dos próprios profissionais farmacêuticos (SANTOS; LIMA; VIEIRA, 2005).

Diante desse contexto, surge a necessidade de estimular e motivar os acadêmicos e profissionais que se encontram recém-formados, os quais possuem o anseio e a energia de colaboração com a promoção de saúde da comunidade, de modo que venha ultrapassar as barreiras para realizar programas que envolvam a Atenção Farmacêutica, inserindo além das relações de perspectivas no processo de aceitação estabelecido pela administração geral do empreendimento farmacêutico e possibilitando admissão e compreensão da necessidade real do programa por parte da comunidade assistida (SANTOS et al., 2005).

2.4.1.1 Perfil do farmacêutico no processo de dispensação de medicamentos

Entre os cuidados relacionados a dispensação de medicação, tem-se a disponibilização apropriada das informações sobre como usar corretamente a medicação com ênfase que a farmacoterapia precisa ser cumprida, a interação daquele medicamento que o cliente solicita com outros tipos de medicamentos, alimentação e exames de laboratório, conhecimento das reações adversas e como conservar corretamente o produto (MARIN, 2003). É extremamente relevante a informação educativa na dispensação, pois é o ponto chave na cadeia de assistência da saúde e se constitui em última oportunidade dentro do sistema de saúde para a identificação, correção ou redução dos os erros associados à farmacoterapia (OENNING; OLIVEIRA; BLATT, 2011).

Há uma conexão entre o farmacêutico com o paciente cujo intuito é orientar o mesmo sobre o que o médico prescreveu, consolidando então a relação existente entre a prática e a teoria o que propicia segurança, saúde e eficácia (OLIVEIRA et al., 2005).

De acordo com a Resolução CFF nº 596/2014, o farmacêutico é responsável por executar suas atividades de maneira contributiva para salvaguardar a saúde pública e a promoção de ações educativas em saúde (BRASIL, 2014).

Qualquer prejuízo provocado por terceiros aos pacientes, sendo que estes terceiros estejam sob a supervisão farmacêutica, o farmacêutico pode ser responsabilizado na esfera civil, criminal e administrativa pois os erros da sua equipe também recaem sob o farmacêutico o que é denominado de responsabilidade solidária. O farmacêutico pode ser absolvido pela justiça criminal e sofrer punição em processo ético-disciplinar, pois são esferas distintas, sendo que um determinado fato pode ter sua caracterização como uma falta ética, mesmo não sendo considerado crime.

A ação da dispensação é uma forma técnica e a escolha do fármaco não pode estar associada com vantagem interesses econômicos, lembrando que o colaborador em saúde não deve sofrer qualquer tipo de pressão ou ser incumbido quanto ao cumprimento de metas referente a venda de determinados medicamentos (CRF-SP, 2017). É proibido ao farmacêutico receber comissão ou prêmio relacionado com venda de medicamentos.

O art. 10 da Lei 13.021/14 cita que tanto o dono da farmácia quanto o farmacêutico devem pautar seus atos solidariamente, visando sempre a utilização racional das medicações. O art.11 ressalta que é vedado para o proprietário da farmácia desautorizar qualquer orientação passada pelo farmacêutico. As farmácias têm a obrigatoriedade em disponibilizar ao farmacêutico condições adequadas para que este possa realizar seu trabalho (BRASIL, 2014).

2.4.1.2 Dispensação errada de medicamentos

O erro de dispensação é tudo aquilo que é dispensado em desacordo com a prescrição farmacêutica e/ou rotina padronizada na farmácia (BRASIL, 2012). Um erro pode ocorrer em diversos estágios no sistema de dispensação, como por exemplo: erro de omissão do medicamento prescrito, erro de dose do medicamento, forma farmacêutica incorreta, falta do diluente, horário incorreto, erro na concentração da apresentação farmacêutica, na rotulagem e documentação.

Dispensar um medicamento para o paciente errado ou um medicamento fora das especificações pode acarretar em danos significativos à saúde do paciente, necessitando de intervenções dos profissionais da saúde. De acordo com a OMS, cerca de 15% a 20% dos orçamentos dos hospitais são destinados a resolução das complicações causadas pelo uso inadequado dos medicamentos (OMS, 2015).

Os erros de omissão de medicamentos foram os mais prevalentes nos estudos analisados. Oito estudos apresentaram uma frequência deste tipo de erro. No estudo de Melo e Pedreira (2015), houve maior ocorrência, com 1.299 erros de omissão em 1.717 erros analisados. Este estudo foi realizado com dados coletados de prontuários de crianças internadas em três unidades pediátricas, cirurgia pediátrica, infectologia pediátrica e cuidados intensivos pediátricos, de um hospital universitário do município de São Paulo, já de acordo com Costa et al. (2018) os erros de omissão tiveram menor ocorrência, que correspondeu a 40 erros em 262.

Opitz (2016) salienta que o numeroso volume de doses a ser dispensadas em determinados horários pode levar a atrasos no horário, e este atraso de horário pode levar a erros, acarretando prejuízos terapêuticos ao paciente. O fato das medicações serem administradas antes ou depois do horário previsto, demonstra falhas que podem estar relacionadas a falta de funcionários ou ao sistema de dispensação utilizado na farmácia.

2.4.1.3 Não identificação de possíveis erros de prescrição

Os indicadores de forma quantitativa podem ser estabelecidos em relativos e absolutos, e todos devem ser devidamente acompanhados de um relatório técnico que vai direcionar a origem do indicador para se obter de resultados mais confiáveis. O indicador deve caracterizar um nome, o objetivo da utilização, a fórmula e sua explicação, o ambiente de onde os dados serão coletados e como esse método será feito. Deve estar contido na ficha técnica como devem ser acompanhados os resultados e quem será o colaborador responsável pela interpretação dos possíveis resultados (INSTITUTO, 2016).

No protocolo que trata da prescrição, na utilização e na administração de fármacos foram descritos três diferentes indicadores: taxa de falha na prescrição, taxa de falha no processo de dispensação e taxa de falha na administração dos medicamentos. O recomendado é que se utilize no mínimo três indicadores para se monitorar o processo, mas isso não quer dizer que outros possíveis indicadores, além daqueles mostrados no protocolo, não possam ser usados (INSTITUTO, 2016).

O uso de indicadores de erros para o processo de medicação, no geral, é imprescindível para proporcionar o conhecimento dos erros no processo de utilização de medicamentos, possibilitando o monitoramento desses resultados e a relação da melhoria contínua das atividades prestadas aos usuários e à equipe de saúde, tendo como finalidade a diminuição e prevenção das falhas (ANACLETO, 2010).

Este tópico tem o objetivo de incentivar para a qualidade das prescrições, proporcionando a promoção de ações referentes ao URM em Unidades Básicas de Saúde. A ideia é de trazer benefício não apenas os usuários que utilizam os serviços da atenção básica, mas também os trabalhadores de saúde que atuam na unidade, levando em consideração a identificação dos índices dos erros nas prescrições que podem levar a indicação de necessárias intervenções para o redirecionamento das estratégias da gestão.

2.4.1.4. Não orientação quanto as interações medicamentosas

As Interações Medicamentosas (IM) promovem uma alteração no efeito terapêutico ocasionado pela presença de outro medicamento, comida, bebida ou outro agente químico, podendo manifestar uma resposta biológica distinta da esperada. Tais interações resultam em efeitos benéficos, diminuição da efetividade terapêutica ou toxicidade (SILVA, 2016).

Segundo o Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária (NOTIVISA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil foram registrados entre os anos de 2006 a 2013, um total de 103.887 eventos adversos, dos quais 38.730 estavam relacionados a medicamentos (CORTES; SILVINO, 2019).

As IM apresentam fatores de risco que podem estar relacionados tanto com os medicamentos como com o paciente. Os pacientes respondem de forma diferente ao mesmo medicamento, variáveis como a genética, etnia, género, função renal e hepática, comorbidades, alergias, estado nutricional, idade, entre outros, podem influenciar na resposta terapêutica. (SILVA, 2016)

Silva (2016) destaca que em relação aos fatores relacionados aos medicamentos, suas variáveis referem-se a sua potência como indutor ou inibidor enzimático. As via de administração constitui um fator importante também já administração dos medicamentos pela mesma via apresentam grande possibilidade de sofrerem interações medicamentosas.

O impacto gerado pelas interações medicamentosas pode ser classificado segundo o grau leve, moderado e grave. A internação do paciente quase sempre se faz necessária nos casos mais graves, sendo em grande parte oriunda de erro na prescrição ou na falha da monitorização terapêutica medicamentosa. (MOREIRA et al.,2017).

Devido à quantidade de medicamentos ingeridos pela população constantemente, as interações medicamentosas estão cada vez mais frequente, ocorrendo tanto por um possível descuido por parte do prescritor, como também pela falta da assistência do profissional que irá realizar a dispensação. Ultimamente os medicamentos mais modernos estão tendo prioridade na indicação da farmacoterapia devido a redução dos efeitos adversos, porém, nem sempre os consumidores optam por essa escolha devido ao seu alto custo (FERNANDES, et al., 2012).

De acordo com Silva (2016) as interações podem ser classificadas em farmacêuticas (ou físico-químicas) e terapêuticas, como farmacodinâmicas ou farmacocinéticas. Quando dois fármacos são incompatíveis química e/ou fisicamente, esta é denominada interações farmacêuticas. Este autor complementa ainda que as interações farmacodinâmicas estão relacionadas com a alteração no efeito terapêutico, que pode ser aditivo tal como, sinergismo, antagonismo, ou com o aumento da toxicidade. As interações farmacocinéticas se referem a influência na absorção, distribuição, metabolismo ou eliminação do medicamento.

Ballen et al., (2017) ressalta que a ocorrência das IM e suas implicações clínicas despertam interesse principalmente nas áreas da neurologia e psicofarmacologia, pois nessas áreas a polifarmácia é uma prática frequente e vem tendo um grande aumento com passar dos anos. Muitos dos fármacos prescritos podem estar associados as IM, podendo ocasionar riscos aos pacientes.

Portanto, faz-se necessário a importância de reconhecer a participação das interações medicamentosas, pois o uso simultâneo de alguns medicamentos pode frequentemente aumentar a eficácia, porém certas combinações provocam danos e podem aumentar o risco de IM (CORTES; SILVINO, 2019).

3 METODOLOGIA

Essa pesquisa tratou-se de uma revisão de literatura, nos moldes da revisão integrativa, com produções que utilizaram abordagem qualitativa em estudos na temática do levantamento sobre o perfil dos dispensadores de medicamentos nas farmácias básicas das unidades básicas de saúde.

As bases de dados consultadas Foram: PubMed/Medline (National Library of Medicine and National Institutes of Health); LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde); BDENF (Base de Dados de Enfermagem); SCOPUS, base de arquivos da SCIENCE, e base de artigos do Google acadêmico.

Para composição do corpus, os artigos obedeceram aos seguintes critérios o processo de inclusão e exclusão dos artigos.

Critérios de inclusão: artigos de pesquisas completos e revisões, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, publicados em periódicos científicos no período de 2014 a 2020. A justificativa para esse recorte tem como base o ano de publicação de um documento da Organização Mundial de Saúde sobre o perfil dos dispensadores de medicamentos nas farmácias das Unidades Básicas de Saúde. Também optou por resgatar apenas os artigos de natureza qualitativa, considerando o método adotado na pesquisa da qual esta revisão é parte e fornecendo uma visão sobre o que tem sido estudado acerca do uso de medicamentos em idosos sob o prisma da referida abordagem.

Critérios de exclusão: editoriais, resenhas, relatos de experiências e reflexões teóricas, dissertações, teses e monografias; resumos publicados em anais de eventos. Foram excluídos artigos repetidos, sendo mantida apenas a primeira versão identificada, bem como aqueles que não possuíssem relação direta com o tema. Também foram excluídos os artigos cuja descrição metodológica trazia informações insuficientes para o leitor entender o processo de pesquisa, de modo que foram mantidos apenas os que apresentavam, no mínimo: o tipo de estudo, a abordagem, população, técnicas e instrumentos de coleta de dados. Ao final das leituras 12 artigos foram escolhidos para compor os resultados e discussão.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A dispensação de medicamentos e da abordagem de forma limitada no processo de disponibilização de fármacos nas Unidades Básicas de Saúde para uma prática mais eficiente e responsável levando em consideração a inserção dos recursos terapêuticos requer a devida compreensão da suspensão como um serviço de saúde pública com estrutura, premissa, trabalhadores e gestão orientados para a atenção básica à saúde dos usuários (ALVARES et al,. 2017).

Para Araújo (2016) os fundamentos aqui apresentados podem apontar as discussões acerca das características das padronizações de organização das ações nas unidades de dispensação nos municípios, estabelecendo os principais riscos a que os seres humanos estão expostos, proporcionando o desenvolvimento e acompanhamento de serviços de dispensação de medicamentos e os seus potenciais benefícios.

Uma vez que em se tratando da gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) tem por finalidade de organização ser descentralizada e que as diretrizes de atenção básica à saúde, seja uma responsabilidade dos municípios, entretanto, os arranjos organizacionais podem ser considerados bastante variados. As atividades em que os fármacos são dispensados nos municípios do Brasil caracterizam elevada diversidade. Pouco mais da metade das Unidades Básicas dispensam esses medicamentos do Componente Básico relacionado com a Assistência Farmacêutica em todas as suas instalações de saúde, enquanto isso, os demais apresentam outras formas organizacionais, como, por exemplo, a relação de concentração da dispensação em farmácias centralizadas da atenção básica ou em unidades de referência (ARRAIS, 2020).

Conforme Costa (2018) a descentralização está devidamente associada a distribuição dos medicamentos à devida provisão das demais atenções e cuidados em saúde sendo disponibilizada nas unidades Básicas, enquanto que levando em consideração os casos centralizados, a acessibilidade de consultas farmacêuticas e de outras atividades da atenção básica é considerada mais descentralizada que a disponibilidade dos medicamentos.

O modelo de farmácia isolada apresenta um perfil de estrutura mais desenvolvidos, com maiores espaços físicos, maior carga horária de atendimento, números maiores de pacientes atendidos, maior proporção de unidades com sistema informatizado, disponibilidade de profissionais exclusivos para este serviço, e a frequência de responsabilidade técnica de farmacêuticos (LALIBERTÉ et al,. 2017).

No entanto, o nível de informação prestada ao usuário e o desenvolvimento de atividades clínicas são baixos, tanto nos serviços isolados, como em unidades de saúde. Estes resultados sugerem que as condições estruturais nas farmácias instaladas em unidades especialmente desenvolvidas para este fim são mais adequadas que aquelas encontradas em farmácias dentro de outros serviços de saúde, situação que parece ser consequência do estabelecimento de padrões regulatórios simplistas, como, por exemplo, regulamentados pela portaria nº 1.903 (NAKAMURA, 2019).

Apesar da maior presença de farmacêuticos e da melhor estruturação física, a superação do modelo de simples entrega de medicamentos parece não ter sido atingida pela centralização da distribuição de medicamentos. Com maior número de usuários e as filas existentes em algumas das unidades observadas, a disponibilização dos produtos continua sendo o principal serviço ofertado. Com grande demanda pela entrega de medicamentos e isolado dos demais serviços e profissionais de saúde, os farmacêuticos, nestas unidades, têm suas possibilidades de atuação na rede de atenção à saúde constrangida (ARAÚJO, 2016).

Mesmo assumindo um conceito operacional de dispensação, composto por rotinas de validação da prescrição, separação do medicamento, checagem da receita, entrega do medicamento, comunicação com o usuário para informações pertinentes ao uso adequado dos medicamentos e registro do atendimento, há forte limitação para o desenvolvimento da dispensação de medicamentos como um serviço de saúde. A organização dos serviços, de tal forma, pode influenciar sobre a capacidade de realização de um processo profissional de atenção à saúde (SARTOR, 2017).

A possibilidade de transcender o modelo de serviço farmacêutico focado na gestão do estoque local e na entrega de medicamentos pode estar constrangida pelas condições materiais objetivas observadas. Condições inadequadas para o desenvolvimento de serviços de dispensação cujo objetivo maior é o uso racional de medicamentos e o cuidado das pessoas são relatadas em diversos estudos no Brasil. O trabalho nas unidades de dispensação é, nacionalmente, focado na acessibilidade do produto (PHIPPS et al,. 2029).

A comunicação com os usuários chama especial atenção nos resultados apresentados. A orientação e a educação quanto ao uso e aos cuidados para o uso do medicamento e a promoção da adesão, na busca pelos melhores resultados da terapêutica e pela redução dos riscos deveriam estar no centro do desenvolvimento de um serviço de dispensação. A existência de grades ou barreiras físicas que dificultam a comunicação foi encontrada em mais de 40% das unidades do Sudeste e Centro-Oeste, revelando um cenário preocupante. Segundo Lindblad (2016), esta característica pode ser encontrada em unidades novas ou antigas, possivelmente como resultado do modelo curativo de atenção à saúde.

As grades nas unidades de dispensação sugerem, também, um forte simbolismo do valor que permeia a concepção de dispensação: a guarda, proteção e regulação do produto medicamento. Neste contexto, pode-se visualizar o quanto o medicamento, como tecnologia, é mais privilegiado em determinadas concepções de assistência farmacêutica do que os indivíduos. As grades são, ainda, formas (por vezes, mais simbólicas que reais) de proteção dos trabalhadores contra a ocasional violência dos usuários insatisfeitos com o atendimento recebido (COOKSEY, 2018).

Os resultados de tal cenário dos serviços de dispensação implicam riscos para a saúde dos usuários. A dispensação ambulatorial de medicamentos pode incorrer em erros em até 22% dos casos, alguns de alto risco. Os erros são resultado da situação, do contexto em que a dispensação ocorre e incluem troca de produtos, de dosagem ou de quantidades, assim como falha nas instruções para o uso correto dos medicamentos. Alvares et al (2017) advogam que a dispensação em condições que dispersam a atenção do profissional (desorganização, barulho, conversas paralelas), em trabalho sob pressão (excesso de tempo ou demanda de trabalho, filas) e em espaços restritos (locais pequenos, mal organizados, sem estrutura para diálogos individuais) levam à ocorrência de erros de dispensação e a riscos para os usuários e para os profissionais.

Com as pequenas áreas destinadas às farmácias na maioria dos serviços, sem área destinada exclusivamente à dispensação, e sem ambiente propício para o diálogo e para o atendimento personalizado, o cenário retratado para a dispensação no Brasil parece combinar com aquele descrito por Phipps et al (2019) como propícios para a ocorrência de riscos ao usuário.

A situação é agravada pela falta de sistemas informatizados para registro e análise das informações dos usuários e das prescrições. Situações como a exemplificada por Angonesi (2019), da falta de orientação profissional sobre o uso concomitante de varfarina e aspirina são um preditor de risco para o usuário. Tais erros são passíveis de ocorrer com frequência na condição de falta de informação sobre os medicamentos utilizados pelo usuário, com barreiras estruturais para comunicação com ele, e na ausência ou sobrecarga de trabalho dos profissionais com raciocínio clínico para abordar as questões necessárias.

No Brasil, Ministério da Saúde criou o Sistema Hórus de informação e gerenciamento de processos na assistência farmacêutica nos municípios, incluindo a dispensação de medicamentos. Seu propósito é qualificar estes serviços e criar um banco de dados nacional. A existência de dados nacionais viabiliza a análise ampla da situação e o subsídio para os processos decisórios (MOREIRA, 2017).

O cenário das unidades de dispensação no Brasil evoca a reflexão sobre a necessidade de transformar os serviços de dispensação de medicamentos em pontos de atenção à saúde. A situação encontrada já é fruto de um período de incentivos financeiros e dispositivos legais que incentivaram os municípios a estruturar os serviços farmacêuticos e a atenção básica, o que permite inferir que o panorama anterior era ainda pior que o encontrado atualmente. Alçar a dispensação para um modelo de serviço de saúde de maiores complexidade e desenvolvimento sociotécnico exige que sejam estudados e definidos parâmetros de estruturação e qualificação técnica dos profissionais envolvidos (SOARES, 2017).

Nesta perspectiva, Costa (2018) propõe que a dispensação deve considerar o acesso como um atributo; o acolhimento, vínculo e responsabilização, a gestão e a clínica farmacêutica como seus componentes; e o uso racional de medicamentos como um propósito. A abordagem pressupõe a integração das ações de gestão e clínica, a integração multiprofissional do serviço com o sistema de saúde, e a responsabilização pelo acesso do usuário como atributo inerente à dispensação do medicamento.

O uso racional é um propósito por ser o resultado direto potencial da prática de uma dispensação organizada adequadamente, e com complexidade suficiente para intervir decisivamente sobre o curso da farmacoterapia. O desenvolvimento sociotécnico das unidades de dispensação de medicamentos congruentes com estes princípios constitui também a oportunidade para articular estes serviços com as práticas de promoção da saúde preconizadas pelo SUS (NAKAMURA, 2019).

O conhecimento sobre a natureza sociotécnica da farmácia no Brasil precisa ser objeto de pesquisas que abordem o SUS como um contexto peculiar. As dimensões social, tecnológica e econômica da farmácia em geral, e do serviço de dispensação em particular, como sistemas sociotécnicos, nos termos de Alvares et al (2017), precisam ser reconfiguradas. É preciso reorientar o trabalho e a tecnologia para uma organização integrada, na qual a farmácia é um serviço de saúde, provedor de assistência farmacêutica, e a clínica farmacêutica é uma atividade sociotécnica constituinte da dispensação de medicamentos.

De acordo com Angonesi (2018) o panorama indica a necessidade de investimentos dos municípios na criação de condições adequadas para que o acesso crescente a medicamentos seja acompanhado de seu uso adequado. Para isso, serviços de dispensação de medicamentos organizados apropriadamente reúnem oportunidades e fundamentos para influenciar de modo decisivo os resultados em saúde dos usuários de medicamentos.

Em uma pesquisa realizada por Colet et al;., (2017) pesquisou cerca de 17 usuários de uma Unidade Básica de Saúde do Noroeste do estado do Rio Grande do Sula, sobre o levantamentos dos dispensadores. Os resultados apontaram que 25% dos pacientes fazer uso de amoxicilina 250 mg/mL pó para ressuspensão de 8 em 8 horas; portanto no combate a patologias infecciosas. Já para 14% acharam importante as orientações e que essas devem ser proporcionadas no instante da dispensação de corticóides inalatórios (salbutamol e beclometasona).

Em outra pesquisa realizada por Bernardo (2019) em uma UBS do município de Ribeirão Preto – São Paulo, apontou que na dispensação, a adesão foi de 45% de adultos que utilização de fármacos no tratamento de doenças do sistema cardiovascular, como enalapril (utilizado para hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, prevenção cardiopatia isquêmica), atenolol (para cardiopatia isquêmica e hipertensão arterial), furosemida (para edema refratário a outros diuréticos, edema agudo de pulmão, em insuficiência renal).

5 CONCLUSÃO

Para todos os medicamentos, há uma relação entre os benefícios e o potencial para danos. Para minimizar os danos, é necessário que medicamentos de boa qualidade, segurança e eficácia sejam usados de modo racional, e que as expectativas e preocupações do paciente sejam levadas em consideração quando decisões terapêuticas são apontadas a ele.

A dispensação é uma das atividades da assistência farmacêutica e é privativa do farmacêutico: Dispensação é o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Neste ato o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento.

Na dispensação de medicamentos é importante que o profissional farmacêutico atue com um perfil na preocupação de prevenir o máximo de riscos e erros, a fim de assegurar a saúde do paciente e atender exigências regulatórias. Além disso, a preocupação do controle de riscos contribui para o monitoramento dos medicamentos a nível nacional. Conhecendo o sistema de dispensação os riscos são mais facilmente reconhecidos, e planos de ação são mais rapidamente aplicados auxiliando não somente o estabelecimento das Unidades Básicas de Saúde, e trazendo benefícios ao paciente, mas também acrescentando aos estudos dos processos regulatórios da farmacovigilância.

Segundo a Política Nacional de Medicamentos, os principais processos de dispensação são voltados para uso de antibióticos, para conter alguns quadros de infecção, e são orientados através da sua posologia, sua administração e efeitos adversos. Outra relação de dispensação são os medicamentos para o sistema cardiovascular, onde sua orientação requer certa Assistência farmacêutica, por se tratar de fármacos que causam também efeitos adversos aos usuários.

Tendo em vista a importância do gerenciamento de risco em qualquer estabelecimento de prestação de serviços, compreende-se que os estabelecimentos que prestam serviços de saúde serão muito beneficiados se utilizarem uma ferramenta que auxilie na implementação da metodologia do gerenciamento de riscos. No caso das Unidades Básicas de Saúde o benefício é acrescentar principalmente na segurança e satisfação do paciente, através do planejamento de todo um processo de dispensação para que ocorra prevenção e promoção da saúde do paciente.

Diante desse contexto, esse trabalho poderá contribuir para estudos futuros, levando o conhecimento da importância do perfil dos dispensadores nas Unidades Básicas de Saúde a outros acadêmicos de farmácia, profissionais farmacêuticos, bem como a comunidade em geral.

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1 Acadêmicoa do curso de Farmácia da Faculdade de Imperatriz – FACIMP WYDEN.