GERENCIAMENTO DA ENFERMAGEM DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19: DESAFIOS E AVANÇOS EM UMA UNIDADE SENTINELA DE JARU-RO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7944895


Cristiane Porto Horácio
Alex De Almeida Diogo
Prof. Adriano Costa Cardoso


RESUMO

O Covid-19 surgiu como uma nova infecção viral, altamente contagiosa e a sua alta taxa de mortalidade mobilizou os serviços de saúde em um nível global, fazendo com que estratégias fossem implementadas para o enfrentamento da doença. Profissionais de diversas áreas do saber se reuniram para ajustar ações de combate e demandas de atendimento que antes, não existiam. Os profissionais de saúde da área da enfermagem foram evidência na organização de fluxogramas, logística, dimensionamento de equipe, escassez de EPI’s e todos os outros cuidados diante do cenário pandêmico. Frente a isso, este estudo buscou por meio de um relato de experiência vivido pela acadêmica e profissional técnica de enfermagem do município, descrever os desafios e avanços alcançados pelos enfermeiros no gerenciamento de uma Unidade Sentinela durante a pandemia da Covid-19 em Jaru- Rondônia no ano de 2021.

Palavras-chave: Coronavírus. COVID-19. Pandemia. Enfermagem. Unidade Sentinela. UTI. Gerenciamento de Enfermagem.  

ABSTRACT

Covid-19 emerged as a new viral infection, highly contagious and its high mortality rate mobilized health services on a global level, causing strategies to be implemented to face the disease. Professionals from different areas of knowledge came together to adjust combat actions and service demands that did not exist before. Health professionals in the nursing area were evidenced in the organization of flowcharts, logistics, team sizing, shortage of PPE and all other care in the face of the pandemic scenario. In view of this, this study sought, through an experience report lived by the academic and professional nursing technician of the municipality, to describe the challenges and advances achieved by nurses in the management of a Sentinel Unit during the Covid-19 pandemic in Jaru-Rondônia in the year 2021.

Keywords: Coronavirus. COVID-19. Pandemic. Nursing. Sentinel Unit.

1 APRESENTAÇÃO

 Existem inúmeras infecções virais do trato respiratório, e estas são as principais causas de morbimortalidade em humanos, principalmente em crianças, idosos e indivíduos imunocomprometidos.

 Denominada SARS-CoV-2, a COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus que apresenta uma clínica infecciosa que varia desde infecções assintomáticas a quadros graves, podendo evoluir, em alguns casos, ao óbito.  Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o surto da COVID-19 iniciou na China no mês de dezembro de 2019 e se propagou em todo o mundo por diversos locais e populações, tornando-se então uma pandemia mundial. (LIMA et al., 2021).

 A pandemia da Covid-19 nos produziu números expressivos de infectados e de óbitos no mundo todo. Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde, até dia 10 de outubro de 2022 foram notificados 627.538.288 milhões de casos e 6.578.231 milhões de óbitos pelo novo coronavírus. (OMS, 2022).

 O novo coronavírus levou a uma mudança abrupta nas rotinas dos serviços de saúde, evidenciando um cenário frágil, com aumento do número de internações hospitalares, superlotação de unidades, falta de leitos, insumos e profissionais.  Na maioria dos casos de internação por Covid-19, os pacientes precisam de uma assistência de enfermagem qualificada, pois o manejo da doença é desafiador.  É necessário reconhecer que os profissionais que estiveram na linha de frente nos atendimentos aos casos de Covid-19, tiveram um papel fundamental no combate à pandemia, não apenas pela capacidade técnica de gerenciamento, ou líder de equipe, mas por serem os únicos que permanecem 24 horas ao lado do paciente.  O conhecimento do enfermeiro, seus aprendizados e suas resolutividades diárias influenciam muito no enfrentamento a essa doença, pois o profissional enfermeiro assume uma posição de destaque na manutenção da vida, sendo a autonomia profissional importante para a integralidade do cuidado e nas diversidades dos processos de trabalho numa unidade de saúde.

 Com o aumento dos casos de COVID-19, os hospitais foram requisitados a ofertar mais leitos de UTI e enfermarias especializadas, foram montadas unidades sentinelas de atendimento ao Covid-19 e com isso, os gestores de enfermagem tiveram que estabelecer estratégias que incluíam a reestruturação do espaço físico, fluxos de atendimento, cancelamento de procedimentos eletivos, contratação, treinamento profissional, desenvolvimento de ações educativas sobre a biossegurança e práticas de cuidado na alta complexidade, direcionamento de recursos e gerenciamento dos insumos e equipamento, dimensionamento adequado dos profissionais de enfermagem e atenção à saúde mental dos mesmos profissionais, na tentativa de garantir a qualidade no gerenciamento do cuidado no enfrentamento da COVID-19.

 Assim, considerando que a pandemia do COVID-19 expôs os serviços de saúde a um novo e desconhecido cenário epidemiológico e a necessária formulação de estratégias com respostas rápidas à disseminação desta doença, este estudo apresenta como objetivo relatar a experiência acerca dos desafios vivenciados pelo profissional de enfermagem durante a gestão do cuidado no enfrentamento à pandemia do COVID-19 em uma Unidade Sentinela de Covid-19 localizada no interior do estado de Rondônia.

Figura 1 Centro de Saúde da Mulher adaptado para Sentinela Covid-19.

Fonte: Prefeitura Municipal de Jaru. Disponível em: https://jaru.ro.gov.br/atendimentos-a-pessoascom-sintomas-gripais-serao-realizados-no-centro-de-saude-da-mulher-a-partir-deste-sabado-29/. Acesso em 08 de abril de 2023.

2 OBJETO DE ESTUDO

 Descrever os desafios e avanços alcançados pelos enfermeiros no gerenciamento de uma Unidade Sentinela durante a pandemia da Covid-19.

2.1 Problematização

 O mundo foi surpreendido no começo de 2020 com o surgimento de uma nova doença transmitida por um vírus até então desconhecido, a disseminação do novo coronavírus ocorreu em um ritmo muito acelerado de modo que em 11 de março de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou se tratar de uma pandemia. No final de fevereiro os primeiros casos da doença foram diagnosticados no Brasil e em 17 de março ocorreu a primeira morte (MOTTA et al., 2021).

 Diante disso, foram realizadas estratégias para atender toda a demanda de pacientes acometidos por sintomas gripais ou respiratórios no município de Jaru, montando então a Unidade Sentinela e oferecendo um atendimento diferenciado para a comunidade.

 Portanto, a presente pesquisa tem como problemática: Quais os desafios vivenciados pela equipe de enfermagem e avanços obtidos durante o funcionamento da unidade?    

2.2 Objetivo Geral

 Descrever a experiência dos profissionais que atuaram na linha de frente contra a Covid-19 em uma unidade Sentinela de Jaru – Rondônia no ano de 2021.

2.3 Objetivo Específico

 Relatar as atividades gerenciais que os enfermeiros utilizaram durante a pandemia da Covid-19, desde o acolhimento dos pacientes, manejo e reestruturação de espaço físico até a falta de recursos financeiros e profissionais atuantes.

3 JUSTIFICATIVA

 Desde que a doença causada pelo novo coronavírus (Covid-19) surgiu na China em dezembro de 2019, espalhou-se pelo mundo, e chegou ao Brasil, em fevereiro do ano seguinte, o período de pandemia nos convidou a reorganizarmos nossas ações a serem trabalhadas em unidades de atendimento à saúde.

 A preocupação com o inusitado é um complicado cenário de trabalho para os trabalhadores da saúde, principalmente para os profissionais de enfermagem se exacerbou. Pois, esses trabalhadores sofriam em seu cotidiano de trabalho, sérios problemas estruturais, organizacionais e de condições laborais.  

 Nessa perspectiva, esse trabalho se justifica no sentido de trazer a vivência e o cotidiano, e como os enfermeiros gerenciam um Centro de Saúde Sentinela frente a pandemia Covid 19, na cidade de Jaru, Rondônia.

 Espera-se que essa pesquisa possa fortalecer a administração e a gestão de saúde, capacitando novos quadros de profissionais de enfermagem e promovendo a utilização e inovação de recursos, gerando mecanismos que ilustram ainda mais o papel dos enfermeiros diante de catástrofes como a pandemia da Covid-19.  

4 REFERENCIAL TEÓRICO

 A covid-19 é uma doença causada por um tipo de coronavírus, que leva o nome de SARS-COV-2. Doença pertencente à família de vírus de mesmo nome que causa infecções respiratórias. O vírus possui esse nome uma vez que seu formato, quando observado em microscópio, é semelhante ao de uma coroa. (DE SOUZA, 2021).  São importantes patógenos que acometem humanos e animais e causam infecções que variam de um resfriado comum a infecções respiratórias mais graves.  Assim, poucos meses depois do início das manifestações na China, a doença foi considerada emergência global e pandemia pelo órgão regulamentador da saúde no mundo, Organização Mundial da Saúde (CRUZ, 2020).

 O período de incubação conhecido da doença é em média de cinco dias, podendo variar de dois a 14 dias. O espectro da apresentação clínica é amplo, a maioria dos adultos apresentam síndrome gripal (90%) com sintomas leves: febre, fadiga, tosse seca, anorexia, mialgia, dispneia e produção de catarro. Porém, formas graves ou críticas são também descritas, especialmente em idosos e indivíduos com comorbidades, como doença vascular ou pulmonar crônica, diabetes e hipertensão e outras comorbidades cardiovasculares, podem evoluir com quadros graves: dispnéia, hipoxemia, insuficiência respiratória, choque, falência de múltiplos órgãos e morte, com uma taxa de letalidade variando de 2 a 5%. As crianças, embora adquirem a infecção, de forma geral, evoluem bem e raramente apresentam complicações.

(PINHEIRO, 2021).

 O diagnóstico é confirmado a partir da detecção do RNA do SARS-CoV-2 por reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) em material colhido da nasofaringe ou da orofaringe. A Tomografia Computadorizada (TC) do tórax está recomendada para pacientes hospitalizados, com sintomas de pneumonia e com indicação clínica, não sendo recomendada para rastreamento da doença nem como teste de primeira escolha para o diagnóstico de COVID-19, uma vez que a TC do tórax auxilia no diagnóstico, porém não pode isoladamente confirmá-lo nem excluí lo.

 Atualmente usa-se muito o Teste Rápido para Covid-19 Ag, este detecta o antígeno do vírus Sars-Cov-2, por meio da coleta de amostra da secreção respiratória (nasofaringe) e apresenta o resultado em aproximadamente 15 minutos.  Os testes de antígeno são imunoensaios que detectam a presença de um antígeno viral específico. O teste rápido de antígeno para Covid-19 é capaz de detectar a proteína do núcleo capsídeo viral do SARS-CoV-2 na fase ativa da infecção por Covid-19, assim se a proteína for identificada, isso significa que o paciente está contaminado, sendo o resultado do teste rápido positivo, e o negativo, onde não é detectada a presença do vírus do organismo.

 Por isso esse tipo de teste tem maior efetividade na detecção do vírus em sua fase ativa, sendo um teste que possui maior assertividade entre o 1º e 7º dia de contágio.

 O teste rápido de antígeno viral para Covid-19 possui uma confiabilidade de 93% se comparado ao exame RT-PCR, que é o método padrão ouro recomendado pela Organização Mundial de Saúde, desde que respeitadas as condições de coleta de material para análise e do tempo certo em que a testagem deve ser feita.  No início da pandemia, com o insuficiente conhecimento científico, a alta velocidade de disseminação e mortalidade, associado a ausência de tratamento específico provocaram o caos nos sistemas de saúde em todo o mundo gerando incertezas quanto à escolha das melhores estratégias a serem utilizadas. No Brasil, os desafios que se apresentam foram ainda maiores, devido à grande desigualdade social e demográfica, com extratos populacionais vivendo em condições precárias de habitação e saneamento, sem acesso à água potável, em situação de aglomeração e com alta prevalência de doenças crônicas.

 Inicialmente os casos confirmados eram importados, ou seja, foram introduzidos no país por meio de pessoas que em viagens ao exterior adquiriram o vírus. Nesta fase, a estratégia de contenção baseava-se na busca e isolamento dos casos e contatos. Com o crescimento do número de infectados e a ocorrência de transmissão comunitária, estratégias de mitigação passaram a ser adotadas, buscando-se evitar a ocorrência de casos graves e óbitos pela doença.

 As orientações para a população visavam reforçar as medidas de prevenção, que incluem, lavagem das mãos com água e sabão ou sua higienização com álcool em gel, a “etiqueta respiratória”; o distanciamento social; o não compartilhamento de objetos de uso pessoal e o hábito de manter ambientes ventilados. A partir de abril de 2020, o Ministério da Saúde (MS) passou a orientar o uso de máscaras de tecido, objetivando barreira à propagação do SARS-CoV-2. As medidas de isolamento social eram avaliadas constantemente e foram se modificando ao longo da pandemia de acordo com o local, número de infectados e condições do sistema de saúde.

(PEREIRA, 2020).

 Além do conhecimento científico e o papel singular de cuidado humanizado com os pacientes, a enfermagem destacou-se também por ser o profissional que dentro do corpo hospitalar, foi a ponte mais próxima para a recuperação do paciente, avaliando e mediando os serviços de assistência, utilizando os meios que tinha para prestar o melhor cuidado diante o cenário crítico da pandemia.

 Esses profissionais criaram fluxos operacionais de atendimento, seguindo recomendações do Ministério da Saúde, otimizando o atendimento aos pacientes acometidos pela doença e mitigando o risco de contaminação da equipe de saúde. Além da rotina exaustiva e a falta de domínio e insegurança quanto a nova doença, apesar de constantes treinamentos e instruções, com o decorrer dos meses os profissionais foram adoecendo devido ao contato permanente com os doentes, além dos afastamentos também por motivos psicológicos.

 A pandemia apresentou uma nova forma de trabalhar, de se cuidar e de cuidar do outro, sempre visando o bem maior que é a saúde de todos, viu-se que os gestores enfermeiros foram primordiais diante o cenário da pandemia, pois ao mesmo tempo que criavam fluxos para melhorar o atendimento dos pacientes, também dialogavam com a equipe, orientando o profissional da linha de frente não só para evitar o próprio contágio e a transmissão para seus entes queridos, mas  cuidando da saúde mental dos mesmos.

5 METODOLOGIA

 Trata-se de um estudo bibliográfico descritivo, do tipo relato de experiência, conduzido pela pesquisadora, técnica de enfermagem atuante como servidora pública estatutária do município e estudante do curso de Enfermagem da Fimca Unicentro de Jaru-Rondônia no ano de 2021, a fim de relatar o cenário vivido pelos profissionais de enfermagem diante a pandemia do Novo Coronavírus e evidenciar os meios utilizados pelos enfermeiros para gerenciar uma unidade de atendimento de infecções respiratórias.

 O relato foi baseado na experiência, atuação e desafios dos profissionais de enfermagem no período pandêmico. Foi dispensada a apreciação ética por tratar-se de um relato de experiência com descrição narrativa e de reflexão da autora frente às situações que emergiram espontaneamente na prática tanto profissional quanto acadêmica. 

 O local de estudo apresentado como “Unidade Sentinela Covid-19 de Jaru”, trata-se de uma unidade de atendimento da saúde da mulher, que com a gravidade da pandemia e o alto fluxo de pacientes para serem acolhidos, foi transformada em uma unidade referência para atendimento de pessoas exclusivamente com sintomas gripais e insuficiência respiratória aguda grave.

Jaru é uma pequena cidade do interior do estado de Rondônia, com população estimada de 51.469, segundo o último censo do IBGE em 2010, e foi em 16 de março de 2020 que foi registrado o primeiro caso da doença. Em 23 de março de 2020, através do decreto de nº 12.268/GP/2020 a administração municipal de Jaru declarou situação de emergência em razão da pandemia causada pelo coronavírus, e determinou as providências para o enfrentamento, prevenção da transmissão e mitigação da emergência em saúde.  

Iniciou-se então um trabalho em conjunto com a Secretaria de Vigilância Epidemiológica, para organização de fluxos de atendimento e barreiras sanitárias, criando uma equipe externa de combate e monitoramento ao Covid-19, que utilizava um canal exclusivo 24 horas, o “Disque Coronavírus”, era utilizado tanto no esclarecimento de dúvidas a pacientes sintomáticos, tanto no monitoramento de pacientes confirmados pela doença. A equipe contava também com visitas domiciliares, realizadas por médico, enfermeiro e técnico de enfermagem, para avaliação dos pacientes e do núcleo familiar que também ficavam em isolamento domiciliar.

No Centro Especializado do Covid-19, popularmente conhecido como Unidade Sentinela, foi montada uma estrutura para atendimento 24 horas, com equipes de saúde compostas por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas, onde era oferecido uma assistência integral aos pacientes suspeitos e confirmados da doença, além de oferecer os testes para diagnóstico da doença. 

Quanto a estrutura física, a unidade dispunha de:

  01 recepção ampla, com triagem para classificação de risco;

  02 consultórios médicos; 

  01 sala de testagem, para coleta de RT-PCR ou teste rápido de antígeno viral; 

  01 sala de procedimentos, para administração de medicamentos e observação de pacientes;

  01 sala de descanso para os profissionais;

  01 cozinha; 

  01 farmácia, para dispensação descentralizada de medicamentos;

  18 leitos, sendo 09 leitos para casos suspeitos da doença e 09 para casos confirmados;

  01 sala vermelha, destinada aos pacientes que necessitavam de cuidados e vigilância intensivos, que aguardavam a definição do diagnóstico, internação hospitalar ou transferência para o hospital municipal;

  01 ambulância UTI móvel exclusiva;

Figura 2 Ficha de Atendimento Covid-19

Fonte: Própria do autor.

Diante do cenário pandêmico, o aumento do fluxo de atendimentos era evidente, nesse sentido foram criadas estratégias para minimizar a aglomeração de pessoas, obedecendo o distanciamento social imposto pelas autoridades sanitárias na época, uma dessas foi a montagem de tendas na parte externa da unidade, colocando cadeiras com distanciamento limítrofe de 2 metros uma da outra, para que os pacientes pudessem aguardar a triagem inicial e a classificação de risco em ambiente aberto e ventilável.

 Outra medida tomada pelo gerenciamento de enfermagem para que não houvesse aglomerações e longa espera para atendimento na unidade foi a testagem em massa de pacientes assintomáticos, que em algum momento relataram que haviam tido contato com casos confirmados da doença, então, no momento da triagem, fazia se a anamnese do paciente e logo em seguida, se atendido todos os preceitos para a realização do teste rápido, encaminha-o para a sala de coleta, evitando assim que o mesmo permanecesse por longos períodos em contato com pacientes sintomáticos.

 Se o paciente tivesse diagnóstico positivo (reagente) para a doença, o mesmo era notificado a permanecer em isolamento domiciliar junto com núcleo familiar e direcionado para atendimento médico. 

 Para os pacientes sintomáticos, ou com diagnóstico confirmado de Covid-19, o mesmo era avaliado pelos profissionais de saúde, e se necessário encaminhado para internação hospitalar na unidade. Por se tratar de uma doença altamente contagiosa, as visitas hospitalares aos pacientes internos não eram permitidas, sendo assim, além o horário para informações do boletim médico, foi criado também um horário para chamadas de vídeo para que os familiares pudessem ter contato virtual com seus entes queridos, desde que, recomendado pelo médico. 

 Verificou-se que em todo o estado de Rondônia havia superlotação nas UTI’s, mediante ao aumento dos casos da doença, sendo assim, no dia 10 de junho de 2020  implantou-se uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) própria do município, onde foram dispostos 10 leitos credenciados ao Ministério da Saúde, cabe dizer ainda que Jaru,  foi um dos únicos municípios do estado a contar com UTI própria, possibilitando então a construção da demanda de fluxo de atendimento via regulação direta da unidade sentinela para atender além dos próprios usuários residentes do município, os usuários dos municípios adjacentes.

Figura 3 UTI Jaru-RO

Fonte: Prefeitura Municipal de Jaru. Disponível em: https://jaru.ro.gov.br/uti-municipal-de-jarucompleta-1-ano-salvando-vidas/. Acesso em 18 de abril de 2023.

Segundo os gestores, a maior dificuldade na época, era a falta de profissionais para o devido dimensionamento de equipe de enfermagem, falta de infraestrutura, escassez de insumos, falta de EPI’s, jornadas extensas, sobrecarga de trabalho e falta de capacitação dos profissionais. Nesse contexto, os gestores criaram protocolos assistenciais para a manutenção da saúde e segurança dos trabalhadores, implementando medidas de controle para minimizar ou até mesmo extinguir os riscos existentes no processo de trabalho durante a pandemia. 

Destacou-se também como um dos desafios enfrentados pelos profissionais da enfermagem, as mudanças constantes nas informações recebidas pelos diferentes meios de comunicação além da própria comunicação ineficaz que resultam na incapacidade e dúvida em relação à assistência oferecida de forma segura.  

Um ponto estratégico foi o fato de toda a equipe de gerência ser formado por enfermeiros, ou seja, estes diretores e vice diretores eram profissionais capacitados para lidar com o meio crítico do cenário pandêmico, conhecendo todos os riscos e vulnerabilidades, os mesmos se empenharam para realizar capacitações frequentes para todos os colaboradores, atribuindo conhecimento para os funcionários que precisavam estar devidamente paramentados e instrumentalizados para lidar com a excepcionalidade que o contexto do cenário atual oferecia. Além de oferecer as condições adequadas para o trabalho, era oferecido também uma rede de apoio, com sala de descanso, formação de times de resposta rápida para o recebimento de pacientes e outras medidas diárias que colaboraram para a saúde física e mental dos profissionais que ali atuavam. 

Ficou evidente em todo mundo que o cenário da pandemia acentuou os mais diversos riscos e problemas enfrentados no cotidiano dos trabalhadores da Enfermagem, porém, o pacto com o cuidado biopsicossocial dos pacientes, da família e da comunidade se mantém independentemente da situação momentânea. 

A enfermagem, em todos os seus campos de atuação, sempre se reinventa, estabelecendo novos mecanismos, reestruturando a engrenagem do cuidado, protegendo a vida de quem cuida e de quem é cuidado. 

6 CONCLUSÃO

A pandemia nos evidenciou fragilidades já encontradas, como a falta de investimentos na saúde pública, a falta de dimensionamento de equipe, devido a precariedade de profissionais atuantes, a necessidade de criação e aperfeiçoamento de protocolos assistenciais que atendam às necessidades dos usuários e dos profissionais, entre outros inúmeros problemas encontrados no cotidiano dos enfermeiros e demais trabalhadores da rede de saúde.

Vale enfatizar a necessidade de sistemas de apoio, de capacitações, de aperfeiçoamento, de investimentos na área de formação e especializações com finalidade de qualificar os profissionais.

Um ponto positivo em meio a todo o caos da pandemia, foi a experiência de atuar no combate ao COVID-19, que embora tenha momentos negativos como o medo, o estresse, a ansiedade e fadiga, me trouxe sentimentos positivos como a oportunidade de crescimento pessoal, profissional e da equipe além do aprimoramento da prática de enfermagem.

Nos tempos de pandemia os profissionais de enfermagem, foram reconhecidos e homenageados pelo trabalho fundamental que desenvolveram desde o planejamento da assistência como organizadores e estruturadores dos cuidados, como em todos os níveis de atenção à saúde. 

Ademais, a falta de um piso salarial implementado e a regulamentação de carga horária da categoria de enfermagem, vai ao encontro da qualidade assistencial e de vida desses trabalhadores, que em sua grande maioria, para suprir suas necessidades de sobrevivência, acumulam vínculos em mais de uma instituição de saúde, sobrecarregando finais de semana, restringindo a disponibilidade para se capacitar e de ter interações sociais e familiares. 

Apesar disso tudo, o protagonismo da enfermagem em diversos espaços veio à tona, evidenciando sua importância e insubstituível força de trabalho.

REFERÊNCIAS

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