PERFIL DA MORTALIDADE POR AGRESSÃO NO ESTADO DO PIAUÍ NO PERÍODO DE 2010 A 2020

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7971963


Antônio Reinaldo Alencar1
Thais Ferreira de Carvalho e Silva2
Renandro de Carvalho Reis3


Resumo

Introdução: A violência constitui-se de forma complexa e multicausal, acarretando danos à segurança e à saúde da população. Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico dos óbitos por agressão no estado do Piauí, no período de 2010 a 2020. Metodologia: Trata-se de um estudo do tipo qualitativo e quantitativo, de caráter transversal e descritivo, dos dados epidemiológicos da mortalidade por agressão no estado do Piauí de 2010 a 2020 por meio de informações armazenadas na plataforma DATASUS. Os seguintes indicadores foram utilizados: óbitos por ano, sexo, raça, faixa etária, tempo de escolaridade e causa do óbito. Resultados: Observou-se que houveram 6516 mortes por violência externa no Piauí entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020. Dentre os anos estudados, o ano que teve a maior taxa de mortalidade foi 2014 e o menor foi 2010, evidenciando que os números mais recentes ainda estão distantes dos encontrados em 2010.Foi constatado que o sexo masculino foi o mais afetado pela violência, com 5952 casos, superando o sexo feminino com 550. A faixa etária mais prejudicada foi de 20 a 29 anos com 2418 casos, e a menos afetada foram os menores de 1 ano com 8 óbitos. Em relação a cor e raça, os pardos foram os mais acometidos com 4926 casos. Quanto à causa, os foram de óbitos por disparo por arma de fogo foram os mais prevalentes com 3965 casos. Conclusão: Pela análise realizada, foi possível constatar parâmetros que contribuam no combate a violência no estado do Piauí.

Palavras-chave: Morte por violência externa; Agressão, Epidemiologia; Mortalidade; DATASUS.

Abstract

Introduction: Violence is complex and multicausal, causing damage to the safety and health of the population. Objective: To analyze the epidemiological profile of deaths from aggression in the state of Piauí, from 2010 to 2020. Methodology: This is a qualitative and quantitative, cross-sectional and descriptive study of epidemiological data on mortality from aggression in the state of Piauí from 2010 to 2020 through information stored on the DATASUS platform. The following indicators were used: deaths per year, gender, race, age group, years of schooling and cause of death. Results: It was observed that there were 6516 deaths from external violence in Piauí between January 2010 and December 2020. Among the years studied, the year with the highest mortality rate was 2014 and the lowest was 2010, showing that the highest numbers Recent studies are still far from those found in 2010. It was found that males were the most affected by violence, with 5952 cases, surpassing females with 550. The most affected age group was 20 to 29 years old with 2418 cases, and the Children less than 1 year old were less affected, with 8 deaths. Regarding color and race, brown people were the most affected with 4926 cases. As for the cause, deaths from firearms were the most prevalent with 3965 cases. Conclusion: From the analysis carried out, it was possible to verify parameters that contribute to the fight against violence in the state of Piauí.

Keywords: Death by external violence; Aggression, Epidemiology; Mortality; DATASUS.

1. Introdução

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018) define violência como o uso intencional da força física, seja por ação ou ameaça, a si mesmo, a outra pessoa ou a um grupo, que resulte ou tenha uma alta probabilidade de causar ferimento ou até óbito. Na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), as causas externas são formadas pelos acidentes e violência em geral, a partir do CID X85, até Y09, tratando de situações de afogamento, acidentes de trânsito, envenenamento, quedas, queimaduras, agressão, homicídio, violência sexual, violência psicológica, dentre outros. (OMS, 2019)

As causas externas de morbidade e mortalidade envolvem os diversos tipos de acidentes e as violências que provocam algum tipo de lesão, seja física, psíquica ou emocional, e que podem ou não ter o óbito como resultado. Acidentes são fenômenos não intencionais e evitáveis, que causam algum tipo de lesão, ocorridos na esfera social ou doméstica (GOMES et al, 2022).

Dados do Datasus mostram que no ano de 2020 no Brasil, mais de 47 mil pessoas perderam suas vidas em decorrência da violência. Cerca de 3% das mortes no país foram violentas, em sua grande maioria, homens, na faixa etária dos 20-49 anos, e com predominância do uso de armas de fogo e perfurocortantes, problemática que atua com forte impacto na morbimortalidade da população. O Piauí, com 673 óbitos registrados, ocupou a 20º posição dentre os estados brasileiros na quantidade de mortes causadas por agressões do ano de 2020, e no estado, também predominou o uso de armas de fogo e perfurocortantes , com destaque para a faixa etária de 20-29 anos (DATASUS, 2022).

A violência se manifesta de forma complexa e multicausal, influenciada por fatores sócio-históricos, econômicos, políticos e culturais que afetam a segurança e a saúde das pessoas. Nesse sentido, a violência se estende ao setor de saúde pública, impactando tanto o indivíduo quanto a coletividade e provocando grandes consequências nos serviços de emergência, atenção especializada, reabilitação física, psicológica e assistência social para as vítimas e seus familiares afetados pela perda traumática (CÓRDOBA; CÓRDOBA, 2021).

Todo o sistema de saúde atua implantando estratégias de promoção da saúde e de prevenção de doenças e agravos, bem como a melhor adequação das ações relativas à assistência, recuperação e reabilitação, segundo a Política Nacional de redução da morbimortalidade por acidentes e violências. O presente estudo teve como objetivo geral determinar o perfil epidemiológico dos óbitos por agressão ocorridos no estado do Piauí, no período entre 2010 a 2020, a fim de auxiliar, por meio de dados estatísticos, o desenvolvimento de pesquisas na área e o avanço de medidas públicas de saúde e segurança da população (NJAINE et al, 2020).

2.  Metodologia

Trata-se de um estudo do tipo qualitativo e quantitativo, de caráter transversal e descritivo, com dados armazenados na plataforma DATASUS. Por se tratar de uma pesquisa de cunho epidemiológico, com dados dispostos em domínio público, não houve a necessidade de aprovação por conselhos de ética e pesquisa, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa.

Para composição da amostra foram analisados todos os casos de mortalidade por agressão no Piauí de 2010 a 2020, notificados na plataforma de acordo com a Classificação Internacional de Doença (CID-10), de X85 a Y09. O perfil epidemiológico dos óbitos foi obtido a partir de uma amostra com 6516 casos, coletados através do acesso ao banco de dados do Sistema de Informações de Mortalidade sob gestão do Departamento de informática do SUS – DATASUS.

O período de coleta de dados foi de outubro a novembro de 2022, realizado pelos próprios pesquisadores. Os dados foram obtidos através dos seguintes indicadores: óbitos por ano, sexo, raça, faixa etária, tempo de escolaridade e causa do óbito. Foi realizado um cruzamento de dados entre os indicadores. Quanto à raça, foram incluídas as raças branca, parda, preta, amarela e indígena, com ressalva importante, uma vez que se trata de autodeterminação. Em relação à faixa etária, a pesquisa alcança menores de 1 ano até maiores de 80 anos. Acerca do tempo de escolaridade, foi estudada uma população com nenhuma escolaridade a 12 anos ou mais.

No que se refere a causa dos óbitos notificados, avaliou-se agressão por disparo por arma de fogo, por objeto cortante e penetrante, por objeto contundente, por disparo de arma de fogo de mão, por meios não estabelecidos, por enforcamento, estrangulamento e sufocação, por disparo de arma de fogo de maior calibre, por meio de força corporal, por meio de fumaça, fogo e chamas, outras síndromes de maus tratos, por outros meios especiais, agressão sexual por meio de força física, por meio de impacto com veículo a motor, por meio de afogamento e submerssão, produtos quimicos ou substancias nocivas e especiais, por pesticidas, projeção de um lugar elevado, por meio de drogas e substancias biológicas, colocando vítima em objeto em movimento, por negligencia e abandono, por vapor, água, gases ou objetos quentes.

Apenas os óbitos de pessoas residentes no estado do Piauí foram contabilizados. Portanto, não residentes ou aqueles que vieram a óbito fora do estado não foram incluídos no estudo, assim como aqueles que não se encontravam na amostra dos anos de 2010 a 2020. Após a coleta de dados absolutos, estes foram incluídos e organizados em figuras e quadros do Excel®.

3. Resultados

A amostra estudada foi composta por 6516 casos de óbito por morte violenta notificados de 2010 a 2020 no estado do Piauí. A figura 1 apresenta a distribuição dos casos durante o período de tempo estudado. Observa-se que o ano no qual apresentou o maior número de óbitos foi o de 2014 com 716 (10.99%), revelando no ano seguinte uma pequena queda com 624 casos notificados e mantendo uma estabilidade nos anos seguintes. Em 2020, notou-se um aumento significativo, sendo notificados 673 casos (10.33%), o terceiro maior número entre os anos estudados. O ano com menor número de casos notificados foi o de 2010, o primeiro ano analisado, com 411 (6.31%) casos. Ressalta-se que, mesmo com a queda nos índices de mortalidade, os números mais recentes ainda estão distantes dos encontrados em 2010.

Figura 1. Óbitos por morte violenta notificados no período de 2010 a 2020 no estado do Piauí.

Fonte: Autores (2023). A partir de dados coletados do SINAN/DATASUS.

Na figura 2 foi exposto que a faixa etária mais atingida é a de 20 a 29 anos com 37,1% (2418) dos casos notificados, seguido das pessoas com 30 a 39 anos representando 24.23% (1579). Os menores de 1 ano foram os menos atingidos com 0.12% (8) casos notificados. Foi possível analisar que os extremos de idade (menores de 10 anos e os maiores de 80), representaram as idades menos lesadas compondo 0.61% dos casos.

Figura 2. Casos de óbitos por morte violenta, notificados segundo a faixa etária, no estado do Piauí no período de 2010 a 2020.

Fonte: Autores (2023). A partir de dados coletados do SINAN/DATASUS.

O quadro 1 revela a predominância de óbitos da raça parda em todos os períodos de escolaridade, com 4926 casos notificados, representando 75.60% do total da amostra estudada. Quanto ao tempo de escolaridade da população envolvida, os mais afetados foram os que estudaram de 1 a 3 anos, sendo notificados 1966 casos e compondo 30.17% da amostra total. Foi observado ainda que as raças branca e preta tiveram o seu pico de óbitos nas pessoas com 4 a 7 anos de escolaridade, com 173 (28.64%) e 190 (34.11%) casos notificados, respectivamente. Ainda houve a notificação de 6 casos como amarelo ou indígena, que por representarem menos de 1% dos casos, foram desconsiderados na elaboração do quadro. É importante ressaltar que os critérios de cor e raça são autodeterminados, e portanto, podem ou não representar uma realidade fidedigna.

Quadro 1. Óbitos por morte violenta notificados segundo raça e escolaridade, no estado do Piauí no período de 2010 a 2020.

ClassificaçãoNenhuma1 a 3 anos4 a 7 anos12 anos ou maisIgnoradoTotal
Total6191966190810198566516
Parda47615921481905174926
Branca441421734955604
Preta80166190341557
Ignorada1966626242423

Fonte: Autores (2023). A partir de dados coletados do SINAN/DATASUS.

O quadro 2 demonstra que em relação ao sexo da população estudada, foi observada uma grande desproproção quanto ao sexo mais e menos acometido. Houve um predomínio do sexo masculino em 91.5% (5952) dos casos e o sexo feminino apresentou 8.5% (550). Quanto à causa, observou-se que 60.85% (3965) foram de óbitos por disparo por arma de fogo, em ambos os sexos. Durante o período de estudo notou-se uma notificação de agressão sexual por meio de força física em 0.91% (5) dos casos no sexo feminino e nenhuma notifcação dessa mesma causa no sexo masculino.

É importante frisar que o CID-10 possui várias categorias para determinar óbitos por armas de fogo, como disparo de arma de fogo de mão (X93), disparo de fogo de arma de maior calibre (X94), dentre outros. Para melhor entendimento das causas, estes foram acoplados em uma só categoria, facilitando sua análise. Não foram incluídos no quadro os CIDs Y08, Y03,X92,X89, X90, X87, Y01, X85, Y02,Y06 e X98 por não terem números e ou circunstância especificamente relevantes para o estudo, como no caso de morte por agressão sexual (Y05).

Quadro 2. Óbitos por morte violenta notificados segundo causa e sexo, no estado do Piauí no período de 2010 a 2020.

ClassificaçãoMasculinoFemininoIgnoradoTotal
Total5952550146516
Agressão disparo por arma de fogo373222583965
Agressãoobjeto cortante ou penetrante161219341809
Agressão por meio de objeto contundente3601931413
Agressão por meios NE13418152
Agressão enforcamento estrangulamento sufocação5529185
Agressão por meio de força corporal24933
Agressão por meio de fumaça fogo e chamas9312
Agressão sexual por meio de força física55

Fonte: Autores (2023). A partir de dados coletados do SINAN/DATASUS.

4.  Discussão

Este trabalho analisou o comportamento das taxas de mortalidade por violência no estado do Piauí, entre os anos de 2010 e 2020. Nesse período, houve 6.516 notificações de óbitos por violência fatal. De acordo com o DATASUS, no mesmo período, mais de 607 mil pessoas morreram vítimas de violência intencional no Brasil, sendo 91,68% do sexo masculino. Esses dados corroboram com os estatisticas obtidas no Piauí, visto que as mortes no sexo masculino também são larga maioria no estado, representando 91,34% dos casos, quase 11 vezes o número de mortes femininas (DATASUS, 2022).

De acordo com o Ministério da Saúde (2001), possíveis explicações para a discrepância entre o sexo masculino e feminino envolvem a exposição dos homens a formas de lazer, diversão e trabalho mais perigosas ou propensas a situações de violência, bem como do consumo aumentado de álcool e outras drogas. Além disso, os homens não são apenas as vítimas mais frequentes, mas também, os principais agentes causadores da violência. Nesse sentido, Guimarães (2020) determina que as construções sociais e culturais de masculinidade desempenham um papel crucial na expressão de comportamentos violentos por parte dos homens, reforçando a ideia de que a violência pode ser uma maneira de afirmar sua posição e poder no contexto social. Assim, a relação entre masculinidades e violência torna-se um importante fator contribuinte para a prevalência desse fenômeno entre os homens.

A capital do estado, Teresina, foi considerada no ano de 2017 a 48ª cidade mais violenta do mundo, com 42,84 casos de homicídio para cada 100 mil piauienses segundo o ranking elaborado pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, da OEA (2017). Esse achado corresponde com os dados observados em todo o estado em um contexto geral, mesmo não sendo em 2017 o ano de pico de óbitos por violência. Os números observados demonstram ainda uma epidemia de homicídios, que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) se configura quando há um índice acima de 10 mortes por 100 mil habitantes (CONASS, 2016).

De acordo com Gawryszewski e Costa (2005), estudos sobre a violência, no Brasil e no exterior, demonstram forte relação entre óbitos por agressão e fatores socioeconômicos, sexo, faixa etária e níveis de violência, destacando que essas mortes atingem desproporcionalmente o grupo de adolescentes e adultos jovens do sexo masculino. Nesse sentido, Abramovay et al. (2002) apontam que a vulnerabilidade social, a falta de oportunidades e a exclusão social são fatores que aumentam o risco de envolvimento com a violência entre os jovens. Além disso, os autores ressaltam a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção da violência e promoção da inclusão social, especialmente em áreas com altas taxas de desigualdade e violência, a fim de reduzir os índices de mortalidade entre adolescentes e jovens adultos do sexo masculino. No Piauí, as mortes no sexo masculino e nas faixas etárias de 15 a 19 anos, 20 a 29 e 30 a 39 anos representam, respectivamente, 12,52%, 34,79% e 22,18%, totalizando 69,49% (DATASUS, 2022).

Os dados recolhidos demonstram uma predominância dos homicídios envolvendo o uso de algum tipo de arma e energia mecânica, totalizando 94,95% das mortes. Destas, sobressaíram-se majoritariamente os instrumentos perfurocortantes e contundentes, principalmente por projétil de arma de fogo (PAF), causando 60,85% dos desfechos, instrumentos perfurocortantes (27,76%) e as mortes por meio de objeto contundente, com 6,34%. Cavalcante et al. (2022) destacam que o aumento da violência letal por armas de fogo no Brasil está relacionado a fatores como a disponibilidade e o acesso a armas, assim como o contexto socioeconômico e a falta de políticas públicas efetivas para a prevenção e redução de homicídios. Além disso, os autores ressaltam a necessidade de aprimoramento e fortalecimento das políticas de controle de armas e promoção de uma cultura de paz para enfrentar essa realidade alarmante.

Estas informações estão em consonância com as divulgadas pelo IPEA (2021), no Atlas da Violência, para o estado do Piauí, onde, no período de 2009 a 2019, houve aumento de mais de 90% no número de mortes causadas por armas de fogo, com mais um incremento de 24,85% entre 2019 e 2020, de acordo com o Ministério da Saúde (2022). Esse aumento se mostra ainda mais relevante, uma vez que, no mesmo período de 2019 a 2020, no Brasil, o aumento foi de apenas 10,27% (DATASUS, 2022).

O IBGE classifica como negros a soma dos pretos e pardos, e não-negros, a soma dos amarelos, brancos e indígenas. Dessa forma, de acordo com os dados colhidos neste estudo, percebe-se alarmante diferença entre o número de mortes de negros, com 84,9%, enquanto os não-negros, totalizam apenas 9,35%. Gomes e Carvalho (2020) destacam que as desigualdades raciais na educação brasileira se manifestam na diferença da trajetória educacional entre jovens negros e brancos, onde negros tendem a ter menor acesso à educação de qualidade e uma maior propensão a evasão escolar. Souza (2007) destaca uma concentração dramática de risco na população negra, com taxas de homicídios mais elevadas em todas as faixas etárias, especialmente entre 20-29 anos. A desigualdade na distribuição de riquezas e recursos sociais, como educação, saúde e saneamento, entre brancos e negros no Brasil, resulta em desigualdades na ocorrência de mortes violentas.

Os dados coletados mostram que 42,38% das vítimas negras de violência no Piauí possuíam baixa escolaridade, enquanto na população branca esse índice era de 30,78%. Apenas 1,70% das vítimas negras haviam completado ensino fundamental e médio ou ingressado no ensino superior, valor quase 5 vezes menor que na população branca (8,11%)As desigualdades educacionais entre negros e brancos no Piauí e no Brasil são evidenciadas pelos dados e corroboradas por Pinto, Moura e Silva (2020). De acordo com os autores, a população negra enfrenta desvantagens no sistema educacional, incluindo atraso escolar, evasão e menor acesso ao ensino superior, perpetuadas por fatores sociais e econômicos, como discriminação racial e falta de recursos educacionais de qualidade. Essas disparidades afetam a qualidade de vida, as oportunidades econômicas e a mobilidade social dos indivíduos envolvidos.

Para o Ministério da Saúde (2001), os acidentes e violências afetam principalmente adolescentes e adultos jovens, gerando elevados Anos Potenciais de Vida Perdidos (APVP), um indicador que mensura a mortalidade prematura e auxilia no planejamento e definição de prioridades na saúde. O coeficiente APVP quantifica os anos de vida não vividos devido a óbitos prematuros, sendo a faixa etária citada a de maior impacto nesse sentido. Esses eventos podem ser prevenidos por meio de políticas públicas efetivas e ações integradas, que levem em consideração os diferentes fatores de risco e vulnerabilidades presentes nas populações afetadas (MOURA et al., 2018).

5. Conclusão

A pesquisa se baseou no perfil da mortalidade por violência e os resultados evidenciaram que a maioria dos óbitos ocorreram na população do sexo masculino, negros, com idade de 15 a 29 anos e baixa escolaridade (até 3 anos de estudo) que foram a óbito por meio de agressão por disparo por arma de fogo, representando uma grande maioria se comparada as outras causas segundo o grupo do CID 10. Os achados reforçaram as estatísticas de violência no Brasil, bem como o perfil das vítimas.

Esses dados poderão contribuir para a realização de intervenções nas populações específicas afetadas, auxiliando no combate a violência, manutenção da segurança pública, monitorização das condições de saúde da população e controle das perdas da população economicamente ativa, que foram impactadas pela violência e que podem ser avaliadas por meio dos gastos com a manutenção da saúde em âmbito hospitalar. Assim, a pesquisa permite amparar tanto o âmbito econômico, como também nas esferas política e social.

Referências

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1,2,3 Bacharelado em Medicina Centro Universitário Uninovafapi