ACIDENTES EM IDOSOS NO DOMICÍLIO: FATORES DE RISCO E ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO.

ACCIDENTS IN ELDERLY AT THE HOME: RISK FACTORS AND NURSE’S ROLE.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7936585


Edielle Cristina da Silva1
Elias Rocha de Azevedo Filho2
Vera Lúcia Teodoro dos Santos Souza2
Claudia Marcia Ventura Teixeira Santos2
Maria do Socorro de Lima Silva2
Marcus Vinicius Ribeiro Ferreira2
Luciano Freitas Sales2
Dhaiane de Sena Mendes Silva2


Resumo                                                   

Introdução: A modificação no perfil populacional pressiona a implementação de políticas públicas para que seja oferecida uma assistência de qualidade voltada para a saúde do idoso, com o objetivo de promover o envelhecimento ativo de modo a reduzir o enfraquecimento funcional e os acidentes domiciliares. Objetivo: Expor a atuação dos enfermeiros relacionados aos fatores de riscos de acidentes domiciliares em idosos. Materiais e Métodos: Utilizaram-se os bancos de dados NANDA e outros 23 artigos científicos de bancos de dados como: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde (LILACS), Bireme e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Os trabalhos escolhidos foram coletados no período de abril de 2022, no idioma português, com recorte temporal de 2008 a 2022. Resultado: Os domicílios são o local com maior índice de acidentes com idosos. O desequilíbrio, as quedas, queimaduras, envenenamentos agudos e acidentes com a aranha marrom (gênero: Loxosceles) e o escorpião marrom (Tityus serrulatus) figuram entre as maiores estatísticas de acidentes domésticos. Conclusão: A informação sobre os acidentes domiciliares e suas consequências é a base e suporte para que a população saiba prevenir e evitar a exposição aos fatores de risco. 

Palavras-chave: fatores de riscos; atuação do enfermeiro; acidentes domésticos; idosos; idosos em domicílio.

Abstract

Introduction: The changing population profile puts pressure on the implementation of public policies to provide quality care focused on the health of the elderly, with the aim of promoting active aging in order to reduce functional weakening and home accidents. Objective: To expose the role of nurses related to the risk factors of home accidents in the elderly. Materials and Methods: We used databases: NANDA and 23 other scientific articles from databases such as: Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), Bireme, and the Scientific Electronic Library Online (SciELO). The selected works were collected in the period from April 2022, in Portuguese language, with a temporal cut from 2008 to 2022. Result: Homes are the place with the highest rate of accidents with the elderly. Imbalance, falls, burns, acute poisoning, and accidents with brown spiders (genus: Loxosceles) and brown scorpions (Tityus serrulatus) are among the highest statistics of home accidents. Conclusion: Information about home accidents and their consequences is the basis and support for the population to know how to prevent and avoid exposure to risk factors.

Keywords: risk factors; nurses’ role; home accidents; elderly; elderly at home.

Introdução

Levar uma queda ou ter lesões associadas a quedas são enormes anseios de saúde pública em idosos em todo o mundo, pois representam um incômodo importante para a pessoa, sua família, para a sociedade e economia (HEINRICH et al., 2010; KAUR et al., 2020; PENG et al., 2018;). Complicações relacionadas a quedas levam a um período difuso de reabilitação e acréscimo dos custos com saúde (BATES et al., 1995; SAVERINO et al., 2006). Além do dispêndio das quedas para os hospitais, o paciente implica-se em custos suplementar, pois 35% dos pacientes que caem sofrem danos físicos ou até a morte (HEALEY et al., 2008). As quedas também podem ocasionar medo de cair, o que pode conduzir à imobilidade e seus transtornos, como fraqueza muscular, contratura, hipotensão postural e eventos trombogênicos (ROUSSEAU, 1993; VELLAS et al. 1997).

Em todo o mundo, a população está envelhecendo e a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, até 2050, a população com 60 anos ou mais dobrará, enquanto a de 80 anos ou mais chegará a 400 milhões de pessoas, o que é considerado como uma aclamação dos avanços médicos, consequentes do acesso a melhores tratamentos e do foco em terapias preventivas, sendo o uso de Farmacoterapia o principal contribuinte para isso. Na maior parte dos casos, as pessoas estão usando mais medicamentos e, embora o uso de Farmacoterapia tenha ajudado as pessoas a viverem mais, seu uso é mais complicado e propenso a riscos em pessoas idosas (MELO et al., 2020).

Conforme Menezes et al. (2016), a redução da funcionalidade corporal pode ocasionar consequências: as quedas, que são definidas como o direcionamento sem intenção do corpo para um nível inferior, sem a possibilidade de se corrigir essa posição em tempo hábil, decorrente de vários fatores que comprometem a estabilidade. É vista como um motivo para o aumento da morbimortalidade na população idosa e um dos principais motivos de problemas clínicos e de saúde pública devido à alta incidência, com o surgimento de complicações e altos custos assistenciais.

Segundo Heslop e Wynaden (2016), a queda é considerada uma das causas mais comuns de hospitalização na população idosa. Estima-se que uma em cada três pessoas idosas sofram queda por ano e menos da metade informe ao seu médico. Entre essas quedas, uma em cada cinco provoca lesão grave, como fraturas ou ferimento na cabeça, o que implica alto impacto nos gastos dos serviços de saúde no mundo inteiro (AYOUBI et al., 2015; HESLOP; WYNADEN, 2016) e contribui para que a queda entre idosos venha a ser um problema de saúde pública (WHO, 2007).

Cerca de 17% dos casos de indivíduos que sofrem quedas levam uma vida solitária e são pessoas com nível mais baixo de escolaridade, muitos deles possuindo apenas o Ensino Fundamental Incompleto. Entre os idosos, as comorbidades mais comuns que podem desencadear as quedas são: doença cardiovascular; osteoartrite e osteoporose, mas não se pode desconsiderar as enfermidades crônicas, como diabetes e hipertensão (PAULA; SANTO, 2015).

SANDOVAL et al. (2013) relatam que a etiologia das quedas depende de muitos fatores, e está sempre em relação com fatores considerados intrínsecos, entre os quais se encontram os problemas de visão, de equilíbrio, da marcha, que se juntam aos fatores externos, por exemplo, os riscos ambientais. Os considerados inerentes à pessoa são responsáveis pelo maior número desse evento em idosos institucionalizados, enquanto os externos são os responsáveis por quedas em idosos da comunidade. Sendo assim, as maiores causas de acidentes domésticos são as quedas, que podem apresentar consequências graves, variando do medo de quedas, fraturas, perda de independência ou até mesmo da mortalidade. Aproximadamente 25% das pessoas com mais de 65 anos de idade caem a cada ano, e cerca de 20% das quedas requerem atenção médica (OBRIST et al., 2016).

Entre as muitas coisas associadas às quedas de pacientes está a idade, pluralidade de patologias, mobilidade física prejudicada, presença de doença aguda, equilíbrio prejudicado e estado mental diminuído. Por tantas vezes, o uso de medicamentos agrava essa situação, além de haver alterações cognitivas, os procedimentos médicos também influenciam no aumento à vulnerabilidade, gerando, como consequência, a ocorrência de quedas. Outros fatores relacionados também às quedas são os aspectos ambientais e de recursos humanos (COSTA et al., 2011).

Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo descrever a atuação dos enfermeiros relacionados aos fatores de riscos de acidentes domiciliares em idosos.

Materiais e Métodos

Através da escolha da questão norteadora e dos objetivos, foi possível realizar uma delimitação de quais trabalhos seriam relevantes para a pesquisa e que contribuíram de forma gradativa para a análise dos dados e para o desenvolvimento do presente artigo.

A revisão bibliográfica otimiza o trabalho das investigações e proporciona ao pesquisador o conhecimento do campo estudado. A revisão de literatura, para Gil (2008), permite a análise da metodologia, o encontro de pesquisas semelhantes e fontes de conhecimento, apresentando possibilidades ao pesquisador, para que o mesmo se veja de outra perspectiva, com novas concepções, avaliando o empenho sobre a pesquisa e fazendo comparativos.

Foram utilizadas as etapas para conceituar o tema e desenvolver as questões norteadoras; utilização de estudos, definição de descritores, coleta de dados por meio das literaturas, pesquisa crítica de estudos inseridos e discussão dos resultados.

Para a composição deste trabalho, a busca dos artigos foi realizada em bancos de dados, como LILACS, Bireme e SciELO, em livros relacionados. Os artigos foram coletados no período de abril de 2022, tendo sido utilizados os descritores: fatores de riscos, atuação do enfermeiro, acidentes domésticos, idosos e idosos em domicilio

Foram utilizados critérios para distinguir artigos completos da íntegra, no idioma português, com recorte temporal de 2017 a 2022.

Resultado

Segundo a Comissão Econômica para América Latina e o Caribe, os países em vias de desenvolvimento têm experimentado um progresso acelerado de envelhecimento populacional. Na América Latina, observa-se uma estrutura populacional em processo de envelhecimento, com estimativa de que o número de idosos supere o quantitativo de indivíduos com até 15 anos de idade em 2036. Nesta circunstância, o IBGE (2018) destacou o Brasil, dentre os países em desenvolvimento, como o que mais tem celeridade de envelhecimento populacional, e cujo número de pessoas idosas (≥ 65 anos de idade) representará um quarto da população (25,5%) em 2060 (IBGE, 2018).

Essa modificação no perfil populacional pressiona a implementação de políticas públicas que ofertem uma assistência com a proposta de promover um envelhecimento ativo capaz de minimizar o enfraquecimento, visto que vários são os fatores que predispõem os idosos ao declínio funcional, que resulta em dependência e perda da autonomia. Essas perdas exercem impacto negativo sobre os idosos, suas famílias e serviços de saúde pública, particularmente em uma conjuntura de poucos recursos financeiros (BLAZER et al., 2015).

No Brasil, no que diz respeito à definição da palavra idoso, ela surge a partir da Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que declara o idoso como sendo a pessoa maior de 60 anos de idade (BRASIL, 1994). Isso é corroborado pela Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003, também conhecida como o Estatuto do Idoso, que o considera como pessoa com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL, 2003).

A senescência, enquanto processo natural do envelhecimento, se caracteriza como alterações fisiológicas que produzem efeitos deletérios ou doenças, porém, associada com condições de sobrecarga, complicações cardiovasculares e estresse emocional, favorece o aparecimento de condições patológicas crônicas, caracterizando a senilidade como fator que aumenta a vulnerabilidade (LAURIA et al., 2019).

A partir desse entendimento, a assistência ao idoso deve estar voltada para a manutenção da qualidade de vida, considerando o processo de perdas próprias do envelhecimento, as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação do seu estado de saúde (SANTOS et al., 2020).

Fatores associados a acidentes domésticos em idosos

Existem diversos fatores associados a acidentes domiciliares em idosos, acidentes que são rotulados pelos especialistas como causas externas, junto com as enfermidades que muitos desses idosos possuem, como enfermidades cardiovasculares, neurológicas, respiratórias, osteoarticulares e neoplásicas, causas que constituem a incapacidade, a invalidez e até mesmo a morte (MELO et al., 2020).

Os acidentes domésticos que acometem pessoas idosas com maior frequência são principalmente: desequilíbrio e quedas, queimaduras, envenenamentos agudos, acidentes com aranha marrom e escorpião (AYOUBI et al., 2015).

Santos et al. (2020) declaram que o principal fator que predispõe a acidentes no domicílio em idosos é a queda, pois é o marcador de fragilidade, imobilidade e comprometimento agudo e crônico da saúde. Ainda mencionam que as quedas diminuem a função corporal e emocional, causando lesões, limitações de atividades, medo de cair e perda de mobilidade (SANTOS et al. 2020). 

Do ponto de vista de Buksman et al. (2008), queda pode ser definida como deslocamento sem intenção do corpo para um nível de posição inferior, que não permite a execução de correção em tempo hábil, determinado por circunstâncias multifatoriais comprometendo a estabilidade. Nesta acepção, Leitão et al. (2018) descrevem queda em duas fases. Para a primeira fase, como um evento inicial que desloca o centro de massa do corpo para além de sua base de suporte. Os eventos iniciais envolvem fatores extrínsecos, como riscos ambientais, e fatores intrínsecos, como articulações instáveis, fraqueza muscular e reflexos posturais não confiáveis; e atividades físicas em andamento no momento da queda. A segunda fase de uma queda envolve uma falha dos sistemas de manutenção da postura ereta para detectar e corrigir esse deslocamento a tempo de evitar uma queda (LEITÃO et al., 2018).

Vieira et al. (2018) destacam, ainda, uma terceira fase, que seria um impacto do corpo nas superfícies ambientais, geralmente o solo, que resulta na transmissão de forças aos tecidos e órgãos do corpo, ocasionando uma lesão ou danos.

Uma quarta fase, embora não faça parte de uma queda, diz respeito às sequelas médicas, psicológicas e de saúde decorrentes de quedas e lesões. Viera et al. (2018) fazem uma abordagem sobre a importância de prevenções de quedas e suas consequências, visando aos fatores relacionados a cada uma dessas fases.

Quadro 1 – Principais fatores de risco para quedas.

Levantar-se à noite
Banheiro escorregadio ou sem proteção
Objetos fora do alcance das mãos
Ambientes inseguros e mal iluminados
Ambientes mal planejados
Presença de barreiras arquitetônicas
Ausência de corrimão em escada
Altura inadequada do vaso sanitário
Colchão ou cama altos
Usar roupas muito longas em casa
Animais no domicílio
Consumir álcool
Tapetes escorregadios
Crianças no domicílio em parte do dia
Usar calçado inadequado
Viver sozinho ou com outro idoso
Assentos sem braços ou encosto
Desníveis no chão
Obstáculos no trajeto no interior da casa
Piso escorregadio
Corredor sem proteção
Objetos no chão

Fonte: Lopes et al., 2021).

Outros fatores também associados a lesões devido a acidentes domésticos são o aumento do tempo de reação às situações de perigo que diminui o reflexo, o aumento da frequência cardíaca, da irregulação da pressão arterial e do fluxo arterial. A diminuição da força muscular, das fibras de contração rápida, atuantes no controle postural e degenerações articulares limitam a amplitude de movimentos (LAURIA et al., 2019).

Segundo Leitão et al. (2018), é através da identificação dos fatores de risco intrínsecos e extrínsecos, que podem ser associados a quedas, que se obtém o diagnóstico, visando sugerir potenciais intervenções preventivas. Os idosos com múltiplas enfermidades estão em maior risco, mas, não desconsiderando indivíduos saudáveis.

Com isso, são necessárias medidas que previnem as quedas e lesões, medidas que deve abranger o espectro de idade, estado de saúde da pessoa idosa, visando abordar a diversidade das causas de quedas sem comprometer desnecessariamente a qualidade de vida e a independência (SANDOVAL et al., 2013).

Atuação do enfermeiro na prevenção de acidentes domésticos

O papel do enfermeiro varia com base das configurações de pessoal e nas decisões de gerenciamento, mas o seu principal papel é o cuidar. Ao enfermeiro cabe enorme parte da responsabilidade de prevenir que pessoas idosas sofram quedas (WHO, 2007).

Segundo Fonseca e Moura (2016), a atuação do enfermeiro está na avaliação do risco de queda do paciente, na elaboração de práticas de prevenção, considerando cada caso, além de monitorar a condição médica do paciente para quaisquer alterações, obter ordens do médico, se necessário, coordenar o cuidado dos auxiliares de enfermagem, educar o paciente e a família sobre a prevenção de quedas. Além disso, há a obtenção de suprimentos (bengala, andador, alarme de leito, etc.), quando necessários, para evitar quedas de pacientes e a utilização de auxiliares de enfermagem, ou seja, quando o enfermeiro passar a ofertar a autonomia a esse idoso (AYOUBI et al., 2015; HESLOP; WYNADEN, 2016).

Essa atuação do enfermeiro também oferta ações voltadas ao encorajamento familiar, demonstrando a importância de realizar mudanças no ambiente doméstico a fim de evitar acidentes. Cabe ao profissional de enfermagem obter uma educação continuada e conhecimento técnico-científico que visa incluir o indivíduo idoso como uma pessoa que necessita de cuidados diários (AYOUBI et al., 2015).

Cabe, também, ao profissional saber lidar com essa demanda, sendo uma pessoa coerente, ética e respeitosa, que é capaz de dialogar, escutar, perceber as fragilidades desse paciente, ofertar uma assistência de qualidade e humanizada, identificar os cuidados necessários que visam obter o alívio das dores em presença de lesões, ofertando uma reabilitação e uma promoção da qualidade de vida e estando presente nos períodos operatórios até a alta (LOPES et al., 2021).

Com todos esses pontos identificados, é importante que o profissional de enfermagem mantenha em mente que o processo de envelhecimento não é uniforme em toda a população, devido a diferenças genéticas, estilo de vida e saúde geral (GIL, 2008).

Um fator que exige do profissional de enfermagem um maior entendimento está relacionado a farmacodinâmicos, exigindo uma individualização dos regimes. No entanto, não há definições concretas de idosos que caracterizem adequadamente essa população de pacientes. Ao usar os termos genéricos “idosos” e “pessoas idosas”, pode haver interpretações variáveis do tipo de paciente que está sendo encaminhado, e isso é problemático quando a tomada de decisão se refere especificamente a eles (FONSECA; MOURA, 2016).

Além disso, algumas ferramentas de cuidados ao idoso incluem a idade como parâmetro determinante, como também a capacidade limitada de se adaptar a terapia e as necessidades de cada paciente de acordo com seus atributos únicos. Características do envelhecimento devem ser adequadamente consideradas dentro de qualquer estratégia ou ferramenta (incluindo diretrizes de prática clínica) focada na individualização da terapia (SANTOS et al., 2020).

É impossível ofertar o cuidar de um paciente sem considerar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como um instrumento de grande relevância, pois essa sistematização proporciona ao enfermeiro cinco etapas que o ajudam a construir um atendimento de qualidade (SANDOVAL et al., 2013).

O Quadro 2 mostra os diagnósticos e intervenções que ajudam o enfermeiro na oferta de prevenção, promoção e reabilitação ao indivíduo em qualquer circunstância.

Quadro 2 – Diagnósticos e intervenções de enfermagem aos fatores associados a acidentes domésticos em idosos.

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEMINTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM
Risco de queda relacionado à fraqueza caracterizado por declínio funcional.Avaliar o nível de dependência e autonomia.
– Orientar o paciente sobre a importância do uso de calçados e vestuários apropriados.
– Orientar os familiares que deve sempre acompanhar o idoso na deambulação (principalmente o indivíduo que não conhecer[1]  deambular sozinho).
Risco de lesões relacionado a quedas caracterizado por acidentes domésticos.– Orientar pacientes e familiares sobre o risco de queda e sobre os danos causados por quedas.
– Orientar sobre a importância de pisos antiderrapantes.
– Orientar sobre a importância da manutenção de pisos e assoalhos livres de substâncias escorregadias, como ceras.
– Orientar sobre a importância de evitar os desníveis de pisos.
– Orientar o idoso e os familiares para preferirem rampas ao invés de escadas. – – Orientar sobre evitar tapetes que não sejam antiderrapantes.
– Orientar sobre a organização dos móveis para a passagem livre dos idosos.
Risco de declínio funcional relacionada à idade caracterizada pelo processo de envelhecimento.– Identificar as fontes de dor.
– Estimular o fortalecimento estrutural do sistema musculoesquelético.
– Orientar sobre a abstinência de álcool e fumo.
– Orientar sobre a importância dos banhos de sol pela manhã para ativar a vitamina D.
– Orientar sobre a importância da atividade física.
Risco de deambulação prejudicada relacionado a mudanças biológicas caracterizado pela senescência.Estimular a deambulação do corpo mesmo que seja acompanhado ou com uso de objetos que o auxilie na deambulação.Orientar sobre a ingestão de cálcio ou dos alimentos que contém cálcio. Orientar sobre a importância de um envelhecimento saudável e ativo.
Risco de desequilibro relacionado à deambulação caracterizado por objetos ao chão.– Avaliar o ambiente onde o idoso reside.
– Reforçar aos familiares a importância de um local seguro, funcional e confortável.
– Reforçar a importância de um ambiente iluminado.
Risco de baixa autoestima situacional relacionado ao envelhecimento caracterizado pela perda da independência.– Estimular a autonomia de forma que esse idoso seja encorajado a realizar atividades de forma independente, considerando cada caso.
– Oferecer apoio, deixando o idoso verbalizar sobre seus sentimentos e angustias.
– Estimular um envelhecimento saudável, de forma em que esse idoso passe a olhar a velhice por um lado bom.
– Orientar os familiares ou cuidadores sobre a importância de conversar com o idoso.
Risco de interação social prejudicada relacionado ao isolamento caracterizado pela mobilidade prejudicada– Promover o autocuidado.
– Orientar sobre a importância de uma nutrição adequada. 
– Oferecer momentos de atividades de lazer.
– Avaliar o ambiente físico.

Fonte: Nanda, 2018).

Discussão

O envelhecimento e senilidade são conceitos relevantes para abrangência das condições que envolvem a situação de saúde da pessoa idosa, devido ao aumento populacional dessa faixa etária no mundo, principalmente no Brasil, por ser considerado país em desenvolvimento. Lauria et al. (2019) entendem que senescência implica que envelhecer é um processo natural que traz mudanças inevitáveis com a idade. Quanto à senilidade, abrangem aspectos como abatimentos mentais e físicos.

As pessoas idosas sofrem com enfermidades que prejudicam a sua deambulação e equilíbrio ao realizar algumas atividades básicas como caminhar, levantar-se, etc. Associando aos fatores internos, o indivíduo idoso sofre grandes riscos de acidentes, principalmente acidentes domiciliares, que são frequentemente encontrados neste estudo, levantando a importância dos familiares, e até mesmo do próprio idoso, de estarem atentos a tapetes e objetos no chão, ao piso do banheiro escorregadio, de levantar-se à noite e à ausência de iluminação noturna, pois são fatores descritos como situações associadas a acidentes em domicílio que têm como consequência a queda.

Os acidentes no domicílio entre os idosos se tornam um grande problema de saúde pública e vem chamando a atenção dos profissionais de saúde pelas diversas internações e hospitalizações dessa população por lesões e fraturas decorrentes desses fenômenos.

Visando amenizar esse impacto, as medidas preventivas são necessárias para o controle dos aspectos clínicos das enfermidades e de ações intersetoriais, como assistência social e projetos arquitetônicos padronizados, atenção familiar e cuidados ofertados pelos enfermeiros e a transmissão de conhecimento, dando relevância para o processo de envelhecimento e para a adoção de medidas preventivas para quedas.

A atuação de enfermagem deve ser elaborada através da modificação dos hábitos, na adequação de uma dieta adequada e equilibrada, na reorganização da moradia, fazendo com que o ambiente se torne iluminado e seguro, no reconhecimento da condição física desse idoso, na inserção das práticas de atividade física para o fortalecimento do sistema musculoesquelético.

Conclusão

As pessoas idosas não se reconhecem como indivíduos vulneráveis, frágeis, propensos a adquirem diversas enfermidades e seus agravos; muitos também não se reconhecem como uma população propensa a desequilíbrios e quedas e não reconhecem os riscos do seu ambiente doméstico para a ocorrência desse fenômeno.

Dessa forma, diversos idosos desconhecem os agravos provocados pelas lesões proveniente de quedas e as consequências advindas desses acidentes em sua qualidade de vida. Para prevenir a ocorrência desse fenômeno, a população deve ser informada quanto aos fatores de riscos e consequências associados a acidentes domiciliares, pois o suporte ofertado é capaz de aumentar a percepção da população em geral com relação a esses acidentes, visando reduzir a exposição aos seus fatores de riscos, preparando os indivíduos para vivenciar o processo de senescência, principalmente em casos de pobreza, instabilidade financeira e racial.

Adquirindo essas informações, o profissional de enfermagem consegue elaborar em conjunto com as políticas públicas, ações que visam à promoção da saúde do idoso e também da população em geral, sem desconsiderar as diversas realidades.

Referências

Ayoubi F, Launay CP, Annweiler C, Beauchet Ol. Fear of falling and gait variability in older adults: a systematic review and meta-analysis. J Am Med Dir Assoc. 2015 Jan;16(1):14-9. doi: 10.1016/j.jamda.2014.06.020.

Bates DW, Pruess K, Souney P, Platt R. Quedas graves em pacientes hospitalizados: correlatos e utilização de recursos. Am J Med.1995;99:137–43.

Blazer DG, Yaffe K, Liverman CT. Cognitive aging: progress in understanding and opportunities for action. Washington: National Academies Press; 2015.

Brasil. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Presidência da República; 1994. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm. Acesso: 10/05/2022.

Brasil. Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Presidência da República; 2003. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso: 10/05/2022.

Buksman S, Vilela ALS, Pereira SRM, Lino VS, Santos VH. Quedas em Idosos: Prevenção. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; 2008. Projeto Diretrizes. http://sbgg.org.br/wpcontent/uploads/2014/10/queda-idosos.pdf. Acesso: 05/05/2022.

Costa SRF, Monteiro DR, Hemesath MP, Almeida MA. Pacientes internados em um hospital universitário. Rev. gaúch. enferm. (Porto Alegre). 2011;32(4):676-81.

Fonseca RSB, Moura MEB. Fatores de Risco Para Quedas em Idosos no Domicílio. R. Interd. 2016;9(2):206-15.

Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas; 2008.

Healey F, Scobie S, Oliver D, Pryce A, Thomson R, et al. Quedas em hospitais ingleses e galeses: um estudo observacional nacional baseado na análise retrospectiva de 12 meses de relatórios de incidentes de segurança do paciente. Qual Saf Saúde. 2008;17:424–30.

Heslop KR, Wynaden DG. Impact of falls on mental health outcomes for older adult mental health patients: an Australian study. Int J Ment Health Nurs. 2016;25(1):3-11.

Heinrich S., Rapp K., Rissmann U., Becker C., König H.-H. Custo das quedas na velhice: uma revisão sistemática. Osteoporos. Int. J. Estabel. Resultado Coop. EUR. Encontrado. Osteoporos. Nacional Osteoporos. Encontrado. EUA. 2010;21:891–902. doi: 10.1007/s00198-009-1100-1

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da População 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Rio de Janeiro: IBGE; 2018. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-detalhe-de-midia. Acesso: 10/05/2022.

Kaur R., Kalaivani M., Goel AD, Goswami AK, Nongkynrih B., Gupta SK Carga de quedas entre idosos na Índia: uma revisão sistemática e meta-análise. Nacional Med. J. Índia. 2020;33:195–200. doi: 10.4103/0970-258X.316253

Lauria VT, Esteves GJ, Silva RP, Lima C. Fatores associados e prevenção de quedas em idosos: uma breve revisão de literatura. Revela. 2019;edição 24. http://www.fals.com.br/revela/revela028/edicoesanteriores/ed24/ed_24_14.pdf. Acesso: 12/05/2022.

Leitão SM, Oliveira SC, Rolim LR, Carvalho RP, Coelho Filho JM, Peixoto Junior AA. Epidemiologia das quedas entre idosos no Brasil: uma revisão integrativa de literatura. Geriatr Gerontol Aging. 2018;12(3):172-9.

Lopes FPRA, Silva EC, Melo LB, Ferreira HS. O papel do enfermeiro ao paciente idoso com fraturas de fêmur. Multidebates. 2021;5(2):153-64.

Melo LD, Arreguy-Sena C, Gomes AMT, Parreira PMD, Pinto PF, Rocha JCCC. Representações sociais elaboradas por pessoas idosas sobre ser idoso ou envelhecido: abordagens estrutural e processual. Rev. Rev. enferm. UFSM. 2020;10:e53.

Menezes C, Vilaça KHC, Menezes RL. Falls and quality of life of people with cataracts. Rev Bras Oftalmol. 2016;75(1):40-4.

NANDA International Inc. Diagnósticos de Enfermagem da NANDA: definições e classificação 2018-2020. 11. ed. Porto Alegre: Artmed; 2018.

Obrist S, Rogan S, Hilfiker R. Development and evaluation of an online fall-risk questionnaire for nonfrail community-dwelling elderly persons: a pilot study. Rev Current Gerontol Geriat Res. 2016;2016:1520932. doi: 10.1155/2016/1520932

Paula JRNF, Santo SMA. Epidemiology of accidental falls among the elderly: survey of the period 2003-2012. Rev Min Enferm. 2015, 19(4):994-1004.

Peng K., Tian M., Andersen M., Zhang J., Liu Y., Wang Q., Lindley R., Ivers R. Incidência, fatores de risco e carga econômica de lesões relacionadas a quedas em idosos chineses: Uma revisão sistemática. Inj. Anterior J. Int. Sociedade Criança Adolesc. Inj. Anterior 2019;25:4–12. doi: 10.1136/injuryprev-2018-042982

Rousseau P. Imobilidade em idosos. Arch Fam Med 1993;2:169–77; discussão 178.

Sandoval RA, Sá ACA, Menezes RL, Nakatani AYK, Bachion MMB. Ocorrência de quedas em idosos não institucionalizados: revisão sistemática da literatura. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2013;16(4):855-63.

Santos PHF, Stival MM, Santos WS, Volpe CRG, Rehem TCMSB, Funghetto SS. Diagnóstico de enfermagem de risco de quedas em idosos da atenção primária. Rev. Bras. Enferm. 2020;73(Suppl 3):e20180826.

Saverino A, Benevolo E, Ottonello M, Zsirai E, Sessarego P. Quedas em ambiente de reabilitação: independência funcional e risco de queda. Eura Medicophys. 2006;42:179–84.

Vieira LS, Gomes AP, Bierhals IO, Farías-Antúnez S, Ribeiro CG, Miranda VIA, et al. Quedas em idosos no Sul do Brasil: prevalência e determinantes. Rev Saude Publica. 2018;52:22.

Vellas BJ, Wayne SJ, Romero LJ, Baumgartner RN, Garry PJ. Medo de cair e restrição de mobilidade em idosos caidores. Idade Envelhecimento. 1997;26:189–93.

World Health Organization. WHO Global report on falls prevention in older age. Geneva: WHO; 2007. http://www.who.int/ageing/publications/Falls_prevention7March.pdf. Acesso: 05/04/2022.


1Aluna do Curso de Enfermagem
2Professores Mestres