CONTAMINAÇÃO DA ALFACE EM SUPERMERCADOS E FEIRAS LIVRES: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

LETTUCE CONTAMINATION IN SUPERMARKETS AND FAIRS:A SYSTEMATIC REVIEW
CONTAMINACIÓN DE LECHUGAS EN SUPERMERCADOS Y FERIAS: UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7909161


Antonia Maria do Espírito Santo1
Vanessa de Oliveira Almeida¹


RESUMO

Objetivo: Descrever com maior conhecimento sobre os contaminantes parasitários em hortaliças, tendo como objetivo contribuir com uma revisão sistemática dos trabalhos de pesquisa de contaminantes em alfaces comercializadas em supermercados e feiras livres no Brasil, nos últimos 6 anos, além de avaliar a produção científica sobre a alface (Lactucasativa) no cenário nacional. Métodos: A revisão foi realizada nas seguintes bases de dados: SciElo, PubMed, Web of Science, Science Direct, Springer Link, LILACS e Google Scholar – com ponte de corte de 2015 a 2021. A parte experimental foi dividida e realizada visando a responder vários questionamentos relacionados a contaminação da alface. Resultados: foi possível observar que há negligência ao manusear e armazenar os cultivos tradicionais(hidropônico e orgânico) da alface, o que pode gerar agravos à saúde do consumidor, a exemplo da toxinfecção alimentar. Conclusão:O processo de infecção parasitária da alfacedisponível para o consumo, provavelmente, esteja associado ao transporte aberto, à negligência das condições higiênicas e sanitárias dos responsáveis em manipular as hortaliças no processo de colheita e armazenamento, e aos consumidores na falta de higienização adequada. Tais efeitos indicam a ausência de execução das normas de sanitarismo previstas pela legislação vigente. O que corrobora com a inevitabilidade de ações de intervenção, principalmente, no que se refere à educação e saúde dos produtores rurais e manipuladores de verduras, procurando sempre melhoramentos quanto à manipulação, na higienização e cultivo das alfaces.

Palavras-chave: Lactuca sativa L, Contaminação alimentar, Sistema de cultivo.

ABSTRACT

Objective:To describe with greater knowledge about parasitic contaminants in vegetables, aiming to contribute to a systematic review of research studies on contaminants in lettuce sold in supermarkets and street markets in Brazil, in the last 6 years, in addition to evaluating the scientific production on lettuce on the national scene.Methods:The review was carried out in the following databases: SciElo, PubMed, Web of Science, Science Direct, Springer Link, LILACS and Google Scholar – with a cut-off from 2015 to 2021. The experimental part was divided and carried out in order to answer several questions related to lettuce contamination. Results:it was possible to observe that there is negligence when handling and storing the traditional crops (hydroponic and organic) of lettuce, which can cause harm to the consumer’s health, such as food poisoning.Conclusion:It was concluded that the process of parasitic infection of Lactucasativa available for consumption is probably associated with open transport, negligence of hygienic and sanitary conditions of those responsible for handling the vegetables in the harvest and storage process, and to consumers in the lack of proper hygiene. Such effects indicate the lack of enforcement of the sanitation standards provided for by current legislation. This corroborates the inevitability of intervention actions, mainly with regard to education and health of rural producers and vegetable handlers, always looking for improvements in the handling, cleaning and cultivation of lettuces.

Keywords: Lactuca sativa L, Food contamination, Cultivation system.

RESUMEN

Objetivo:Describirconmayorconocimiento sobre contaminantes parasitariosenvegetales, conel objetivo de contribuir a una revisión sistemática de estudios de investigación sobre contaminantes enlechugas vendidas en supermercados y mercadillosen Brasil, enlos últimos 6 años, además de evaluarlaproducción científica sobre lechugaenelescenarionacional.Métodos:Larevisión se realizóenlassiguientes bases de datos: SciElo, PubMed, Web ofScience, Science Direct, Springer Link, LILACS y Google Scholar – conun corte de 2015 a 2021. La parte experimental se dividió y llevó a cabo conelfin de responder a varias preguntas relacionadas conlacontaminación de lalechuga.Resultados:sepudo observar que existe negligencia enel manejo y almacenamiento de los cultivos tradicionales (hidropónicos y orgánicos) de lechuga, lo que puede ocasionar daños a lasaluddel consumidor, como intoxicaciónalimentaria.Conclusión:Seconcluyó que elproceso de parasitación de Lactucasativadisponible para el consumo probablementeestéasociado al transporte abierto, la negligencia de las condiciones higiénicas y sanitarias de los encargados del manejo de lashortalizasenelproceso de cosecha y almacenamiento, y a los consumidores enla falta de higiene adecuada. . Tales efectosindicanla falta de cumplimiento de las normas de saneamiento previstas por lalegislación vigente. Estocorroboralainevitabilidad de lasacciones de intervención, principalmente enlo que se refiere a laeducación y salud de losproductoresrurales y manipuladores de hortalizas, buscando siempremejorasenel manejo, limpieza y cultivo de lechugas.

Palabrasclave: Lactuca sativa L, Contaminación alimentaria, Sistema de cultivo.

1 INTRODUÇÃO

Lactuca sativa L., conhecida como alface, é a hortaliça da Família Asteraceae com maior consumo no mundo, sobretudo a sua variedade crespa. Estima-se que em 2019, com o cultivo tradicional e agroecológico, a produção mundial foi de aproximadamente 29 milhões de toneladas. E o Brasil produziu cerca de 1,5 milhão de toneladas de alface e teve um consumo per capita de 8,6 kg / habitante / ano, em 2020 (FAOSTAT, 2020; FURLANETTO et al., 2020).

No Brasil, essa hortaliça é amplamente cultivada em todas as regiões, ocupando a condição de mais consumida pela população, tanto pela qualidade nutricional que apresenta, sabor, quanto pelo baixo preço, visto que o desenvolvimento de cultivares formas de manejo, tratos culturais, como a espaçamentos, irrigação técnicas apropriadas de colheita e de cuidados pós-colheita e modificações nos hábitos alimentares, estimularam o cultivo e consumo brasileiro (RESENDE et al., 2007)

A alface é excelente fonte de vitaminas e sais minerais, além de um baixo teor calórico, e antioxidantes o que a qualifica para diversas dietas, favorecendo grandemente o seu consumo, sendo geralmente consumido fresca em misturas de saladas com outros vegetais frescos (MATTOS et al., 2009 p. 408-413)

A demanda por alface está crescendo muito rápido; além do grupo que prefere comidas naturais, temos a geração jovem do país prefere cozinha internacional, como hambúrguer, pizza, sanduíches, tacos, rolinhos primavera etc., cuja alface é parte integrante (SAWANT, 2021).O que muitos esquecem é que para aumentar a produtividade, algumas técnicas incorporam adubos no solo para adicionar nutrientes, melhorar a estrutura do solo e aumentar a biodiversidade, melhorando, assim, a sustentabilidade dos sistemas de produção de vegetais. Infelizmente, os adubos também podem conter potenciais patógenos entéricos humanos, portanto, uma importante fonte de contaminação de vegetais frescos (EKMAN et al., 2021).

Embora os produtos comercializados em feiras agroecológicas apresentem vantagens para as saúdes humana e ambiental, o manuseio incorreto no ponto de comercialização e armazenamento nas feiras pode também transformar o produto em transmissor de patógenos. Os alimentos contaminados, principalmente os consumidos crus, como as hortaliças, são considerados como um dos mais importantes meios de disseminação, contribuindo para formar a cadeia de transmissão das parasitoses, apesar de existir normas que estabelecem que as hortaliças devam apresentar ausência de sujidades, parasitas e larvas (NOVACKI et al., 2016).

Mesmo diante uma série de benefícios a quem consome diariamente essa hortaliça folhosa, quando contaminada pode trazer uma série de doenças e sintomas provocados por alimentos contaminados.As medidas para redução de casos de Doenças Transmitidas por Alimentos – DTA requer a adoção de ações educativas direcionadas aos consumidores, manipuladores e todos os envolvidos junto com a conscientização, a fim de reduzir a incidência de DTA e água, que podem provocar vômitos, náuseas e diarreia seguida de febre ou não.

Os sintomas variam de acordo ao agente etiológico; essas alterações podem evoluir para o agravamento, podendo levar o indivíduo a óbito (CARVALHO e MORRI, 2017). O uso de sanitizantes, comumente empregados para limitar a contaminação de microrganismos em frutas e hortaliças, apresenta baixo custo e oferecem atuação célere e eficácia. Entre os mais utilizados estão o ácido ascórbico, o ácido acético e o hipoclorito de sódio como um dos mais utilizados.

A indicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, baseada na Resolução RDC216/2004, preconiza que os alimentos como frutas, hortaliças e legumes sejam higienizados de forma correta, sendo consumidos crus, com a finalidade de eliminar possíveis micróbios patógenos e parasitos.

É notório que a preocupação com a segurança alimentar está sempre aumentando, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos países em desenvolvimento – em todo o mundo (BAYISSA; GEBEYEHU, 2021). No Brasil a pesquisas sobre alface estão focadas em abordagens sobre o aumento de produtividade. Pouco se sabe sobre a produção científica comparando a contaminação da alface em supermercados e feiras livres, portanto, uma revisão sistemática foi conduzida para analisar o risco para a saúde relacionada ao consumo de alface.

Assim, este estudo teve como objetivo contribuir com uma revisão sistemática dos trabalhos de pesquisa de contaminantes em alface comercializadas em supermercados e feiras livre no Brasil, nos últimos 5 anos. Comparar os resultados com a legislação vigente. Recomendar práticas para a melhoria das condições higiênico sanitárias para manipuladores a partir da confecção de uma cartilha. E como objetivos secundários, a pesquisa pôs-se a avaliar a produção científica sobre a alface no cenário nacional e conhecer a situação microbiológica atual da alface.

2 MÉTODOS

Foi realizada uma revisão sistemática sobre os contaminantes em alface comercializadas em supermercados e feiras-livres no Brasil, visando conhecer a situação microbiológica atual da alface no cenário nacional. A pesquisa seguiu o que prevê os métodos para elaboração de revisões sistemáticas: (1) elaboração da pergunta de pesquisa; (2) busca na literatura; (3) seleção dos artigos; (4) extração dos dados; (5) avaliação da qualidade metodológica; (6) síntese dos dados (metanálise); (7) avaliação da qualidade das evidências e (8) redação e publicação dos resultados.

Tendo como base as literaturas publicadas de 2015 a agosto de 2021 -, as buscas foram realizadas em janeiro de 2021 até agosto de 2021.Só foram selecionados estudos nos idiomas inglês, português e espanhol. Foi realizada busca, visando responder aos questionamentos por meio do levantamento de estudos nacionais e internacionais no Portal de Periódicos Capes e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo as principais bases de dados correspondentes: SciELO; Scopus; PubMed; SpringerLink; Elsevier;

Web of Science; MedLine; OneFile (Gale); Google ScholarScienceDirect;Directoryof Open Access Journals(Doaj) e Lilacs. A lista de referências bibliográficas dos artigos recuperados também foi utilizada como fonte para pesquisa. Foram formulados e avaliados os seguintes questionamentos: quais os locais que são encontrados o maior número de contaminantes em alface, os supermercados ou as feiras-livres?; quais regiões do Brasil possui maior positividade para contaminantes microbiológicos e químicos?; a forma de cultivo (tradicional, orgânico e hidropônico) contribui para a contaminação das alfaces?; os alimentos orgânicos possuem melhor qualidade sanitária, quando comparados aos convencionais?; quais os principais fatores que vem influenciando para a contaminação das alfaces?

O critério para inclusão dos estudos foi o seguinte: artigo completo ou short communication revisados por pares, inéditos, que comparavam a alface em diferentes tipos de comercio ou forma de cultivo. Já os critérios para exclusão dos estudos foram os seguintes: artigos de revisão; relatos de caso; opinião de especialistas; carta ao editor; capítulos de livros e aqueles que não estabeleceram uma relação com os questionamentos; artigos repetidos; artigos não inéditos (resultados previamente apresentados em outra publicação); relatos de caso dissertações, teses e trabalhos apresentados em congressos.

Após a leitura dos artigos, foi realizada a avaliação sobre adequação dos resultados apresentados em relação ao objetivo proposto. Após a extração, os dados foram agrupados em tabela de forma a permitir a especificação desses itens. Este agrupamento foi realizado para facilitar a análise comparativa dos estudos, favorecendo a identificação da variabilidade entre eles.Os resultados foram tabulados com auxílio de planilhas eletrônicas no Microsoft Excel, versão 2010.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Quadro 1, segue as literaturas selecionadas que foram utilizadas para responder os questionamentos após análises dos artigos

Quadro 1: Artigos científicos utilizados na revisão

Fonte: SANTO, Antonia Maria do Espírito. 2022.                                                  

Nos últimos anos, mudanças têm sido observadas nos hábitos alimentares da população mundial, principalmente relacionadas à tendência de consumo de alimentos saudáveis. Produtos mais “naturais” têm aparecido na tabela populacional, incluindo frutas e vegetais (ALMEIDA, F. A. de et al, 2016; AL-SWIDI, A, et al 2014). Baseado nos resultados obtidos no presente estudo, conclui-se que as análises realizadas em alfaces coletadas e comercializadas em feiras livres e em supermercados, no momento da pesquisa, apresentaram condições precárias na sua maioria, o que ficou evidenciado pela presença de coliformes totais e termotolerantes.

 A confirmação de coliformes nas amostras comprova o risco de transmissão de doenças associadas às hortaliças e frutas consumidas in natura, existindo, assim, uma obrigatoriedade na adoção de medidas advindas do sistema de vigilância sanitária, havendo uma necessidade imprescindível de ações urgentes direcionadas às práticas de cultivo, bem como de higiene pessoal de produtores e manipuladores, abordando a importância da sanidade para a manutenção da qualidade dos produtos, que são consumidos frescos. As moléstias parasitárias são avaliadas como um dos crescentes motivos de morbidade e mortalidade em muitos países são doenças endêmicas de países em desenvolvimento (FRANÇA, 2014). O Brasil, por ser classificado como país em desenvolvimento, apresenta condições socioeconômicas e temperatura que favorecem episódios recorrentes de doenças intestinais frequentes em áreas rurais e urbanas (SOARES; CANTOS, 2006).

A partir do checklist foi observado que as alfaces eram transportadas em veículos abertos. Os feirantes retiravam as folhas deterioradas e o excesso de terra sacudindo as alfaces antes da comercialização. Também utilizavam tecidos não sintéticos (TNT) sobre as bancadas, como forma de proteção das hortaliças. Os consumidores tinham acesso livre à escolha das L. sativa por contato direto, sem realizar qualquer tipo de higienização prévia das mãos. Os próprios feirantes pegavam nas cédulas e nas alfaces sem realizar nenhum tipo de antissepsia (FERREIRA, D. F; 2014).

Contudo, não foi observada a presença de lixo próximo às bancadas de vendas. Na literatura, os hábitos de higiene precários, por parte dos manipuladores, podem possuir papel determinante na cadeia de transmissão de parasitos associados às DTA (MELO et al., 2011), assim como a exposição prolongada ao ambiente, pois o vento pode atuar como carreador de parasitos (FERRO; COSTA-CRUZ; BARCELOS, 2012). Já foi demonstrado que a exposição prolongada das hortaliças nas bancadas de venda pode sugerir a contaminação por larvas de Strongyloides spp. e Ancylostoma spp., o que leva a refletir sobre em qual momento a contaminação ocorreu(FERREIRA, D. F; 2014).

As formas de cultivo e o manejo relacionado a produção de hortícolas devem ser analisados. Algumas práticas inadequadas como a utilização de água contaminada para irrigação, utilização de esterco animal não tratado, ausência de higienização durante a manipulação na colheita e pós-colheita, o uso de transporte aberto, o acondicionamento e a comercialização, são responsáveis pela contaminação das hortaliças por parasitos helmintos e protozoários (SANTARÉM et al., 2012).

4 QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DOS ALIMENTOS

A qualidade de vida da população está diretamente ligada ao acesso a melhorias na saúde, e está sujeita a alguns fatores entre eles o saneamento básico eficaz, alimentação apropriada e condições de higiene.

Embora, exista benefícios proporcionados pelo consumo de hortaliças, quem consome está exposto aos riscos de toxinfecção por parasitos e microrganismos, que estão presentes nos vegetais quando não são higienizados adequadamente (MELO; GOUVÊIA, 2011).

Nesse sentido, a ocorrência de microrganismos reflete a qualidade da higiene, produção, processamento e comercialização de vegetais.Alguns autores demonstraram a presença de microrganismos patogênicos e parasitas intestinais.Dentre esses alimentos, destaca-se a importância da pesquisa para a saúde pública; entre eles, as bactérias. Estas são responsáveis por 95,9% dos patógenos conhecidos e lideraram a produção de DTA no Brasil, em 2016-2017;com foco em E. coli eSalmonella, foi diagnosticada como uma doença importante.) (BAYISSA, L. D.; GEBEYEHU, H. R; 2021).

A legislação brasileira, por meio da RDC/Anvisa nº 12/2001, estabelece limites microbiológicos de até 100 NMP/g de coliformes termotolerantes e ausência de Salmonella sp. em vegetais frescos. A Resolução CNNPA 12/1978 recomenda ainda a ausência de sujeira, parasitas e larvas.)(BAYISSA, L. D.; GEBEYEHU, H. R; 2021).

5 COLIFORMES

Bactérias coliformes são um grupo de bactérias utilizadas como indicadores de contaminação fecal que vêm sendo utilizadas há mais de cem anos como parâmetro bacteriano na caracterização e avaliação da qualidade dos alimentos e da água. Eles são, geralmente, representados pelos quatro gêneros da família Enterobacteriaceae: Citrobacter; Enterobacter; Escherichia e Klebsiella. Eles podem ser posteriormente classificados em laboratórios como coliformes totais e coliformes tolerantes ao calor. 5 Para todos os coliformes, sua detecção na água e nos alimentos não implica necessariamente em contaminação fecal, pois este grupo tem a capacidade de colonizar ambientalmente e não é puramente intestinal, podendo ser encontrado na água, solo, vegetação, insetos, entre outros (BARBOSA, 2016).

Em estudos de laboratório, todas as bactérias coliformes formam um grupo de bactérias gram-negativas, não formadoras de esporos, capazes de fermentar a lactose, produzir ácido e gás a 35-37°C. As bactérias coliformes termotolerantes são bactérias de origem fecal comprovada devido à sua baixa capacidade de colonizar o meio ambiente. Produzem ácidos e gases, e suportando temperaturas de 44-46°C. O principal representante é a Escherichia coli, considerada o melhor indicador de contaminação fecal. 5Assim, a detecção de todos os coliformes indica defeitos nas condições higiênicas de produção de alimentos, e os coliformes termotolerantes são utilizados como indicadores de qualidade sanitária dos alimentos, indicando a presença de E. coli, entre outros (BEZERRA NETO, F. et al., 2006; BRAINER, M. S. de C. P., 2021).

E. coli é considerada um microrganismo comensal abundante no intestino humano, mas também pode atuar como um patógeno oportunista, pois pode causar doenças gastrointestinais e parenterais. Vários sorotipos virulentos dessa bactéria estão associados a doenças diarreicas, surtos de gastroenterites, infecções do trato urinário e sepse, que constituem um grave problema de saúde pública(BEZERRA NETO, F. et al., 2006; BRAINER, M. S. de C. P., 2021).

As cepas podem ser classificadas de acordo com os mecanismos de patogenicidade (adesinas e exotoxinas), dividindo-as em cinco grupos principais: enterotóxicas, enteropatogênicas, enteroagregativas, enterohemorrágicas e enteroinvasivas. 8,9Estima-se que a E. coli patogênica seja responsável por 780-900 milhões de casos de diarreia anualmente em todo o mundo e por pelo menos 300.000 mortes(BEZERRA NETO, F. et al., 2006; BRAINER, M. S. de C. P., 2021).

6 SALMONELLA SP

Salmonella é uma espécie de bastonete gram-negativo, não esporulante, amplamente distribuída na natureza, que pode utilizar humana ou animais como reservatório. 8,9Seu principal habitat são os intestinos de pássaros, répteis, roedores, bovinos, animais domésticos e humanos, que formam o ciclo fecal-oral. Já existem mais de 2.500 sorotipos de Salmonella entica, sendo paratyphialtamente adaptadas aos humanos(BEZERRA NETO, F. et al., 2006; BRAINER, M. S. de C. P., 2021).

Estima-se que 21 milhões de infecções por S. typhi ocorram anualmente, levando a 200.000 mortes em todo o mundo. A maioria das infecções resulta de água e alimentos contaminados, afetando principalmente crianças e pessoas com mais de 60 anos. As fontes domésticas mais comuns são aves, ovos, laticínios e alimentos preparados em superfícies contaminadas, como tábuas de corte.9. A baixa dose infecciosa no caso de infecções por S. typhi também permite a transmissão de pessoa para pessoa, além disso, esse microrganismo tem a capacidade de se multiplicar intensamente em alimentos embalados inadequadamente em temperatura ambiente, incluindo vegetais (BRAINER, M. S. de C. P., 2021).

7 QUALIDADE MICROBIOLÓGICA

A alface costuma ser produzida em cinturões verdes, próximos aos grandes centros consumidores, dada a elevada deterioração pós-colheita do produto devido ao seu alto teor de água e grande superfície foliar. A cultura ocupa parte importante do mercado nacional de hortaliças e vem ganhando cada vez mais importância econômica no país(ALVES, A. da S., et al, 2021).

O valor nutricional e o aspecto toxicológico dos alimentos oriundos do sistema de cultivo orgânico, incluindo a alface, têm se mostrado benéficos em relação aos alimentos dos sistemas tradicionais. No entanto, a qualidade nutricional e a segurança de tais produtos foram mal avaliadas. É imperativo prevenir e reduzir o risco de contaminação com produtos químicos e microrganismos perigosos para a saúde. (ALVES, A. da S., et al, 2021; BARBOSA V. A. A. et al, 2016).Existe uma crença comum no imaginário de que os produtos do sistema de produção orgânico são saudáveis e não representam nenhum risco para a saúde. A atratividade da comercialização de produtos orgânicos contribui para isso. Essa análise torna-se preocupante por se tratar de um produto comido cru, muitas vezes não processado e sem tratamento(ALVES, A. da S., et al, 2021; BARBOSA V. A. A. et al, 2016).

A contaminação por salmonela em alfaces comercializadas no estado de São Paulo. No final da década de 1970, o problema já estava instalado, pois estudos apontavam alta contaminação fecal em 54% das amostras de hortaliças analisadas, principalmente alface, colhida no estado de São Paulo (BARBOSA V. A. A. et al, 2016).

Hoje, produtos como tomate, alface, salsa, repolho, sucos de frutas de laranja e maçã são as espécies mais severamente afetadas por surtos de intoxicação alimentar em todo o mundo, especialmente porque são acusados de serem uma fonte de patógenos de importância para a saúde pública. Escherichia coli O 157: H7, Salmonella sp., Listeria sp. E Shigella sp., Bem como os agentes causadores da hepatite A e parasitas. Lavar vegetais é a prática mais comum para um produto mais seguro. No entanto, é extremamente importante que esta água seja principalmente de boa qualidade(BARBOSA V. A. A. et al, 2016).

Ao avaliar a qualidade microbiológica de hortaliças e frutas minimamente processadas comercializadas em Fortaleza/CE, Bruno et al. (2005) verificaram a presença de Salmonellasp – em 66,6% das amostras de vegetais/tubérculos e 26% das amostras de frutas, sugerindo Boas Práticas de Fabricação (BPF) com processamento mínimo para garantir a segurança microbiológica dos produtos. 6Os autores constataram que das 30 amostras de alface analisadas em Brasília/DF, três amostras de alface comum e duas amostras de alface hidropônica e orgânica apresentaram a presença de Salmonellasp, fato que indica falta de devida diligência no processo (ARBOS, K. A. et al, 2010).

No entanto, os autores, estudando as condições microbiológicas e parasitológicas da alface comercializada em Salvador/BA, segundo diferentes sistemas de cultivo (hidropônico, orgânico e tradicional), constataram que as alfaces orgânicas apresentavam maior grau de contaminação por enteropatógenos com cultivo tradicional e hidropônico. Em resultados semelhantes aos observados pelos autores também verificou a contaminação microbiana da alface e do repolho comercializados no varejo de Brasília. Ela constatou que 100% das amostras de alface orgânica, simples e hidropônica apresentavam contaminação fecal acima do nível aceito pela RDC nº 12.

Ao analisar a contaminação microbiológica e parasitologia em alface de restaurantes self-service em Niterói – RJ, detectou níveis de coliformes fecais acima do limite tolerável pela legislação vigente em todas as amostras. Para vermes parasitas, seriam Echinococcusgranulosus, Hymenolepis nana, Trichiuristrichiura e Ascaris lumbricoides. Nas amostras analisadas, foram encontrados 20% da bactéria E. histolytica. Este protozoário, ao desenvolver seu ciclo biológico patogênico, causa danos à mucosa intestinal e pode formar úlceras que favorecem a eliminação de sangue e pus das fezes.

As manifestações clínicas das doenças parasitárias estão relacionadas à idade, imunidade, grau de infecção e estado nutricional. A Giardiasp. apresentou frequência de 13% nas amostras, indicando a possibilidade de água transportar esta parasitose. Este protozoário provoca um processo infeccioso que impede a absorção de lipídios e vitaminas lipossolúveis e promove dor abdominal com flatulência fétida.

A ocorrência de um único caso de A. lumbricoides pode estar subestimada devido ao uso de métodos não específicos para esse parasita, como a OPG. Os vegetais entram em contato com o solo local onde esses nematóides estão presentes, indicando contaminação do solo. 5Outro fator importante é a falta de boas práticas desde o cultivo. Os vegetais frescos são um meio importante de disseminação de cistos, ovos e larvas de parasitas intestinais(BARBOSA V. A. A. et al, 2016).

Essa contaminação pode ocorrer por meio da água utilizada para irrigação ou lavagem, do manuseio dessas hortaliças por agricultores em áreas de cultivo ou por trabalhadores responsáveis pela reposição em supermercados e feiras, bem como em ambientes residenciais, escolas e outros estabelecimentos. 2,5Pouco se pesquisou sobre o controle da contaminação de alimentos, o que é preocupante, visto que o consumo de frutas e vegetais frescos tem sido a pedra angular de uma dieta saudável(AL-SWIDI, A., et al, 2014; BARBOSA V. A. A. et al, 2016).

Segundo pesquisas e relatos dos autores, a alface apresenta dificuldades na fixação de parasitas, no entanto, a frequência de infecções apresentada neste trabalho também pode estar relacionada às características de folhas justapostas e flexíveis, proporcionando maior contato com o solo. As amostras da horta foram negativas, o que pode ser explicado pelo tipo de fertilizante utilizado, que é o esterco de galinha(AL-SWIDI, A., et al, 2014; BARBOSA V. A. A. et al, 2016).

A água da SABESP (Companhia de Saneamento Básico, São Paulo) tem se mostrado de boa qualidade. Em relação aos parasitas e/ou comensais observados, deve-se atentar para a presença de protozoários, principalmente E. coli, que, embora não sejam considerados patogênicos, são de grande valor como indicadores de contaminação fecal vegetal2,5.A análise parasitológica de hortaliças serve como ferramenta para monitorar as condições higiênico-sanitárias da água de irrigação, o tipo de fertilizante utilizado no cultivo, transporte e manejo, bem como no processo de educação em saúde.

Os vegetais frescos podem ser um importante transportador de contaminação parasitológica em humanos. Medidas são necessárias pelos órgãos de vigilância sanitária para garantir que o ciclo parasitário seja verificado e controlado nos locais de transmissão do parasita, conforme demonstrado neste estudo para mercearia e supermercado – fornecendo orientações essenciais para comerciantes e outros trabalhadores sobre a importância da higiene adequada e manuseio dos locais de armazenamento, e o próprio funcionário.

8 CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluiu-se que os resultados elevados de contaminação de alimentos tanto nas feiras livres como nos supermercados estejam associados a falta de  higiene e inadequações relacionadas a negligencia das condições higiênicas  ,em virtude da falta de informações sobre segurança alimentar das pessoas que vendem e produzem essas hortaliças. Esses fatores tornam as feiras livres  locais propícios para infecções  parasitárias da Lactuca sativa disponível para o consumo, provavelmente, esteja associado ao transporte aberto, à e sanitárias dos responsáveis em manipular as hortaliças no processo de colheita e armazenamento aos consumidores, na falta de higienização adequada. Nessa situação, surge a preferência na compra de gêneros alimentícios nos supermercados, avaliados como mais adaptados as condições higiênicas. Porém, os estudos realizados mostram que esses vegetais também apresentam uma quantidade de microrganismos maior que o permitido pela legislação vigente. Tais efeitos indicam a ausência de execução das normas de sanitarismo previstas pela legislação, o que corrobora com a inevitabilidade de ações de intervenção, principalmente no que se refere à educação e saúde dos produtores rurais e manipuladores de verduras, procurando sempre melhoramentos quanto à manipulação na higienização e cultivo das alfaces.

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1Centro Universitário Maria Milza (UNIMAM), Governador Mangabeira, BAHIA.