EFFECTS OF HORSE RIDING SIMULATOR IN CHILDREN WITH CEREBRAL PALSY: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7919553
Gabriel Airá Santana de Oliveira
Joany Marta Alves de Oliveira
Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Beatriz Silva e Borges
RESUMO
INTRODUÇÃO: A Paralisia Cerebral é um distúrbio que acomete crianças em todo o mundo e as abordagens de tratamento fisioterapêutico são as mais diversas, sendo o ganho da função motora e da coordenação comumente objetivado. O simulador de equitação terapêutico (JOBA), é um dispositivo mecânico, que simula a hipoterapia, reproduzindo os movimentos de um cavalo real, que tem como objetivo a melhora da função motora grossa, desenvolvimento de equilíbrio e melhora dos ajustes posturais. OBJETIVO: O objetivo do presente estudo foi buscar evidências científicas sobre o simulador de equitação como tratamento da criança com Paralisia cerebral, buscando aumentar o campo de pesquisa da área em questão evidenciando os benefícios desta intervenção. MÉTODO: Foram pesquisados nas bases de dados Scielo, Medline, Pubmed, e pelos descritores simulador de equitação terapêutico e criança com paralisia cerebral, nos idiomas português, inglês e espanhol, sendo incluídos estudos originais do tipo ensaios clínicos randomizados publicados nos últimos 11 anos. RESULTADOS: Após criteriosa seleção, foram incluídos 9 artigos, que constataram a melhora da função motora, ganhos cognitivos, melhora do equilíbrio e coordenação motora em crianças com Paralisia Cerebral. CONCLUSÃO: O simulador de equitação configura-se como um recurso terapêutico motivador, recomendado para crianças e jovens com PC, melhorando a função motora grossa, coordenação, equilíbrio e cognição.
Palavras-chave: Simulador de equitação; função motora grossa; equilíbrio; ajustes posturais; crianças com Paralisia Cerebral.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Cerebral Palsy is a disorder that affects children all over the world and the physiotherapeutic treatment approaches are the most diverse, being the gain of motor function and coordination commonly objectified. The therapeutic riding simulator (JOBA) is a mechanical device that simulates hippotherapy, reproducing the movements of a real horse, which aims to improve gross motor function, balance development and improve postural adjustments. OBJECTIVE: The objective of the present study was to seek scientific evidence about the riding simulator as a treatment for children with cerebral palsy, seeking to increase the field of research in the area in question, evidencing the benefits of this intervention. METHOD: The databases Scielo, Medline, Pubmed, and by the descriptors therapeutic riding simulator and child with cerebral palsy, in Portuguese,English and Spanish, including original studies of the type of randomized clinical trials published in the last 11 years. RESULTS: After careful selection, we included 9 articles, which found improvement in motor function, cognitive gains, improved balance and motor coordination in children with Cerebral Palsy. CONCLUSION: The riding simulator is a motivating therapeutic resource, recommended for children and young people with CP, improving gross motor function, coordination, balance and cognition.
Keywords: Horse-riding simulator; gross motor function; balance; postural adjustments; children with Cerebral Palsy.
INTRODUÇÃO
A paralisia cerebral (PC), é uma das deficiências físicas mais comuns na infância, ela se caracteriza como um distúrbio causado por lesões não progressivas de um cérebro em desenvolvimento. (JUNG, YG,et al, 2022).
Pacientes acometidos pela PC, apresentam diferentes graus de acometimento, porém, mesmo com essa variabilidade, todos apresentam as seguintes alterações, como: incapacidade de coordenar e controlar as atividades dos músculos voluntários, resultando em um controle seletivo e comprometido da atividade muscular, alterações músculos esqueléticas que resultam em deformidades e comprometimento do cotidiano de seus portadores, déficit de equilíbrio e outros. (CHANG, HJ, et al, 2021).
A etiologia mais comum da PC é a asfixia neonatal, seguida de prematuridade e infecção do sistema motor central (SNC), as condições clínicas dependem da extensão da lesão, do tipo e da neuroplasticidade do acometimento após o dano. A paralisia cerebral pode ser classificada de acordo com o acometimento motor (espasticidade, hipotonia, rigidez, ataxia e misto), quanto à gravidade da lesão (grave, moderado e leve ) e quanto à topografia da lesão: diplegia (envolvimento dos membros inferiores), monoplegia (envolvimento de somente um membro), hemiplegia (envolvimento ipsilateral de membros superior e inferior) e quadriplegia (envolvimento dos membros superiores e inferiores). (BORGES, MBS, et al, 2011).
Mesmo com sua alta divulgação e sua ampla série de benefícios, a intervenção com um cavalo real se torna indisponível para a maioria das crianças, devido seu alto custo, acesso limitado a um cavalo, clima imprevisível, ambiente e crianças que relutam a ter um contato real com cavalos reais. Devido às limitações descritas acima, foi sugerido a ideia de uma interface homem-máquina que imitasse o movimento de um cavalo real, produzindo movimentos tridimensionais semelhantes ao padrão do andar do cavalo. (TEMCHAROENSUK, P, et al, 2015).
Essa máquina pode ser facilmente utilizada em um ambiente clínico e pode ser combinada com diversas atividades relacionadas à fisioterapia e/ou outras tecnologias (como jogos de realidade virtual), tornando a intervenção com o dispositivo algo motivacional e atraente para a criança. (HERRERO, et al, 2012). Pois a neuroreabilitação pediátrica precisa ser interativa, divertida, motivadora e repetitiva, pois tais intervenções sendo executadas por longos períodos, irão produzir melhorias significativas no quadro motor, na neuroplasticidade e no estado geral da criança. (CHANG HJ, et al, 2021).
Portanto, o presente estudo busca mostrar evidências de melhora do quadro motor, coordenação motora e função motora grossa,em crianças com PC quando submetidas ao tratamento com o simulador de equitação terapêutico.
METODOLOGIA
Para a realização do presente estudo foi realizada pesquisa nas bases de dados PUBMed (MEDLINE), Scielo, Bireme/Lilacs, Cochrane e Mendeley, durante o período de fevereiro a junho de 2023. Foram incluídos na presente revisão sistemática artigos que atendiam os seguintes critérios de inclusão: artigo completo de ensaio clínico, com simulador de equitação, com crianças de 0-18 anos com paralisia cerebral, disponíveis em língua portuguesa, espanhola e inglesa e publicados nos últimos 11 anos nas bases de dados citadas anteriormente.
Os dados extraídos foram: identificação da publicação, local (país) da realização do estudo, quantidade de participantes (“n” da amostra de ambos os grupos), nível da classificação da função motora grossa (GMFCS), intervenção do grupo experimental (GE), intervenção do grupo controle (GC), duração das intervenções, instrumentos e/ou testes utilizados e desfecho final do estudo.
RESULTADOS
A busca permitiu identificar 29 artigos que atendiam preliminarmente os critérios de elegibilidade. Após a avaliação geral, foram excluídos 12 estudos que se encontravam em duplicidade e 8 estudos que demonstraram pelos títulos, resumos e na íntegra, que não contemplavam a integralidade dos critérios de elegibilidade. A avaliação detalhada apontou que 9 estudos foram considerados potencialmente relevantes e incluídos na revisão. A Figura 1 demonstra o fluxograma do processo de busca.
Figura 1. Fluxograma dos estudos incluídos na revisão.
Tabela 1. Principais características dos estudos incluídos na revisão sistemática
GE: grupo experimental; GC: grupo controle; GMFCS: Sistema de classificação da função motora grossa; GMFM: Medida da função motora grossa; PBS: Pediatric Balance Scale; Satco: Análise segmentar do controle de tronco; AUQEI:(Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant image): Avaliação da qualidade de vida capaz de avaliar o bem-estar subjetivo da criança; Escala de Ashworth modificada (EAM):Mensuração clínica do tônus muscular e estratificam seu estado com relação ao tônus de um indivíduo normal; BPM: Mensurador de equilíbrio estático; Sensor FScan/Fmat: Mensurador de deslocamento máximo.
Fonte: Produção dos próprios autores.
DISCUSSÃO
Estudos que avaliam os efeitos do simulador de equitação terapêutica têm aumentado nos últimos anos, porém são poucas pesquisas com número significativo de indivíduos e boa qualidade metodológica (Obrero-Gaitán E, et al, 2022). Visando tais condições, o objetivo principal deste estudo foi avaliar os efeitos do simulador de equitação terapêutico na função motora das crianças com paralisia cerebral, por meio de uma revisão sistemática de ensaios clínicos.
O simulador de equitação tem sido utilizado como complemento útil à reabilitação postural, do equilíbrio, da reação reativa, da função motora grossa e da marcha em pacientes pediátricos. O dispositivo permite ultrapassar as intercorrências de uma sessão de equoterapia, como por exemplo o arranque e paragem, temperamento do cavalo e o ritmo irregular de ambiente. O simulador traz estímulos seguros, estáveis e sustentados aos pacientes, facilitando uma avaliação mais homogênea e uma segurança maior à criança (Viruega H, et al, 2019).
A função motora de crianças acometidas com a PC é fundamental para que a mesma tenha independência, capacidade laboral e qualidade de vida, sendo essencial para capacidade realizar atividades de vida diária (AVD), (PRIETO VIDAL A, et al, 2018). O GMFM é usado para avaliar as mudanças que ocorrem ao longo do tempo na função motora grossa de crianças com PC, por esse motivo é a medida mais usada para avaliar a paralisia cerebral ( JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021, HEMACHITHRA C, et al, 2020, TEMCHAROENSUK P, et al, 2015, HERRERO, et al, 2012).
A presente pesquisa, realizada em diversas bases de dados, constatou uma crescente tendência de publicação na área, pois a maioria dos artigos incluídos foi publicada nos últimos 4 anos (JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021,Win Won Hae, et al, 2019, CHINNIAH, H, et al, 2019, HEMACHITHRA C, et al, 2020).
Foram verificados os efeitos agudos (apenas 1 sessão) (TEMCHAROENSUK P, et al, 2015), e os efeitos crônicos (de 4-12 semanas) (JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021,Win Won Hae, et al, 2019, CHINNIAH, H, et al, 2019, HEMACHITHRA C, et al, 2020, HERRERO, et al, 2012, BORGES, MBS, et al, 2011) da intervenção com o simulador de equitação terapêutico associado ou não com a realidade virtual.
Em relação às intervenções desenvolvidas, três estudos aplicaram a fisioterapia convencional ao grupo controle (JUNG,YG,et al,2022, HEMACHITHRA C, et al, 2020, BORGES, MBS, et al, 2011). Dois estudos usaram a equoterapia (TEMCHAROENSUK P, et al, 2015, LEE, CW, et al, 2014). Um estudo aplicou assento de canto (CHINNIAH, H, et al, 2019) e dois estudos usaram o simulador de equitação desligado na intervenção (HERRERO, et al, 2012, TEMCHAROENSUK, P, et al, 2015), três grupos usaram o simulador de equitação terapêutico combinados com a realidade virtual (JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021, Win Won Hae, et al, 2019).
O simulador de equitação terapêutico associado ou não à realidade virtual, pode melhorar a função motora grossa dessas crianças, como demonstrado nos estudos expostos. Foram analisados nove ensaios clínicos, incluindo instrumentos e/ou avaliações diversificadas. Embora as intervenções sejam diferentes, oito dos nove estudos demonstram melhoras na função motora grossa das crianças com paralisia cerebral (JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021,Win Won Hae, et al, 2019, CHINNIAH, H, et al, 2019, HEMACHITHRA C, et al, 2020, TEMCHAROENSUK P, et al, 2015, HERRERO, et al, 2012, BORGES, MBS, et al, 2011).
Destacamos, nesta revisão, dois artigos com número significativo de participantes (HERRERO, et al, 2012, BORGES, MBS, et al, 2011), com 38 e 40 crianças respectivamente. Esses artigos de referência encontraram resultados importantes: o primeiro observou efeitos maiores em crianças com maior grau de acometimento, já o segundo apontou melhora da funcionalidade geral de crianças com paralisia cerebral. A expoente diferença entre esses dois artigos diz respeito à frequência semanal e a mensuração do quadro motor. Enquanto (HERRERO, et al, 2012) realizaram a intervenção uma vez na semana e um tempo menor (BORGES, MBS, et al, 2011) realizaram um tratamento com duas vezes semanais, com um tempo maior, de intervenção.
O instrumento predominantemente utilizado para avaliar a função motora foi a Gross Motor Function Measure (GMFM), presente em 6 estudos (JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021, HEMACHITHRA C, et al, 2020, TEMCHAROENSUK P, et al, 2015, HERRERO, et al, 2012). Houve um estudo no qual a GMFCS, não foi utilizada, possibilitando mensurar a classificação motora das crianças exposta a intervenção (LEE, CW, et al, 2014), enquanto três estudos não analisaram a GMFM das crianças em suas intervenções, impedindo uma verificação mais abrangente, se ocorreu mudanças ou não da função motora grossa dos indivíduos (Win Won Hae, et al, 2019, CHINNIAH, H, et al, 2019, BORGES, MBS, et al, 2011).
Foi utilizado também a escala de equilíbrio pediátrica (Pediatric Balance Scale – PBS) (JUNG,YG,et al, 2022, CHANG HJ, et al, 2021, LEE, CW, et al, 2014), a avaliação segmentar do controle de tronco (TEMCHAROENSUK, P, et al., 2015), Escala de Ashworth modificada (EAM); (CHINNIAH, H, et al, 2019), a avaliação da mensuração de deslocamento máximo (BORGES, MBS, et al, 2011); Avaliação da qualidade de vida capaz de avaliar o bem-estar subjetivo da criança (AUQEI- Autoquestionnaire Qualité de Vie Enfant image) (BORGES, MBS, et al, 2011); Goniômetro (CHINNIAH, H, et al, 2019); Escala da avaliação do sentar (HERRERO, et al, 2012). Assim, cada autor utilizou uma escala de preferência para atingir seu objetivo.
CONCLUSÃO
Conclui-se que o simulador de equitação promove efeitos positivos significativos para a função motora grossa, melhora do quadro motor, coordenação e equilíbrio em crianças com paralisia cerebral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe a necessidade de maiores evidências científicas a respeito do simulador de equitação terapêutico, não apenas de estudos controlados e randomizados, mas também pesquisas que avaliem a influência de fatores como frequência semanal, tempo da intervenção, escalas padronizadas, entre outros. Isso se faz necessário a fim de enriquecer as informações a respeito desse tema de grande e atual importância, uma vez que a maioria dos estudos demonstra uma tendência a resultados positivos dessa intervenção, não apenas para a paralisia cerebral, mas para vários outros tipos de deficiência.
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