BEHAVIOR AND RISK FACTORS FOR THE DEVELOPMENT OF EATING DISORDERS: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7855208
Marina Prado Santos Sobral1
Maria Adriely Cunha Lima1
Maria Fernanda Franco Santos1
Rayssa Mirelle Santos Carvalho1
Anderson Meneses Almeida2
Paulo Franco de Oliveira1
Gabriella Carvalho Santos1
Lilian Costa Santos1
Halley Schuch Passos1
Leda Maria Delmondes Freitas Trindade3
RESUMO
Objetivo: Analisar os comportamentos de risco para desenvolvimento de transtornos alimentares. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática realizada nas bases de dados PubMed®, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) através de descritores definidos. Após aplicação dos critérios de inclusão e de exclusão, foram utilizados 28 estudos publicados nos últimos 5 anos para compor a base de dados da revisão. Resultados: Do total de estudos avaliados obteve-se uma amostra total de 24.644 participantes, dos quais 4.021 apresentavam risco ou já tinham desenvolvido algum transtorno alimentar. Entre os comportamentos e fatores de risco para transtornos alimentares, os mais frequentes foram de causa psicológica, como pressão familiar ou midiática, insatisfação ou preocupação com o corpo, além de ansiedade e depressão. Outros comportamentos observados foram dietas, uso de laxativos ou diuréticos e provocação de vômitos. Conclusão: Vários fatores e comportamentos de risco estão associados ao desenvolvimento de transtornos alimentares, os quais podem ser prevenidos se identificados precocemente, evitando que evoluam para estágios mais avançados o que aumenta a morbimortalidade dos indivíduos.
Palavras-chave: Comportamentos de Risco à Saúde, Fatores de Risco, Comportamento Alimentar
ABSTRACT
Objective: To analyze risk behaviors for the development of eating disorders. Methods: This is a systematic review carried out in the PubMed®, Virtual Health Library (VHL) and Scientific Electronic Library Online (SciELO) databases using defined descriptors. After applying the inclusion and exclusion criteria, 28 studies published in the last 5 years were used to compose the review database. Results: From the total number of evaluated studies, a total sample of 24,644 participants was obtained, of which 4,021 were at risk or had already developed an eating disorder. Among the behaviors and risk factors for eating disorders, the most frequent were psychological, such as family or media pressure, body dissatisfaction or concern, in addition to anxiety and depression. Other observed behaviors were dieting, use of laxatives or diuretics, and vomiting. Conclusion: Several risk factors and behaviors are associated with the development of eating disorders, which can be prevented if identified early, preventing them from progressing to more advanced stages, which increases the morbidity and mortality of individuals.
INTRODUÇÃO
Os transtornos alimentares (TAs) são doenças psiquiátricas com graves alterações no comportamento alimentar que acomete, principalmente, adolescente e adultos jovens do sexo feminino. Essas perturbações da alimentação são persistentes e causam prejuízo psicossocial e biológico, aumentando a morbimortalidade dos indivíduos acometidos. Os principais transtornos alimentares são anorexia nervosa (AN), bulimia nervosa (BN) e transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), além desses há o transtorno alimentar restritivo/evasivo, a pica, o transtorno de ruminação e outros. O diagnóstico dos transtornos alimentares pode ser realizado através dos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (Borges et al, 2006; Yager, 2023; APA, 2013).
Apesar de não haver um consenso sobre a fisiopatologia dos transtornos alimentares, sabe-se que há influência genética, social e biológica. São fatores associados a seu desenvolvimento abuso sexual, história de dieta, preocupação ou pressão social sobre o peso, atletismo, artista, além dos fatores relacionados ao ambiente familiar como expectativas parentais sobre a aparência (Yager, 2023a). Atualmente, as redes sociais têm influência importante sobre o comportamento alimentar e a aceitação corporal, principalmente em adolescentes, dado a busca por um padrão de beleza inatingível (Lira et al, 2017; Santos et al, 2020).
O TCAP é caracterizado quando o indivíduo ingere uma quantidade de comida maior do que a maioria das outras pessoas comeria em um determinado tempo sob circunstâncias similares. Atualmente, esse é o transtorno mais prevalente e sua gravidade é classificada de acordo com o número de episódios que ocorrem na semana, sendo que até 3 episódios o TCAP é leve e se mais de 13, é extremo (Sysko & Devlin, 2023; APA, 2013). Na bulimia nervosa a compulsão alimentar se apresenta com episódios mais recorrentes levando a comportamento compensatório inadequado, como vômitos auto induzidos, devido à preocupação excessiva com o corpo (Scott et al, 2023; APA, 2013). Enquanto que, na anorexia nervosa, há dieta extremamente restritiva visando a magreza, além da distorção corporal associada, comprometendo gravemente o índice de massa corporal (Borges et al, 2006; APA, 2013).
O tratamento desses transtornos, pode envolver a hospitalização para estabilização clínica, considerando que, nos casos com maior gravidade, o risco de suicídio e a alta incidência de complicações como a síndrome de realimentação podem estar presentes nos casos de AN. Para os casos estáveis, o tratamento requer acompanhamento multidisciplinar, reabilitação nutricional, monitoramento de complicações e psicoterapia, sendo que em algumas situações pode haver necessidade de farmacoterapia para tratamento do distúrbio, como na BN e fatores associados como ansiedade e depressão. Na AN não há evidência de que uma estratégia terapêutica seja superior à outra, e a escolha do tratamento, baseia-se na disponibilidade, idade e preferência do paciente, além do custo. Já na BN e no TCAP observa-se uma melhora significativa com a terapia cognitivo-comportamental e na psicoterapia, sendo estas superiores às outras abordagens (Yager, 2023b; Kass et al, 2013; SAHM, 2022).
Este estudo teve como objetivo avaliar os fatores e comportamentos de risco de adolescentes portadores de transtornos alimentares e a sua prevalência nessa faixa etária a partir de uma revisão sistemática.
MÉTODOS
A revisão sistemática objetiva sintetizar as evidências existentes sobre o tema em questão, através da pesquisa sistematizada de estudos escolhidos de acordo com os critérios de elegibilidade para fornecimento de resultados mais confiáveis (Donato et al, 2019). Este estudo visa reunir dados sobre os comportamentos e os fatores associados à presença de transtornos alimentares, para isso foi realizado uma pesquisa nas bases de dados PubMed ®, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO).
Foram definidos como descritores “Health Risk Behaviors” (D1), “Feeding Behavior” (D2), “Feeding and Eating Disorders” (D3) e “Risck factors” (D4), além do operador booleano “AND”, de forma que fosse possível abranger o resultado da pesquisa. Dessa forma, foram associados para a pesquisa “D1” AND “D2”, “D4” AND “D2”, “D1” AND “D3” e “D3” AND “D4”. Foram definidos como critérios de inclusão artigos publicados em todos idiomas nos últimos 5 anos com descritores presentes em título e/ou resumo, que fossem estudo observacional (coorte, transversal, caso-controle) e experimentais (ensaio clínico randomizado), não havendo restrição de idioma. Os critérios de exclusão foram os artigos que não apresentaram dados suficientes para atingir o objetivo proposto nesta revisão e temática divergente.
Inicialmente, foram encontrados 77.965 estudos nas bases de dados. Após aplicar os filtros/critérios de inclusão, foram excluídos 77.608, restando 357 artigos para leitura de títulos. Desses, foram removidas 19 duplicatas e após a leitura do título restaram 81 estudos para leitura do resumo, dos quais apenas 48 foram submetidos a leitura integral. Desses, apenas 26 foram incluídos para compor a base de dados dessa revisão, por apresentarem dados suficientes para atingir os objetivos propostos (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma do processo realizado para seleção dos artigos.
Fonte: dados do estudo, 2023.
A seleção dos artigos foi realizada de forma independente pelo revisores ML e MP, de modo que fosse possível aplicar o índice Kappa, caso não fosse obtido uma concordância LD seria o terceiro revisor, responsável por escolher um artigo do ponto de intersecção para remover a discrepância e, dessa forma, fosse possível prosseguir com a revisão. Ao aplicar o índice Kappa, obteve-se um valor de 0.7849, o qual indica uma concordância substancial (forte), que segundo Landis e Koch (1977) indica que o estudo pode prosseguir (Quadro 1).
Quadro 1. Índice Kappa.
Índices | Categoria 1* | Categoria 2 ** |
Kappa da categoria | 0.7849 | 0.7849 |
Erro padrão do Kappa da categoria | 0.091 | 0.0902 |
Intervalo de 95% de confiança do Kappa da categoria | Superior: 0.9633Inferior: 0.6065 | Superior: 0.9618Inferior: 0.608 |
*Artigos incluídos no estudo. ** Artigos excluídos do estudo. Fonte: dados do estudo, 2023.
RESULTADOS
O total de participantes avaliados em todos os 26 estudos foi de 24.644. Apenas 2 (7,7%) revistas não continham fator de impacto, sendo que as mais frequentes foram Nutrientes, 3 (11,5%) estudos publicados, e Eating and Weight Disorders, 3 (11,5%) estudos, seguidas por Appetite, em que 2 (7,7%) estudos foram publicados. Os locais com maior prevalência de estudos realizados foram os Estados Unidos com 19,2% (n = 5) dos estudos, seguido pela Espanha com 15,4% (n = 4) artigos e pelo Brasil com 11,5% (n = 3) (Quadro 2).
Quadro 2. Dados dos estudos que compõem a base de dados da revisão.
Artigo | Revista | Tipo de estudo | Local do estudo | Amostra (n) |
Barrios et al, 2021 | Revista del Nacional, FI – | Transversal prospectivo | Paraguai | 375 |
Muñoz, 2021 | Revista de Nutrição, FI – | Transversal | Colômbia | 1.545 |
Alwo Seifer et al, 2018 | Saudi Medical Journal, FI 1.422 | Transversal | Arábia Saudita | 656 |
Erzurum-Alim et al, 2022 | Revista Española de Nutrición Humana y Dietética, FI 0,14 | Transversal | Turquia | 1.449 |
Carvalho & Ferreira, 2020 | Ciência & Saúde Coletiva, FI 1.917 | Observacional | Brasil | 707 |
Brytek-Matera et al, 2022 | Nutrients, FI 7.185 | Observacional | Polônia | 207 |
Pascale et al, 2022 | Eating and Weight Disorders, FI 3.46 | Observacional | Itália | 137 |
Rezende et al, 2019 | Appetite, FI 5.016 | Observacional | Brasil | 927 |
Ellis et al, 2018 | Appetite, FI 5.016 | Retrospectivo | EUA | 1.339 |
Lin et al, 2021 | Journal of Eating Disorders, FI 4.916 | Transversal | EUA | 145 |
Khosravi et al, 2023 | PeerJ, FI 2.41 | Transversal | Irã | 102 |
Mora et al, 2022 | Nutrients, FI 7.185 | Observacional | Espanha | 656 |
Harshman et al, 2022 | International Journal of Obesity, FI 4.419 | Observacional | EUA | 407 |
Leme et al, 2019 | Eating and Weight Disorders, FI 3.46 | Randomizado | Brasil | 253 |
Miller et al, 2018 | Academic Pediatrics, FI 2.37 | Longitudinal | EUA | 207 |
Arribas et al, 2018 | Actas Espanolas de Psiquiatria, FI 1.196 | Observacional | Espanha | 316 |
Fogelkvist et al, 2020 | Body Image, FI 6.406 | Randomizado | Suécia | 99 |
Luz et al, 2015 | International Journal of Obesity, FI 4.419 | Observacional | Austrália | 9.053 |
Iuso et al, 2019 | Behavioral Sciences, FI 2.286 | Observacional | Itália | 282 |
Argyrides et al, 2020 | International Journal of Environmental Research and Public Health, FI 3.390 | Transversal | Chipre | 2.605 |
Barry et al, 2022 | International Eating and Weight Disorders, FI 5.791 | Transversal | EUA | 194 |
Graell et al, 2018 | International Journal of Methods in Psychiatric Research, FI 4.182 | Longitudinal | Espanha | 114 |
Martín et al, 2021 | Semergen, FI 0.332 | Multicêntrico | Espanha | 291 |
Chin et al, 2020 | Nutrients, FI 7.185 | Transversal | Malásia | 716 |
Sahlan et al, 2020 | Eating and Weight Disorders, FI 3.46 | Caso-controle | Irã | 730 |
Chan et al, 2020 | Asia Pacific Journal of Public Health, FI 2.27 | Transversal | Malásia | 1.017 |
Legenda: FI – Fator de impacto; EUA – Estados Unidos; PeerJ – The Open Acess Journal for Life & Environment Research. Fonte: dados do estudo, 2023.
Dentre dos participantes analisados (n=24.644) observou-se maior prevalência do sexo feminino, totalizando 12.732 (51,6% da amostra total) e 6.981 (28,3% da amostra total) foram do masculino. Dos 26 artigos avaliados, em 17 deles havia informações sobre a ocupação da amostra, sendo que, em 16 artigos, os participantes eram estudantes. Foram avaliadas 4.460 comorbidades em 12 (46%) estudos, sendo que as mais prevalentes foram obesidade com 69,5% (n=3.098), seguido por depressão 14% (n = 622) e baixo peso, com 6,7% (n=298) (Quadro 3).
Quadro 3. Características dos participantes da amostra.
Artigo | Sexo (M/F) | Idade | Estado Civil | Comorbidades | Ocupação |
Barrios et al, 2021 | 109/266 | Média 31a | Solteiro 258 Casado 82 Divorciado 12 Outros 23 | – | Empregado 253Desempregado 34Estudante 121 |
Muñoz, 2021 | 530/1.015 | Média 19,2a | Solteiro 1.475Relação 70 | – | Estudantes 1.545 Trabalha 209 |
Alwosaifer et al, 2018 | 656 feminino | Média 18,7a | Solteira 595 Casada 57 Divorciada 3 Outros 1 | Obesidade 26 Baixo peso 21 | Estudantes 656 |
Erzurum-Alim et al, 2022 | 1.197/252 | Maioria 22a | – | Obesidade 23 Outras 226 | Estudantes 1.449 |
Carvalho & Ferreira, 2020 | 707 masculino | Média 23,98ª | – | Obesidade 43Baixo peso 23 | Estudantes |
Brytek-Matera et al, 2022 | 114/93 | Média 5,82a | – | 31 – Crônica 16 – Distúrbio do desenvolvimento | – |
Pascale et al, 2022 | 69/68 | Média 34,8 meses | – | – | – |
Rezende et al, 2019 | 472/455 | Média 4,98 a | – | – | – |
Ellis et al, 2018 | 553/804 | Média 40,39 a | – | – | – |
Lin et al, 2021 | 19/126 | Média 16,4a | – | Desnutrição 100 Ansiedade 69 | – |
Khosravi et al, 2023 | 22/80 | Média 26,61a | Solteira 71 Casada 31 | Obesidade 13 | – |
Mora et al, 2022 | 319/260 | Média 13,7a | – | – | Estudantes 656 |
Harshman et al, 2022 | 224/183 | Média 9,58 a | – | Obesidade 298 | Estudantes 407 |
Leme et al, 2019 | 253 meninas | Média 15,6 a | – | – | Estudantes 253 |
Miller et al, 2018 | 110/97 | Média 4,3 a | – | Obesidade 83 | – |
Arribas et al, 2018 | 158 gêmeas | Média 14,2a | – | – | Estudantes 158 |
Fogelkvist et al, 2020 | 99 mulheres | Média 29,91a | – | – | – |
Luz et al, 2015 | 4.598/4.454 | Média 46,7 | Solteiros 3.359Casados 5.694 | Obesidade 2.360 | – |
Iuso et al, 2019 | 160/122 | 11 a 30 anos | – | – | Atletas 94 / Atletas não competitivos 94 / Sedentário 94 |
Argyrides et al, 2020 | 1.063/1.542 | Média 15,22 a | – | Obesidade 62 | Estudantes 2.605 |
Barry et al, 2022 | 90/104 | Média 8,9 a | – | – | Estudantes 194 |
Graell et al, 2018 | 114 meninas | Média 15,11 a | – | – | Estudantes 114 |
Martín et al, 2021 | 124/167 | Média 16,3a | – | – | Estudantes 291 |
Chin et al, 2020 | 196/520 | Média 21,59a | – | Obesidade 31Baixo peso 103Depressão 622 | Estudantes 716 |
Sahlan et al, 2020 | 405/325 | 9 a 13 anos | – | – | Estudantes 730 |
Chan et al, 2020 | 498/519 | Média 20,73a | – | Obesidade 159Baixo peso 151 | Estudantes 1.017 |
Legenda: a – anos. Fonte: dados do estudo, 2023.
Dentre os 24.644 participantes, observou-se que 4.021 (16,3%) deles apresentavam risco de desenvolver transtorno alimentar ou já tinham algum transtorno alimentar, o que representou 19 estudos (73,1%). A amostra dos 19 estudos representados por 10.717 participantes, corresponderam a 37,5% (n = 4.021) que tinham algum fator de risco ou transtorno alimentar. Em apenas um (3,9%) desses estudos, não foi identificado participante com fator de risco ou transtorno alimentar através da aplicação da escala Teste de Atitude Alimentar (EAT, do inglês Eating Attitudes Test).
O questionário mais utilizado para avaliação de transtorno alimentar foi o EAT, em 50% (n = 13) dos estudos (Quadro 4).
Quadro 4. Número de casos de transtornos alimentares definidos, fator de risco para seu desenvolvimento e questionários utilizados como instrumento de pesquisa.
Artigo | Transtorno (n) | AN / BN | Outros | Questionário |
Barrios et al, 2021 | 51 | – | – | S-EDE-Q |
Muñoz, 2021 | 427 (risco) | – | – | SCOFF |
Alwosaifer et al, 2018 | 179 (alta preocupação)430 (comp alimentar risco) | – | – | EAT-26 |
Erzurum-Alim et al, 2022 | 171 (alto risco) | – | – | GAMS-27 / EAT-40 |
Carvalho & Ferreira, 2020 | – | – | – | BSQ / Escala Likert |
Brytek-Matera et al, 2022 | 27 | – | 27 TARE | ARFID-Q-PR / EDE-Q |
Pascale et al, 2022 | 45 (alimentação excessiva) | – | – | SVIA |
Rezende et al, 2019 | 314 (pressão materna alimentar) | – | – | CFPQ |
Ellis et al, 2018 | 757 (risco) | – | – | EDDS |
Lin et al, 2021 | 145 | 123 AN | 14 TARE8 OSFED | – |
Khosravi et al, 2023 | 102 | 2/4 | 7 TCA / 7 TARE / 3 Ruminar / 79 OSFED | EAT-26 |
Mora et al, 2022 | 360 (risco) | – | – | EAT-26 |
Harshman et al, 2022 | 407 (risco) | – | – | – |
Leme et al, 2019 | 142 (risco) | – | – | – |
Miller et al, 2018 | – | – | – | CEBQ |
Arribas et al, 2018 | – | – | – | Ch EAT |
Fogelkvist et al, 2020 | 13 | 36/27 | 16 purgativo7 OSFED | EDE-Q |
Luz et al, 2015 | – | – | 11 purgativo881 TCA | – |
Iuso et al, 2019 | Sem limiar para transtornos | – | – | EAT-26 |
Argyrides et al, 2020 | – | – | – | EAT-26 |
Barry et al, 2022 | – | – | – | Ch EAT-26 |
Graell et al, 2018 | 114 | 100 | 14 OSFED | EAT-26 |
Martín et al, 2021 | 51 | – | – | EAT-26 |
Chin et al, 2020 | 145 (risco) | – | – | EAT-26 |
Sahlan et al, 2020 | – | – | – | EAT – 20 |
Chan et al, 2020 | 141 (risco) | – | – | EAT-26 |
Legenda: SCOFF – Sick, Control, One, Fat and Food; S-EDE-Q – Questionário de Exame de Distúrbios Alimentares; AN – Anorexia Nervosa; BN – Bulimia Nervosa; EAT-26 – Teste de Atitude Alimentar; Comp alimentar – Comportamento Alimentar; GAMS – Escala de Preconceito da Obesidade; ARFID-Q-PR – Questionário de Transtorno de Ingestão de Alimentos Evitantes/Restritivos – Relatório dos Pais; TARE – Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo; SVIA – Escala para Avaliação da Interação Alimentar; BSQ – Questionário de Forma Corporal; OSFED – Outros Transtornos Alimentares Especificados; TCA – Transtorno Compulsão Alimentar; EDDS – Escala de Diagnóstico de Transtornos Alimentares; CFPQ – Questionário Abrangente de Práticas Alimentares; CEBQ – Questionário de Comportamento Alimentar Infantil. Fonte: dados do estudo, 2023.
Os fatores e os comportamentos de risco mais mencionados nos estudos foram os psicológicos, constatados em 23 (88,5%) estudos, sendo que os mais comuns foram pressão familiar ou midiática, insatisfação ou preocupação com o corpo (Quadro 5).
Quadro 5. Fatores e comportamentos de riscos associados ao desenvolvimento de Transtornos Alimentares e manifestações biológicas.
Artigo | Individual | Psicológicos | Ações | Exerc | Manif | Ris |
Barrios et al, 2021 | Feminino 2,4x Solteiro 2,7x Menor idade | Sensação de comer mais (165) ou perder controle (131) | Provocar vômito 165 / Uso laxantes 12 / Uso diuréticos 34 | Sem relação | Alteração menstrual 62 | TAs |
Muñoz, 2021 | Feminino 1,6x | – | Consumo diário produtos gordurosos e light | Para aparência e não diversão | – | AN BN |
Alwosaifer et al, 2018 | Obesidade 3,3x | Pressão familiar, mídia ou par | – | – | – | TAs |
Erzurum-Alim et al, 2022 | Sobrepeso | – | – | – | – | TAs |
Carvalho & Ferreira, 2020 | – | Influência mídia, pares e pais / Comparação social / Internalização | – | – | – | TAs |
Brytek-Matera et al, 2022 | Transtorno desenvolvimento | Supervalorização da forma/peso por mães e estilo alimentar | – | – | – | TARE |
Pascale et al, 2022 | Alelo 10R para DAT1 // Alelo 4R para DRDA | Menor interação mãe-filho / maior internalização, externalização e desregulação | – | – | – | CE |
Rezende et al, 2019 | – | Pressão materna para comer / Mãe preocupada com comer pouco | – | – | – | TAs |
Ellis et al, 2018 | Menor idade de início de restrição | Maior pressão pais para comer / Mais sensível à repulsa | Evento alimentar adverso | – | – | AS |
Lin et al, 2021 | – | Duração dos TAs aumenta nível de ansiedade, relação com depressão | – | – | Disfunção erétil 93 | TAs |
Khosravi et al, 2023 | Feminino | Estilo parental autoritário | Enfrentamento evitativo e compensativo | – | – | TAs |
Mora et al, 2022 | Sem relação com idade e sexo | Uso de mídia // Sem relação com convivência familiar | Dieta / Número de refeições / Uso remédio emagrecer | Sem relação | – | TAs |
Harshman et al, 2022 | – | Refeições gratuitas ofertadas / Família com insegurança habitacional / Fast food / Uso de tela | Comer sem fome / Esconder ou acumular comida | – | – | TAs |
Leme et al, 2019 | – | Provocação de peso em família ou amigos /Insatisfação corporal | Dieta | – | – | TAs |
Miller et al, 2018 | Aumento da idade / Baixa renda | Estresse parenteral / Exposição estresse / Excesso emocionais | Comer sem fome / Sem prazer para comer | – | – | TAs |
Arribas et al, 2018 | Herdabilidade genética maior pós menarca / Influência ambiental | Desejo pela magreza /Insatisfação corporal / Perfeccionismo na pré-menarca sem influência genética | – | – | – | TAs |
Fogelkvist et al, 2020 | – | Problemas imagem corporal / Autoestima / Preocupação peso, corpo e alimentar | – | – | Disfunção erétil | TAs |
Luz et al, 2015 | Obesidade | – | Compulsão alimentar / Dieta / Jejum rigoroso / Purga | – | – | TAs |
Iuso et al, 2019 | – | Desconforto imagem corporal / Autoestima | Dieta | Sedentário | – | TAs |
Argyrides et al, 2020 | – | Disforia pela situação corporal / Ansiedade / Pressão mídia / Ideal magreza | – | – | – | TAs |
Barry et al, 2022 | Aumento da idade / Sem relação sexo | Renda familiar baixa / Cuidados de cor / Preocupação comida e peso / Pressão para comer | Insegurança alimentar | – | Disfunção erétil | TAs |
Graell et al, 2018 | – | Depressão | – | – | Amenorreia 91 / Menstrua irregular 15 | AN |
Martín et al, 2021 | Obesidade | Ter irmãos / Nerds / Preocupação com silhueta | – | – | – | TAs |
Chin et al, 2020 | Feminino / IMC | Depressão / Insatisfação corporal | – | – | – | TAs |
Sahlan et al, 2020 | Sem relação com sexo | Uso de mídia / Preocupação em ser julgado / Desconforto ao comer doce | – | – | – | TAs |
Chan et al, 2020 | – | TEPT / Sem relação com depressão e autopercepção corpo | Tentando perder peso | – | – | TAs |
Legenda: Ris – Risco; TAs – Transtornos Alimentares; AN – Anorexia Nervosa; BN – Bulimia Nervosa; Manif – Manifestações; TARE – Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo; CE – Comer Excessivamente; Exer – Exercício; AS – Alimentação Seletiva; TEPT – Transtorno do Estresse Pós Traumático. Fonte: dados do estudo, 2023.
Quanto as características individuais, quatro estudos observaram maior risco no sexo feminino (Barrios et al, 2021; Chin et al, 2020; Khosravi et al, 2023; Muñoz et al, 2021). Para Barrios et al (2021) esse risco era 2,4 vezes maior, enquanto que em 3 estudos não foi constatado aumento do risco de acordo com o sexo. Barrios et al (2021) também concluíram que induzir vômitos para controle de peso ou corpo está associado a 22,9 vezes mais risco para desenvolver um transtorno alimentar. Já a obesidade/sobrepeso foi relatada em 5 estudos como fator de risco para transtorno alimentar (Quadro 5).
No total, 5 estudos citaram alterações biológicas, sendo que Graell et al (2018) e Barrios et al (2021) observaram alterações relacionadas ao ciclo menstrual, enquanto que Lin et al (2021), Fogelkvist et al (2020) e Barry et al (2022) constataram a presença de disfunção erétil como comorbidades associada. Alguns fatores foram observados como protetores para desenvolvimento de transtornos alimentares tais como: investimento na aparência, apreciação corporal ou satisfação com partes específicas do corpo (Argyrides et al, 2020), e valorização corporal (Chin et al,2020).
DISCUSSÃO
Dos 24.644 participantes avaliados, 4.201 apresentaram triagem positiva para transtorno alimentar, o que corresponde a 16,3% da amostra. Similar a isso, na revisão sistemática e meta-análise de Trindade et al (2019) os estudos (n=19) que usaram o EAT-26 tiveram uma triagem positiva combinada de 16,7%. O estudo de Leal et al (2020) constatou uma frequência de transtorno alimentar de 17,3% em uma amostra de 1.156 adolescentes. No que diz respeito a maior prevalência no sexo feminino, sabe-se que os transtornos alimentares são mais frequentes em jovens e no sexo feminino (Yager, 2023; Leal et al, 2020).
Os transtornos alimentares podem causar a obesidade, mas também podem ser desenvolvidos por ela. Os estudos demonstraram que a obesidade foi mais prevalente, enquanto comorbidade presente nos portadores de TA, tendo sido citada como um fator de risco para seu desenvolvimento. Além disso, há uma associação entre sobrepeso / obesidade a comportamentos de risco para desenvolvimento de transtornos alimentares, como controle extremo do peso, dieta, perda de controle com ingestão de alimentos e preocupação com o peso (Neumark-Sztainer et al, 2007; Palavras et al, 2013; Leme et al, 2020). O estudo de Erzurum-Alim et al (2022) observou que o risco de transtorno alimentar e preconceito contra obesidade aumenta nos estudantes com sobrepeso ou obesidade.
A depressão foi a segunda comorbidade mais relatada nos 12 estudos que avaliaram as comorbidades, totalizando 14% dos indivíduos avaliados, similar ao estudo de Nascimento et al (2019) que detectou sintomas depressivos em 17,3% da amostra. Transtornos psiquiátricos são comuns em indivíduos com transtorno alimentar, principalmente a ansiedade e a depressão, além de serem considerados fatores de risco para seu desenvolvimento. Nessa revisão, sintomas depressivos e ansiosos, além do Transtorno de Estresse Pós-Traumático, foram constatados como fatores de risco para o desenvolvimento de transtorno alimentar (Nascimento et al, 2019; Mitchison & Hay, 2014; Engel et al, 2023).
Nessa revisão observou-se que alguns estudos definiram como comportamentos de risco para transtorno alimentar a insatisfação ou a preocupação corporal, ressaltando-se que, a busca por um corpo considerado ideal reflete diretamente na alimentação, causando adesão a outros comportamentos para atingir esse padrão desejado ou imposto pela mídia e/ou família, que também são de risco, como dieta restritiva, uso de medicamentos para emagrecer (diurético e laxativos, por exemplo), comer sem fome e outros (Silva et al 2019; Freire et al, 2020). Segundo Leal et al (2020) a insatisfação corporal aumenta em 1,752 vezes mais a chance de comportamentos não saudáveis para controle de peso.
A pressão pela mídia e pela família foram fatores de risco para desenvolvimento de transtornos alimentares. Esses fatores são observados em outros estudos como o de Philippi & Leme (2018), em que a provocação de colegas e de familiares foram associados a insatisfação corporal causando comportamentos não saudáveis para o controle de peso. O mesmo foi observado por Neumark-Sztainer et al (2010), sobre a provocação por familiares, além de estar associada com maior índice de massa corporal e compulsão alimentar com perda de controle. Carvalho & Ferreira (2020) concluíram que as influências socioculturais, resultante da internalização e da comparação social, são preditores de comportamentos de risco para transtornos alimentares e comportamentos de mudança corporal.
A triagem do transtorno alimentar pode ser realizada em indivíduos com maior risco como jovens, com histórico de adversidade na infância ou trauma, sexo feminino, transexuais, atleta, e pacientes com sinais/sintomas de transtornos alimentares, transtornos de ansiedade ou de depressão, rigidez e perfeccionismo. Nesses casos podem ser aplicados instrumentos como o SCOFF ou o EAT (Yager, 2023). O EAT foi o instrumento mais utilizado nos estudos, totalizando 50% deles, para triagem dos transtornos alimentares. Trata-se de um autorrelato com 26 itens, apresenta uma taxa de precisão de aproximadamente 90% para rastreio, no artigo de Trindade et al (2019) todos os estudos incluídos para meta-análise utilizaram EAT para avaliação dos participantes. Ressalta-se que o rastreio em pessoas sem alto risco para desenvolvimento de transtorno alimentar não é recomendado, visto que não há evidências científicas suficientes sobre melhora ou dano à saúde dessa prática, por isso o rastreio ou não nesses indivíduos varia de acordo com a decisão médica (US Preventive Services Task Force et al, 2022; Feltner et al, 2022).
A definição dos fatores e dos comportamentos de risco para transtornos alimentares são de extrema importância para implantação de programas educacionais para prevenção e tratamento eficaz desses transtornos, apesar do risco de durante as atividades de prevenção haver estímulo para atitudes não saudáveis. Isso foi observado no estudo de Leme et al (2019) em que foi realizado uma intervenção com mensagens-chave de nutrição e atividade física em estudantes do sexo feminino no Brasil. Apesar da melhora em variáveis sociais, houve prática de comportamentos não saudáveis para controle de peso. Apesar da melhoria na imagem corporal, ocorreu um aumento de comportamentos não saudáveis de controle de peso e de padrões alimentares após as intervenções (Yager, 2023).
Complicações endócrinas significativas são frequentes nos transtornos alimentares, principalmente, na AN e BN sendo que nessa revisão foi observado a presença de disfunção erétil e de alterações menstruais. A amenorreia é consequência da supressão do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano que causa hipogonadismo hipogonadotrófico em decorrência do déficit de energia e da baixa massa muscular, sendo que em cerca de 85% dos casos de infertilidade anovulatória decorrente de AN a restauração da função reprodutiva após recuperação do peso (Singhal et al, 2014; Jacoangeli et al, 2006). No que diz respeito à disfunção erétil, a principal prioridade é o ganho de peso para melhora da desnutrição, visto que isso está associado a melhora da saúde mental (Lin et al, 2021). Ressalta-se que complicações biológicas envolvendo outros sistemas podem estar presentes nos indivíduos com transtornos alimentares, podem ser leves ou graves como constipação, gastroparesia, arritmias, insuficiência cardíaca, distúrbios hidroeletrolíticos e insuficiência hepática (Scott et al, 2023; Yager et al, 2023).
CONCLUSÃO
Constatou-se vários fatores e comportamentos de risco associados ao desenvolvimento de transtornos alimentares. Os principais foram os psicológicos como provocação familiar, idealização corporal imposta pela mídia e insatisfação corporal, além de ações como dietas restritivas e ato de se alimentar sem estar com fome. Referente às comorbidades avaliadas, as mais frequentes foram obesidade, depressão e baixo peso, as quais podem ser causadas pelos transtornos alimentares ou serem fatores de risco para seu desenvolvimento. A maioria dos comportamentos e fatores podem ser prevenidos se identificados antes do estabelecimento dos transtornos alimentares evitando o aumento de morbimortalidade.
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1Universidade Tiradentes (UNIT), Aracaju- SE. *E-mail: mariaadrielycunha@hotmail.com
2Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão- SE
3Gastroenterologista e Professora da Universidade Tiradentes (UNIT), Aracaju-SE