OBESIDADE INFANTIL: PREVENÇÃO, FATORES DESENCADEADORES, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS.

CHILDHOOD OBESITY: PREVENTION, TRIGGERING FACTORS, CAUSES AND CONSEQUÊNCES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7850941


Maria Letícia Cardoso da Silva Barbosa1
Vitor Alfredo de Santana Silva2
Ricardo da Costa Freira Carvalho3
Sara Azevedo de Matos4
Lênio Airam de Pinho5
Francisco Rodrigues Nascimento Júnior6
Débora de Araujo Paz7
Evandro Rogério da Silva8
Anna Clara de Araújo Santiago9
Renata Drielle Oliveira10
Frederico Tannus de Almeida11
Natan Alves de Lima Gomes12
Anderson Ruan Morais Silva13
Maryana Chaves Bezerra14
Giovana Jenifer Santana de Oliveira15
Juliana Maria Alves Moraes16


RESUMO

Introdução: A obesidade se caracteriza como uma doença crônica multifatorial devido ao acúmulo de gordura corporal de acordo com a inatividade física e o consumo excessivo de calorias, sendo considerado um grave problema de saúde pública. 

Objetivo: Identificar as causas, consequências e prevenção da obesidade infantil. 

Método: O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Sendo assim, foi possível estruturar a pergunta norteadora: “Quais as causas, consequências e a prevenção da obesidade na infância?”.As bases de dados foram utilizadas foram a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde, Base de Dados em Enfermagem e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, utilizando os Descritores de Ciências em Saúde (DeCS), sendo eles: Obesidade Infantil e Prevenção de doenças, sendo cruzados com operador booleano AND. Em seguida, foi selecionado o quantitativo de oito artigos para compor o corpus de análise de artigos elegíveis.

Palavras-chave: Obesidade infantil, Prevenção de doenças, Atenção primária à saúde.

ABSTRACT

Introduction: Obesity is characterized as a multifactorial chronic disease due to the accumulation of body fat due to physical inactivity and excessive consumption of calories, being considered a serious public health problem.

Objective: Identify the causes, consequences and prevention of childhood obesity.

Methods: The present study is an integrative literature review. Thus, it was possible to structure the guiding question: “What are the causes, consequences and prevention of obesity in childhood?”. The databases used were Latin American and Caribbean Literature in Health Science, Database in Nursing and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, using the Health Sciences Descriptors (DeCS), namely: Childhood Obesity and Disease prevention, being crossed with the Boolean operator AND. Then, the quantitative of seven articles was selected to compose the corpus of analysis of eligible articles.

Keywords: Childhood obesity, Disease prevention, Primary health care.

1 INTRODUÇÃO

A obesidade se caracteriza como uma doença crônica multifatorial devido ao acúmulo de gordura corporal de acordo com a inatividade física e o consumo excessivo de calorias, sendo considerado um grave problema de saúde pública ocasionando assim o acometimento de várias doenças crônicas trazendo assim transtorno para a vida dessas crianças. A estimativa de obesidade mórbida infantil é de 6,4 milhões de crianças que possuem excesso de peso no Brasil na 5° posição no ranking de países com o maior número de crianças e adolescentes até 2030 (SILVA; ZANELLA, 2022).

A obesidade infantil transcende a questão da estética corporal sendo uma questão de saúde pública. Algumas causas mais comuns intercalam entre o estilo de vida, escolhas dietéticas inadequadas, hereditariedade, fatores psicológicos, desinformação e ausência de acompanhamento nutricional adequado. Além disso, outro fator determinante e importante é o consumo excessivo dos alimentos processados e ultraprocessados especialmente no público infantil, agravando ainda mais os riscos à saúde devido aos altos níveis de açúcares, gordura trans e altos níveis de sódio (SILVA, 2022). 

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) previsto na lei n° 8.069, incluso na constituição federal de 1988, é dever da família, sociedade e do estado garantir à criança e adolescente o direito à vida, saúde, respeito, educação, alimentação, dignidade entre outras atribuições. Partindo disso, o princípio da obesidade ser uma doença crônica temporária ou resultando em perdurar por perdurar por todo vida, valendo a salientar que o cuidado e acompanhamento nutricional adequado a uma criança com ou sem sobrepeso e obesidade se trata de um direito já garantido por lei (NETO et al., 2023). 

A obesidade infantil em crianças está relacionada a uma grande probabilidade de mortes prematuras, tornando assim mais propensas a desenvolverem obesidade e incapacidade na vida adulta, o que pode originar doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), sendo elas doenças cardiovasculares e diabetes sendo desenvolvidas precocemente na idade adulta (SIMÃO et al., 2020).

Mesmo que os fatores genéticos influenciam a susceptibilidade ao ganho de peso, o consenso se trata de um estilo de vida sedentário, mudanças na estrutura familiar e práticas alimentares inadequadas. A urbanização e outros motivos ambientais trazem várias mudanças nos hábitos, especialmente quando isso se refere a hábitos alimentares e a prática de atividade física. Embora tenham sido feitas grandes intervenções de saúde pública para promover uma dieta saudável e atividade física para adultos, a contribuição de intervenções para jovens e crianças para reduzir o risco de obesidade na vida adulta não foi significativamente priorizada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS, 2016).

 Assim, a tendência de aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade nessa faixa etária é um fato que preocupa não só a população, mas também a comunidade científica e que está mobilizando esforços por parte do governo. Foram criadas iniciativas adotadas pelo governo brasileiro para promover a alimentação saudável e alertar a população para os riscos da má alimentação. Uma delas é a criação de legislações que regulam a comercialização e a publicidade de alimentos para lactantes e crianças, além de outros alimentos voltados à primeira infância. Também se tem a campanha “Brasil Saudável e Sustentável”, que tem por objetivo sensibilizar e alertar a população brasileira dos benefícios da alimentação saudável (OBARA et al., 2018).

Os médicos e enfermeiros exercem um importante papel na promoção de hábitos e alimentação saudáveis, prevenção, identificação de riscos e detecção precoce da obesidade, devendo considerar a família como núcleo de atendimento, a partir de relação dialógica positiva com pais e filhos. Entende-se que a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que até então se concentrava prioritariamente no combate à desnutrição infantil, precisa integrar-se nesse contexto e assimilar novos conceitos para ampliar suas ações no tocante às doenças metabólicas da infância (MAXIMIANO et al., 2016). 

2 MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que consiste em abordagens metodológicas mais amplas entre as revisões (SOUSA et al., 2017). Essa metodologia possui principal finalidade de gerar síntese de como os resultados foram adquiridos na pesquisa sobre uma determinada temática, de forma literária e ordenada concedendo assim diversas informações amplas, permitindo os estudos experimentais e não experimentais para que seja possível a compreensão completa de um fenômeno estudado (ANDRADE et al., 2017). 

Assim foram realizadas as seguintes etapas: 1- Elaboração da pergunta norteadora; 2- Amostragem da literatura; 3- Coleta de dados; 4- Análise crítica dos estudos incluídos; 5- Discussão dos resultados; 6- Apresentação da revisão/conclusão (SOUZA et al., 2010). Sendo assim, foi possível estruturar a pergunta norteadora: “Quais as causas, consequências e a prevenção da obesidade na infância?”.

O método de pesquisa que possui relevância por realizar a busca, síntese e análise do que existe de produção sobre determinado fenômeno, além de possuir como objetivo a formação de novos questionamentos sobre a temática abordada com críticas e reflexões, auxiliando assim na identificação de lacunas existente e em seguida no avanço de novos conhecimentos (MENDES et al., 2008). 

A elaboração do levantamento metodológico para a pesquisa foi realizada no período de janeiro de 2023, as bases de dados foram utilizadas foram a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) utilizando os Descritores de Ciências em Saúde (DeCS), sendo eles: Obesidade Infantil e Prevenção de doenças, sendo cruzados com operador booleano AND. 

Dessa forma, foram apresentados 1.012 estudos os quais passaram pela análise dos resumos e critérios de elegibilidade. Ao aplicar as estratégias de busca nas bases de dados, os artigos foram transferidos para uma pasta reservada no computador em formato de arquivo RIS. Em seguida, os arquivos foram transportados para o software Rayyan, que se caracteriza como uma ferramenta gratuita e online, que auxilia na triagem dos estudos de uma revisão, minimizando erros (OUZZANI et al., 2016).

Assim que os estudos estavam disponíveis no Rayyan, os dois revisores que continham pleno conhecimento dos critérios de inclusão/exclusão que de forma independente e em duplo cego detectaram as duplicidades, mantendo-se apenas uma versão válida de cada documento científico. Após a exclusão de duplicatas, seguiu-se com a análise de títulos e resumos para verificar a temática e tipo de estudo de cada documento científico. Em seguida, os artigos elegíveis foram lidos na íntegra. 

Os critérios de inclusão adotados foram: (I) estudos que respondem a questão norteadora sobre os fatores que influenciam na decisão da via de parto, a partir da leitura do título e resumo; II) período de publicação entre os anos de 2018 a 2022; III) estar nos idiomas português, inglês ou espanhol; IV) artigos originais, disponíveis na íntegra.

Como critério de exclusão decidiu-se por não utilizar artigo que não estava ajustado ao objeto de estudo, que fugiram do tema proposto pelos autores, os que se encontravam duplicados nas bases de dados eletrônicas, textos que encontram-se incompletos, indisponível na íntegra, as revisões de literatura, guias, manuais técnicos e cartas ao leitor. Em seguida, foi selecionado o quantitativo de oito artigos para compor o corpus de análise de artigos elegíveis.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da elegibilidade dos estudos foram feitos o levantamento dos dados literários adquiridos na pesquisa, o qual permitiu a construção de um corpus de análise, contendo as seguintes informações sobre os referentes oito estudos eleitos, composto por: autoria, ano de publicação, título do artigo e resultados. Dessa forma, propôs a discussão dos resultados. A tabela do corpus de análise está representada pelo quadro 1 a seguir:

Quadro 1. Corpus de análise dos estudos eleitos, contendo autoria, ano de publicação, título e resultados.

AutoriaTítuloResultados
HOELSCHER, D.M. et al., 2022.Prevention of Pediatric Overweight and Obesity: Position of the Academy of Nutrition and Dietetics Based on an Umbrella Review of Systematic ReviewsA prevenção do sobrepeso e da obesidade pediátrica requer estratégias abrangentes que vão desde intervenções em nível de política até intervenções em nível individual em ambientes que terão o impacto mais benéfico para as crianças de acordo com seu estágio de desenvolvimento. Este documento de posição defende uma maior disponibilidade de programas e intervenções de nutrição e acesso a alimentos para reduzir o risco de obesidade pediátrica e os resultados adversos de saúde associados, tanto agora quanto para as gerações futuras.
FALDT, A. et al., 2023.Increased incidence of overweight and obesity among preschool Swedish children during the COVID-19 pandemic.Houve aumento do IMC em crianças de três (P = 0,028) e quatro (P <0,001) durante a pandemia de COVID-19. A obesidade em meninas de 3 anos aumentou de 2,8% para 3,9%. As crianças de quatro anos aumentaram a obesidade e o sobrepeso (meninas) e a prevalência de baixo peso diminuiu nos meninos. Nenhuma mudança no IMC foi observada em crianças de 5 anos. Crianças em áreas de baixo nível socioeconômico tiveram maior risco de obesidade .
ROGERS, N.T. et al., 2023.Associations between trajectories of obesity prevalence in English primary school children and the UK soft drinks industry levy: An interrupted time series analysis of surveillance dataNossos resultados sugerem que o SDIL foi associado à diminuição da prevalência de obesidade em meninas do 6º ano, com as maiores diferenças naquelas que vivem nas áreas mais carentes. Estratégias adicionais além da taxação de SSB serão necessárias para reduzir a prevalência de obesidade em geral, e particularmente em meninos mais velhos e crianças mais novas.
GUARINO, M. et al., 2023.Primary prevention programs for childhood obesity: are they cost-effective?A maioria dos estudos mostrou resultados econômicos efetivos aplicando programas de prevenção primária da obesidade infantil. É importante aumentar a homogeneidade e consistência entre os diferentes estudos.
MONTEIRO, S.G. et al., 2022.Excesso de peso infantil: um mapa de evidências sobre estratégias de prevenção e tratamento Os mapas de evidências são ferramentas oportunas e responsivas que subsidiam a tomada de decisão. Em 2021 a equipe do projeto da Alimentação Cardioprotetora do Hospital do Coração (Hcor), em parceria com a Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde (CGAN/MS), no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS) elaborou um mapa de evidências que visa mapear na literatura científica as evidências e as lacunas existentes sobre a temática de estratégias e intervenções efetivas para a prevenção e o tratamento do excesso de peso do público infantil (BRASIL; HCOR, 2021).
ROSADO, L.C. et al., 2022.Los esfuerzos preventivos de las comunidades autónomas y la desigualdad socioeconómica en la obesidad o el sobrepeso infantilA probabilidade de obesidade ou sobrepeso infantil aumenta substancialmente se o adulto entrevistado no lar também apresentar obesidade ou sobrepeso. O efeito conjunto das políticas integradas pelas comunidades autônomas se associa com uma diminuição significativa da prevalência solo para a população infantil que pertence a classes sociais altas e médias (odds ratio [OR]: 0,89, intervalo de confiança de 95% [IC95%]: 0,82-0,96, y OR: 0,93, IC95%: 0,88-0,97, respectivamente).
MAZZA, C.S., 2022.Factores de riesgo cardiometabólicos en la obesidad de la infancia y adolescenciaAs alterações cardiometabólicas associadas à obesidade infantil que persistem na vida adulta contribuem para o aumento das doenças crônicas não transmissíveis e da morbimortalidade cardiovascular. Já estabelecidas, as consequências são múltiplas a nível médico, social e económico. O diagnóstico precoce e o tratamento da obesidade são os pilares da prevenção e essa recomendação independe da discussão sobre a utilidade do diagnóstico da síndrome metabólica como entidade ou somatória das diversas comorbidades. A abordagem de uma criança ou adolescente com obesidade deve ser a detecção precoce. É importante promover a prevenção da obesidade através de programas que estimulem hábitos alimentares saudáveis e atividade física na população de crianças e adolescentes e particularmente em grupos de maior risco.
DELOYNE, A.H. et al., 2021.Obesity in Early Childhood: Examining the Relationship among Demographic, Behavioral, Nutritional, and Socioeconomic FactorsAs crianças eram mais propensas a serem obesas se não fossem caucasianas, do sexo masculino, vivessem em áreas rurais, vivessem no nível de pobreza ou abaixo dele, tivessem seguro público ou vivessem em famílias monoparentais. Crianças que receberam menos de 30 minutos de atividade física 3 ou menos dias por semana, tiveram mais de 2 horas diárias de tela, consumiram qualquer quantidade de refrigerante e consumiram qualquer coisa além do leite materno aos 6 meses de idade também tiveram uma probabilidade maior de ser obeso.

Fonte: elaborado pelos autores, 2023.

Os estudos selecionados acima, apresentam discussões em relação às causas, consequências e prevenção da obesidade infantil, a fim de permitir resultados provenientes da revisão integrativa da literatura, as pesquisas também permeiam sobre as estratégias de prevenção em relação a obesidade infantil e os impactos no período da pandemia por COVID-19.

 A obesidade entre crianças e adolescentes tem relação com a maior chance de morte prematura, manutenção da obesidade e consequências na idade adulta. Dessa forma, a obesidade quando desenvolvida em crianças possui o potencial de aumentar os riscos futuros em saúde como dificuldades respiratórias, risco de fraturas, hipertensão arterial sistêmica, doenças osteoarticulares e doenças cardiovasculares (MONTEIRO et al., 2022). Entretanto, a causa da obesidade é de origem multifatorial, que está relacionada com as condições culturais, socioeconômicas, condições de moradia e principalmente, condições financeiras. Assim sendo, o período de pandemia por COVID-19 revelou uma das problemáticas de saúde pública, a obesidade infantil, devido ao período de isolamento e lockdown. 

O tratamento dos distúrbios cardiometabólicos é direcionado ao tratamento da obesidade e perda de peso. Em uma abordagem atual, a obesidade tanto em adultos quanto em crianças é considerada uma doença crônica e recidivante com etiologia complexa, a qual determina que ela se manifeste com um amplo espectro de diferenças interindividuais. A partir disso, o tratamento deve incluir as comorbidades associadas e a perda de peso com diminuição da gordura corporal e, particularmente, da gordura ectópica, apresentou melhoras e retardação nas complicações (MAZZA, 2022).

É provável que as alterações no comportamento do estilo de vida durante a pandemia por COVID-19 tenha fortalecido a crescente de casos de sobrepeso e obesidade infantil. Estudos internacionais apontam um aumento no tempo dela e redução da atividade física durante a pandemia de COVID-19. Um estudo recente também expôs que crianças em idade pré-escolar, com baixa renda familiar possuíam relação com a maior frequência de brincadeiras ao ar livre, todavia mudanças alimentares também ocorreram com o aumento na ingestão de lanches e doces com alto teor calórico no período pandêmico. Considera-se que maior conscientização sobre higiene, menos contatos sociais e distanciamento físico possui importantes relevâncias para esses resultados nas crianças em idade pré-escolar. Desse modo, diversos fatores podem ter colaborado para a interrupção da frequência pré-escolar, como critério de saúde mais rígidos para frequência pré-escolar infantil, bem como, a ansiedade dos pais em relação à transmissão do vírus (FALDT et al., 2023). Outro fator relevante que se apresentou a partir da análise dos estudos foi que há muitas evidências de que o sono insuficiente é um importante e forte fator de risco para sobrepeso/obesidade em crianças e adolescentes. As crianças que dormem por um período mais curto têm duas vezes mais chances de obesidade em comparação com o grupo controle (ROSADO; MOYA, 2022).

No entanto, parece haver contribuições contextuais que apontam para a existência de redução da obesidade e sobrepeso infantil nas comunidades autônomas que mais recursos destinam a ações financeiras de saúde pública. Sendo assim, este resultado corrobora com as discussões que sustentam que o gasto em saúde pública é eficaz para melhorar a saúde da população, bem como, aqueles que recomendam invocar a prevenção da obesidade infantil para a formulação de políticas que passam para o setor sanitário (ROSADO; MOYA, 2022).

Outras pesquisas examinaram programas de intervenção em crianças em idade escolar, com algumas limitações. No que diz respeito ao trabalho de Gortmaker et al., apenas para três intervenções a análise de custo-efetividade resultou em uma faixa positiva: o imposto especial sobre consumo de bebidas açucaradas, eliminando o subsídio fiscal para publicidade de alimentos não saudáveis e estabelecendo padrões nutricionais para alimentos e bebidas vendidos nas escolas. A análise de custo-efetividade de Tan et al. mostrou que apenas a intervenção do sono é eficaz para prevenir o excesso de peso, em comparação com o grupo de combinação (GUARINO et al., 2023). 

Em meio às estratégias para redução da obesidade infantil, programas, políticas e ações intersetoriais são essenciais. Mas, o embasamento científico se faz extremamente relevante para a tradução do conhecimento e a identificação de intervenções efetivas relacionando o seu uso na estruturação de políticas públicas. A partir disso a ferramenta de mapas de evidências são oportunas para a tomada de decisão. O mapa de evidências é uma metodologia de mapeamento da literatura que identifica, de forma visual, o volume de produção científica de revisões sistemáticas e protocolos de revisões sobre estratégias para responder a um problema de saúde, cruzando com os desfechos utilizados para avaliar tais intervenções (MONTEIRO et al., 2022). Dentre as estratégias estudos apontam o anúncio e a implementação de taxa de indústria de refrigerantes relacionada a uma diminuição relativa geral na prevalência de obesidade em meninas de 10 a 11 anos do 6º ano de aproximadamente 8% em comparação com o cenário contrafactual baseado nas tendências pré-anúncio. Essas associações foram ainda maiores em meninas de escolas nas áreas 40% mais carentes, sugerindo que a taxa de indústria de refrigerantes poderia ajudar a reduzir as desigualdades na obesidade infantil. Porém, mais políticas de redução da obesidade são necessárias juntamente com impostos sobre bebidas açucaradas, para melhorar e reverter a atual prevalência de obesidade em crianças (ROGERS et al., 2023). A partir dessas ideias estratégicas para reduzir as causas da obesidade infantil, vale considerar os esforços que aumentem o acesso a alimentos nutritivos, atividade física e bem-estar e educação geral da família, como educação infantil de alta qualidade que podem ser abordagens de prevenção viáveis (DELOYE et al., 2021).

Outra viável e estratégia ação é o trabalho de prevenção para obesidade infantil é o ambiente escolar pelos seguintes motivos: pelo tempo que as crianças passam durante o dia, a chance do fornecimento de alimentação saudável, atividades físicas elaboradas na escola, por exigir uma educação nutricional a partir das políticas escolares, entretanto podendo moldar as atitudes referentes a atividade física e alimentação saudável. Com isso, as intervenções para o controle e combate da obesidade escolar, inclui uma gama de ações a nível ambiental e político (HOELSCHER et al., 2022).

Dessa forma, fica claro que os programas comunitários e escolares possuem grandes efeitos positivos nos resultados de saúde e na economia de custos, portanto, pode ser necessário agir de ambos os lados. Entretanto, nenhuma das intervenções seria suficiente sozinha para reverter a epidemia de obesidade, posto isto, o investimento na prevenção da obesidade infantil é importante para adquirir o máximo de benefício na idade adulta para a prevenção de doenças crônicas. Com isso, os formuladores de políticas precisam desenvolver estratégias de prevenção multifacetada que alcance os indivíduos ao longo da vida, considerando que um Índice de Massa Corporal (IMC) elevado na infância persiste na vida adulta, sendo assim, o peso infantil pode ser um preditor do peso adulto em um contexto político (GUARINO et al., 2023).

4.CONCLUSÃO

Por fim, o presente estudo buscou apresentar os fatores associados ao desenvolvimento da obesidade infantil, bem como, estratégias de estudos nacionais e internacionais sobre as ações para efetivar a prevenção da obesidade infantil em diversos aspectos, considerando seus grandes impactos a nível de saúde mundial. A partir disso, a pesquisa mostrou algumas estratégias mencionadas nos respectivos estudos selecionados. Entretanto, a seleção e agrupamentos dos estudos, encontrou uma certa dificuldade no que se diz respeito a essa temática de caráter mais atual e com abordagens relevantes de prevenção. 

Sendo assim, o estudo se faz de grande relevância para os profissionais de saúde, como para a sociedade civil, a partir das pesquisas já realizadas se apresenta uma necessidade de mais desenvolvimento de estudos em relação às questões preventivas e efetivas da obesidade infantil, a fim de dimensionar as ações e quais seriam aplicáveis a nível nacional e mundial. 

REFERÊNCIAS

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GUARINO, M. et al., Primary prevention programs for childhood obesity: are they cost-effective?. Ital J Pediatr. v.49. 2023. Doi: 10.1186/s13052-023-01424-9 

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1Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal de Campina Grande, Cuité-PB. E-mail: marialeticia20151@hotmail.com. Cuité- PB.
2Mestre em Ciência Biológicas pela Universidade Federal de Recife, Recife-PE. E-mail: vitor-silva003@outlook.com
3Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde, Formosa – GO, E-mail: ricardofreirecarvalho@gmail.com
4Mestre em Ciências do Envelhecimento pela Univerisdade São Judas Tadeu. E-mail: nutri.saramatos@gmail.com
5Especialização em Medicina na área de endocrinologista e metabologia pela Universidade Vale do Rio Verde. E-mail: lenioendocrinologia@gmail.com
6Acadêmico de Medicina pelo Centro Universitário Tiradentes. E-mail: francisco.rnascimento@souunit.com.br
7Médica pela Universidade Federal da Paraíba. E-mail: deborapazmed@gmail.com
8Residente Farmacêutico do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Criança pela Escola de Saúde Pública da Paraíba. E-mail: evandrorogeriodasilva06@gmail.com
9Acadêmica de Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:anna.santiago.016@ufrn.edu.br
10Acadêmica de Medicina pela Uniceplac. E-mail:oliveirarenata2208@gmail.com
11Acadêmico de Medicina pela Uniceplac. E-mail:medtannus@gmail.com
12 Acadêmico de Medicina pelaUniceplac. E-mail: natanalvesg1@gmail.com
13Farmacêutico pela Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: andersonruan45@gmail.com
14Farmacêutica pela Universidade Federal de Campina Grande. E-mail:farma.maryanachaves@gmail.com
15Acadêmico de Medicina pela Unieuro. E-mail:gijenifer@outlook.com
16Acadêmico de Medicina pela Universidade de Rio Verde. E-mail:juma003@hotmail.com