REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7850032
Rayssa Salarini de Almeida Baptista1
Isabella de Oliveira Santana2
Ana Carolina Mourão Passos3
Giovanna Apocalypse Souza4
Igor de Souza Costa Raimundo5
RESUMO
Introdução: Sabe-se que o câncer de colo uterino está entre as quatro causas de morte por câncer em mulheres brasileiras (INCA, 2019).O alto índice de morbimortalidade por tal neoplasia no Brasil e no mundo fez com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) desenhasse estratégias para conter o avanço da doença e diminuir seus agravos. O presente estudo objetiva conhecer o perfil epidemiológico de pacientes diagnosticadas com câncer de colo de útero na cidade do Rio de Janeiro e, a partir disso, propor estratégias para melhoria das ações de rastreamento e diagnóstico, a fim de que estas sejam mais efetivas e contribuam para a redução do índice de morbimortalidade pela doença. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo, acerca da mortalidade por câncer do colo do útero em mulheres residentes no município do Rio de Janeiro entre os anos de 2018 a 2020. Foram incluídos dados de mulheres de 25 a 64 anos, brancas, pretas, pardas, indígenas e com raça não identificada que tiveram a Declaração de Óbito com Neoplasia Maligna de Colo de Útero como causa imediata de morte, de acordo com a classificação do CID10. Resultados e Discussões: Houve predomínio de óbito em mulheres com idade entre 50 e 60 anos, em mulheres pretas, pardas e indígenas e também foi identificado que a maioria destas, não possuía ensino superior. Conclusão: na cidade do Rio de Janeiro, os óbitos por câncer do colo uterino são mais frequentes em mulheres com idade mais avançada, negras, pardas e indígenas e sem ensino superior.
Palavras- Chave: Neoplasias do colo do útero/mortalidade; Indicadores básicos de saúde; Brasil/Epidemiologia
ABSTRACT
Introduction: It is known that cervical cancer is among the four causes of death by cancer in Brazilian women (INCA, 2019).The high rate of morbidity and mortality for this neoplasm in Brazil and worldwide led the World Health Organization (WHO) to design strategies to contain the progression of the disease and reduce its injuries. The present study aims to know the epidemiological profile of patients diagnosed with cervical cancer in the city of Rio de Janeiro and, from this, to propose strategies for improving screening and diagnosis actions, so that they are more effective and contribute to reducing the morbidity and mortality rate of the disease. Methodology:This is a retrospective epidemiological study about cervical cancer mortality in women living in the city of Rio de Janeiro between the years 2018 and 2020. We included data from women aged 25 to 64 years, white, black, brown, indigenous and with an unidentified race who had a Death Declaration with Malignant Cervical Neoplasm as the immediate cause of death, according to the ICD-10 classification. Results and Discussions: There was a predominance of death in women aged between 50 and 60 years, in black, brown and indigenous women and was also identified that most of these, had no higher education. Conclusion: in the city of Rio de Janeiro, cervical cancer deaths are more frequent in older women, black, brown and indigenous women, and women without higher education.
Keywords: Cervical neoplasms/mortality; Basic health indicators; Brazil/Epidemiology
INTRODUÇÃO
Sabe-se que o câncer de colo uterino está entre as quatro causas de morte por câncer em mulheres brasileiras (INCA, 2019). O alto índice de morbimortalidade por tal neoplasia no Brasil e no mundo fez com que a Organização Mundial de Saúde (OMS) desenhasse estratégias para conter o avanço da doença e diminuir seus agravos, o que foi feito por meio da Estratégia Global para Acelerar a Eliminação do Câncer de Colo do Útero.
Tais ações, por sua vez, se baseiam em três princípios, que consistem basicamente no rastreio eficaz de mulheres até os 35 e 45 anos de idade, vacinação de meninas até 15 anos com a vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) e tratamento de mulheres identificadas com lesões precursoras pelo exame papanicolau. (OMS, 2020).
Isso porque existem uma série de fatores de risco modificáveis que podem evitar o surgimento e/ou a evolução da doença, como o tabagismo, múltiplos parceiros sexuais, coitarca precoce, multiparidade, uso de contracepção oral e infecção por HPV, sendo que todas essas variáveis podem ser modificadas com alteração do estilo de vida e comportamento, bem como com uso de preservativos e vacinação na faixa etária estabelecida contra o HPV. (INCA,2019)
Sabe-se que a infecção pelo HPV é um fator de risco muito relevante para as neoplasias malignas de colo de útero, sendo que, dos subtipos oncogênicos, o 16 e o 18 são os mais comumente associados com o câncer de colo uterino (CARVALHO et al., 2019). No entanto, a infecção pelo HPV não é fator exclusivo para o desenvolvimento da doença, ou seja, o fato da paciente ter contato com o vírus não é garantia do desenvolvimento de câncer ou de lesões precursoras deste, sendo que fatores como os já mencionados acima, bem como o tipo de vírus com o qual houve contato são importantes fatores a serem considerados, bem como a resposta imunológica da paciente.
Nesse sentido, as ações de prevenção primária e secundária são formas de grande importância e de relevância ímpar para a redução de casos da doença. Sendo assim, o rastreamento do câncer de colo, bem como de suas lesões precursoras deve seguir as recomendações do Ministério da Saúde, ou seja, é imprescindível a realização do exame colpocitológico (Papanicolau), em mulheres com idade igual ou maior que 25, que tenham iniciado prática sexual, até os 64 anos e anualmente, até que existam dois resultados consecutivos dentro da normalidade (Brasil, 2016).
Desse modo, o objetivo desse estudo é conhecer o perfil epidemiológico de pacientes diagnosticadas com câncer de colo de útero na cidade do Rio de Janeiro e, a partir disso, propor estratégias para melhora das ações de rastreamento e diagnóstico, a fim de que estas sejam mais efetivas e contribuam para a redução do índice de morbimortalidade pela doença.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo, de caráter descritivo e transversal acerca da mortalidade por câncer do colo do útero em mulheres residentes no município do Rio de Janeiro entre os anos de 2018 a 2020. Foram incluídos dados de mulheres de 25 a 64 anos, brancas, pretas, pardas, indígenas e com raça não identificada que tiveram a Declaração de Óbito com Neoplasia Maligna de Colo de Útero como causa imediata de morte, de acordo com a classificação do CID-10.
As informações e os dados foram obtidos por meio do Sistema de Informações de Câncer (SISCAN) e do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS) a partir do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Além disso, como se tratam de dados de domínio público, disponíveis por meios digitais, o presente estudo está isento de submissão à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa e ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme estabelecido pela resolução 466/2012 pelo Conselho Nacional de Saúde.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No ano de 2020, nas mulheres moradoras da cidade do Rio de Janeiro, com idade entre 25 e 64 anos, houve um total de 148 óbitos por neoplasia maligna de colo uterino. Desse total, a maior incidência de óbitos ocorreu nas mulheres com idade entre 50 e 54 anos, sendo que, destas, 58 eram brancas, 89 pretas, pardas, indígenas e 1 de raça não identificada. Além disso, dentre as mulheres pretas, pardas e indígenas, que possuem o maior índice, também foi identificado que a maioria não possuía ensino superior.
No ano de 2019, foram encontrados 91 óbitos em mulheres pretas, pardas e indígenas e 62 mortes em mulheres brancas, ambos os grupos com faixa etária entre 25 e 64 anos, totalizando 153 mortes. Dentre esse montante, também foi constatado que a faixa etária com maior número de óbito foi entre 55 e 59 anos.
Já em 2018, na faixa etária estipulada acima, foram constatados 142 óbitos, sendo 81 em mulheres pretas, pardas e indígenas, 60 em mulheres brancas e 1 de raça não identificada. Desse total, a faixa etária com maior número de óbitos se enquadrou entre 55 e 64 anos.
Em relação à raça, percebeu-se que as mulheres brancas tiveram menores índices de mortalidade por neoplasia maligna de colo uterino em comparação com pretas, pardas e indígenas, que somaram valores visivelmente maiores, sobretudo no ano de 2020, que teve 58 notificações de óbito em brancas e 89 em pretas, pardas e indígenas. Tais resultados corroboram com Dantas et al. (2020) que, em seu estudo, relatou que mulheres pretas têm maior taxa de mortalidade por neoplasia maligna de colo de útero.
Além disso, tanto as brancas quanto pretas, pardas e indígenas tiveram mais óbitos notificados em mulheres maiores de 50 anos, o que vai ao encontro do que foi constatado por Donaire et al. (2021), de que o pico de incidência do câncer de colo de útero ocorre em mulheres com faixa de idade entre 40 e 60 anos.
Nesse sentido, percebe-se que a mortalidade aumenta conforme a faixa etária e, além disso, verificou-se que o nível de escolaridade também foi um fator relevante a ser considerado, tendo em vista que mulheres sem nível superior tiveram mais notificações de morte por neoplasia maligna de colo uterino. Esse fato está possivelmente relacionado ao acesso a informações, bem como a assistência à saúde e rastreio adequado.
Assim, é necessário que haja maior efetividade nas ações de rastreamento e prevenção do câncer de colo de útero, o que pode ser feito por meio de ações de prevenção primária e secundária nas Unidades Básicas de Saúde, seja por meio da intensificação das ações de vacinação ou pelo incentivo à realização do exame colpocitológico na faixa etária estabelecida pelo Ministério da Saúde, além do incentivo às práticas de sexo seguro, tendo em vista que o HPV, prinicpal causa de câncer de colo de útero é uma infecção sexualmente transmissível.
CONCLUSÕES
Diante do exposto e da análise dos dados epidemiológicos, percebeu-se que a mortalidade em mulheres cariocas no período estudado foi maior conforme a idade, sobretudo após os 50 anos. Além disso, a variável raça foi um fator relevante, tendo em vista que mulheres pretas, pardas e indígenas morreram mais por câncer de colo de útero, o que pode explicado por diversos fatores, dentre eles o acesso escasso ao sistema de saúde e a dificuldade de acesso à informação por uma parcela desse grupo.
Ademais, percebeu-se que a maior taxa de notificação ocorreu em mulheres sem ensino superior, ou seja, possivelmente o acesso à informação e aos programas e políticas públicas de prevenção não são conhecidos por uma considerável parcela da população. Isso reflete uma grande falha no sistema, tendo em vista que todos devem ter acesso aos serviços de saúde sem distinção de raça ou classe social.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. (2a ed.), INCA, 2016.
Carvalho, J.P. et al. (2017). Rastreio, diagnóstico e tratamento do câncer de colo de útero. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2017
Carvalho, K.F. et al. (2019). A relação entre HPV e câncer de Colo de Útero: Um panorama a partir da produção bibliográfica da área. Revista Saúde em Foco . Vol. 11, 2019.
Dantas, D. B., et al. (2020). Mortality from cervical cancer in Brazil: an ecological epidemiologic study of a 22-year analysis. Ecancermedicalscience, 14, 1064. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.3332/ecancer.2020.1064
Donaire B.G. et al. Avaliação do perfil epidemiológico de pacientes com diagnóstico de carcinoma invasor de colo uterino. Health Residencies Journal. v.2 n.10, 2021.
INCA. Instituto Nacional De Câncer José Alencar Gomes Da Silva. Atlas Online de Mortalidade. Brasília, DF: Ministério da Saúde. 2019. Disponível em: https://mortalidade.inca.gov.br/MortalidadeWeb/Lima, D.C. et al. Avaliação da dor em pacientes com diagnóstico de câncer de colo do útero em Sergipe. 2021.
Organização Mundial da Saúde (OMS). WHO guideline for screening and treatment of cervical pre-cancer lesions for cervical cancer prevention. 2020.
The American College of Obstetricians and Gyneco- logists (ACOG) – ACOG Committee on Practice Bul- letins – Gynecology. ACOG Practice Bulletin Num- ber 168: Cervical cancer screening and prevention. Obstet. Gynecol. 2016; 128(4):111-30.
1Médica formada pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques. Residente de
Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital Maternidade Carmela Dutra.
2Acadêmica de Medicina da UNESA.
3Acadêmica de Medicina da UNESA.
4Acadêmica de Medicina da UNESA.
5Acadêmico de Medicina da UNESA.