REPAROS CIRÚRGICOS DE LACERAÇÕES PERINEAIS NO PÓS-PARTO

SURGICAL REPAIR OF PERINEAL LACERATIONS IN POSTPARTUM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7838184


Maressa Santos da Silva1
Jaqueline Maria de Azevedo Chagas2
Adiláo Freitas Costa de Lima3
Ana Paula Mariana Freitas Costa de Lima4
Elaine Camila Dias Rodrigues5
Isadora Saad Martins Vieira6
José Adriano de Oliveira7
Maria Clara Oliveira Padilha Diniz8
Mayara Jéssica Monteiro China9
Nadiely Vilalba Matos10
Vanessa Ferreira de Sena Soares11
Ana Paula Alves Cunha Vasconcelos12


RESUMO

Introdução: Os reparos cirúrgicos de lacerações perineais no pós-parto são intervenções comuns realizadas em mulheres que sofreram lacerações no períneo durante o parto vaginal. Essas lacerações podem variar em grau de gravidade e extensão. Objetivo: Identificar por meio da literatura científica os reparos cirúrgicos de lacerações perineais no pós-parto. Métodos: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, por proporcionar uma síntese dos resultados obtidos através de pesquisas publicadas, apresentando resultados acerca de uma determinada temática. Para direcionar a pesquisa, adotou-se como pergunta norteadora: “O que a literatura científica dispõe acerca dos Reparos Cirúrgicos de Lacerações Perineais no Pós-parto?”  Para construção da pesquisa, a coleta e análise de dados foi realizada através do Portal da Biblioteca Virtual da Saúde e da base de dados Medical Literature Analysis and Retrievel System Online via PubMed, através dos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Lacerações”, “Reparo Cirúrgico” e “Pós parto” combinados entre si pelo operadores booleanos OR e AND. Resultados e Discussão: Os reparos cirúrgicos de lacerações perineais são uma intervenção comum no pós-parto, geralmente realizada após o parto vaginal. A laceração perineal é uma lesão que ocorre na região entre a vagina e o ânus durante o parto. As lacerações podem variar em gravidade, desde pequenas rasgaduras que cicatrizam sozinhas, até lacerações mais graves que requerem reparo cirúrgico.  Conclusão: os atendimentos de emergência de lacerações perineais no pós-parto são uma técnica segura e eficaz para prevenir complicações a curto e longo prazo, como dor perineal, dispareunia e incontinência fecal e urinária.

Palavras-Chave: Lacerações; Reparo Cirúrgico; Pós parto.

ABSTRACT

Introduction: Surgical repairs of postpartum perineal lacerations are common interventions performed on women who have sustained perineal lacerations during vaginal delivery. These lacerations can vary in severity and extent. Objective: To identify, through the scientific literature, surgical repairs of perineal lacerations in the postpartum period. Methods: This is a narrative review of the literature, as it provides a synthesis of the results obtained through published research, presenting results on a given topic. In order to direct the research, the guiding question was adopted: “What does the scientific literature have about Surgical Repairs of Perineal Lacerations in the Postpartum?” For the construction of the research, data collection and analysis was carried out through the Library Portal Virtual Health and the Medical Literature Analysis and Retrievel System Online database via PubMed, using the following Health Sciences Descriptors (DeCS): “Lacerations”, “Surgical Repair” and “Postpartum” combined with each other by Boolean operators OR and AND. Results and Discussion: Surgical repair of perineal lacerations is a common postpartum intervention, usually performed after vaginal delivery. Perineal laceration is an injury that occurs in the region between the vagina and anus during childbirth. lacerations can vary in severity, from small tears that heal on their own, to more serious lacerations that require surgical repair. Conclusion: emergency care of perineal lacerations in the postpartum period is a safe and effective technique to prevent short- and long-term complications, such as perineal pain, dyspareunia and fecal and urinary incontinence.

Keywords: Lacerations; Surgical Procedures, Operative; Postpartum Period.

1 INTRODUÇÃO

Os reparos cirúrgicos de lacerações perineais no pós-parto são uma intervenção comum realizada em mulheres que sofreram lacerações no períneo durante o parto vaginal. Essas lacerações podem variar em grau de gravidade e extensão, e podem afetar não apenas a região perineal, mas também outros órgãos do sistema reprodutivo feminino (ALVES et al., 2023).

Segundo Caroci-Becker et al., (2021), a reparação dessas lacerações é necessária para promover a cicatrização adequada do tecido danificado, prevenir complicações a longo prazo e melhorar o conforto e a qualidade de vida da paciente. Embora a reparação de lacerações perineais seja uma técnica cirúrgica relativamente simples, requer cuidados pré e pós-operatórios delicados, podendo estar associada a alguns riscos e complicações. Neste sentido, é importante que as pacientes sejam adequadamente informadas sobre o procedimento, os cuidados necessários e as possíveis consequências.

Durante o parto normal é muito comum que aconteça o rompimento da pele, em casos que a força gerada é relativamente grande as fibras musculares se rompem para que o bebê consiga ser expelido. Aproximadamente 53% a  79% das mulheres afirmam ter sofrido laceração perineal em algum momento do trabalho de parto, mesmo que a mesma tenha sido enquadrada como leve. Quando se trata da análise de prontuários constata-se que em 3,25% dos mesmos foram relatadas lacerações perineais de 1º e 2º graus e 9,75% mantiveram o períneo íntegro (BELLI, 2022).

Em consonância com Rocha (2018) alguns fatores podem justificar a ocorrência de lacerações em mulheres primíparas, sendo o principal deles o próprio parto, tendo em vista que as mulheres que nunca tiveram filhos possuem uma passagem mais estreita comparada às que já perpassaram por esse processo anteriormente. O que gera uma maior possibilidade de exaustão da musculatura levando consequentemente ao seu rompimento. O uso de ocitocina também é apontado como um fator que propicia a ocorrência de lacerações durante o parto.

Sabe-se que  o processo de parto natural traz benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê, incluindo o primeiro contato entre eles, fundamental para o estabelecimento da coordenação mãe e filho e o desenvolvimento psicológico da criança. Sendo este caracterizado como um processo de nascimento em que mãe e bebê permanecem estáveis, permitindo a ocorrência da tríade: dilatação, expulsão e dequitação (BRASIL, 2017).

De acordo com Brasil (2001) constatou-se um aumento da utilização de medidas intervencionistas durante o parto e nascimento nas últimas décadas e a importância do parto humanizado, que deve ser respeitoso e não intervencionista, respeitando os direitos e vontades da mulher. Vale salientar que em alguns casos há ruptura perineal, uma lesão que pode ocorrer na genitália feminina durante o trabalho de parto e que pode impactar negativamente na força das musculaturas pélvicas, causando disfunção do assoalho pélvico.

Destaca-se na literatura científica as informações sobre a episiotomia, sendo esta um procedimento comum na Obstetrícia, que consiste na seção do períneo vaginal para ampliar a porção inferior da vagina, o anel valvar e o tecido perineal durante o estágio de expulsão do parto. Foram sentidos sete tipos de episiotomia na literatura médica, sendo a mediana e médio-lateral os tipos mais usados (DESSANTI; NUNES, 2019).

Em consonância com Santana (2021) a fim de evitar lesões no esfíncter anal, trauma perineal, prolapso genital e incontinência urinária e fecal, acelerar o parto e reduzir o risco de trauma neonatal, justificando a dor e as possíveis complicações os reparos cirúrgicos se tornam ativamente importantes.

No entanto, vários estudos justificaram que não há grandes vantagens na episiotomia de rotina, associando-a à dispareunia, risco de lacerações perineais diversas, hematoma perineal, fístulas, complicações, deiscência, reconstrução insatisfatória, incontinência urinária e dor generalizada. A única evidência real a favor do uso sistemático da episiotomia foi uma diminuição do risco de traumatismo perineal anterior (SANTOS et al., 2021).

Em resumo, estudar os reparos cirúrgicos de lacerações perineais no pós-parto é fundamental para garantir uma recuperação adequada e minimizar as complicações associadas a essas lacerações. Também pode ajudar a melhorar a saúde mental e emocional das mulheres e garantir uma melhor qualidade de vida após o parto. Diante disso, o presente estudo objetivou identificar por meio da literatura científica os reparos cirúrgicos de lacerações perineais no pós-parto.

2 MÉTODO

Este estudo baseia-se em uma pesquisa bibliográfica do tipo revisão narrativa da literatura, a qual constitui revisões não sistemáticas, em busca de sintetizar as informações sobre determinado assunto e suas amplas perspectivas (NOBLE; SMITH, 2018). A questão norteadora foi construída com base na estratégia PICo de acordo com a descrição do Institute do The Joanna Briggs Institute (2017), como demonstrado no Quadro 1.

Quadro 1: Elaboração da pergunta do estudo, segundo a estratégia PICo. Campina Grande, PB, Brasil.

Fonte: Elaboração própria,2023.

A referida estratégia subsidiou a construção da seguinte questão norteadora: “O que a literatura científica dispõe acerca dos Reparos Cirúrgicos de Lacerações Perineais no Pós-parto?”
A busca bibliográfica foi realizada no mês de março de 2023, por meio do acesso ao Banco de Dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE via PUBMED) e no Google Scholar. Foram empregados os seguintes critérios de inclusão: artigos publicados em português, inglês e espanhol, com delimitação temporal dos últimos cinco anos, os quais respondessem à pergunta norteadora proposta para a revisão. Ademais, como critérios de exclusão foram estabelecidos estudos duplicados nas bases de dados, que não contemplam a questão de pesquisa, que englobasse dados secundários, resumos, relatos técnicos, trabalhos completos em anais de congressos, cartas, editoriais, revisões, trabalhos de conclusão de curso, teses, dissertações e todos os tipos de revisões de literatura com a finalidade de tornar a revisão mais robusta. Para a busca dos estudos, foram levantados os vocabulários controlados e livres com os termos: “Lacerações”, “Reparo Cirúrgico”, “Pós parto” e suas derivações em inglês, somado aos vocabulários não controlados, conforme Quadro 2.

Quadro 2: Vocabulários controlados e livres de acordo com a questão norteadora.Campina Grande, PB, Brasil, 2023.

Fonte: DeCS e Mesh Terms, 2023.

Para a seleção dos artigos utilizou-se os descritores indexados nos idiomas português e inglês. Os descritores foram obtidos a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e do Medical Subject Headings (MESH), e combinados com os operadores booleanos OR e AND para formulação da estratégia de busca conforme mostra o Quadro 3.

Quadro 3: Busca avançada na BVS, PUBMED. Campina Grande, PB, Brasil, 2023.

Fonte: Elaboração própria, 2023.

A avaliação para a escolha dos artigos foi realizada em 3 fases: A primeira, foi feita uma pesquisa na plataforma do Google Scholar com o tema “Reparo Cirúrgico de Lacerações Perineais no Pós-parto”, evidenciando a relevância da investigação, mediante a ausência de estudos com o mesmo objetivo.
Na segunda fase, os artigos científicos foram pré-selecionados a partir da leitura e análise do resumo, levando em consideração os critérios de elegibilidade. Na terceira fase, os estudos foram analisados na íntegra e selecionados a partir da sua adequação à questão de pesquisa e aos critérios estabelecidos. Resultando no total de 07 artigos que responderam à questão norteadora e foram incluídos nesta revisão.
Com a seleção dos artigos completos foi possível extrair as principais evidências que denotam os principais reparos cirúrgicos de lacerações perineais no período denominado pós-parto, de modo a concretizar a relevância dessa pesquisa e justificar os fins da mesma.

Foram extraídas as informações dos estudos referentes ao ano de publicação, título e objetivo principal. Na análise de dados, foi criteriosamente feita a leitura dos artigos, e logo em seguida o fichamento de cada um, auxiliando na organização e na sumarização de todos artigos. Esta foi realizada de forma descritiva.  Após o levantamento bibliográfico nas bases de dados, os resultados das buscas foram exportados para o aplicativo de revisão online Rayyan QCRI da Qatar Computing Research Institute (2016), o qual permitiu a eliminação de duplicidades e a seleção das publicações, conforme os critérios de inclusão e exclusão mencionados neste estudo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o cumprimento dos procedimentos metodológicos, 07 artigos disponíveis no portal da BVS e na plataforma PubMed foram selecionados. O ano de publicação variou entre 2019 a 2023. O quadro IV traz as informações detalhadas dos estudos elegidos para a análise.

Quadro 4: Publicações incluídas segundo autor/ano, título, objetivo principal e principais resultados. Campina Grande, PB, Brasil, 2023.

Autor/AnoTítuloObjetivo PrincipalResultados
Martínez-Galiano et al., 2020.Tipo de sutura usado para reparo de lesão perineal e função sexual: um estudo controlado randomizado.Avaliar se a técnica de sutura utilizada (contínua ou interrompida) tem impacto na função sexual da mulher após o parto.O estudo apresenta a perspectiva de que o reparo cirúrgico realizado por meio de sutura contínua promove uma melhoria na função sexual no pós-parto.
Ochiai et al., 2021.O uso de cola não cirúrgica para reparar lacerações perineais de primeiro grau no parto normal: um estudo randomizado de não inferioridade.Comparar cola não cirúrgica com suturas tradicionais em lacerações perineais de primeiro grau após parto normal.Afirma que o reparo cirúrgico realizado com a cola não cirúrgica promove a redução do tempo do procedimento, redução da dor e causa maior satisfação nas mulheres, evitando que ocorra reações alérgicas. 
Ferrer-Gil et al., 2023.Benefícios da sutura contínua da lesão perineal na adaptação à maternidade.Avaliar o efeito da técnica de sutura contínua da ferida perineal na capacidade e recuperação funcional da mulher na realização de sua rotina de auto cuidado, cuidados com o recém-nascido (RN), amamentação (AM) e Atividades da Vida Diária (AVDs), tanto atividades básicas de vida diária (ABVD) quanto instrumentais (AIVD), no período pós-parto.O estudo comprovou que dois dias após o parto 85% das mulheres do grupo da técnica de sutura contínua foram capazes de realizar seu auto cuidado e 46,7% delas haviam recuperado parcialmente. Aos 7-10 dias, 7% das mulheres com sutura contínua adquiriram a capacidade de realizar atividades de vida diária e 60% recuperaram funcionalmente.
Sangkomkamhang et al., 2020.Episiotomia restritiva versus de rotina entre gestações a termo do Sudeste Asiático: um estudo controlado randomizado multicêntricoDeterminar se a episiotomia restritiva ou de rotina em gestantes a termo do Sudeste Asiático resulta em menos complicações.Constatou-se que a episiotomia restritiva elevou o risco de laceração vaginal em primíparas e multíparas, no entanto não levou a mais suturas.
Swenson et al., 2019.Ensaio randomizado de 3 técnicas de fechamento da pele perineal durante o reparo de laceração perineal de segundo grau.Testar a hipótese de que não existe diferença na dor perineal pós-parto entre 3 métodos de fechamento da pele para reparo de segundo grau: sutura, sem sutura e cola cirúrgica.Duas semanas após o parto, as mulheres com sutura tiveram pontuações medianas de dor mais altas no Questionário de Dor. Já a cicatrização das feridas foi semelhante em ambos os casos.
Martinez-Galiano et al., 2019.Sutura contínua versus descontínua em lesões perineais produzidas durante o parto em mulheres primíparas: um estudo controlado randomizado.Avaliar se a técnica de sutura (contínua ou interrompida) tem efeito sobre a dor e outros problemas pós-parto, incidência de incontinência (urinária e/ou fecal) e reinício das relações sexuais.Observou-se associação negativa entre a sutura contínua e a necessidade de analgesia 24 horas após o parto.
Dessanti; Nunes; Vasconcellos, 2020.Inquérito em Pacientes Submetidas a Episiotomia ou com Lacerações PerineaisAnalisar a sintomatologia álgica relacionada com a episiotomia no período pós-parto das pacientes, procurando avaliar o real benefício do emprego desta técnica, comparando com as pacientes que não foram submetidas à cirurgia, mas cursaram com lacerações perineais com posterior sutura.Em relação a algia perineal evidenciou-se que o desconforto é três vezes maior no grupo episiotomia, mesmo com as complicações graves no trajeto mole serem bem mais comuns no grupo onde se abriu mão da mesma.

Os reparos cirúrgicos de lacerações perineais são uma intervenção comum no pós-parto, geralmente realizada após o parto vaginal. A laceração perineal é uma lesão que ocorre na região entre a vagina e o ânus durante o parto. As lacerações podem variar em gravidade, desde pequenas rasgaduras que cicatrizam sozinhas, até lacerações mais graves que requerem reparo cirúrgico (MARTÍNEZ-GALIANO et al., 2020).

Estima-se que por volta de 85% das mulheres sofrem de traumas perineais durante o parto como é o caso da laceração, seja pela episiotomia ou devido a degradação do próprio tecido durante a passagem do bebê pelo canal vaginal. Há indicativos de que as lacerações são utilizadas como justificativa para a realização de episiotomia. Fatores como sofrimento fetal, macrossomia,, episiotomia anterior, elasticidade restrita, períneo encurtado aumentam o risco de laceração de terceiro e quarto graus (BRASIL, 2019).

Figura 1: Diferentes graus de Laceração. Campina Grande, PB, Brasil, 2023

                                    Fonte: Doula Brasil, 2020.

Como determina a figura 1, as lacerações são classificadas em diferentes graus e a maioria das ocorrências durante o parto são dos respectivos graus 1 e 2, as quais atingem a mucosa vaginal e os músculos que compõem o períneo. Geralmente essas são as lacerações que não requerem sutura para que aconteça a cicatrização, salvo as exceções. Já as que se enquadram nos graus 3 e 4 atingem o esfíncter e a mucosa do anus respectivamente, as quais requerem cuidados médicos especializados como a sutura e reestruturação (SOUZA et al., 2020). De acordo com os estudos de Ochiai et al., (2021) o reparo cirúrgico de lacerações perineais é geralmente realizado por um obstetra ou uma parteira e envolve a sutura da área lesionada. A técnica utilizada para a sutura depende do tipo e da gravidade da laceração. 
Embora os reparos cirúrgicos de lacerações perineais sejam comuns, há alguns riscos e complicações associados a essa intervenção. Alguns desses riscos incluem infecção, dor, sangramento e incontinência fecal ou urinária. No entanto, essas complicações são raras e geralmente podem ser tratadas com sucesso (FERRER-GIL et al., 2023).                         
Segundo as orientações de Sangkomkamhang et al., (2020) para minimizar os riscos e complicações associados ao reparo cirúrgico de lacerações perineais, é importante que as mulheres sigam as instruções de cuidados pós-operatórios de seu médico. Isso pode incluir repouso, aplicação de gelo na área afetada e o uso de analgésicos para ajudar no controle da dor. Além disso, é importante que as mulheres tenham uma boa higiene pessoal após o reparo cirúrgico de lacerações perineais. Isso pode ajudar a prevenir a infecção e acelerar a cicatrização da área afetada (SWENSON et al., 2019).                         
Dessanti, Nunes e Vasconcellos (2020) ressaltam no seu estudo a prática da episiotomia durante o parto, no qual observou-se que apenas 26% das pacientes sabiam o motivo da realização da episiotomia e 15% dessas mulheres foram questionadas sobre seu desejo em relação a essa intervenção. Além disso, foi constatado que o grupo que recebeu a episiotomia teve três vezes mais chance de sentir desconforto perineal significativo, embora as complicações graves tenham sido mais comuns no grupo que não recebeu a intervenção. Outrossim, uma pesquisa que analisou o efeito de diferentes técnicas de sutura na vida sexual de mulheres após o parto vaginal contribuiu significativamente para a compreensão de que as mulheres que tiveram suturas contínuas apresentaram uma melhora significativa em seu relacionamento sexual. O estudo excluiu mulheres que tiveram parto não eutócico e analisou diferentes aspectos das relações sexuais, como lubrificação, clímax, desejo e dispareunia (MARTÍNEZ-GALIANO et al., 2020).     

Ochiai et al., (2021) por sua vez investigou em seu estudo a eficácia da cola não cirúrgica em comparação com a sutura no reparo de lacerações de primeiro grau pós-parto. A pesquisa demonstrou que a cola não cirúrgica não é inferior à sutura em termos de taxas de deiscência e que o uso da cola está associado a um procedimento mais curto, menos dor e maior satisfação. O estudo também discutiu o uso da sutura sintética absorvível em comparação com o catgut e o uso de cola não higiênica em outras áreas da medicina, incluindo a cirurgia plástica.                                                                                    

Ademais, ao avaliar a adaptação de mulheres que sofreram lesão perineal de segundo grau ou episiotomia após o parto normal com o uso de dispositivos eletrônicos, verificou-se que a sutura contínua é mais eficaz na redução da dor perineal em 48 horas e 10 dias após o parto, permitindo que as mulheres se recuperem mais rapidamente e possam realizar o autocuidado, cuidar do recém-nascido, promover o aleitamento materno e realizar as atividades cotidianas normalmente (FERRER-GIL et al., 2023).                            

Existem implicações negativas a longo prazo relacionadas às lacerações perineais como o aumento da dor perineal pós-parto, retardo na cicatrização dessa região, pode levar ainda a ocorrência de disfunções do aparelho pélvico que englobam inclusive o prolapso dos órgãos pélvicos em casos extremos, por isso há a necessidade de preparar a mulher durante toda a gestação para prevenir os casos de lacerações perineais sempre que possível (SANTOS; CARVALHO, 2022).                                                                                                     
Em resumo, o reparo cirúrgico de lacerações perineais é uma intervenção comum no pós-parto que pode ajudar a prevenir complicações e acelerar a recuperação. Em consonância com Martinez-Galiano et al., (2019) embora haja alguns riscos e complicações associados a essa intervenção, esses problemas são geralmente raros e podem ser tratados com sucesso. É importante que as mulheres sigam as instruções de cuidados pós-operatórios de seu médico para minimizar os riscos e promover uma recuperação rápida e saudável.

4 CONCLUSÃO

Com base nas evidências científicas disponíveis, pode-se concluir que os atendimentos de emergência de lacerações perineais no pós-parto são uma técnica segura e eficaz para prevenir complicações a curto e longo prazo, como dor perineal, dispareunia e incontinência fecal e urinária. O tipo de sutura utilizado e a técnica de atendimento devem ser avaliados individualmente em cada caso, levando em consideração a extensão da laceração e as características do paciente.

Além disso, é importante fornecer às mulheres orientações e cuidados adequados para o autocuidado e a recuperação funcional após o procedimento, visando uma melhor adaptação ao período pós-parto e à realização das atividades cotidianas.

REFERÊNCIAS

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1Graduanda em Medicina-Centro Universitário Uninorte – UNINORTE/ Mare.santos24@gmail.com
2Graduanda em Medicina-Universidade de Rio Verde campus Aparecida de Goiânia extensão Goiânia/Jaquelinemachagas@academico.unirv.edu.br
3Médico graduado pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA/Adilao.lima@hotmail.com
4Graduanda em Medicina-Universidade Vila Velha – UVV/Anapaula_mariana@hotmail.com
5Graduanda em MedicinaCentro Universitário do Norte-UniNORTE/ Elainecamiladiasrodrigues@gmail.com
6Graduanda em Medicina-Universidade Anhembi Morumbi – UAM/Isadoorasaad@gmail.com
7Graduando em Medicina-Faculdade de Medicina de Olinda- FMO/Joseadrianodeoliveira@hotmail.com
8Graduanda em Medicina-Centro Universitário de João Pessoa – UniPê/Mariaclarappadilha@icloud.com
9Graduanda em Medicina-Universidade Estadual da Paraíba – UEPB/Mayarajmc005@gmail.com
10Graduanda em Medicina-Universidade Nove de Julho – UniNOVE/Nady.vmatos@uni9.edu.br
11Graduanda em Medicina-Universidade de Rio Verde campus Aparecida de Goiânia extensão Goiânia/Vanessafss16@gmail.com
12Graduanda em Medicina
Centro universitário maurício de nassau – uninassau
Annapaulavasconcelos2@hotmail.com