HEMATOMA SUBDURAL CRÔNICO EM DECORRÊNCIA DE TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO LEVE: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7814622


Thaís D’Angeles Mendes Chaves Nogueira1
Isadora Villamarim Guerra Borges1
Yasmin Luma Moreira1
Júlia Maria Meira Souza1
Elissa Paulino Silva1
Henrique Casado Lima1
Fabrício Alves de Oliveira Campos1,2


RESUMO

O Traumatismo cranioencefálico (TCE), distúrbio cerebral causado devido trauma na região do crânio, é uma urgência neurológica ainda muito frequente nos dias de hoje. Nesse relato de caso foi abordado paciente, 55 anos, que compareceu ao hospital devido alteração de marcha, hemiparesia à esquerda de início subagudo, labilidade emocional e episódios de cefaleia intensa, que decorreram 2 meses após TCE leve. No dia do TCE foi realizada tomografia computadorizada de controle que não apresentou alterações sugestivas de sangramento ou fraturas. Porém, a nova tomografia evidenciou importante hematoma subdural fronto parietal direito de componente heterogêneo agudo e subagudo. O tratamento realizado foi a craniotomia com drenagem do hematoma. Paciente evoluiu com melhora do estado geral e sem presença de sequelas. Objetivo: Relatar o caso de um paciente que 2 meses após TCE evoluiu com quadro de hematoma subdural fronto parietal direito de componente heterogêneo agudo e subagudo. Método: As informações foram obtidas por meio de entrevistas com o paciente, leitura de prontuário, registro fotográfico dos métodos diagnósticos aos quais o paciente foi submetido e revisão da literatura. Conclusão: Deve-se realizar um acompanhamento clínico dos pacientes após quadro de traumatismo cranioencefálico, visto que as consequências clínicas podem não aparecer de imediato. Desse modo, o paciente deve ser orientado de forma adequada quanto a possíveis surgimentos de sintomas e a necessidade de procurar ajuda médica.

Palavra chave: Traumatismo cranioencefálico; Hematoma subdural; Craniotomia; Idoso.

INTRODUÇÃO

Damos o nome de traumatismo craniano (TCE) para o distúrbio cerebral, causado por um impacto traumático do crânio (que pode variar de escoriações superficiais a grandes contusões), o qual pode gerar uma lesão anatômica ou do comportamento funcional do crânio, encéfalo e vasos sanguíneos, decorrentes de atropelamentos, lesão por arma de fogo, acidentes automobilísticos e, nesse presente relato de caso, a queda da própria altura1,2,3

O TCE é um grave problema de saúde pública devido à elevada incidência e altos indícios de morbimortalidade, principalmente em idosos2,4, que são mais susceptíveis a hemorragias, principalmente devido a atrofia de estruturas do sistema nervoso central, ossos mais porosos e uso de medicamentos que podem interferir na circulação sanguínea, como betabloqueadores ou anticoagulantes, por exemplo2,3.

Portanto, este trabalho objetivou discutir, por meio de uma revisão literária e relato de caso, a importância de um acompanhamento longitudinal de pacientes idosos vítimas de TCE, associada a um diagnóstico precoce, ressaltando a relevância de informar o paciente e os familiares dos sinais e sintomas para um manejo adequado, visando a redução das taxas de morbimortalidade de tal patologia.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente artigo trata-se de um relato de caso, cujos dados foram obtidos através de revisão de prontuários médicos disponibilizados pelo próprio paciente. Foram utilizados 4 artigos entre 2010 e 2022 das bases de dados Google Acadêmico, Scielo, além do Tratado de Neurologia do Merritt, a fim de embasar uma discussão e uma conclusão sanadora.

APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente 55 anos comparece ao pronto socorro de um hospital de Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 14 de setembro de 2014, por decorrência de alteração de marcha, hemiparesia à esquerda de início subagudo, com aproximadamente 20 dias de evolução. Familiares relatam que paciente apresenta labilidade emocional e episódios de cefaléia intensa de início semelhante à alteração motora. Desconhecem a ocorrência de acidente vascular encefálico prévio. No que tange à história pregressa, paciente relata que no dia 7 de julho de 2014 sofreu um acidente, com TCE leve, tendo o primeiro atendimento feito no Hospital João XXIII, na mesma cidade. Nesse dia foi realizada tomografia de controle, que não apresentou alterações sugestivas de sangramento ou fraturas. Quanto às comorbidades, o paciente refere ser portador de hipertensão arterial controlada desde 2004 em uso de selozok e enalapril, além de obesidade grau II e tabagismo.

Ao exame físico da admissão, paciente apresentou-se alerta, consciente, orientado, eufásico, exame dos nervos cranianos sem alterações, movimentação ocular extrínseca preservada, pupilas isocóricas e fotorreativas, dimídio esquerdo com força grau 4/5, marcha levemente atáxica.

Foi realizada então uma tomografia cranioencefálica (imagem 1) que evidenciou importante hematoma subdural frontal parietal direito de componente heterogêneo agudo e subagudo, compatível com o quadro clínico.

Imagem 1: Tomografia crânio encefálica do paciente, evidenciando massa compressiva à direita, com deslocamento da linha média.

O paciente foi submetido a drenagem do hematoma subdural crônico fronto parietal à direita, por meio de uma craniectomia aberta e mantido em observação por 72 horas, devido a compressão do ventrículo lateral direito, desvio da linha média para a esquerda e indicadores de hipertensão intracraniana, recebendo alta em seguida. O acompanhamento longitudinal se seguiu por 6 meses, com TCs seriadas, que evidenciaram a regressão do hematoma subdural, retorno da linha média e descompressão do ventrículo lateral direito.

Imagem 2: Tomografia de controle realizada em 29/09/2014.

Imagem 3: Tomografia de controle realizada em 27/10/2014.

Imagem 4: Tomografia de controle realizada em Dezembro/2014.

DISCUSSÃO

O TCE é uma urgência neurológica ainda muito frequente nos dias de hoje. Em idosos, geralmente tem apresentação inicial leve, no entanto, podem evoluir de forma inesperada. Os pacientes idosos ou alcoólatras são mais propensos a hemorragia subdural, podendo ser causada por impacto trivial ou pela aceleração e desaceleração da lesão chicote.5

Os hematomas subdurais têm origem do movimento encefálico que gera estiramento e laceração das veias causando o preenchimento das membranas dura-máter e aracnóide. São divididos em agudos, nos quais os sintomas apresentam-se no decorrer de 72 horas após o trauma, e crônicos, que se tornam sintomáticos até 21 dias. Este último é mais comum a partir dos 50 anos de idade, em muitos casos sucedido de um trauma trivial.5

Os sintomas iniciais do quadro crônico são mínimos, devido à capacidade do encéfalo de se adaptar à expansão gradual. Após uma semana, os fibroblastos presentes na dura-máter formam uma membrana espessa; depois de 2 semanas, surge o encapsulamento do coágulo, que ao se liquefazer forma um higroma, que consiste em um coleção localizada no espaço subdural. 5

Os hematomas são comumente localizados sobre as convexidades cerebrais laterais, na TC é evidenciado por meio de uma coleção de alta densidade em formato de meia lua. Eles podem realizar um efeito expansivo, com desvio da linha média e dos ventrículos laterais. Com isso, conclui-se que o efeito de massa pode aumentar a pressão intracraniana e comprimir áreas nobres do cérebro e gerar labilidade emocional, cefaléia intensa e alteração motora. De acordo com a gravidade da sintomatologia do caso, é necessário a realização de uma trepanação ou de uma craniotomia aberta, a fim de evacuar o sangue e os coágulos e reduzir a pressão intracraniana. O prognóstico do pós-cirúrgico depende da intensidade dos déficits iniciais e do intervalo entre a lesão e a cirurgia, sendo necessária a realização de reoperações em 15% dos casos.5

CONCLUSÃO

Percebe-se que o acompanhamento clínico em pacientes pós TCE é de extrema importância, principalmente em idosos. Fica evidente a importância da orientação do paciente e sua família acerca das alterações possíveis a longo prazo e sinais de alarme, para diagnóstico e tratamento precoces. Sendo assim, é de suma excelência uma abordagem multidisciplinar e longitudinal, incluindo terapias ocupacionais, visando a melhora da qualidade de vida do paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. Santos JC. Traumatismo cranioencefálico no Brasil: análise epidemiológica. Rev Cient Esc Estadual Saúde Pública Goiás “Cândido Santiago”. 2020; 6(3): e6000014.
  2. Mendes ARB, Carmo ECS, Magalhães SR. Traumatismo crânio encefálico em paciente idoso: relato de caso. Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 1, n. 2, 2011, p. 21-24.
  3. Sousa RMC, Regis FC, Koizumi MS. Traumatismo crânio-encefálico: diferenças das vítimas pedestres e ocupantes de veículos a motor. Rev Saúde Pública. 1999;33(1):85-94.
  4. Jorge MHPM, Gawryszewski VP, Latorre MRDO. I – Análise dos dados de mortalidade. Rev. Saúde Pública. 1997;31(4Suppl):S05-25.
  5. Rowland LP, Louis ED, Mayer SA. Tratado de Neurologia do Merritt. 13a. Edição, Editora Guanabara Koogan, 2018.

¹Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS
²Instituto dos Servidores do Estado de Minas Gerais – Hospital Governador Israel Pinheiro