ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA MORTALIDADE DE MULHERES POR NEOPLASIA MALIGNA DE MAMA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ENTRE 2017-2020

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7813654


Bruna Shiguemi Saito1
Hagata Lós Melchiades de Souza2
Natália Neves Tavares3
Jorge Carlos Hideyoshi Takahashi4
Letícia Marchetto Lage5
Neder Augusto Silva Benito6
Matheus Costa Felix Feitosa de Aguiar7
Alice Dominguez Dourado8
Janaína Dominguez Dourado9
Philippe Godefroy Costa de Souza10


Resumo

Introdução: O surgimento do câncer de mama se dá pela interação de diversos fatores, sendo eles genéticos e ambientais. Mundialmente, o câncer de mama é a neoplasia maligna com maior número de diagnósticos, com cerca de 2 milhões de novos casos anualmente e cerca de 627 mil óbitos pela doença (GLOBOCAN, 2020). Objetivo: Considerando-se a alta incidência dessa doença e sua alta letalidade o estudo objetiva analisar epidemiologicamente a mortalidade por câncer de mama em mulheres no estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 2017-2020, de acordo com faixa etária, sexo e etnia. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo, de caráter descritivo e transversal, cujos dados foram obtidos a partir do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema único de saúde do Brasil (DATASUS) entre os anos de 2017 a 2020. Foram avaliados os óbitos de mulheres por neoplasia maligna de mama, no período de 2017 a 2020 no estado do Rio de Janeiro com as variáveis sexo, faixa etária e raça. Resultados e Discussão: O número de óbitos em mulheres por neoplasias malignas em todas as faixas etárias analisadas, 40 a 69 anos, no período de 2017 a 2020 foi de 5.409, englobando todos os municípios do Rio de Janeiro. Com base nos resultados apresentados, foi perceptível que mulheres com neoplasia maligna de mama morreram mais proporcionalmente à idade, ou seja, foram maiores os registros de óbitos de 50 a 69 anos do que de 40 a 49 anos, o que vai ao encontro da informação de que mulheres acima de 50 anos têm maior frequência de acometimento por câncer de mama (ROSA et al., 2015). Conclusão: Com base na análise epidemiológica dos dados encontrados, percebe-se que mulheres brancas maiores de 50 anos morreram mais por neoplasia maligna de mama, o que ainda não é bem elucidado na literatura, tendo em vista que diversos aspectos e fatores podem ser responsáveis por isso. 

Palavras- chave: Neoplasia de Mama; Brasil/epidemiologia; Mortalidade;

Abstract

Introduction: The onset of breast cancer is due to the interaction of several factors, including genetic and environmental factors. Worldwide, breast cancer is the malignant neoplasm with the highest number of diagnoses, with about 2 million new cases annually and about 627,000 deaths from the disease (GLOBOCAN, 2020). Objective: Considering the high incidence of this disease and its high lethality, the study aims to analyze epidemiologically the mortality from breast cancer in women in the state of Rio de Janeiro, between the years 2017-2020, according to age group, gender, and ethnicity. Methodology: This is a retrospective epidemiological study, of descriptive and cross-sectional nature, whose data were obtained from the database of the Department of Informatics of the Unique Health System of Brazil (DATASUS) between the years 2017 to 2020. The deaths of women due to malignant breast neoplasm in the period from 2017 to 2020 in the state of Rio de Janeiro were evaluated with the variables sex, age group and race. Results and Discussion: The number of deaths in women from malignant neoplasms in all age groups analyzed, 40 to 69 years, in the period from 2017 to 2020 was 5,409, encompassing all municipalities in Rio de Janeiro. Based on the results presented, it was noticeable that women with malignant breast cancer died more proportionally to their age, i.e., there were more deaths of women aged 50 to 69 years than women aged 40 to 49 years, which is consistent with the information that women over 50 years have a higher frequency of breast cancer (ROSA et al., 2015). Conclusion: Based on the epidemiological analysis of the data found, white women over 50 years of age die more often from malignant breast cancer, which is still not well elucidated in the literature, given that several aspects and factors may be responsible for this. 

keywords: Breast Cancer; Brazil/epidemiology; Mortality.

Introdução 

 O câncer, de modo geral, é uma condição crônica que cursa com o crescimento desordenado de células, em decorrência de alterações de origem genética, além das decorrentes de interações com o meio. O surgimento do câncer de mama se dá pela interação de diversos fatores, sendo eles genéticos e ambientais; desses, pode-se destacar sexo feminino, idade maior que 40 anos, história familiar, obesidade, menarca precoce, menopausa tardia, tabagismo, nuliparidade, dentre outros, (INCA, 2020)

 Mundialmente, o câncer de mama é a neoplasia maligna com maior número de diagnósticos, com cerca de 2 milhões de novos casos anualmente e cerca de 627 mil óbitos pela doença (GLOBOCAN, 2020). Uma das justificativas plausíveis para esses altos valores é a intensa exposição aos fatores de risco, sobretudo os modificáveis, que são inerentes ao estilo de vida decorrente da urbanização, além do avanço da expectativa de vida. (MIGOWSKI, 2018)

 Assim como as doenças de curso crônico, o câncer de mama é, geralmente, de evolução lenta e com desfechos variáveis de acordo com o paciente e linha terapêutica utilizada. Entretanto, existem diversas variáveis de importância sobre tais desfechos, como capacidade de metástase do tumor, presença de mutação nos genes BRCA 1 e BRCA2, dentre outros. (SARTORI, 2019). Sabe-se ainda, que as alterações de cunho genético contribuem grandemente para as altas taxas de letalidade e incidência da neoplasia maligna de mama. 

Além disso, o aumento da incidência e mortalidade por neoplasia maligna de mama deve-se à dificuldade de prevenção primária, isto é, de cessar fatores de risco, diagnosticar e intervir em lesões precursoras. As alterações de origem genética são também importantes fatores a serem considerados. Acerca das lesões, sabe-se que, aproximadamente, 80% correspondem ao carcinoma ductal, seguido do carcinoma lobular, também muito frequente. (LIBSON, 2014). 

A prevenção, por sua vez, pode ser primária ou secundária, sendo que a primária está intimamente ligada ao controle dos fatores de risco modificáveis  e a realização do autoexame das mamas. Vale ressaltar, nesse sentido, que o diagnóstico precoce é de grande importância, tendo em vista que, quanto mais precoce, melhores e maiores são as chances de remissão e cura da doença (INCA, 2014).

Já a prevenção secundária consiste na realização da mamografia na faixa etária preconizada que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia deve se iniciar aos 40 anos de idade, ao passo que o Ministério da Saúde preconiza a partir dos 50 anos. 

O tratamento, por sua vez, é direcionado no tipo histológico do tumor, estágio e a presença de biomarcadores, como receptores de estrogênio e progesterona, por exemplo. O carcinoma lobular in situ, que é o estágio 0, não demanda tratamento, enquanto o ductal in situ já é candidato a radioterapia e abordagem cirúrgica conservadora (MAUGHAN, 2010). 

Desse modo, considerando-se a alta incidência dessa doença e sua alta letalidade, o estudo objetiva analisar epidemiologicamente a mortalidade por câncer de mama em mulheres no estado do Rio de Janeiro, entre os anos de 2017-2020, de acordo com faixa etária, sexo e etnia.

Metodologia

Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo, de caráter descritivo e transversal, cujos dados foram obtidos a partir do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DATASUS).

O período avaliado englobou os anos de 2017 até 2020. 

Foram avaliados os óbitos de mulheres por neoplasia maligna de mama, no período de 2017 a 2020 no estado do Rio de Janeiro. As variáveis adotadas foram sexo, faixa etária e raça.  Os dados obtidos foram tabulados em planilhas no Excel, para melhor organização e compreensão e, posteriormente, foram analisados. Por se tratar de dados de domínio público, não foi necessário submeter o estudo ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), respeitando-se a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que estabelece as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos.

Resultados e Discussão

O número de óbitos em mulheres por neoplasias malignas em todas as faixas etárias analisadas, 40 a 69 anos, no período de 2017 a 2020 foi de 5.409, englobando todos os municípios do Rio de Janeiro. O ano de 2017, por sua vez, registrou um total de 1396 óbitos, sendo que entre as mulheres de 50-59 anos foi a faixa etária de maior ocorrência.

Gráfico 1. Óbitos por Neoplasia Maligna de Mama em mulheres no ano de 2017.
Fonte: DATASUS.

Em 2017, analisando as diferenças de raça, foi encontrado que na faixa etária de 40 a 49 anos, 147 óbitos ocorreram em mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas, ao passo que 181 foram óbitos em mulheres brancas. Já em mulheres de 50 a 59 anos, 267 óbitos foram registrados em mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas, enquanto 291 foram óbitos em mulheres brancas. Ainda no ano de 2018, em mulheres de 60 a 69 anos, 202 óbitos ocorrem em pretas, pardas, amarelas e indígenas e 308 brancas.

Gráfico 2. Óbitos por Neoplasia Maligna de Mama em mulheres no ano de 2018.
Fonte: DATASUS.

Em 2018, analisando as diferenças de raça, foi encontrado que na faixa etária de 40 a 49 anos, 155 óbitos foram registrados em mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas, já 146 foram óbitos em mulheres brancas. Já entre mulheres de 50 a 59 anos, 250 óbitos foram em pretas, pardas, amarelas e indígenas, enquanto 268 em brancas. Além disso, em mulheres de 60 a 69 anos, 235 óbitos ocorreram em mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas, já 330 foram em mulheres brancas.

Gráfico 3. Óbitos por Neoplasia Maligna de Mama em mulheres no ano de 2019.
Fonte: DATASUS

Já em 2019 houve um total de 1364 óbitos, sendo que em mulheres de 40 a 49 anos, 154 óbitos ocorreram em mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas e 147 foram óbitos em mulheres brancas. Na faixa etária de 50 a 59 anos, 247 óbitos foram decorrentes de mulheres pretas, pardas, amarelas e

Gráfico 4. Óbitos por Neoplasia Maligna de Mama em mulheres no ano de 2020.
Fonte: DATASUS.

Além disso, percebeu-se que, analisando as diferenças de raça, foi encontrado em 2020, na faixa etária de 40 a 49 anos, 149 óbitos em mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas e 137 óbitos em mulheres brancas. Na faixa etária de 50 a 59 anos, 222 óbitos foram decorrentes de mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas, enquanto 227 foram óbitos em mulheres brancas. E em mulheres de 60 a 69 anos, 246 óbitos ocorreram em pretas, pardas, amarelas e indígenas, enquanto 274 foram em mulheres brancas.

Com base nos resultados apresentados, foi perceptível que mulheres com neoplasia maligna de mama morreram mais proporcionalmente à idade, ou seja, foram maiores os registros de óbitos de 50 a 69 anos do que de 40 a 49 anos, o que vai ao encontro da informação de que mulheres acima de 50 anos têm maior frequência de acometimento por câncer de mama (ROSA et al., 2015). 

Além disso, as menores incidências em mulheres abaixo de 50 anos podem ser explicadas pelo início do rastreio, pelo Ministério da Saúde, a partir dos 50 anos, o que pode resultar em subnotificação de casos, tendo em vista que o rastreio e o diagnóstico precoces podem mudar o prognóstico das pacientes e diminuir o risco de óbitos por neoplasia maligna de mama, já que o tratamento seria instituído precocemente. 

Ao longo dos anos estudados, em relação a etnia, percebeu-se que as mulheres de 60 a 69 anos brancas tiveram maior índice de morte por neoplasia maligna de mama se comparado às pretas, pardas, amarelas e indígenas, o que corrobora para a informação de que o câncer de mama é mais frequente em brancas maiores de 50 anos (SMIGAL et al., 2006). 

No entanto, tal associação não pode ser considerada como total verdade, tendo em vista que as características étnicas variam conforme locais específicos, ou seja, se for estudada uma população predominantemente branca, muito provavelmente o “n” de mulheres brancas com câncer de mama será maior em comparação a outras etnias.

Ademais, em relação ao maior número de notificações em mulheres brancas, considera-se ainda que, no Brasil, existe uma dificuldade de acesso à saúde e à informação por uma parcela considerável da população não branca, tendo em vista os estigmas de racismo presentes na sociedade. Nesse sentido, ao longo dos anos, percebeu-se uma diminuição dos índices de desigualdade, já que programas como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), instituída pelo Ministério da Saúde, tem como objetivo principal a garantia de equidade no acesso à saúde da população preta, parda e indígena. 

Assim, acerca do exposto, percebeu-se que, no Brasil, mulheres acima de 50 anos morrem mais por neoplasia maligna de mama, sobretudo as brancas, o que pode ter diversas explicações, seja por subnotificação de outras raças e/ou dificuldade de acesso à assistência à saúde por elas, por maior exposição a fatores de risco por parte de mulheres brancas, como obesidade, tabagismo e gravidez tardia, por exemplo. 

Conclusão

 Com base na análise epidemiológica dos dados encontrados, percebe-se que mulheres brancas maiores de 50 anos morrem mais por neoplasia maligna de mama, o que ainda não é bem elucidado na literatura, tendo em vista que diversos aspectos e fatores podem ser responsáveis por isso. Destes alguns podem ser citados como responsáveis por tais resultados, como a subnotificação em mulheres menores de 50 anos que já realizaram mamografia, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde por mulheres pretas, pardas, amarelas e indígenas, bem como a maior exposição a fatores de risco por parte das brancas e/ou até mesmo por falha nas políticas de rastreamento e prevenção primária e secundária do câncer de mama. 

Referências

GLOBOCAN- New global cancer data. 2020 Disponível em: https://www.uicc.org/news/globocan-2020-new-global-cancer-data. Acesso em 20 de março de 2023.

Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Controle do câncer de mama: detecção precoce. Rio de Janeiro: INCA, 2014. Disponível em: http:// www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_controle_cancer_mama/ deteccao_precoce

Instituto Nacional do Câncer, INCA; A Situação do Câncer de Mama do Brasil:Síntese de Dados dos Sistemas de Informação. [ebook].2019; Disponívelem:https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/docume nt/a_situacao_ca_mama_brasil_2019. pdf; Acesso em: 20 de março de 2023.

LIBSON S., LIPPMAN M. A Review of Clinical Aspects of Breast Cancer. Int Rev Psychiatry. 2014.

MAUGHAN K.L., LUTTERBIE M.A., HAM P.S. Treatment of breast cancer. American Family Physician. 2010.

MIGOWSKI A. et al. Diretrizes para detecção precoce do câncer de mama no Brasil. II – Novas recomendações nacionais, principais evidências e controvérsias. Cad. Saúde Pública 2018; 34(6):e00074817.

ROSA L.M. et al. Produção científica da enfermagem oncológica: recorte temporal 2002 a 2012. J Nurs UFPE on line [Internet]. 2015 [cited 2016 Set 11];9(3):7055-64.

SARTORI A.C.N., BASSO C.S. Câncer de Mama: Uma Breve Revisão de Literatura. Perspectiva, 2019.

SMIGAL C., et al. Trends in breast cancer incidence by race and ethnicity: update 2006. CA Cancer J Cin 2006; 56(3):168-183. 


1Médica formada pela Universidade de Vassouras-RJ (UV) e residente de Ginecologia e
Obstetrícia da Maternidade Escola de Valença.
2Acadêmica de Medicina da UNESA.
3Acadêmica de Medicina do UNIFAA.
4Acadêmico de Medicina da PUC-MG.
5Acadêmica de Medicina da PUC- MG.
6Acadêmico de Medicina da Fundação Técnico Educacional Souza Marques .
7Acadêmico de Medicina da UFRJ .
8Acadêmica de Medicina da UNESA.
9Acadêmica de Medicina da UNESA.
10Médico Ginecologista e Obstetra e preceptor da disciplina de Saúde da Mulher do UNIFAA.