A PRÁTICA DO ALEITAMENTO MATERNO E FATORES RELACIONADOS AO DESMAME PRECOCE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

THE PRACTICE OF BREASTFEEDING AND FACTORS RELATED TO EARLY WEANING: NA INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7813632


Thais Novais da Silva1
Raphael Silva Nogueira Costa2
Joyce Vilarins Santos Soares3
Priscila Rodrigues e Silva4
Láisa Renata Souza Ascenso5
Ana Caruline de Sá Cavalcante6
Ingryd Eccel Kill7
Ana Luísa Melo Silva8
Juliana Maria Alves Moraes9
Giovana Jenifer Santana de Oliveira10
Giovanna Biângulo Lacerda Chaves11
Lucas Tavares Domingos12
Alexia Beatriz da Silva13
Maria Luísa do Couto Ribeiro Lopes14
Maria Eduarda De Sousa Matos15


Resumo

Introdução: Amamentar é muito mais que nutrir um bebê. É um ato que promove uma interação entre mãe e filho que repercute no estado nutricional da criança. Porém devido a vários fatores muitas mulheres optam pelo desmame precoce. Objetivo geral: analisar quais as evidências científicas sobre a prática do aleitamento materno e os fatores relacionados ao desmame precoce publicados no período de 2015 a 2020. Metodologia: Foi realizada uma revisão do tipo integrativa. Pesquisa foi feita em dados eletrônicos, disponíveis na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), como a Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online ( MEDLINE), Base de dados em Enfermagem (BDENF). Estudo qualitativo baseado na análise de conteúdo de Bardin (1977). Resultado e Discussão: O presente trabalho foi feito através de 11 artigos nacionais, segundo a pesquisa feita, os fatores de destaque relacionados ao desmame precoce encontrados foram: retorno ao mercado de trabalho, assistência prestada e saúde mental, foi verificado também que o pré-natal pode ser responsável pela decisão da mulher em amamentar, o acolhimento e esclarecimento das dúvidas podem evitar intercorrências responsáveis pelo desmame precoce. Considerações finais: Medidas simples podem ser tomadas para evitar o desmame precoce, buscando informar de forma clara que são vários motivos que podem levar ao fim do aleitamento, e que muitas causas podem ser resolvidas por meio do acesso à informação, criação de estratégias, acolhimento e escuta humanizada.

Palavra-chave: Aleitamento; Desmame; Enfermagem.

Abstract

Introduction: Breastfeeding is much more than nurturing a baby. It is an act that promotes an interaction between mother and child that affects the child’s nutritional status. However, due to several factors, many women opt for early weaning. General objective: is to analyze the scientific evidence on the practice of breastfeeding and factors related to early weaning published from 2015 to 2020. Methodology: An integrative review was carried out. Research was carried out on electronic data, available in the Virtual Health Library (VHL), such as the Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online ( MEDLINE), Database in Nursing (BDENF). Qualitative study based on Bardin’s (1977) content analysis. Result and Discussion: The present work was done through 11 national articles, according to the research done, the prominent factors related to early weaning found were: Return to the labor market, care provided and mental health, it was also verified that prenatal care can being responsible for the woman’s decision to breastfeed, welcoming and clarifying doubts can prevent complications responsible for early weaning. Final considerations: Simple measures can be taken to prevent early weaning, seeking to clearly inform that there are several reasons that can lead to the end of breastfeeding, and that many causes can be resolved through access to information, creation of strategies, reception and humanized listening.

Keyword: Breastfeeding; Weaning; Nursing.

  1. INTRODUÇÃO

O aleitamento materno é a ingestão do leite materno independente de receber ou não outros alimentos é o vínculo natural, a proteção e nutrição da criança, consequentemente a mais econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. É uma prática importante para mãe e bebê e perdura de forma diferente de mulher para mulher. A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece e utiliza definições do aleitamento materno, classificando em: Exclusivo, predominante, aleitamento materno, complementado, misto ou parcial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). 

O aleitamento materno é recomendado como alimento exclusivo para o bebê até os 6 meses de vida, considerado o alimento ideal para a sobrevivência e crescimento do recém-nascido, possuindo propriedades nutricionais, imunológicas e emocionais para o bebê. A prática traz benefícios não só para o recém-nascido quanto para a mãe, como a perda de peso, involução uterina, menor incidência de câncer de mama e de ovário, sendo também uma opção econômica, por fim trazendo melhoria a saúde e qualidade de vida das mães e bebês (MOIMAZ et al.,2013).

Pelo fato de trazer tantos benefícios a saúde do recém-nascido e da mãe, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu que a amamentação deve ser realizada até os seis meses de forma exclusiva e a partir disso utilizar a complementação com outros tipos de alimentos até os dois anos, já que antes desse prazo não se deve fazer nenhuma introdução alimentar, pois pode causar prejuízos nutricionais a saúde da criança ( ARAÚJO et al.,2013).

A maternidade e o aleitamento materno historicamente foram utilizados como meio para afastar a mulher do mercado de trabalho, definindo então a maternidade como papel social feminino, mas com o passar dos anos leis foram criadas em defesa da mãe trabalhadora, dando a proteção legal para garantir o seu direito, a licença maternidade (KALIL; AGUIAR, 2016).

 A lei que ampara possui algumas brechas, já que é preconizado aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e a lei só cobre a extensão da licença para funcionárias públicas federais, deixando por decisão dos empregadores estaduais, municipais e empresas privadas a decisão não obrigatória da extensão da licença, favorecendo o desmame precoce (KALIL; AGUIAR, 2016).

A assistência empregada pelo enfermeiro visa promover, proteger e recuperar a saúde da criança e família, uma das ações de maior relevância nas consultas é o incentivo ao aleitamento materno, fazendo o acolhimento precoce da gestante. Dentre as orientações a que mais se destaca é a proteção e incentivo ao aleitamento materno (MONTESCHIO; GAIVA; MOREIRA, 2015).

 Mesmo com o investimento dos programas, a prática no Brasil ainda está longe do preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma pesquisa realizada pela Secretaria Estadual de São Paulo (SES/SP) mostrou que o aleitamento materno era 41% nas capitais brasileiras, a região Norte com 45,9%, seguida da Centro-Oeste com 45,0%, Sul (43,9%) e Sudeste (39,4%), a região Nordeste apresentou o percentual mais baixo comparado as outras regiões (37,0%) (LIMA; NASCIMENTO; MARTINS, 2018).

Devido a influência que o profissional de saúde têm sobre a permanência do aleitamento materno, a educação em saúde foi uma forma encontrada para informar as pessoas sobre a importância dessa prática por meio de palestras, visitas domiciliares, panfletagem roda de conversa e oficinas com o intuito de promover a maior adesão de mães a prática de amamentar e a troca de conhecimento técnico e popular ( VIEIRA et al.,2016).

 As intervenções realizadas pelo Enfermeiro na atenção primária de saúde (APS) são responsáveis pela promoção e proteção da saúde da mãe e bebê, o acompanhamento desde o pré-natal conscientiza sobre a importância do aleitamento materno e desmistifica o conhecimento cultural que muitas mulheres possuem e que influenciam no aleitamento. A educação em saúde promovida pelo profissional faz com que as mulheres se sintam seguras no cuidado à criança ou caso apareça alguma intercorrência se sintam seguras para procurar a equipe (HIGASHI et al.,2021).

Devido a grande importância do aleitamento materno e ao alto índice de desmame precoce, o objetivo geral da pesquisa é analisar quais as evidências científicas sobre a prática do aleitamento materno e os fatores relacionados ao desmame precoce publicados no período de 2015 a 2020. Tendo como objetivo específico: descrever o contexto e aspectos conceituais referente ao aleitamento materno e desmame precoce; identificar as barreiras e estratégias utilizadas pelos profissionais de saúde sobre essa prática.

 Dado o exposto, espera-se contribuir para a produção do conhecimento sobre a importância do aleitamento materno, e medidas simples que podem ser tomadas para evitar o desmame precoce, buscando informar de forma clara que são vários motivos que podem levar ao fim do aleitamento, e que muitas causas podem ser resolvidas por meio do acesso à informação.

  1. METODOLOGIA 

 O presente estudo se trata de uma revisão bibliográfica do tipo integrativa. É um método que permite a junção do conhecimento e incorporação dos estudos de forma mais ampla e em etapas, para melhor entender o estudo na prática (SOUZA et al.,2017). Busca através de artigos originais esclarecer as dúvidas e problemas que serão observados durante o estudo. Para Realização de uma revisão integrativa é necessário seguir 6 etapas sendo elas: 1º – Identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; 2º- Estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; 3º- Identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados, 4º- Categorização dos estudos selecionados; 5º- Análise e interpretação dos resultados; 6- Apresentação da revisão/síntese do conhecimento (MARINI;LOURENÇO;BARBA,2017).

A pesquisa foi realizada através de busca bibliográfica com base de dados eletrônicos, disponíveis na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), como a Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Latino Literatura -Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online ( MEDLINE), Base de dados em Enfermagem (BDENF).Foram utilizados artigos originais em português disponíveis na íntegra, que se encaixam no tema proposto, publicados nos anos de 2015 a 2020,e excluídos artigos que não se enquadraram nos critérios de inclusão, carta ao leitor e artigos duplicados e em outros idiomas.

A seleção de artigos foi feita através do fluxograma de Prisma.

Tabela 01- Fluxograma referente à busca eletrônica nas bases de dados LILACS, BDENF, MEDLINE E SCIELO.

FONTE: Autoria própria

Após a coleta e seleção de artigos, foi realizada uma Análise de dados qualitativa baseado na análise de conteúdo de Bardin (1977).

O objetivo foi apresentar uma análise crítica de conteúdo, que com o tempo se tornou mais rígida utilizando as inferências. A análise foi feita por um conjunto de critérios que se divide em três etapas: pré-análise, exploração e tratamento. Na pré análise é feita a escolha do material que será utilizado por meio da leitura flutuante, formulam-se hipóteses e elaborar indicadores que norteiam a interpretação final.

Na fase de exploração se codifica os dados e são transformados e agregados em unidades utilizando inferências, dando início então ao tratamento onde as inferências são interpretadas, baseando-se na análise crítica do autor.

  1. RESULTADOS

No quadro 02 foram incluídos 11 artigos originais, que tem como principal objetivo identificar fatores que levam ao desmame precoce e a influência dos profissionais de saúde sobre essa prática, o tipo de estudo dos seguintes artigos, variam entre 3 estudos da coorte, 1 descritivo exploratório, 1 empírica descritivo exploratório do tipo pesquisa de campo , 2 qualitativo descritivo exploratório,1 transversal retrospectivo , 1 relato comunicativo crítico, 1 qualitativo descritivo e 1 estudo transversal de análise bivariada e multivariada.

Grande parte dos artigos selecionados foram publicados por revistas de Enfermagem, em variadas regiões do país, principalmente na Região Sudeste com destaque para a cidade de São Paulo, as demais regiões foram: Centro-Oeste; Sul; Nordeste. Logo abaixo segue o quadro construído para evidenciar e organizar os principais itens dos artigos utilizados no estudo.

QUADRO 02- Informações referente aos 11 artigos selecionados para pesquisa

TítuloAutor/AnoObjetivosTipo de EstudoResultadosConclusão
Intenção de amamentar, duração do aleitamento Materno e motivos para o desmame: um estudo decoorte, Pelotas, RS, 2014*AMARAL et al.,2019Avaliar a intenção materna de amamentar, duração do aleitamento materno até os 24 meses e os motivos para o desmame no primeiro ano de vida.Estudo da Coorte1.377 mães rastreadas. Os principais motivos relatados para desmame foram leite insuficiente (57,3%), retorno ao trabalho/escola (45,5%) e recusa inexplicável do bebê (40,1%).Apesar da intenção de amamentar, persistem barreiras estruturais e sociais que interferem no sucesso da amamentação, especialmente as relacionadas ao trabalho materno.
Dificuldades relacionadas ao aleitamento materno: análisede um serviço especializado em amamentaçãoCARREIRO et al.,2018Analisar a associação entre o tipo de aleitamento e as dificuldades relacionadas a essa prática entre mulheres e crianças assistidas em um ambulatório especializado em amamentação.Estudo Transversal Retrospectivo, por meio de análise de prontuáriosO aleitamento materno exclusivo foi praticado por 72,6% das mulheres atendidas, nos primeiros 30 dias após o parto. Houve associação significativa entre esta prática e as dificuldades.
O aleitamento materno exclusivo foi o mais prevalente nos primeiros 30 dias pós-parto e diversas variáveis maternas e neonatais
Associação entre a depressão pós-parto e a prática do aleitamento materno exclusivo nos três primeiros meses de SILVA et al., 2016 Verificar a associação entre a depressão pós-parto e a ocorrência do aleitamento materno exclusivo.Estudo de coorte transversalA amamentação exclusiva foi observada em 50,8% das crianças e 11,8% das mulheres apresentaram sintomatologia indicativa de depressão pós-parto.A depressão pós-parto contribuiu para redução da prática do aleitamento materno exclusivo. Assim, esse transtorno deveria ser incluído nas orientações de apoio desde o pré-natal e nos primeiros meses pós-parto
Amamentação e as intercorrências que contribuem para o desmame precoce.OLIVEIRA et al.,2015
Conhecer a vivência de mães em relação à amamentação e as intercorrências que contribuem para o desmame precoce.

Pesquisa do tipo descritivo-exploratórioAs principais alegações para interrupção do AME : Déficit de conhecimentos inexperiência/insegurança; Banalização das angústias maternas; Intercorrências da mama puerperal; Interferências familiares; Leite fraco/insuficiente; Trabalho materno.Reforçou a necessidade de ajustes no modelo de atenção vigente, ultrapassando aplicabilidade de técnicas pré-definidas, incentivando a criticidade perceptiva dos profissionais de saúde na construção de novos saberes e condutas.
Manutenção de aleitamento materno no retorno ao trabalho.SOUZA  et al.,2019Descrever se havia dificuldades e estratégias realizadas para manutenção do aleitamento.Pesquisa Empírica, descritiva e exploratória do tipo pesquisa de campo.A introdução do leite pasteurizado foi a causa do desmame precoce.Conclui-se que há insegurança para realização das ações de continuidade de aleitamento materno após o retorno ao trabalho.
Sentimentos de mulheres com depressão pós-parto frente ao aleitamento maternoOLIVEIRA et al.,2019Descrever sentimentos de mulheres com depressão pós-parto frente ao aleitamento materno.
Qualitativo, descritivo e exploratório.As dificuldades da depressão pós-parto no aleitamento são: falta de condições psicológicas, Desencantamento e sentimentos como estresse, medo e tristeza.Constatou-se que mulheres com depressão pós-parto sofreram impacto negativo durante o aleitamento, e temforte relação ao desmame precoce
Fortalecedores e fragilizados da amamentação na ótica da nutriz e de sua famíliaWAGNER  et al.,2019Descrever os fatores de fortalecimento e enfraquecimento da amamentaçãoQualitativa, estudos de caso com caráter descritivoFatores de fortalecimento: experiência anterior de amamentação e família história da amamentação etc; Enfraquecendo os fatores foram: expectativas negativas; o mito do leite fraco; doença infantil; materno doença; experiências negativasO processo de cuidar deve incluir a dimensão social e subjetiva, fortalecendo a rede de apoio do
nutrizes, a fim de obter práticas profissionais mais satisfatórias que promovam a amamentação
Condutas de gestores relacionadas ao apoio ao aleitamento materno nos locais de trabalhoFERNANDES et al.,2018Identificar as condutas de gestores relacionadas ao apoio ao aleitamento materno realizadas em empresas públicas e privadas da região da Grande Florianópolis, Santa Catarina.Qualitativa, exploratório-descritiva.Evidenciou duas categorias, positivas: Importância da amamentação, disponibilização de informações, acompanhamento e realização de atividades durante o processo de maternidade e etc. Prejudiciais: se constataram a indisponibilidade de informações especializadas e flexibilidade, visão negativa em relação à implantação das salas de apoio à amamentação, desconhecimento das legislações e da situação da trabalhadora.Lacunas substanciais no apoio à amamentação dos locais de trabalho foram identificadas através das condutas evidenciadas pelos gestores. 
 Considera-se importante a reflexão sobre quais condutas devem ser incentivadas e quais devem ser modificadas ou ampliadas, para que haja um aperfeiçoamento do suporte à amamentação nos locais de trabalho.
Autoeficácia para amamentação e depressão pós-parto: estudo de coorteVIEIRA et al.,2018Avaliar a presença de sintomas de depressão no período pós-parto e a associação entre depressão pós-parto com a interrupção do aleitamento.Estudo da coorte.As chances de interrupção do aleitamento materno exclusivo diminui em 48% com a melhora do nível baixo de autoeficácia para médio e em 80% de médio para altoA autoeficácia para a amamentação revelou-se como fator de proteção para o aleitamento materno exclusivo, enquanto a depressão pós-parto configura-se como fator de risco.
Desmame precoce na perspectiva de puérperas: uma abordagem dialógica.PRADO, et al 2016Identificar aspectos transformadores e obstáculos para o desmame precoce com 12 mães que
desmamaram precocemente.
Metodologia
Comunicativa Crítica
Os resultados mostram mães jovens, primíparas, casadas, ensino médio/técnico completo e não
trabalhavam fora de casa
A amamentação revelou emoções boas e ruins.O diálogo igualitário mostrou que ainda há obstáculos enraizados na cultura, que precisam ser dialogados com a mãe para superar o desmame precoce.
Fatores associados à interrupção do aleitamento materno exclusivo em lactentes com até 30 diasMORAES et al.,2016Identificar fatores associados à interrupção do aleitamento materno exclusivo (AME) em lactentes com até 30 dias de vidaEstudo transversal, análise bivariada e multivariadaPrevalência de 79,5% de AME. Lactentes ≥ 21 dias, que receberam complemento lácteo no hospital, mães com dificuldade de amamentação pós-alta hospitalar e não-brancas apresentaram associação à interrupção do AME.Os fatores associados à interrupção do AME direcionam os profissionais de saúde a proporem ações de apoio à mãe e lactente em vista de suas dificuldades, prevenindo a interrupção do AME.

FONTE: Autoria própria

  1. DISCUSSÃO

4.1 ALEITAMENTO MATERNO E DESMAME PRECOCE: CONTEXTO E ASPECTOS CONCEITUAIS 

A importância do aleitamento materno para a idade da mãe-bebê é um assunto que vem sendo difundido trazendo benefícios em longo prazo, mas muitos são fatores que tem levado ao fim dessa prática. Pesquisas mostram que um grande número de mulheres afirma não possuir leite o suficiente causando a recusa da criança, retorno ao trabalho/escola foram os fatores mais corriqueiros para o desmame precoce. Vale ressaltar que a volta da mãe ao mercado de trabalho e a curta licença maternidade, faz com que esse fator esteja entre os principais motivos de desmame (AMARAL et al.,2019).

O estudo feito por Carreiro et al. (2018)  afirma que o desmame precoce está ligado a baixa produção de leite segundo a mãe associado ao choro do bebê e a consequente introdução de fórmulas lácteas e outros líquidos, a dificuldade da mãe quanto a mamada em si, levando ao aparecimento de lesões mamilares além das variáveis sociodemográficas como nível de escolaridade, já o fator de retorno da mãe ao trabalho/escola, não se destaca nessa pesquisa como influente no desmame precoce.

Contrariando Carreiro et al.(2018), Fernandes et al.(2018) em sua pesquisa afirma que a entrada  da mulher  no mercado de trabalho tem influência nos baixos índices de aleitamento materno, o apoio oferecido pelo ambiente de trabalho associado ao apoio familiar podem ser capazes de manter o aleitamento materno por mais tempo, porém os suportes referentes as empresas são limitados, favorecendo o desmame precoce.

O “papel da mulher” tem se expandido em comparação às décadas anteriores, além de mãe, trabalhadora e muitas vezes chefe de família, a mulher desde então enfrenta desafios diários, como por exemplo, amamentar seu filho mesmo estando grande parte do dia trabalhando, favorecendo então a introdução de fórmulas além do leite materno, diminuindo consideravelmente as chances do aleitamento exclusivo até os seis meses preconizados pela Organização Mundial de Saúde (TORRES et al.,2019).

Os problemas mamários se destacam como motivo para o desmame precoce principalmente em primíparas, o despreparo dessas mães por falta de informação dos profissionais acabam causando fissuras mamilares e mastites. Por outro lado o excesso de informação baseados em heranças culturais vinda de influência familiar em específico a avó materna é considerado um fator negativo, que acaba desestimulando o aleitamento materno (OLIVEIRA et al.,2015).

A Depressão Pós Parto (DPP) é um transtorno de humor que afeta as mulheres nas semanas após o parto e pode durar até um ano, e esse transtorno pode estar ligado ao desmame precoce, que é explicado pela literatura como a perda da confiança materna em dar continuidade a prática de amamentar diminuindo então o tempo da amamentação. O resultado do estudo de Silva et al.(2016)  mostra que pela Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo, filhos de mães com DPP têm maior risco de interrupção da amamentação exclusiva.

As mudanças psicológicas e biológicas que acontecem no corpo da mulher acabam trazendo mudanças emocionais por muitas vezes não saber lidar com a nova fase, a pesquisa feita na Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz revela que uma em cada quatro mulheres apresentam sinais de depressão pós-parto (DPP). Segundo Oliveira et al.(2019) mulheres que possuíram DPP, apresentaram consequências  negativas para a amamentação, e o sentimento revelado por essas mulheres era de tristeza, medo, estresse, desencantamento e ameaça.

 Vieira et al. (2018) afirma que há associação entre a prática de amamentar e saúde mental, a presença de depressão pós-parto pode causar o desmame, assim como a dificuldade na amamentação pode ser um fator de risco para a doença mental. O aparecimento de sintomas depressivos aumenta a chance de introdução de fórmulas lácteas, consequentemente causando o desmame precoce.

A amamentação não depende apenas da mãe para sua continuidade, existe uma soma de fatores que influencia nessa prática, a condição de saúde da mãe/filho, trabalho materno e até a presença paterna. Segundo Wagner et al.(2019) o histórico familiar de amamentação onde as mulheres amamentavam seus filhos, influencia e incentiva diretamente na decisão da nutriz, assim como experiências anteriores da mãe.

Moraes et al.(2016) afirma que complemento lácteo oferecido ainda hospital pode  aumentar duas vezes mais as chances de interromper a amamentação exclusiva antes os 30 dias em comparação aos lactentes que não receberam o complemento, a forma como o leite é oferecido ao bebê também pode afetar negativamente caso seja utilizado a mamadeira, que deve ser substituída por um “copinho”, para não causar impacto no aleitamento materno.

4.2 BARREIRAS E ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELOS PROFISSIONAIS NA PROMOÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO

Mesmo o aleitamento materno sendo um ato importante e a mulher ser a responsável pela continuação do mesmo, ainda sim as informações são passadas a elas pelos profissionais de forma deficiente sendo incapaz de prepará-la para essa nova fase, que muitas vezes são cercadas de dúvidas e inseguranças. O estudo realizado por Oliveira et al.(2015), mostra que segundo declaração de mulheres  entrevistadas, há associação entre a falta de informações e a insegurança materna em manter o seu leite como alimento exclusivo para seus filhos.

O enfermeiro segundo Prado; Fabbro; Ferreira. (2016) deve aprender a escutar de forma humanizada, observar as inseguranças apresentada pela nutriz, para então aplicar medidas individuais que protejam e promovam o aleitamento materno, ajudando a superar as dificuldades e inseguranças iniciais e assim construir estratégias que esclareçam e superem a inseguridade.

A assistência prestada durante o pré-natal de acordo com Silva et al.(2017) contribuem para decisão da mulher em amamentar ou manter por mais tempo, já que durante as consultas o profissional pode promover orientações, colaborando para a educação em saúde visando orientar e incentivar a prática e continuação da amamentação. 

O enfermeiro deve fazer com que tenha o aprimoramento de novas estratégias, técnicas e formular meios para que tenha uma aproximação entre paciente e profissional, fazendo a adaptação e esclarecendo dúvidas de forma simples para que tenha melhor compreensão. A elaboração de atividades educativas são importantes para a educação em saúde, promoção e proteção ao aleitamento materno ( TORRES et al.,2019).

Segundo Wagner et al.(2019) o genograma sobre a permanência da amamentação das famílias pode ser utilizado pela Equipe da saúde da família como método para promoção do aleitamento materno. O histórico da família no aleitamento materno ou no desmame precoce influencia a nutriz, dessa forma caso identificado histórico negativo da família pelo genograma o profissional de saúde deve monitorar a então gestante no pré-natal assim diminuindo a influência da família nessa prática, ampliando e fortalecendo a rede de apoio, tendo o enfermeiro papel de destaque.

 O estudo de Moraes et al.(2016) afirma que as questões referentes à amamentação devem ser abordadas desde o pré natal e que a assistência deve ser mantida mesmo após o parto, pois é onde surgem as dúvidas já que é nesse momento que se inicia de fato a ato de amamentar que vem acompanhado de dificuldades, insegurança e dúvidas. A abordagem multiprofissional, atendimento individualizado a mães com dificuldade e até mesmo visitas domiciliares, essas estratégias podem influenciar positivamente na continuidade do aleitamento materno. 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A pesquisa realizada se evidenciou a importância do aleitamento materno para saúde da mãe e bebê, os benefícios vão além da nutrição, possui capacidade imunológicas e psicológicas, porém existe uma soma de fatores que podem levar ao fim dessa prática, segundo pesquisas esses fatores pode estar relacionados a saúde mental da mãe, retorno ao mercado de trabalho, e principalmente assistência do profissional de saúde que influencia  tanto ao sucesso quanto ao insucesso dessa prática.

A introdução da mulher no mercado de trabalho se mostrou fator influente no desmame precoce, já que mesmo havendo leis trabalhistas, ainda sim esse é um fator que influencia negativamente na continuidade dessa prática. A saúde mental está relacionado ao desmame precoce, é um fator que causa medo e insegurança a nutriz, a assistência de Enfermagem tem um grande destaque quando se trata de aleitamento materno, já que o pré-natal tem papel fundamental em promover e proteger essa prática, o acolhimento e o acesso a educação em saúde são fatores determinantes para a manutenção e permanência.

Medidas simples podem ser tomadas para evitar o desmame precoce, buscando informar de forma clara que são vários motivos que podem levar ao fim do aleitamento, e que muitas causas podem ser resolvidas por meio do acesso à informação, criação de estratégias, acolhimento e escuta humanizada. O esclarecimento de dúvidas, o pré-natal e assistência de qualidade, respeito a individualidade e anseios, buscando acima de todas as coisas influenciar de forma positiva para a continuidade de aleitamento materno.

O presente trabalho visa mostrar que mesmo sendo uma prática importante, ainda existe falhas que devem ser corrigidas para que o aleitamento atinja índices mais elevados de adesão, que as queixas feitas pelas mulheres relacionadas a uma assistência deficiente sirvam de lição e incentivo para o Enfermeiro, como algo a ser melhorado para assim beneficiar a todos.

REFERÊNCIAS

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WAGNER, L.P.B et al. Fortalecedores e fragilizados da amamentação na ótica da nutriz e de sua família*.Rev Esc Enferm USP.2020.


1Enfermeira
2Enfermeiro Obstetra/Mestre em Saúde Coletiva
3Acadêmica de Medicina
4Acadêmica de Medicina
5Acadêmica de Medicina
6Acadêmica de Medicina
7Acadêmica de Medicina
8Acadêmica de Medicina
9Acadêmica de Medicina
10Acadêmica de Medicina
11Acadêmica de Medicina
12Acadêmico de Medicina
13Acadêmica de Medicina
14Acadêmica de Medicina
15Acadêmica de Odontologia