REPERCUSSÕES SISTÊMICAS EM PACIENTES ACOMETIDOS POR SÍNDROME PÓS-TERAPIA INTENSIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7761320


Bianca Thaís Silva do Nascimento1
Judicléia Marinho da Silva2
Valdirene Pereira da Silva Carvalho3
Ana Karine Laranjeira de Sá4
Romina Pessoa Silva de Araújo5
Renata Mendes do Nascimento6
Lênio Airam de Pinho7
Camilo de Lelis Lobo Ribeiro8
Fernando Henrique da Silva Costa9
Camila Melo de Freitas10
Gleibson Josimário da Silva11
Maria Gilmara de Lima Pereira12
Lívia Gonçalves de Lima,13
Iale Thaís Silva do Nascimento14


Resumo

Objetivo: Descrever quais as repercussões, visando a melhor compreensão das possíveis repercussões negativas sobre a Síndrome Pós-Terapia Intensiva. Métodos: Revisão integrativa da literatura, realizada com base na pergunta norteadora: “Quais são as repercussões sistêmicas que acometem pacientes que passaram por terapia intensiva?”, através de artigos em língua portuguesa, inglesa e/ou espanhola e publicados entre 2017 e 2022, oriundos das bases de dados BVS, SciELO, MEDLINE, LILACS e BDENF. Resultados: A amostra foi constituída por 19 estudos, que denotaram três núcleos de conteúdo: Síndrome Pós-Terapia Intensiva desafios para o diagnóstico; Repercussões sistêmicas em pacientes com Síndrome Pós-Terapia Intensiva; Assistência à saúde no quadro de Síndrome Pós-Terapia Intensiva. Conclusão: Diante os resultados, notou-se que os sinais podem se estender até cincos anos após a alta, trazendo a diminuição da qualidade de vida e havendo a necessidade de uma assistência multiprofissional para a reabilitação, readaptação e estudo de novas intervenções para minimizar sintomas que os paciente que apresentam essas repercussões

Palavras-chave: Síndrome pós-cuidados intensivos; UTI; Qualidade de vida.

INTRODUÇÃO 

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) trata-se de um ambiente de alta complexidade desenvolvendo-se no decorrer dos anos, visando oferecer assistência qualificada, reduzindo a mortalidade, com intervenções de cuidados mais complexos e especializados, recursos humanos, organizacionais e tecnológicos aos pacientes em estado crítico que necessita de monitorização constante para a manutenção da vida. ¹

É perceptível alterações sistêmicas que ocorrem durante o período de internação. Desencadeando um novo desafio para os profissionais que acompanham o paciente, sendo este o diagnóstico da Síndrome Pós-Terapia Intensiva (SPTI), que é evidenciado após a alta relacionado com o período de internação e quadro de saúde mostrando repercussões sistêmicas negativas para a saúde do indivíduo.²,³

Desta forma, destaca-se a SPTI, sendo caracterizada por alterações cognitivas, físicas e psiquiátricas aos pacientes após a alta, tornando-se este um elevado potencial da redução da qualidade de vida dos pacientes da UTI, podendo refletir na vida de seus familiares posteriormente.³

As repercussões sistêmicas frente aos pacientes acometidos à Síndrome Pós-cuidados Intensivos possuem maior incidência e prevalência diretamente relacionada ao tempo de internação, levando a necessidade de acompanhamento multiprofissional apesar da alta hospitalar. Além da compreensão desses profissionais sobre o quadro clínico e o histórico de saúde do paciente.

Nesse contexto, A presente pesquisa aborda as repercussões cognitivas, físicas e psíquicas que os pacientes acometidos a Síndrome Pós-Terapia Intensivos (SPTI) apresentam, objetivando-se descrever quais as repercussões, visando a melhor compreensão das possíveis repercussões negativas sobre a SPTI.

METODOLOGIA

Tipo de estudo

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, que é um método de pesquisa que proporciona reunir, sintetizar conhecimentos e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática.5

Procedimento de análise

A elaboração do estudo foi organizada de acordo com as seguintes etapas percorridas: definição da questão norteadora; objetivo da pesquisa; busca na literatura; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão das publicações; coleta de dados, por meio de instrumento de pesquisa; análise e categorização dos estudos, apresentação e discussão dos resultados apurados.6 

Esta pesquisa foi desenvolvida com a finalidade de alcançar respostas ao seguinte questionamento: Quais são as repercussões sistêmicas que acometem pacientes que passaram por terapia intensiva?

A busca foi realizada por meio de consultas nas bases de dados indexadas na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): SciELO, MEDLINE, LILACS e BDENF. Realizou-se o cruzamento dos descritores em português cadastrados em Descritores em Ciência da Saúde (DeCS): “Síndrome pós-cuidados intensivos”, “UTI” e “Qualidade de vida”, combinando-o com o operador booleano “AND”. 

Foram utilizados como critérios de inclusão para a seleção da amostra foram: artigos completos disponibilizados de forma gratuita e na íntegra, em português, inglês e/ou espanhol, publicados no período de 2017 a 2022. Excluíram-se artigos duplicados, de acesso indisponível e que não se adequaram ao objetivo da atual revisão. Prosseguiu-se a coleta de dados, realizada no período de dezembro de 2022 a janeiro de 2023, através de instrumento valido por Ursi7 que contemplou título, ano de publicação, autores, periódico, local de publicação, nível de evidência e principais resultados dos artigos selecionados.  

Ademais, realizou-se a análise crítica dos artigos selecionados, discussão e apresentação dos resultados, através da observação e categorização temática do conteúdo, realizada de maneira descritiva e com o objetivo de pontuar os itens mais relevantes e as lacunas encontradas pelo estudo.

RESULTADOS 

Para compor a revisão, foram analisados 15 artigos, identificados através das etapas representadas pelo fluxograma 1, construído de forma a facilitar a visualização da busca e amostragem na literatura. Assim, com base nos cruzamentos em pares entre os descritores, foram encontrados de início um total de 132 artigos nas cinco bases de dados utilizadas, que foram submetidos aos critérios de inclusão estabelecidos, a exclusão de títulos, resumos, artigos duplicados e artigos que não se adequaram ao objetivo proposto ou que não se encontravam disponíveis para leitura, resultando nos artigos indicados no quadro 1.

Figura 1. Fluxograma da seleção de estudos que compõem a amostra nas bases de dados BVS, SciELO, MEDLINE, LILACS e BDENF.

Fonte: autoria própria

O quadro 1 reúne os artigos analisados e sua caracterização: título, ano, autores, periódicos, local, nível de evidência e resultados. 

QUADRO 1: Caracterização dos artigos selecionados para análise, segundo título, autores, periódico, ano, local de publicação, nível de evidência e principais resultados.

TítuloAutores/ anoPeriódicoLocal Nível de evidênciaPrincipais resultados 
A síndrome Pós Cuidado Intensivo e suas complicações na qualidade de vida de pacientesAnjos, et al, 2021Open Journal SystemsFeira de Santana / BahiaCNecessidade de estratégia para a redução de impactos e melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, nas unidades de assistência que possibilitam por sua vez um atendimento multiprofissional que visa o atendimento dos comprometimentos após internamento hospitalar, proporcionando um cuidado direcionado e mais eficaz. 
O papel do enfermeiro na unidade de terapia intensiva diante de novas tecnologias em saúdeouchi, et al, 2018Revista Saúde em FocoSorocabaCO enfermeiro deve ter o olhar nos aspectos psíquicos, espirituais e emocionais do ser humano. Obter conhecimentos e utilizá-los em intervenções corretas é parte de sua responsabilidade, que deve manter-se sempre atualizada para que haja uma atuação mais eficaz no cuidado do paciente, visando a diminuição dos riscos, complicações e morte
Qualidade de vida pós-unidades de terapia intensiva: protocolo de estudo de coorte multicêntrico para avaliação de desfechas em longo prazo em sobreviventes de internação em unidades de terapia intensiva brasileirasRobinson, et al, 2018Revista Brasileira Terapia IntensivaPorto AlegreB1O paciente crítico, após sua alta da UTI, pode manifestar alterações de ordem física, cognitiva e psiquiátrica, que resultam em recuperação prolongada, aumento do consumo de recursos em saúde e, possivelmente, redução de qualidade de vida. Esses dados podem ser diferentes de acordo com a nacionalidade de estudo desenvolvidos sobre a temática
Incidência e fatores de risco associados à síndrome pós-cuidados intensivos em uma coorte de pacientes em estado crítico.Tejero, et al, 2022Revista Brasileira Terapia IntensivaGranada / EspanhaB1Participaram 87 pacientes. A Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II média foi de 16,5. O número médio de dias na unidade de terapia intensiva foi 17. A incidência geral da síndrome pós-cuidados intensivos foi de 56,3% (n = 49; IC95% 45,8 – 66,2). A incidência da síndrome pós-cuidados intensivos em cada uma das esferas foi de 32,1% (física), 11,5% (cognitiva) e 36,6% (saúde mental). A incidência da síndrome pós-cuidados intensivos foi de 56,3%. A esfera da saúde mental foi a mais frequentemente envolvida. Os fatores de risco diferem, dependendo da área considerada.
Avaliação funcional de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva adulto do Hospital Universitário de CanoasSantos, et al, 2017Fisioterapia e pesquisaCanoas / RSB1Foram avaliados 90 pacientes com média de idade de 59,6±16,1 anos, com predominância do gênero masculino (51,1%). A mediana do tempo de internação na UTI foi de 5 (3-9) dias, e de internação hospitalar de 13 (10-20) dias. Houve melhora significativa nos resultados de capacidade funcional (p<0,001), mobilidade (p=0,004) e equilíbrio (p=0,009). Os pacientes internados apresentaram um declínio funcional (com relação à normalidade) nos momentos avaliados. Entretanto, houve melhora nos valores até o momento da alta hospitalar.
Avaliação psicológica de pacientes após a alta da unidade de terapia intensiva.Lopes, et al, 2020Revista PSICOPorto AlegreA3Mulheres e pacientes jovens têm sido indicados como potenciais fatores de risco para desenvolver sintomas de estresse pós-traumático após uma doença crítica, porém esses resultados ainda são inconsistentes entre os estudos. No entanto, esse fator corrobora com o resultado do presente estudo, pois dentre os seis pacientes que apresentaram sintomas de TEPT, cinco eram mulheres. Do total de pacientes com TEPT cinco permaneceram em VM, com uma média de 13,6 dias na UTI e 35,1 dias de internação hospitalar. Desses pacientes, três tiveram memórias ilusórias
Post-intensive Care Syndrome: an Overview.Rowal, et al, 2017Journal od Translational Internal MedicineAmsterdam – HolandaA2A disfunção física requer um tratamento multidisciplinar programa que inclui exercícios, fisioterapia, terapia e gerenciamento de sintomas, incluindo reabilitação
Repercussões psicológicas a longo prazo após alta da terapia intensiva: uma revisão narrativa de literatura.Araujo, et al, 2022 Research, Society and Deseveloflment (RDS)Vargem Grande PaulistaB3Avaliar o paciente em toda a esfera biopsicossocial é um fator terapêutico, favorecendo uma boa comunicação e auxiliando que o paciente expresse suas emoções e sentimentos. Além disso, essa escuta ativa dos profissionais de saúde é válida para esclarecer dúvidas dos pacientes e quebrar concepções pré-estabelecidas, visto que muitos pacientes acreditam que o simples fato de estar na UTI já corrobora para o processo da morte. Com isso, todo esse apoio multidisciplinar presente na UTI,
Síndrome pós-cuidados intensivos em idosos e seus cuidadores familiares: estudo de coorte prospectivo.Moncelin, et al, 2022Escola de EnfermagemPorto AlegreRepositória de programa de pós graduaçãoNos idosos, os escores apresentaram redução estatisticamente significativa na dependência funcional, ansiedade e TEPT. As associações diferenciam-se: em M1 relacionaram-se a aspectos do cuidado intensivo; em M3 associaram-se mais com o status prévio do idoso. Quanto aos cuidadores familiares, os sintomas de PICS-F apresentaram redução estatisticamente significativa. Verificou-se que elementos do idoso e relacionados ao cuidado prestado associaram-se à PICS-F. Os achados apontam para a necessidade de manejo do idoso e cuidador familiar no pós alta da UTI, devendo o enfermeiro atuar na identificação e na elaboração de plano de cuidados, buscando minimizar o impacto da síndrome
Associação entre alterações musculares e perda funcional de pacientes críticos após a internação na unidade de terapia intensiva: estudo observacional, longitudinalLamano, 2018Universidade de São PauloSão PauloRepositória de programa de pós-graduaçãoMostraram que a FPP e a ativação do músculo vasto lateral têm associação com o declínio funcional. Além disso, a força muscular apresentou associação com o teste de sentar e levantar e de marcha estacionária. Percebemos que esses achados apresentaram também associação de variáveis como VMI, idade, sepse e porcentagem de tempo em inatividade. Portanto a avaliação dessas variáveis provou ser importante para auxiliar na proteção da perda funcional em pacientes de UTI
Manifestações físicas da Síndrome Pós Unidade de Terapia Intensiva e a funcionalidade do sobreviventeSilva,2021CuritibaParanáB3Apontaram como as manifestações mais frequentes da PICS, a fraqueza muscular adquirida na UTI, dor crônica, disfagia, diminuição da capacidade pulmonar e perda da capacidade funcional. Portanto, a presente revisão aponta para a necessidade de estudos originais sobre a temática.
Efeito da estimulação neuromuscular e reabilitação individualizada na força muscular em sobreviventes de unidade de terapia intensiva: um estudo randomizado

Patsaki, 2017Jounal of Critical CareGréciaA1Exercício de EENM e fisioterapia personalizada em sobreviventes de UTI não resultaram em maior melhora da força muscular, estado funcional e tempo de internação na alta hospitalar em comparação ao grupo controle, tratado como de costume. A força muscular foi melhorada em pacientes com UTI-aw nas primeiras duas semanas do período de recuperação. Os potenciais benefícios das estratégias de reabilitação, incluindo NMES, em sobreviventes de doenças críticas precisam ser mais investigados.
Estimulação elétrica neuromuscular em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva reduz a fraqueza, atrofia muscular e a disfunção neurofisiológica.Silva, 2020Universidade de Brasília BrasíliaRepositória de programa de pós-graduaçãoSessenta participantes foram randomizados e vinte completaram o estudo em cada grupo. Após 14 dias, o grupo controle apresentou uma redução significativa na espessura muscular dos músculos tibial anterior e reto femoral, com média de -0,33 mm (-14%) e -0,49 mm (-21%), p <0,0001, respectivamente, enquanto a espessura muscular foi preservada no grupo EENM. O grupo controle apresentou maior incidência de DEN: 47% vs. 0% no grupo EENM, p <0,0001, razão de risco de 16; e o grupo EENM demonstrou um aumento no pico da força evocada (2,34 Kg / f, p <0,0001), em contraste com o grupo controle (-1,55 Kg / f, p <0,0001). O tempo necessário para o protocolo de EENM prevenir alterações na arquitetura muscular e tratar a fraqueza foi de pelo menos sete dias, e de catorze dias para tratar a DEN. Os desfechos secundários exibiram resultados estatisticamente significativos.
Reflexões da enfermagem no manejo ao paciente idoso com delirium em terapia intensivaFerreira, et al, 2020Revista eletrônica Disciplinarum ScientiaSanta MariaB2O reconhecimento dos fatores de risco não modificáveis e de possível intervenção são estratégias fundamentais da prevenção do delirium em idosos a âmbito de unidade de terapia intensiva. A identificação dos sinais advinda dos idosos é de fundamental importância para sua rápida intervenção e diagnóstico, para que sejam propostas condutas aos episódios e estabelecidas ações de vigilância contínua. Portanto, com a reflexão desta temática, faz-se necessária a combinação das atribuições da enfermagem e a contribuição para a compreensão da incidência e prevalência da síndrome, proporcionando clarear a importância dos fatores de risco e estratégias de prevenção modificáveis do delirium em unidade de terapia intensiva.
Intensive care syndrome as a predictor of mortality in patients with critical illness:Yanagi, et al, 2021Plos OneSan FranciscoA2Os pacientes tinham idade mediana de 69 anos e escore Fisiologia Aguda e Avaliação de Saúde Crônica (APACHE) II de 16. Cento e trinta e dois pacientes foram classificados como tendo PICS, e 19 pacientes morreram. 81/248 (34%) pacientes apresentavam deficiência física, 42/248 (19%) apresentavam comprometimento cognitivo e 44/248 (23%) apresentavam depressão. Depois de ajustar para covariáveis em análises multivariadas de regressão de Cox, o PICS foi significativamente associado à mortalidade por todas as causas (razão de risco [HR] 3,78, intervalo de confiança de 95% [CI] 1,02 – 13,95; P = 0,046). No entanto, a associação entre PICS e mortalidade por todas as causas foi relacionada à incapacidade física e comprometimento cognitivo ( P = 0,001 e P = 0,027, respectivamente), enquanto a depressão não foi ( P = 0,623).Embora a PICS como uma síndrome tenha sido útil para chamar a atenção para as sequelas de doenças críticas, sua relação com a mortalidade em longo prazo é impulsionada principalmente pela incapacidade física e comprometimento cognitivo, e não pela depressão.

DISCUSSÃO EM CONSTRUÇÃO

Após a leitura na íntegra dos estudos selecionados, emergiram as seguintes categorias: Síndrome Pós-Terapia Intensiva desafios para o diagnóstico; Repercussões sistêmicas em pacientes com Síndrome Pós-Terapia Intensiva; Assistência à saúde no quadro de Síndrome Pós-Terapia Intensiva. 

Síndrome Pós-Terapia Intensiva desafios para o diagnóstico

A assistência à saúde de pacientes graves dispôs de grandes avanços que culminaram na melhora do cuidado nos últimos anos, levando a um número cada vez maior de sobreviventes após tratamento em unidades de terapia intensiva. Todavia, estes sobreviventes muitas vezes desenvolvem sequelas cognitivas e físicas que podem persistir um longo período após a alta da UTI.3

SPTI é definida como um conjunto de novos danos ou a piora de condições prévias, tanto no aspecto físico quanto cognitivo e psicológico que, se estabelecem ou progridem após o curso de alguma doença crítica, englobando a perda atual de funções totalmente preservadas anteriores à internação ou até mesmo uma piora de quadro clínico preexistente aos cuidados intensivos. O prejuízo à funcionalidade do paciente pode perdurar por alguns meses ou até mesmo anos.8

Os sintomas são duradouros e é possível que essa condição não seja reconhecida assim que o período de cuidados intensivos acabe. Esta síndrome está diretamente ligada a diminuição de qualidade de vida, em decorrência da fraqueza, perda de mobilidade, fadiga, humor ansioso ou depressivo, disfunção sexual, distúrbios do sono, alterações de memória, pensamento lentificado e dificuldade de concentração podendo ocasionar na dificuldade para retornar ao trabalho, assim como o aumento do risco de morte nos anos seguintes.3,9

A prevalência da SPTI ainda é incerta. Alterações cognitivas foram percebidas 25 a 75% das pessoas que evoluíram com alta e os fatores de risco são: a ocorrência e a duração de delirium na UTI, desregulações agudas do sistema nervoso central (como por exemplo acidentes vasculares cerebrais isquêmico ou hemorrágico), hipoxemia, hipotensão, mudanças corriqueiras de glicemia, insuficiência respiratória, carência de ventilação mecânica por longa período, sepse, hemodiálise e alterações cognitivas prévias.10 ,11

Estudos mostram que alterações psicológicas ocorreram em até 62% dos pacientes, em grande parte das vezes manifestando-se com depressão, ansiedade e síndrome de estresse pós-traumático. Além dos fatores de risco citados anteriormente, incluem-se: sexo feminino, baixa escolaridade, condições psiquiátricas preexistentes e a necessidade de sedo-analgesia. Entre as alterações somáticas, a que mais foi frequente foi a fraqueza muscular, aparecendo em mais de 25% dos pacientes, sendo os principais fatores de risco: a ventilação mecânica prolongada, sepse, falência de múltiplos órgãos e uso prolongado de sedação profunda.10

Os familiares geralmente são afetados por alterações psicológicas durante e após a internação do paciente na UTI. Os sintomas que ocorrem nos familiares denominam-se SPTI-F e podem apresentar-se como depressão, ansiedade e estresse durante o tratamento e desfecho do paciente. Os principais fatores de risco que corroboram para desenvolvimento de PICS-F são: falta de comunicação com as equipes que prestam a assistência, grau de escolaridade diminuído e o desfecho do paciente evoluído em óbito.12

Assim percebe-se que a abordagem multiprofissional, reconhecimento dos fatores de risco e prevenção são de suma importância, há alguns indicadores que pode ser utilizado para o diagnóstico:  eletroneuromiografia evidenciando a disfunção axonal indicador; MRC (Medical Research Council) – valor máximo de 60 e mínimo de 0; MRC menor que 48 que indica a fraqueza muscular.13

Repercussões sistêmicas em pacientes com Síndrome pós-Terapia Intensiva

Sendo proporcionalmente relacionado ao tempo de internação é notável nos pacientes o surgimento de fraqueza muscular, redução e/ou falta de mobilidade, fadiga, alteração de humor ansioso ou depressivo, disfunção sexual, distúrbios do siclo do sono, alterações cognitivas relacionadas a memória, pensamentos lentificados, dificuldade de concentração. Tem como fator de risco o uso de corticosteroides, alterações nutricionais, sepse, disfunção de múltiplos órgãos, hiperglicemia e imobilização.14

A fim de diminuir essas repercussões existem alguns tratamentos que podem ser utilizados na assistência ao paciente com SPTI sendo estes: mobilização precoce, eletroestimulação neuromuscular, aumento da tolerância ao exercício e força muscular, cinesioterapia, exercícios passivos e exercícios ativos.15

O processo de alta de pacientes pós-terapia intensiva vem com a necessidade de readaptação e reabilitação multiprofissional, em decorrência do período no qual foram submetido para estabilizar a hemodinâmica na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), dentre as repercussões físicas que se apresentam mais evidentes são: a diminuição da funcionalidade, dor crônica de grau moderado a grave relacionado antes da admissão, força muscular inspiratória reduzida em paciente ventilados mecanicamente por um período médio maior que 10 dias, fraqueza devido a perda de massa muscular adquirido na UTI é associada ao tempo prolongado no leito, redução da capacidade de realizar atividades de vida diária, ocasionado por internações, intervenções, sedação, tratamentos farmacológicos como o uso corticosteroides de forma prolongada, além de desencadear disfunções mentais durante e após a internação na UTI, como o transtorno do estresse pós- traumático, delirium.16,17 

Prevenção e Manejo

É de extrema importância que os pacientes admitidos na UTI passem por avaliações, sendo elas: psicológica, englobando o aspecto histórico psicológico, a capacidade de adaptação ao estresse, uso prévio de medicações, condição clínica e mental atual e condições de suporte familiar.18

O tratamento inclui: eliminação ou redução dos fatores predispostos, administração adequada de sedativos, diminuição de fatores de estresse e melhora na comunicação com paciente e com os familiares.12

A fim de prevenir o surgimento de PICS tornou-se necessária a criação de algumas estratégias para minimizar os efeitos pós cuidados intensivos sendo eles: o despertar diário mantendo uma boa rotina de sono, teste de respiração espontânea, colaboração no cuidado entre as equipes envolvidas, deambulação precoce na UTI, envolvimento familiar e encaminhamentos de seguimento e reabilitação, melhorar comunicação de transferência de cuidados, realização de educação permanente sobre PICS, evitar hipoxemia, variações de glicemia, acompanhamento dos pacientes e familiares em clínicas de reabilitação, manter dieta  adequada.15 

Consideramos limitação do estudo a baixa produção de artigos atuais relacionados às repercussões sistêmicas em pacientes acometidos pela Síndrome Pós-terapia Intensiva, que em sua maioria, os estudos sobre a temática datam de mais de 5 anos. Assim, identificou-se um déficit na produção científica nesta área de conhecimento que precisamos aprimorar para a formação de profissionais que prestam assistência a pacientes das Unidades de Terapia Intensiva e Pós-Terapia Intensiva. Entretanto, os artigos selecionados para a discussão desta pesquisa conseguiram responder à questão norteadora.

Os resultados trazem como contribuição para a prática, os conhecimentos de fatores que podem prevenir a Síndrome Pós-Terapia Intensiva, estratégias para o manejo dos pacientes e indicadores para o diagnóstico, melhorando a qualidade da assistência e qualidade de vida do usuário e familiares através da educação em saúde sobre a temática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante a percepção das repercussões físicas de pacientes acometidos pela Síndrome Pós-Terapia Intensiva, notou-se que os sinais podem se estender até cincos anos após a alta, trazendo a diminuição da qualidade de vida e havendo a necessidade de uma assistência multiprofissional para a reabilitação, readaptação e estudo de novas intervenções para minimizar sintomas que os paciente que apresentam essas repercussões.

Todos os sinais e sintomas que compõem a SPTI devem ter uma abordagem de prevenção, diagnóstico e seguimento multiprofissional. O reconhecimento precoce, prevenção dos fatores de risco e tratamento da SPTI tornam-se cada vez mais importantes para que pacientes e familiares não sejam apenas sobreviventes da UTI, mas indivíduos que possam reconquistar a independência e qualidade de vida.

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