ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICA DO TURU (TEREDO SPP.) UTILIZADO NO TRATAMENTO TERAPÊUTICO DA TUBERCULOSE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7730748


Brenda Leticia dos Remedios Ribeiro;
Helen de Paula da Silva Moraes;
Raimundo da Silva Rodrigues Neto;
Thalita Nazaré Nascimento da Silva;
Silvana de Fátima Oliveira de Almeida.


Resumo: No Norte do Brasil, os turus de manguezais são utilizados através do consumo alimentar, como fortificante afrodisíaco, assim como também para o tratamento de diversas doenças, entre elas, anemia e tuberculose, conforme o conhecimento empírico. A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e transmissível causada pelo Mycobacterium tuberculosis, predominante em países em desenvolvimento. Este estudo teve como objetivo relacionar as necessidades nutricionais de pacientes diagnosticados com tuberculose e a composição físico-química do turu, no qual poderá vir a fornecer informações científicas sobre a qualidade e a eficácia do mesmo, podendo deste modo identificar se este molusco possui benefícios ou não ao tratamento da tuberculose, relacionando a terapêutica nutricional popular com dados obtidos da composição deste molusco para então utilizar o turu como uma opção terapêutica. Foram realizadas 3 coletas de turu nos respectivos meses setembro, outubro e novembro e feitas as análises físico-química no laboratório para obter dados específicos de umidades (76,63±0,46, 70,67±2,30 e 75,90±3,19), cinzas (0,89±0,02, 0,42±0,03 e 0,99±0,02), lipídeos (0,13±0,008, 0,14±0,016 e 0,20±0,013), proteínas (6,87±0,049, 5,64±0,018 e 6,57±0,026), carboidratos (15,70±0,46, 23,73±2,20 e 16,45±3,19), valor energético (91,46±1,86Kcal, 118,78±8,79Kcal e 93,88±12,26Kcal), pH (6,33±0,094, 6,43±0,12 e 5,99±0,014), acidez (0,48±0,005, 0,64±0,05 e 0,74±0,02) e vitamina C (0,62±0,05, 0,41±0,01 e 0,35±0,008), depois dos resultados obtidos foi feita comparação com o  levantamento das necessidades nutricionais mais comuns em pacientes diagnosticados com tuberculose e obtivemos resultados promissores que evidenciam que o Turu se torna um aliado ao tratamento da tuberculose devido ser comprovadamente um alimento rico em nutrientes essenciais que se consumido corretamente pode suprir as necessidades nutricionais de um indivíduo com tuberculose. 

Palavras-chave: Mycobacterium tuberculosis. Molusco bivalves. Teores. Benefícios. Suplementação.

Abstract: In Northern Brazil, turu of mangroves are used through food consumption, as a fortifying aphrodisiac, as well as for the treatment of several diseases, among them anemia and tuberculosis, according to empirical knowledge. Tuberculosis (TB) is an infectious and transmissible disease caused by Mycobacterium tuberculosis, predominant in developing countries. This study aims to relate the nutritional needs of patients diagnosed with tuberculosis and the physical-chemical composition of the turkey, in which it may provide scientific information on its quality and effectiveness, thus being able to identify whether or not this mollusc has benefits to the treatment of tuberculosis, linking popular nutritional therapy with data obtained from the composition of this mollusk to then use the turkey as a therapeutic option. 3 turu collections were performed in the respective months of September, October and November and the physical-chemical analyses were done in the laboratory to obtain specific data from humidities (76,63±0,46, 70,67±2,30 and 75,90±3,19), ashes (0,89±0,02, 0,42±0,03 and 0,99±0,02), lipids (0,13±0,008, 0,14±0,016 and 0,20±0,013), proteins(6,87±0,049, 5,64±0,018 and 6,57±0,026), carbohydrates (15,70±0,46, 23,73±2,20 and 16,45±3,19), energy value  (91,46±1,86Kcal, 118,78±8,79Kcal and 93,88±12,26Kcal), pH (6,33±0,094, 6,43±0,12 and 5,99±0,014), acidity (0,48±0,005, 0,64±0,05 and 0,74±0,02) and vitamin C (0,62±0,05, 0,41±0,01 and 0,35±0,008), after the results obtained, a comparison was made with the survey of the most common nutritional needs in patients diagnosed with tuberculosis and we obtained promising results that show that Turu becomes an ally in the treatment of tuberculosis because it is proven to be a food rich in essential nutrients that if consumed correctly can meet the nutritional needs of an individual with tuberculosis.

Keywords: Mycobacterium tuberculosis. Bivalves molluscs. Content. Benefits. Supplementation.

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, os turus de manguezais são utilizados no norte do país através do consumo alimentar, como fortificante afrodisíaco, assim como também para o tratamento de diversas doenças, entre elas, anemia e tuberculose, na região amazônica (MÜLLER; LANA, 2004). A predominância de alcaloides atribuí como principal indicativo da bioatividade do turu frente ao Mycobacterium tuberculosis, como justificativa para seu potencial terapêutico (SANTOS, 2018). 

A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa e transmissível causada pelo Mycobacterium tuberculosis (Bacilo BK), predominante em países em desenvolvimento e, embora existam tratamento e meios de prevenção, cerca de 10 milhões de novos casos são registados todo ano no mundo (WALKER et al., 2013; BRASIL, 2020). A associação da TB com a desnutrição energético-proteica, tem sido amplamente reconhecida como fator de risco (NOGUEIRA et al., 2006; TALON; PEREIRA, 2010; LAZZARI, 2016). No Pará os moradores de algumas comunidades relatam fatos de “cura” da tuberculose através do caldo do molusco, emplasto ou in natura, aliados aos medicamentos receitados por médicos ou não (devido ao abandono do tratamento terapêutico da tuberculose) (SANTOS, 2018).

O quadro clínico da doença leva à desnutrição, com redução das proteínas viscerais e índices antropométricos, perda de massa magra e destruição da reserva de gordura, além da ativação de citocinas (TALON; PEREIRA, 2010). O consumo alimentar, as reservas de nutrientes do corpo e suas perdas, afetam ativamente no equilíbrio nutricional e na infecção, de modo geral (PEREIRA, 2004). 

A maior parte dos estudos realizados sobre os turus são direcionados para o controle das espécies, motivados pelo seu alto potencial de danos e prejuízos econômicos que esses animais podem causar devido seu modo de vida e hábitos alimentares (SILVA; TOGNELLA, 2013). Embora o alto consumo alimentar, as informações sobre a composição centesimal e características físico-químicas e químicas das espécies nativas do território brasileiro ainda são incipientes. Apesar dos avanços realizados no tratamento e manejo, a TB ainda permanece como um dos principais problemas de saúde pública, assim, faz-se necessário investigações mais avançadas e específicas, em relação ao turu referente a tuberculose (SANTOS, 2018). 

Considerando o alto potencial nutricional do turu (Teredo spp.), e a falta de dados em relação a sua composição físico-química, principalmente ao que se relaciona ao aporte nutricional deste molusco, correlacionado assim, aos dados nutricionais de pacientes diagnosticados com TB, encontrados na literatura. 

Este estudo teve como objetivo relacionar as necessidades nutricionais de pacientes diagnosticados com tuberculose e a composição físico-química do turu, no qual poderá vir a fornecer informações científicas sobre a qualidade e a eficácia do mesmo, podendo deste modo identificar se este molusco possui benefícios ou não ao tratamento da tuberculose. Podendo viabilizar novos meios terapêuticos de menor custo, menores danos ao organismo, com maior absorção de macro e micronutrientes, melhorando o estado nutricional dos pacientes, pois de acordo com relatos de moradores do município de Vigia de Nazaré, no estado do Pará, dos quais há relatos a respeito de sua capacidade terapêutica, associando este Teredo spp. a terapêutica da Mycobacterium tuberculosis.

2 METODOLOGIA

Foram realizadas análises físico-químicas para determinar os teores de umidade, cinzas, lipídios, proteínas, carboidrato, valor energético, pH, acidez e vitamina C. As análises foram realizadas no laboratório de Bromatologia e Microbiologia, da Escola Superior Madre Celeste (ESMAC) e no Laboratório Multianálises s/s Ltda. No período de fevereiro a dezembro de 2021.

2.1 COLETA DAS AMOSTRAS

Os manguezais localizados na ilha de Itapuá, distante pouco mais de 15.7 km do município de Vigia de Nazaré, à 103 km longe da capital Belém, na região nordeste do estado do Pará, na zona do salgado.

2.1.1 Extração do turu

A extração do turu no manguezal, após extraído da madeira, o turu foi adicionado em sacos estéreis, armazenados em caixa térmica com gelo, em seguida realizou-se a limpeza do mesmo, deixando apenas as partes comestíveis, e adicionados a outro saco estéril e armazenados em isopor para o congelamento da amostra em freezer, e transportado sob congelamento até o laboratório de Bromatologia e Microbiologia da Faculdade Esmac, para análises posteriores.

Foram coletados no total 1,0 Kg de turu limpo, sendo 500 gramas do turu para realizar as análises e 500 gramas de amostras para margem de erro. Foram realizadas três coletas (uma coleta em cada mês), nos meses de setembro, outubro e novembro.

2.1.2 Preparo da amostra

A cada coleta, o total coletado de turus era limpo, deixando apenas as partes comestíveis. Todo material era processado e dividido em dois grupos de quantidades iguais em gramas e in natura. O primeiro grupo as análises eram realizadas no laboratório da ESMAC. Enquanto o segundo, era armazenado em caixa térmica, e transportado até o laboratório Multianálises s/s Ltda., para obter os resultados de proteínas, lipídios e cinzas.

2.2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA

Todas as análises foram realizadas de acordo com os métodos preconizados pelo Instituto Adolfo Lutz, (2008) e Association Of Official Agricultural (2017). Todas as análises foram realizadas em triplicata.

Análise de umidade

A determinação do teor de umidade foi estabelecida pelo método gravimétrico em estufa à 105 °C, até obter o peso constante.

Análise de resíduo mineral fixo (cinzas)

A determinação do teor de cinzas, foi empregado a partir do método gravimétrico com incineração em mufla elétrica a 550 °C, até atingir cinzas claras.

Análise de lipídeos

Para quantificar o teor de gordura das amostras, foram usados os métodos de Bligh-Dyer, utilizando sulfato de sódio anidro, para remover possíveis traços de água que tivessem permanecido na fase lipídica.

Análise de proteínas

Para determinação do teor de proteínas totais, foram utilizados o método de Kjeldhal como titulação, usando solução de ácido clorídrico com concentração 0,1 normal (HCl 0,1N) padronizada.

Carboidratos por diferenciação

Para determinação do teor de carboidrato, foram realizados a somatória a partir dos resultados dos teores de umidade, cinzas, gordura e proteína, para obter a diferença entre o total da amostra (100%), e assim poder expressar o resultado do teor total de carboidratos que contêm na amostra.

Valor energético por cálculo

O valor energético foi determinado a partir da Equação de Bryant e Atwater, considerando as médias dos valores obtidos para cada macronutriente a partir dos métodos convencionais obtidos através dos resultados (proteínas, carboidratos e lipídeos).

Análise de pH

O pH foi verificado pelo método potenciométrico, em peagômetro de bancada (Quimis ®), calibrado com solução tampão em pH = 4 e em pH = 7.

Análise de acidez total titulável

A determinação deste método foi realizada por volumetria de neutralização. Para a titulação foi utilizada solução de hidróxido de sódio com concentração 0,1 normal (NaOH 0,1N) padronizada com biftalato de potássio.

Análise de vitamina C

A determinação do teor de vitamina C foi realizado através do método de Tillmans modificado, este método baseia-se na redução do corante 2,6-diclorofenolindofenol (DCFI), com solução padrão de ácido ascórbico, e solução de ácido oxálico 1%.

2.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA DE DADOS

As análises físico-químicas foram submetidas à análise de ANOVA one-way seguida de comparação pelo teste de Tukey (p ≤0,05). As análises estatísticas foram realizadas com o software Statistica 7.0 (StatSoft, Inc., Tulsa, EUA).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas as determinações de teor de umidade, cinzas, lipídios, proteínas, carboidrato por diferenciação, valor energético total por cálculo, pH, acidez total titulável e vitamina C.

3.1 UMIDADE, CINZAS, LIPÍDIOS, PROTEÍNAS E CARBOIDRATOS

Os valores dos parâmetros de umidade obtidos, a partir da análise das coletas realizadas nos meses de setembro, outubro e novembro, foram expressos em média, 76,63±0,42, 70,67±0,99 e 75,90±0,01, respectivamente. A medida padrão de umidade para pescado pode variar de 64 a 90% (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2009). De acordo com os estudos de Salles (2017) os valores das médias encontrados para determinação de teor de umidade foi 74,23 ± 2,94, quando comparados com os resultados obtidos no presente trabalho, a amostra encontra-se aproximado do parâmetro da análise físico-química da carne de um molusco bivalve, o sarnambí no estado do Pará, no qual os valores das médias encontrados para determinação foram 74,40±3,25. Segundo Cecchi (2003), a determinação da umidade é uma das medidas mais importantes, relacionada com a qualidade e composição de um alimento, tendo forte influência na velocidade de deterioração do mesmo. Sendo assim, o teor de umidade expresso no presente estudo não apresenta riscos de fácil deterioração.

O teor de cinzas apresentou valores percentuais nos meses de setembro, outubro e novembro respectivamente de 0,89 ± 0,02, 0,42 ± 0,03 e 0,99 ± 0,02 para primeira, segunda e terceira amostra, valores próximos dos resultados no trabalho de Almeida, (2019), e valores diferentes comparados aos resultados no molusco Sururu onde foi detectado 1,56% de acordo com o trabalho de Brito et al. (2007). E também ao trabalho de Portella (2005), que obteve o valor de 1,76% e 2,25% para espécies de ostras. O teor encontrado neste estudo é considerado baixo, mas que é explicado pelas amostras terem um grande potencial de umidade. O parâmetro de cinzas é considerado útil, pois permite a verificação do valor nutricional e qualidade funcional do alimento, pois este é constituído por Potássio (K), Sódio (Na), Magnésio (Mg) e Cálcio (Ca).

Tabela 1– Resultados dos parâmetros de umidade, cinzas, lipídios, proteínas e carboidratos, nos meses de setembro, outubro e novembro, expressos em média ± desvio padrão.

PARÂMETROSSETEMBROOUTUBRONOVEMBRO
Umidade (%)76.63 ± 0.4270.67 ± 0.9975.90 ± 0.01
Cinzas0.89 ± 0.020.42 ± 0.030.99 ± 0.02
Lipídios0.13 ± 0.0080.14 ± 0.0160.20 ± 0.013
Proteínas6.87 ± 0.0495.64 ± 0.0186.57 ± 0.026
Carboidratos (%)15.70 ± 0.4623.3 ± 2.2016.45 ± 0.001
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

As análises de lipídios determinaram os seguintes valores 0,13% na amostra 1 e de 0,14% na amostra 2 e 0,20% na amostra 3, valores baixos em comparação ao trabalho de Salles (2017), que foi de 3,00% para espécies de molusco como sarnambi e valor aproximado ao trabalho de Portella (2005), que obteve 0,51% e 0,27% para espécies de ostras. De acordo com Martins (2009), existem evidências limitadas de que, a avaliação e o aconselhamento nutricional, combinados com suplementos ricos em energia, que contenham proteínas, lipídios e hidratos de carbono, para pacientes com TB possam ser melhores que a avaliação e o aconselhamento nutricional isolados, para auxiliar no ganho de peso.

Dentre os parâmetros de proteína alcançados, não houve valores com diferenças significantes. Na primeira amostra obtivemos os valores de 6,87±0,049 e na segunda amostra valores de 5,64±0,018, e na terceira amostra os valores foram de 6,57±0,026, resultados parecidos aos expostos no trabalho de Almeida (2019). Valores diferentes do trabalho de Salles et al. (2017), que expressou as características físico-químicas do molusco sarnambi, onde o resultado foi 13,95 e 14,40% de proteína, resultados superiores comparados a este trabalho. Segundo Lazzari (2016), a subnutrição energético-proteica tem alta prevalência em adultos com TB piorando o perfil imunológico e aumentando a morbidade e mortalidade. Esse processo cursa com diminuição progressiva das reservas corporais de massa muscular e de gordura resultando em emagrecimento acentuado. As evidências, na sua maioria, sustentam a tentativa de obter um aporte energético aumentado (aproximadamente 35-40 kcal/kg de peso ideal), com uma composição proteica normal ou ligeiramente aumentada (1,2-1,5 g/kg de peso corporal ideal). Isto é facilmente conseguido através da dieta e do uso de suplementos energéticos e proteicos (MARTINS, 2009).

Os teores de carboidratos apresentaram valores médios elevados, 15,70±0,46 no mês de setembro, 23,73±2,20 no mês de outubro, e de 16,45±3,19 no mês de novembro, quando comparados a outros estudos. Ao comparar os resultados deste estudo com os valores obtidos por Franco (2002), verifica-se que a carne deste molusco apresentou níveis mais altos que o mexilhão (4,5 %) e a ostra (5,9 %). Em comparação a caracterização físico-química do sarnambi, Salles (2017) as amostras apresentaram valores médios de carboidratos de 1,31 % e 1,20 % para os Locais A e B, respetivamente, sendo assim, as amostras do presente estudo apresentaram alto teor de carboidratos. O Ministério da saúde (2005) preconiza a ingesta diária recomendada de carboidratos é de 50% a 60% do valor calórico total, em pacientes com TB a ingesta de carboidrato deve ser aumentada, pois as necessidades calóricas também aumentam.

5.2 VALOR ENERGÉTICO TOTAL

Os resultados foram obtidos a partir da Equação de Bryant e Atwater, no qual é preciso obter as quantidades, em gramas, de carboidrato (C), proteína (P) e gordura (G) presentes em cada grama de amostra (g/g). Expressos a partir da equação abaixo:

V.E = 4C + 4P + 9G

Tabela 2– Valor energético dos meses de setembro, outubro e novembro, expressos em média ± desvio padrão

PARÂMETROSETEMBROOUTUBRONOVEMBRO
V. energético (%)91.46 ± 0.90118.78 ± 0.9593.88 ± 0.89
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

O valor energético total obtidos nas amostras de Teredo spp. nos meses de setembro e outubro e novembro, foram respectivamente 91,46 kcal/100g, 118,78 kcal/100g e 93,88 kcal/100g, caracterizando assim o turu como um alimento calórico, quando comparado a outros alimentos, como sarnambi, camarão, ostra e mexilhão. O estudo de Salles (2017), as médias dos valores calóricos das amostras do sarnambí (86,64kcal/100g e 86,92kcal/100 g para os Locais A e B, respectivamente) mostram que esta carne é menos calórica que o camarão (101 kcal/100g) e a ostra (96 kcal/100 g). E mais calórica que o mexilhão (62,76 kcal/100g) (FURLAN,2007). De acordo com Martins (2009), as evidências, na sua maioria, sustentam a tentativa de obter um aporte energético aumentado (aproximadamente 35-40 kcal/kg de peso ideal). Um estudo de caso de Francisqueti (2011), Terapia Nutricional foi mantida durante 21 dias, nos primeiros 15 dias, o aporte calórico foi de 1000 kcal (30 kcal/kg de peso do paciente) e de 1,2g de proteína/kg de peso, apresentando um ganho ponderal de 1,9kg. Diante da estabilidade do paciente, o aporte calórico na última semana foi aumentado para 35 kcal/kg/peso e 1,5g de proteína/kg/peso. As recomendações de energia, recomenda-se iniciar com 25kcal/kg/dia para pacientes em cuidado intensivo.

Gráfico 1Expressão dos resultados de valor energético total obtidos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

5.3 pH, ACIDEZ E VITAMINA C

Para acidez total titulável os parâmetros médios encontrados (Tabela 3), foram de 0,48 em setembro, 0,64 em outubro e 0,74 em novembro, quando comparados aos estudos realizado por Almeida (2019) que conta com valores um pouco distante, pois as observações em seus estudos indicam em médias de acidez de 0,004±0,001 para moluscos crus.

Tabela 3Valores de pH, acidez e vitamina C, para o Turu coletado nos meses setembro, outubro e novembro, expressos em média ± desvio padrão

PARÂMETROSSETEMBROOUTUBRONOVEMBRO
pH (%)6,33 ± 0,0946,43 ± 0,125,99 ± 0,014
Acidez (%)0,48 ± 0,0050,64 ± 0,050,74 ± 0,02
Vitamina C (%)0,62 ± 0,050,41 ± 0,010,35 ± 0,008
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.

Os valores médios de pH do turu in natura expressos são de 6,33 em setembro, 6,43 em outubro e 5,99 em novembro. Embora apresente alto teor de acidez, em relação a pH, os valores médios novamente vêm sendo inferior à média de pH 7 (SALLES et al., 2017). Foram encontrados valores próximos de pH em ostras in natura, valor obtido por Cruz Romero et al. (2008), sendo de 6,45% e por Soares et al. (2015), que encontraram o valor de 6,5%. Resultado também encontra- se dentro da variação descrita por Ramos et al. (2010) de 5,7% a 6,6% para Crassostrea gigas pertencentes as fazendas marinhas localizadas na Baía Sul da Ilha de Santa Catarina.

As análises de vitamina C realizadas, obtiveram os parâmetros médios de 0,62±0,05mg no mês de setembro, 0,41±0,01mg no mês de outubro e 0,36±0,008mg no mês de novembro. Alterações complexas causadas pela TB, ocorrem no metabolismo dos macronutrientes, contudo a resposta à infecção também inclui um dano profundo no estado dos micronutrientes nos pacientes. O aumento da energia gasta e o enfraquecimento dos tecidos podem estar associados à infecção relacionando com o aumento das necessidades de micronutrientes, como vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina D, vitamina E, ferro, selênio e zinco (RANGE et al., 2006; SCHON et al., 2003; RANGE et al., 2005; VILLAMOR et al., 2008). Um indivíduo com TB, que não consiga suprir as necessidades vitamínicas e minerais apenas da dieta (devido à falta de apetite), deve ser suplementado com vitaminas e minerais, que providenciem 50 a 150% das recomendações diárias, o que pode aumentar a eficácia da terapia, principalmente devido à emergência da multirresistência (RALPH et al., 2004).

Recomenda-se o consumo padrão para homens 0,90mg/dia e para mulheres 0,75mg/dia, para indivíduos saudáveis, sendo que este molusco (Teredo spp.) é consumido ainda com adição de limão (Citrus latifolia). Quando adicionado 6 gotas de limão, que equivale 2,3mg de vitamina C, em 100g de turu, no qual sua média a partir dos resultados obtidos equivalem à 0,59mg de vitamina C, deste modo o paciente com tuberculose poderá vir a suprir as necessidades diária de vitamina C.

6 CONCLUSÃO

Nas amostras analisadas foram constatados que os valores de umidade, pH e acidez, permanecem dentro do que é característico para molusco, quando comparado aos estudos de Almeida (2019) e Salles (2017), enquanto os valores de cinzas e lipídeos, encontrados estiveram abaixo. Os valores relevantes e elevados para utilização do mesmo em benefício a pacientes com tuberculose foram os de proteína, carboidratos, vitamina C e valor energético total, o teor de vitamina C, se justifica e torna-se ainda maior devido a adição do limão que é a forma comum de consumo.

Portanto as análises comprovam que o Turu é um alimento rico em substâncias consideradas essenciais para o bom funcionamento do organismo, contendo alta quantidades de macros e micronutrientes necessários, para um paciente diagnosticado com TB, podendo ser utilizado como um complemento alimentar natural de baixo custo, revigorante de fácil absorção, sendo uma opção a substituir a suplementação sintética.

Qualquer suplementação independente de ser natural, deve ser utilizada conforme as necessidades de cada indivíduo. Segundo os resultados obtidos, 100 gramas de turu adicionadas de 6 gotas de limão, antes da primeira refeição supriria partes das necessidades nutricionais de um portador da doença, necessitando assim de estudos mais aprofundados em busca da composição nutricional mais completa destes moluscos bivalves.

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