O ESTRESSE OCUPACIONAL DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7718198


Evair Antonio Ferreira Gomes1
Vitor Emanoel Dias dos Santos1
Marco Aurélio Silva Esteves2
Dayane Camelo Silva3


Resumo

Este estudo objetivou identificar os principais fatores geradores de estresse em profissionais de enfermagem que atuam em unidades de terapia intensiva (UTIs), com o intuito de compreender suas consequências. Foi realizada uma revisão bibliográfica, que apontou que o estresse ocupacional é uma questão relevante e afeta significativamente os profissionais de enfermagem em UTIs. O contrato de trabalho, as competências profissionais, os fatores individuais/pessoais, o ambiente físico e o relacionamento interpessoal foram os principais fatores geradores de estresse identificados. A implementação de medidas preventivas e estratégias de intervenção foi apontada como uma forma de minimizar o impacto negativo do estresse ocupacional nesses profissionais. Recomendou-se a realização de programas de treinamento para aprimorar a capacidade funcional dos enfermeiros, estabelecer objetivos claros e tarefas específicas para reduzir conflitos entre as equipes de UTI, além de implantar leitos humanizados e medidas de autocuidado. Para futuras pesquisas, sugere-se investigar os fatores mais relevantes para esses profissionais em seu trabalho, por meio de entrevistas, para contribuir com o desenvolvimento de estratégias de intervenção adequadas às suas necessidades.

Introdução

O termo “estresse” foi cunhado pelo médico Hans Selye em 1926 após vários estudos no campo da medicina. Selye (1956) definiu o termo como um desgaste geral do organismo, e desde então, várias atividades estressantes têm gerado um desgaste físico e mental nos trabalhadores. Esses fatores desencadeantes do estresse comprometem a qualidade de vida das pessoas nas esferas profissional, social e biológica. A enfermagem, como área que lida com situações estressantes em sua prática profissional, entra no grupo de profissões desgastantes, uma vez que os profissionais de enfermagem são expostos a vários fatores que desencadeiam situações de estresse (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2013).

O estresse é a resposta física e emocional do corpo ao estressor, podendo manifestar sintomas mentais e físicos. Os efeitos do estresse são diferentes em cada indivíduo, e o estresse pode afetar negativamente o desempenho profissional e pessoal de uma pessoa, impactando sua relação com o grupo de trabalho e afetando a equipe e a organização como um todo (PRADO, 2016).

O estresse no ambiente de trabalho representa um atual problema com riscos à saúde mental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 90% da população mundial é afetada pelo estresse, sendo que 93% dos enfermeiros relatam estresse no ambiente de trabalho (OMS, 2000). O estresse é uma condição geradora de doenças e tem sido amplamente estudado por diferentes profissionais. É uma questão de risco para o equilíbrio normal do ser humano, e cada vez mais existe preocupação com a saúde dos trabalhadores para evitar danos. A OMS recomenda a adaptação do trabalho às condições do trabalhador e o controle dos riscos para a saúde como formas de favorecer a saúde mental e física.

O profissional de enfermagem atua em diversos setores, muitos deles de alta complexidade, em instituições variadas, como clínicas, hospitais, instituições de longa permanência, comunidades, escolas e empresas. Como lidam com pessoas, os profissionais de enfermagem interagem com elas para compreender sua natureza física, social e psicológica. O cuidado deste profissional deve ser dedicado, responsável e comprometido. O processo de cuidado é contínuo, desde o nascimento até a morte, com o objetivo de aliviar e auxiliar, já que a cura nem sempre é possível. Portanto, a atuação do profissional de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva é fundamental (ANDRADE et al., 2016).

Devido à natureza da profissão de enfermagem, que atua em hospitais onde se atende pacientes em situação de dor, sofrimento e desespero, a equipe de enfermagem é considerada uma área sujeita a estressores, devido ao contínuo cuidado ao paciente e situações imprevisíveis, principalmente no pronto-socorro. Esses profissionais de saúde estão expostos diariamente ao estresse e tensão, o que está associado a longas jornadas de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento do estresse ocupacional (MENZANI; BIANCHI, 2009).

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um ambiente crítico destinado a cuidados de alta complexidade e assistência especializada a pessoas em situações graves. Este ambiente agrega uma dinâmica complexa, que vai desde aparelhos tecnológicos a equipes multiprofissionais necessárias para o monitoramento contínuo dos pacientes. A UTI é considerada um ambiente traumatizante e estressante tanto para os profissionais quanto para os pacientes, sendo ruídos sonoros, a morte e o sofrimento, e as várias situações de emergência fatores que contribuem muito para uma espécie de estereotipagem deste setor (MOURA et al., 2011). 

As primeiras unidades de terapia intensiva surgiram durante a Segunda Guerra Mundial para atender soldados feridos em estado grave. Desde então, as UTIs evoluíram significativamente, incorporando tecnologias avançadas, profissionais capacitados e abordagens humanizadas para o cuidado do paciente crítico. Atualmente, as UTIs são consideradas uma das áreas mais desafiadoras e relevantes do ambiente hospitalar, desempenhando papel crucial na preservação da vida de pacientes em situações de risco iminente (LAIDLAW & MACDONALD, 2007).

Embora a UTI seja reconhecida como uma área hospitalar com maior probabilidade de prolongação da vida, essa possibilidade é contraditória, pois a vida continua em um ambiente onde há sofrimento e risco de morte constante. Apesar do suporte tecnológico avançado e melhoria assistencial, a taxa de mortalidade nas UTIs ainda é alta. Esse fato gerou um mito, para pacientes e familiares, de que a UTI está diretamente associada à mortalidade e que os pacientes não são capazes de se recuperar (LIMA & MORAES, 2017).

A enfermagem em UTI está incluída no grupo de profissões consideradas estressantes devido ao desgaste emocional ocasionado pelo contato constante com doenças, procedimentos complexos, alto nível de responsabilidade e tomada de decisão, falta de profissionais, acidentes de trabalho, pressão sonora causada pelos equipamentos e trabalho em turnos. Esses fatores podem gerar ansiedade e angústia aos profissionais, contribuindo para o desenvolvimento do estresse (MONTANHOLI; TAVARES; OLIVEIRA, 2006).

A UTI é um ambiente extremamente complexo, com estrutura física e equipamentos de alta tecnologia, ruídos constantes, ambiente fechado, intensa movimentação humana, sofrimento do paciente, entre outros fatores, o que o torna estressante. A falta de cuidado, habilidade técnica e responsabilidade da equipe podem resultar em efeitos colaterais e complicações do tratamento médico (ARAÚJO, 2003).

O ruído proveniente dos equipamentos, como respiradores e bombas de infusão, assim como o som necessário para chamar a atenção dos profissionais em caso de problemas do paciente, são fatores importantes a serem destacados na geração de estresse na UTI. Esse distúrbio auditivo pode causar desconforto e confusão entre os profissionais, que precisam levantar a voz para serem ouvidos. A dificuldade de comunicação pode levar a erros médicos e prejudicar a saúde do paciente. Além disso, o ruído excessivo sem proteção também pode afetar o sono dos profissionais, causando episódios de insônia e sonhos relacionados ao trabalho (FILUS et al., 2014). 

Profissionais de saúde em departamentos de emergência realizam tarefas extenuantes que podem levar à exaustão. A administração de medicamentos é uma das tarefas mais importantes em hospitais, mas erros podem ocorrer, prejudicando a recuperação do paciente ou levando à morte. A equipe de atendimento emergencial deve ser multidisciplinar e responsável pela terapia intensiva, monitoramento, avaliação e procedimentos técnicos, além da terapia médica e trabalho administrativo da unidade (MARTINS, 2017).

Os profissionais de enfermagem estão mais propensos a adoecer devido à sobrecarga de trabalho e riscos inerentes às suas atividades laborais na UTI, onde a equipe de saúde trabalha com pacientes em estado grave e altos níveis de estresse. Cuidados complexos e extremamente rigorosos são necessários para controlar as condições de vida dos pacientes, uma vez que o risco de morte está intimamente relacionado ao estado clínico do paciente (SILVA, SILVA & PINHEIRO, 2006; VIANA; WHITAKER, 2011).

Este estudo se justifica pelo crescente número de casos de estresse entre os profissionais de enfermagem que atuam na UTI, um ambiente que é considerado complexo, tenso, agressivo e traumatizante. O objetivo é investigar as causas e compreender as consequências do estresse gerado por esse ambiente de trabalho para esses profissionais.

O objetivo deste estudo é identificar, por meio de revisão bibliográfica, os principais fatores que geram estresse nos profissionais de enfermagem que trabalham em Unidades de Terapia Intensiva, com o intuito de entender melhor as consequências desse cenário. Serão descritas as particularidades desse ambiente complexo e desafiador, a fim de fornecer uma visão completa das situações enfrentadas pelos profissionais de enfermagem na UTI.

Método

Esta é uma pesquisa exploratória por meio de revisão bibliográfica sobre o estresse do profissional de enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva na área da saúde. As referências foram buscadas em bancos de dados como Google Acadêmico, SciELO, Ministério da Saúde e Biblioteca Virtual em Saúde, em literaturas online indexadas ou em obras particulares obtidas por empréstimo. Onze referências nos últimos dez anos foram verificadas e as palavras-chave utilizadas foram estresse, unidade de terapia intensiva, estresse ocupacional, enfermeiro e profissional de enfermagem. Embora não se pretenda esgotar o assunto, o objetivo deste estudo é abordar de forma exploratória esta temática. 

Para a composição deste estudo, foi realizada uma busca em bancos de dados e materiais físicos, seguida de seleção com base em critérios de inclusão e exclusão. Foram incluídos estudos compatíveis com o tema e objeto de pesquisa, estudos em língua vernácula e em língua inglesa com tradução própria, estudos completos e resumos essenciais, e estudos publicados em sites confiáveis. Os estudos que fugiram da proposta da pesquisa, em línguas diferentes da portuguesa e inglesa e publicados em revistas não qualificadas pela Capes foram excluídos. Foram pesquisadas inicialmente 11 referências, das quais 7 foram utilizadas no estudo, respeitando os critérios de exclusão utilizados na pesquisa.

Resultados e Discussão

A seguir, estão descritas as cinco categorias identificadas como os principais fatores estressores determinantes do estresse nos profissionais de enfermagem que atuam em Unidades de Terapia Intensiva. Essas categorias foram encontradas nos trabalhos analisados nesta pesquisa e associadas ao desenvolvimento do sofrimento nos profissionais de enfermagem: Contrato de Trabalho, Competências Profissionais, Fatores Individuais/Pessoais, Ambiente Físico e Relacionamento Interpessoal.

Neste estudo, a categoria mais identificada foi denominada “contrato de trabalho” e está diretamente relacionada à má remuneração dos profissionais, à jornada e ao turno de trabalho, à percepção de desvalorização profissional e outros elementos relativos ao contrato laboral. Essa categoria foi identificada em oito artigos, sendo apontada como o principal fator gerador de estresse e sofrimento para os profissionais da enfermagem (SANTOS et al., 2010).

Essa informação é corroborada pela constatação de que o excesso de atividades, decorrente da falta de pessoal e de recursos materiais, juntamente com a má remuneração, a desvalorização profissional e o turno de trabalho, formam um conjunto de fatores que contribuem para o aumento dos níveis de estresse e sofrimento entre os profissionais que trabalham nessas condições (PEDRÃO; PRETO, 2009).

Diante do cenário conflituoso que foi descrito, torna-se interessante que as empresas apresentem modelos inovadores de gestão e assistência às unidades de alta complexidade, como é o caso das UTIs. Isso permitiria que os profissionais de enfermagem possam desempenhar suas atribuições de alta complexidade em um ambiente crítico, livre das consequências que o estresse pode ocasionar (SOUZA, 2019).

A segunda categoria mais identificada no estudo é o “Ambiente Físico de Trabalho”, presente em sete artigos. Esta categoria se refere às características físicas do ambiente que podem levar ao adoecimento do profissional de enfermagem, como a luminosidade artificial do ambiente, a intensa movimentação humana no local, a observação constante do sofrimento dos pacientes na unidade e os ruídos constantes e repetitivos (RODRIGUES, 2012).

O resultado deste estudo indica que a presença desses elementos no ambiente de trabalho está diretamente relacionada com a saúde integral do trabalhador, tendo em vista que as condições em que o trabalho é exercido passam a atuar como condicionantes para o adoecimento dos próprios profissionais de enfermagem (RODRIGUES, 2012).

As unidades de terapia intensiva (UTIs), embora sejam consideradas espaços de atendimento de alta complexidade, não precisam ser necessariamente associadas com a morte e o morrer. No que se refere ao ambiente físico como um fator estressor para os profissionais de enfermagem que atuam nesses locais, a humanização do ambiente das UTIs pode ser um importante fator para a diminuição de problemas relacionados ao estresse, maximizando o bem-estar dos trabalhadores (PETERLINI & MAGALHÃES, 2012).

Algumas possibilidades de melhoria no ambiente das UTIs incluem a implantação de leitos humanizados, a utilização de luz natural com barreiras eficazes para evitar contaminação, o controle sonoro dos aparelhos, treinamentos e ajustes aos equipamentos para que sejam de fácil acesso, e o rodízio no ambiente a fim de proporcionar conforto aos pacientes, familiares e aos profissionais (TERRA E RANGEL GOMES, 2015).

No que diz respeito às categorias subsequentes identificadas no estudo, constatou-se que todas apresentaram índices perceptivos que podem gerar estresse nos profissionais de enfermagem que atuam em UTIs. Essas categorias também são fatores que merecem atenção e intervenção para a melhoria das condições de trabalho e do bem-estar desses profissionais.

A categoria “competências profissionais” foi identificada em cinco artigos e se refere ao fato de que os enfermeiros desempenham atividades complexas que envolvem riscos aos pacientes, como procedimentos invasivos, e são responsáveis por liderar toda a equipe de enfermagem. Essa responsabilidade aumenta o nível de estresse e exige habilidades comportamentais avançadas para lidar com situações graves, urgentes e imprevisíveis (VERSA et al., 2012).

O medo de cometer erros faz com que os profissionais tendam a centralizar a tomada de decisão em suas atuações diárias. Esse comportamento é motivado pelo receio de perder o controle, sentir culpa e ser punido, além do temor de ter tomado decisões inadequadas que possam resultar em óbito dos pacientes, gerando consequências graves para a carreira dos profissionais (VERSA et al., 2012).

O cuidado de pacientes graves é uma atividade que traz satisfação para grande parte dos profissionais da equipe de enfermagem, no entanto, a realização de procedimentos complexos pode gerar angústia, aumentando a possibilidade de erro e causando sofrimento aos pacientes. Por isso, é importante trabalhar de forma positiva o psicológico desses profissionais como ferramenta eficaz no controle do estresse gerado pela alta responsabilidade (SOUZA, 2019).

A categoria “Fatores individuais/pessoais” foi identificada em cinco artigos e refere-se não apenas às características de saúde do profissional de enfermagem, mas também a diversos outros elementos que têm influência direta em seu bem-estar, como o contexto familiar e suas relações interpessoais, a distância do ambiente de trabalho e outros fatores particulares que podem afetar sua saúde física e mental. Essa categoria destaca a importância de se considerar o profissional de enfermagem como um ser humano completo, com sua própria história e contextos individuais que devem ser levados em conta ao avaliar as condições de trabalho e os fatores que podem gerar estresse e impactar sua qualidade de vida (SALLES; SILVA, 2015).

Atualmente, os profissionais de saúde enfrentam múltiplas demandas e dispõem de menos tempo para cuidar de si próprios, já que muitas vezes a remuneração inadequada os força a procurar outros empregos para garantir uma renda satisfatória. A falta de tempo compromete a qualidade de vida, o que se reflete em hábitos alimentares inadequados, privação de sono e menos relacionamento interpessoal, levando a um desgaste físico e emocional que gera insatisfação pessoal e despersonalização (SALLES; SILVA, 2015).

A incerteza sobre a permanência no emprego pode gerar um ambiente de tensão e ansiedade no ambiente de trabalho. Além disso, a falta de segurança no emprego pode influenciar a produtividade e a qualidade do trabalho. É importante, portanto, que as empresas invistam em medidas que possam oferecer maior estabilidade aos seus funcionários, para reduzir o estresse e garantir um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo (SANTOS et al., 2010).

Para que os profissionais possam lidar de forma mais saudável com o ambiente estressante da UTI, é necessário que o autocuidado seja um dos pilares de sua vida pessoal. Isso implica em manter uma alimentação adequada, estabelecer diálogos saudáveis com familiares e amigos, realizar viagens, ingerir líquidos em quantidade suficiente, praticar exercícios físicos e outras atividades que contribuam para o bem-estar. Dessa forma, é possível reduzir os fatores geradores de estresse que podem afetar os profissionais de enfermagem (ALVES; LIMA, 2018).

A categoria “Relacionamento interpessoal”, identificada em cinco artigos, está associada a questões como o relacionamento entre os profissionais e a agilidade das ações, o desgaste emocional dos profissionais, conflitos entre as equipes, cansaço, fadiga e descontrole levando à alteração no padrão de saúde (CORONETTI et al., 2006). É evidente que a qualidade dos cuidados não está somente relacionada às técnicas, mas também ao bem-estar psicológico da equipe. A falta de comunicação, a utilização de mecanismos de defesa inadequados, a falta de paciência e de cooperação em equipe gera estresse nos profissionais, interferindo na assistência e na satisfação do trabalho prestado. O trabalho em equipe difícil também sobrecarrega os demais profissionais e interfere na qualidade da assistência ao paciente (CORONETTI et al., 2006).

A motivação da equipe de enfermagem é fundamental para o bom funcionamento da unidade de terapia intensiva (UTI). Uma equipe unida e comprometida com a assistência ao paciente proporciona um ambiente mais harmonioso, reduzindo conflitos e melhorando a comunicação entre os profissionais. Isso resulta em um cuidado mais humanizado e de maior qualidade, não somente para o paciente e a família, mas também para a própria equipe. Investir na motivação da equipe é um investimento em saúde, que pode gerar retornos positivos tanto em curto quanto em longo prazo (ALVES; LIMA, 2018)

De acordo com os estudos sobre as causas que levam os profissionais de enfermagem a vivenciarem estresse em Unidades de Terapia Intensiva, compreende-se que as consequências desse fenômeno estão diretamente relacionadas à carência de condições dignas para o desenvolvimento desse profissional nesse setor. Isso pode se manifestar em diferentes formas, tais como baixa qualidade de vida no trabalho, comprometimento da saúde física e mental, redução do envolvimento emocional com o paciente e até mesmo insatisfação com a carreira escolhida.

Tanto o contrato de trabalho quanto fatores individuais/pessoais estão entre as categorias que podem causar estresse ocupacional nos profissionais de enfermagem que atuam em Unidades de Terapia Intensiva. A má remuneração, a jornada dupla de trabalho, a desvalorização profissional, o turno de trabalho e a sobrecarga de trabalho são algumas das causas identificadas. Essas condições podem levar a índices elevados de absenteísmo, demissões e insuficiência de pessoal, aumentando as chances de adoecimento profissional. (PEDRÃO; PRETO, 2008).

O ambiente de UTI apresenta desafios para os profissionais de enfermagem, tanto em termos físicos quanto em competências profissionais, pois são responsáveis pela gestão e assistência aos pacientes críticos. Nesse ambiente, os profissionais trabalham em condições de luminosidade artificial, ruídos constantes e intensa movimentação humana, além de executarem procedimentos invasivos complexos, gerando medo e alto nível de responsabilidade, o que pode levar ao estresse ocupacional. Essa situação pode causar tensão psicológica, sobrecarga de trabalho, medo, crises de ansiedade, síndrome de burnout e sintomas de patologias diversas, como cefaléia, diarreia, febre e dores musculares, levando a um afastamento profissional em grande escala (VERSA et al, 2012).

A categoria de relacionamento interpessoal apresenta uma série de causas, tais como desgaste emocional, conflitos entre equipes e descontrole na agilidade das ações. Como consequências, podem ocorrer fadiga, alterações no padrão de saúde que podem levar a doenças, além de impaciência, o que dificulta o desenvolvimento adequado das empresas e o bem-estar psicológico da equipe. Vale ressaltar que o fato de não trabalhar bem em equipe interfere diretamente na qualidade da assistência prestada, o que sobrecarrega os demais profissionais (CORONETTI et al., 2006).

A partir da análise dos artigos científicos sobre estresse ocupacional em enfermeiros que atuam em unidades de terapia intensiva (UTIs), é possível verificar que algumas categorias foram destacadas como fatores estressantes. Dentre essas categorias, o contrato de trabalho foi apontado em 26% dos artigos analisados como o principal fator estressante para a equipe de enfermagem. Isso se deve, principalmente, à má remuneração, jornada dupla de trabalho, desvalorização profissional e à insuficiência de pessoal, o que acarreta em sobrecarga de trabalho e elevados índices de absenteísmo e demissões.

A categoria ambiente físico também foi mencionada em 23% dos artigos científicos analisados, sendo apontada como um fator estressante para a equipe de enfermagem que atua em UTIs. As condições do ambiente, como luminosidade artificial, ruídos constantes, intensa movimentação humana e o fato de executarem procedimentos invasivos complexos, geram um alto nível de estresse e medo de errar.

As competências profissionais, por sua vez, foram apontadas como um fator estressante em 17% dos artigos científicos analisados, uma vez que os enfermeiros que atuam em UTIs devem executar atividades complexas e de alto risco para o paciente, além de serem responsáveis por toda a equipe de enfermagem. Isso gera um alto nível de responsabilidade e exige aprimoradas competências comportamentais para lidar com demandas graves, urgentes e imprevisíveis.

Os fatores individuais e pessoais também são considerados fatores estressantes em 17% dos artigos científicos analisados. Isso inclui as características de saúde do profissional de enfermagem, o contexto familiar e suas relações interpessoais, a distância do ambiente de trabalho e outros elementos particulares que influenciam diretamente no bem-estar do profissional.

Por fim, a categoria relacionamento interpessoal foi mencionada em 17% dos artigos científicos analisados, sendo apontada como um fator estressante para a equipe de enfermagem que atua em UTIs. A falta de comunicação, a utilização de mecanismos de defesas inadequados, a falta de paciência e de cooperação em equipe geram estresse nos profissionais e interferem na qualidade da assistência ao paciente, sobrecarregando os demais profissionais da equipe.

Conclusão

Com base na revisão bibliográfica realizada neste estudo, compreende-se que o estresse ocupacional é uma questão de grande relevância que afeta os profissionais de enfermagem atuantes em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). É imprescindível que pautas, como as condições e o contrato de trabalho dos profissionais, sejam incorporadas nas discussões estabelecidas em UTIs, tendo em vista que os enfermeiros que atuam nessas unidades carecem de condições adequadas para desenvolver suas atividades com qualidade.

Os resultados obtidos nesta pesquisa apontam que o contrato de trabalho, as competências profissionais, os fatores individuais/pessoais, o ambiente físico e o relacionamento interpessoal são os principais fatores geradores de estresse aos profissionais de enfermagem que atuam em UTIs. Para minimizar o impacto negativo do estresse ocupacional nesses profissionais, é preciso implementar medidas preventivas e estratégias de intervenção.

A realização de programas de treinamento é essencial para elevar a capacidade funcional dos enfermeiros, aprimorar sua autoestima e garantir uma assistência de qualidade aos pacientes. Além disso, é importante estabelecer objetivos claros e tarefas específicas para reduzir conflitos entre os membros das equipes de UTI.

Outros tópicos relevantes que devem ser considerados incluem a análise do impacto da jornada de trabalho na saúde e desempenho dos enfermeiros que atuam em UTIs, a implantação de leitos humanizados com luz natural e barreiras eficazes para evitar contaminação, o estabelecimento de medidas padrão de autocuidado e a motivação da equipe por meio de práticas de integração social.

Para futuras pesquisas, sugere-se a investigação dos fatores mais relevantes que os profissionais de enfermagem atuantes em UTIs levam em consideração em seu trabalho. Entrevistas podem ser realizadas para que esses profissionais tenham a oportunidade de relatar suas experiências e, assim, contribuir para o desenvolvimento de estratégias de intervenção mais eficazes e adequadas às suas necessidades.

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1Graduação em Enfermagem pela Faculdade Serra da Mesa

2Mestre em Psicologia Aplicada pela Universidade Federal de Uberlândia. Coordenador de Apoio ao Estudante da Faculdade Serra da Mesa. e-mail: marcoestevespsi@gmail.com

3Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Coordenadora do Curso de Enfermagem da Faculdade Serra da Mesa