ENXERTO DE CALOTA CRANIANA PARA RECONSTRUÇÃO DE MANDÍBULA ATRÓFICA

CRANIAL CAP GRAFT FOR RECONSTRUCTION OF ATROPHIC MANDIBLE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7709399


Anderson Dilly de Medeiros1
Eleniza Rodrigues Mororó2
Aquila de Oliveira Afonso3
Ana Gabriela Reis Arouca4
Eberson João De Oliveira Junior5
Genilson campos da Silva6
Maria Izabel Peixoto Xavier Moutinho7
Jessica Rayane Fiel da Costa8
Sttefanny Gomes Noronha9
Guilherme Favaro Boracini10
Jonathan Diniz Nogueira11
Mateus Balbino Barbosa de Carvalho12
Alberto Câmara Pereira dos Santos13
Beatriz Kely Pereira Gomes14
Yuri Emanuel Felix Pereira15
Thayná Oliveira Lima16


Resumo 

A instalação de implantes dentários em maxila severamente atrófica ainda é um desafio, devido à quantidade limitada de osso disponível. Nesses casos, com o objetivo de garantir estabilidade para os implantes, torna-se necessário a utilização de enxertia. Dessa forma, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca do enxerto de calota craniana para reconstrução de mandíbula atrófica. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. Os artigos foram contemplados entre os anos de 2010 a 2023. A escolha pela calota craniana como local doador para reconstrução da mandíbula atrófica é uma ótima opção de tratamento. A calvária pode fornecer grande quantidade de enxerto ósseo autógeno corticoesponjoso de boa qualidade.  

Palavras-chave: Transplante ósseo. Enxerto ósseo. Cirurgião-Dentista. 

Summary

The installation of suspended implants in a severely atrophic maxilla is still a challenge, due to the limited amount of available bone. In these cases, in order to guarantee stability for the implants, it is necessary to use grafting. Thus, the present study aims to review the literature about the cranial vault graft for atrophic mandible reconstruction. For the construction of this article, a bibliographical survey was carried out in the databases SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect, with the help of the Mendeley reference manager. The articles were contemplated between the years 2010 to 2023. The choice of the cranial vault as a local donor for reconstruction of the atrophic mandible is an excellent treatment option. The calvaria can provide a large amount of good quality corticospongious autogenous bone graft.

Keywords: Bone transplantation. Bone graft. Dental surgeon.

1. INTRODUÇÃO 

A instalação de implantes dentários em maxila severamente atrófica ainda é um desafio, devido à quantidade limitada de osso disponível. Nesses casos, com o objetivo de garantir estabilidade para os implantes, torna-se necessário a utilização de enxertia (SCARDUELI et al., 2018)

Para criar volume ósseo suficiente na maxila extremamente reabsorvida, o assoalho do seio maxilar geralmente é aumentado com enxertos de crista ilíaca anterior, combinados com placas vestibulares. Após o procedimento cirúrgico de enxertia, o profissional deve aguardar um período de três a seis meses, e posteriormente os implantes podem ser instalados. Os implantes precisam então osseointegrar por mais 3 meses, após os quais a prótese pode ser feita. Este período de tratamento bastante longo de aproximadamente 8 meses pode ser incômodo para o paciente (KARAMESE et al., 2014; SCARDUELI et al., 2018)

Até o momento, a principal abordagem para substituir o osso ausente é o uso de enxertos. Os enxertos ósseos podem ser autógenos, homogêneos, heterogêneos ou sintéticos. Autógeno significa que o osso é removido do próprio corpo do paciente, geralmente da crista ilíaca, calota craniana, mandíbula ou tíbia. Até o momento, é considerado o padrão ouro, pois contém fatores de crescimento para osteoindução (ou seja, para promover a diferenciação de células em osteoblastos ativos), células para osteogênese e estrutura para osteocondução (ou seja, crescimento ósseo na superfície) (MARTIN; BETTENCOURT, 2018). 

O sítio doador mais comumente utilizado é a crista ilíaca. Seu acesso é relativamente fácil; a colheita da crista ilíaca pode ser configurada em uma abordagem cirúrgica de duas equipes para reduzir o tempo de cirurgia; e esse local doador pode fornecer grandes quantidades de osso cortical e esponjoso. A principal desvantagem desse procedimento é a morbidade do local doador, sendo comum a dor crônica no local doador e os distúrbios sensoriais (ELNAYEF et al., 2018; VELÁZQUEZ et al., 2021).

As utilizações de enxertos ósseos autólogos da calota craniana são geralmente usadas para reconstruir o complexo crânio-maxilo-facial. Algumas de suas vantagens envolvem a facilidade de acesso, ótimas propriedades de osseointegração, baixas taxas de reabsorção e poucas complicações no sítio doador. Quando comparada à extração óssea da crista ilíaca, acredita-se que a morbidade da extração da calvária seja menor, mas sequelas neurológicas podem interferir na segurança do procedimento (COSTA-PALAU et al., 2014; ELNAYEF et al., 2018; VELÁZQUEZ et al., 2021).

Dessa forma, o presente estudo possui como objetivo revisar a literatura acerca do enxerto de calota craniana para reconstrução de mandíbula atrófica.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa da literatura. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico, nesse caso, enxerto de calota craniana para reconstrução de mandíbula atrófica (PEREIRA et al., 2018)

Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. Os artigos foram contemplados entre os anos de 2010 a 2022. 

A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se nos descritores contidos na lista dos Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e suas combinações no idioma português e inglês: [(enxerto ósseo OR transplante ósseo) AND (odontologia OR dentistry OR cirurgias OR surgeries OR OR dento-alveolar surgeries OR mandíbula OR jaw OR maxila) AND (vantagens OR desvantagens)]

Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.

A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso contemplasse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos foram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo. Quando havia dúvida sobre a inclusão, o artigo era lido por outro autor e, a decisão de inclusão ou exclusão era tomada em consenso. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Com base na revisão de literatura feita nas bases de dados eletrônicas citadas, foram identificados 877 artigos científicos, dos quais 280 estavam duplicados com dois ou mais índices. Após a leitura e análise do título e resumos dos demais artigos, outros 520 foram excluídos. Assim, 87 artigos foram lidos na íntegra e, com base nos critérios de inclusão e exclusão, apenas 11 artigos foram selecionados para compor este estudo. O fluxograma com detalhamento de todas as etapas de seleção está na figura 1.

Figura 1 – Fluxograma de identificação e seleção dos estudos.

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Fonte: Os autores, 2023.  

O enxerto ósseo cortical da calvária está se tornando cada vez mais popular devido ao fácil acesso. Embora o osso autógeno seja considerado o padrão ouro de todos os materiais de enxerto devido ao seu alto potencial osteogênico, ele apresenta várias desvantagens. Tais desvantagens incluem quantidades limitadas de osso disponível para procedimentos de enxerto e morbidade no local doador.da calvária podem ser usados ​​para reconstrução do nariz ou em procedimentos de pré-implantação para construir o processo alveolar para a colocação de implantes (SCHORTINGHUIS; PUTTERS; RAGHOEBAR, 2012).

A utilização de enxertos da calota craniana possui algumas vantagens sobre outros sítios doadores, tais como proximidade com o sítio receptor (CHOI et al., 2013; STRONG; MOULTHROP, 2000), menores taxas de reabsorção (CHOI et al., 2013; CUESTA GIL et al., 2010), cicatrização esteticamente favorável (CHOI et al., 2013), baixa morbidade, baixas incidências de complicações pós operatória (CHOI et al., 2013; SCARDUELI et al., 2018), boa qualidade do tecido ósseo (SCARDUELI et al., 2018) e poucas complicações relacionadas ao local doado (CHOI et al., 2013; CUESTA GIL et al., 2010). 

Ao comparar o pós-operatório imediato, o estudo realizado por KUIK et al. (2016) mostrou que a dor na área doadora foi maior após a extração da crista ilíaca do que após a extração do osso na calvária. Entretanto, no grupo de pacientes da calvária, o comprimento da cicatriz foi maior e os déficits de contorno relevantes não clínicos foram detectados com mais frequência. 

MERTENS et al. (2013) mostraram ainda que, a enxerto da calota craniana mostrou-se significativamente mais estável, principalmente no início fase de cicatrização, mas osso da crista ilíaca pode ser usado para um espectro mais amplo de indicações. 

Embora apresente tais vantagens, a utilização de enxerto da calota craniana pode causar complicações associadas a iatrogenias da dura-máter, córtex cerebral e/ou estruturas vasculares vitais (CHOI et al., 2013; SCARDUELI et al., 2018; STRONG; MOULTHROP, 2000), pouca espessura do tecido ósseo esponjoso, cicatriz esteticamente desfavorável em pacientes calvos (KARAMESE et al., 2014; STRONG; MOULTHROP, 2000), hematoma no local, infecção pós operatória, parestesia em caso de comprometimento nervoso e irregularidades do tecido ósseo (CUESTA GIL et al., 2010; STRONG; MOULTHROP, 2000). De acordo com (CUESTA GIL et al., 2010) as ocorrência de complicações pós-operatórias são baixas, correspondendo cerca de 0,25%. 

Dentre as áreas mais seguras para a colheita do tecido ósseo na região da calota craniana está a região central do osso parietal. Caso o excerto colhido seja a menos de 2 cm da linha média, há maior risco de injúria ao seio sagital superior (FRODEL et al., 1993; STRONG; MOULTHROP, 2000). complicações.23

As indicações para o uso da calvária em cirurgias craniomaxilofaciais, estéticas e de cabeça e pescoço continuam a expandir. O cirurgião do pescoço deve estar familiarizado com a variedade de técnicas disponíveis para que, quando indicado, não haja hesitação em colher tal enxerto.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escolha pela calota craniana como local doador para reconstrução da mandíbula atrófica é uma ótima opção de tratamento. A calvária pode fornecer grande quantidade de enxerto ósseo autógeno corticoesponjoso de boa qualidade.  

REFERÊNCIAS 

CHOI, H. J. et al. The thickness of parietal bones in a new zealand sample of cadaveric skulls in  relation to calvarial bone graft. Craniomaxillofacial trauma & reconstruction, v. 6, n. 2, p. 115–120, jun. 2013. 

COSTA-PALAU, S. et al. Use of polyetheretherketone in the fabrication of a maxillary obturator prosthesis: A clinical report. Journal of Prosthetic Dentistry, v. 112, n. 3, p. 680–682, 2014. 

CUESTA GIL, M. et al. Reconstruction of the severely atrophic mandible using autologous calvarial bone  graft: an “ inverted sandwich” graft technique and dental rehabilitation with fixed implant-supported prostheses. Journal of cranio-maxillo-facial surgery : official publication of the European  Association for Cranio-Maxillo-Facial Surgery, v. 38, n. 5, p. 379–384, jul. 2010. 

ELNAYEF, B. et al. The Fate of Lateral Ridge Augmentation: A Systematic Review and Meta-Analysis. The International Journal of Oral & Maxillofacial Implants, v. 33, n. 3, p. 622–635, 2018. 

FRODEL, J. L. J. et al. Calvarial bone graft harvest. Techniques, considerations, and morbidity. Archives of otolaryngology–head & neck surgery, v. 119, n. 1, p. 17–23, jan. 1993. 

KARAMESE, M. et al. Comparison of bone dust with other types of bone grafts for cranioplasty. The Journal of craniofacial surgery, v. 25, n. 4, p. 1155–1158, jul. 2014. 

KUIK, K. et al. Donor site morbidity of anterior iliac crest and calvarium bone grafts: A comparative case-control study. Journal of Cranio-Maxillofacial Surgery, v. 44, n. 4, p. 364–368, 2016. 

MARTIN, V.; BETTENCOURT, A. Bone regeneration: Biomaterials as local delivery systems with improved osteoinductive properties. Materials Science and Engineering: C, v. 82, p. 363–371, 2018. 

MERTENS, C. et al. Early bone resorption after vertical bone augmentation – a comparison of calvarial and iliac grafts. Clinical Oral Implants Research, v. 24, n. 7, p. 820–825, 2013. 

PEREIRA, A. et al. Método Qualitativo, Quantitativo ou Quali-Quanti. [s.l: s.n.]. 

SCARDUELI, C. R. et al. Systemic administration of strontium ranelate to enhance the osseointegration of  implants: systematic review of animal studies. International journal of implant dentistry, v. 4, n. 1, p. 21, jul. 2018. 

SCHORTINGHUIS, J.; PUTTERS, T. F.; RAGHOEBAR, G. M. Safe Harvesting of Outer Table Parietal Bone Grafts Using an Oscillating Saw and a Bone Scraper: A Refinement of Technique for Harvesting Cortical and “Cancellous”-Like Calvarial Bone. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 70, n. 4, p. 963–965, 2012. 

STRONG, E. B.; MOULTHROP, T. Calvarial bone graft harvest: a new technique. Otolaryngology–head and neck surgery : official journal of American Academy of  Otolaryngology-Head and Neck Surgery, v. 123, n. 5, p. 547–552, nov. 2000. 

VELÁZQUEZ, Ó. I. et al. Split bone block technique: 4-month results of a randomised clinical trial  comparing clinical and radiographic outcomes between autogenous and xenogeneic cortical plates. International journal of oral implantology (Berlin, Germany), v. 14, n. 1, p. 41–52, mar. 2021. 


1https://orcid.org/0000-0002-1147-2754
2https://orcid.org/0000-0002-0782-0875
3https://orcid.org/0000-0003-2392-4022
4http://lattes.cnpq.br/9513433013537263
5https://lattes.cnpq.br/5566715447210382
6https://orcid.org/0000-0002-2538-5918
7http://lattes.cnpq.br/8177673734453557
8https://orcid.org/0000-0002-4752-4149
9http://lattes.cnpq.br/3266762322029644
10https://orcid.org/0000-0001-8034-7175
11http://lattes.cnpq.br/9349507071744004 
12http://lattes.cnpq.br/5566307972220242 
13E-mail: betogyn10@gmail.com
14E-mail: pereira.bia.keli@hotmail.com
15https://orcid.org/0000-0001-5997-6890
16https://orcid.org/0000-0003-3791-7878